Em entrevista à Deutsche Welle, presidente do Ibama reconhece o óbvio e enterra tese da ressurreição rápida do Rio Doce

marilene ramos dw

Em entrevista à seção brasileira da Deutsche Welle, a presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) reconheceu com sobriedade e seriedade, entre outras coisas, que o incidente envolvendo a  barragem da Mineradora Samarco (Vale + BHP Billiton)  de Mariana ainda não terminou, e que as previsões de recuperação da bacia do Rio Doce devem se dar na escala da década (Aqui!), e não de meses, como havia sido sugerido pelo professor da COPPETEC/UFRJ  Paulo César Rosman em entrevista à BBC (Aqui!).

Outro fato que foi reconhecido pela presidente do IBAMA é de que este incidente se trata do maior incidente envolvendo a mineração no mundo. Esta dimensão de hecatombe é ainda piorada pelo fato de que seria tecnologicamente inviável retirar da calha do Rio Doce todo o TsuLama que escapou da barragem do Fundão. 

Além disso, Marilene Ramos também atentou para outro fato básico, qual seja, a situação de agonia que já vivia o Rio Doce antes da chegada do TsuLama. Nesse aspecto, a presidente do IBAMA afirmou que “a Bacia do rio Doce, 90% do esgoto é jogado nos rios sem nenhum tratamento. Ainda que esteja inserida no bioma da Mata Atlântica, o remanescente florestal é baixíssimo, o que intensifica os processos erosivos. Teríamos que atuar também no reflorestamento para reduzir a carga de sedimentos dentro do rio e implantar um sistema de tratamento de esgoto. Como não é possível tirar toda a poluição causada pela onda de rejeitos no rio, nossa proposta é usar tecnologias disponíveis para atuar sobre essas outras fontes. São prazos que chegam a pelo menos dez anos.” 

Em relação a essa declaração em específico, eu fico imaginando as razões que impedem que medidas básicas para recuperar a bacia do Rio Doce não haviam sido tomadas, mesmo antes do TsuLama, visto a importância que a mesma possui para os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. E mais, sabedores da condição degradada em que já se encontrava o Rio Doce, por que se permitiu que as barragens da Mineradora Samarco (Vale + BHP Billiton) fossem instaladas no local em que foram, e sem o devido acompanhamento dos órgãos ambientais, fossem eles estaduais ou federais sobre a sua estabilidade. 

Mas agora que a lama foi derramada, espero que a partir dos dados que a própria presidente do IBAMA levantou, esse TsuLama não seja empurrado para debaixo do tapete. Afinal de contas, existem ainda centenas de milhares de pessoas sem abastecimento de água e o perigo de que mais lama escape das barragens da Mineradora Samarco (Vale + BHP Billiton) é bastante alto. A ver!

4 comentários sobre “Em entrevista à Deutsche Welle, presidente do Ibama reconhece o óbvio e enterra tese da ressurreição rápida do Rio Doce

    • Pedro, tenho conversado com vários colegas e a nossa opinião coletiva é que só poderemos começar a estimar um tempo zero de recuperação quando a lama parar de chegar ao Rio Doce. Depois disso, terá que se estimar por compartimento e por espécies. Em outras palavras, vai variar bastante, mas a expectativa geral é de décadas e não meses.

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  1. Pergunto isso pq a cada notícia que leio o período de recuperação só aumenta. No começo eram 5 meses e agora já há previsões que dizem que a recuperação poderá se estender para 4 décadas.

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