New York Times faz matéria sobre retomada de altos níveis de desmatamento na Amazônia

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O jornal estadunidense “The New York Times” acaba de publicar uma matéria assinada por Hiroko Tabuchi e Claire Rigby com um daqueles títulos que prendem logo a atenção do leitor “Amazon deforestatio, once tamed, comes roaring back“, ou em bom português “Desmatamento na Amazônia, uma vez domesticada, está de volta rugindo” (Aqui!).

Além de muito bem produzida, com direito a vídeos e fotografias mostrando como está se dando o processo de avanço do desmatamento na Amazônia brasileira e boliviana, a matéria também dá um raro mergulho no papel desempenhado por gigantes como a Cargill que têm suas múltiplas influências mostradas.  Um dado que considero significativo e que teria sido oferecido pela próprio Cargill ao New York times seria o fato de que a empresa controla 20% da produção da soja produzida na faixa territórial conhecida como Matopiba (e que cobre áreas de estados como Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Esse nível de verticalização da produção também estaria sendo praticado na Amazonia boliviana, onde as taxas de desmatamento alcançam níveis igualmente preocupantes.

Se olharmos para o caso brasileiro e o papel da soja no avanço do desmatamento é sempre bom lembrar que, por anos, ficou-se na expectativa de que acordos de cavalheiros do tipo da “Moratória da soja” iriam resolver o problema. O que está matéria do New York Times deixa evidente é que essas expectativas podem ter sido grosseiramente superestimadas.  Aliás, para ler mais sobre o papel da monocultura da soja no avanço do desmatamento na Amazônia, sugiro a leitura do artigo do qual fui co-autor na “Acta Amazônica” (Aqui!).

Um aspecto nada negligenciável na questão da adoção de quaisquer medidas que controlem a explosividade das taxas de desmatamento, ao menos no Brasil, é o elemento político e o poder dos latifundiários da soja. É que com a presença de um representante na chefia do Ministério da Agricultura, o dublê de senador e latifundiário Blairo Maggi (PP/MT), e de um ministro do Meio Ambiente sem poder nenhum, o nada emblemático deputado Zequinha Sarney (PV/MA), todos sabemos para onde ir pender a ação do governo “de facto” de Michel Temer.

Resta esperar que também na mídia corporativa brasileira haja um mínimo de interesse de cobrir o que está acontecendo na Amazônia. E eu digo isso por simples esperança de que apareça algum tipo de preocupação com os efeitos desastrosos que o desmatamento na Amazônia já está trazendo sobre questões fundamentais como, por exemplo, o ciclo de chuvas no centro do sul do Brasil. Para entender melhor isso, sugiro a leitura do artigo assinado por Jeffrey Q. Chambers e Paulo Artaxo e que foi publicado na revista  Nature (sessão News and Views). Talvez aí comecemos todos a entender a dimensão do problema antes que seja tarde demais (Aqui!).

artaxo

 

2 comentários sobre “New York Times faz matéria sobre retomada de altos níveis de desmatamento na Amazônia

  1. Um possível efeito do desmatamento tem sido a redução das chuvas no Maranhão, impactando diretamente o turismo nos lençóis maranhenses. Nos últimos 4 anos, com destaque para 2012, a formação das lagoas ocorreu de forma bastante reduzida.

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