Após agrotóxicos e desmatamento, governo Bolsonaro adiciona submissão aos EUA ao seu portfólio anti-agronegócio sustentável

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Navio iraniano carregado com milho brasileiro está impedido de retornar para o Irã por causa da negativa da Petrobras de vender o combustível necessário para a viagem.

Venho alertando desde o início de 2019 que o governo Bolsonaro está empurrando o Brasil para a condição de um pária internacional que terá graves consequências para a habilidade de realizar comércio de seus grandes aliados do latifúndio agro-exportador. As variáveis que vinha utilizando em minhas análises eram o uso intensificado de agrotóxicos banidos em outras partes do mundo e a ampliação do desmatamento na Amazônia.

Mas o governo Bolsonaro resolveu adicionar outro fator que poderá resultados tão ou mais devastadores sobre a venda de commodities brasileiras que é a submissão política ao governo de Donald Trump.  A primeira faceta prática dessa submissão se apresenta na negativa de abastecer com petróleo dois navios iranianos que estão fundeados no Porto de Paranaguá, no litoral norte do Paraná, um deles carregado com 48 mil toneladas de milho brasileiro que foi comprado pelo Irã.   Aí é que começa o imbróglio, pois o Irã é o principal comprador do milho brasileiro, tendo importações no valor de US$ 1,3 bilhão apenas nos prímeiros seis meses de 2019. 

Mas a coisa pode piorar se outros países seguirem o mesmo raciocínio que o Irã está adotando em retaliação à submissão brasileira à agenda política do governo Trump. É que segundo o site Sputnik, o embaixador do Irã em Brasília, Seyed Ali Saghaeyan,  teria dito ontem ao governo brasileiro que “seu país poderia facilmente encontrar novos fornecedores de milho, soja e carne se o Brasil se recusar a permitir o reabastecimento dos navios.

O problema é que o Brasil que sempre teve um comportamento pragmático no plano diplomático agora é comandado por um presidente que finge ser nacionalista, mas, na prática, repercute a agenda estadunidense.  O cenário é piorado pela atuação de um ministro das Relações Exteriores, o excêntrico (digamos assim) Ernesto Araújo, que se declara em uma espécie de cruzada pessoal em defesa da pureza cristã do Ocidente (seja isso lá o que for). Essa combinação é um coquetel perfeito para a repetição de casos como desses dois navios iranianos, com potencial nuclear de destruição da capacidade operacional do comércio exterior brasileiro.

O interessante é que até agora só se ouviu reclamos murchos  da Federação da Agricultura do Paraná (FAEP) que teria lembrado em nota que o “país persa é um dos principais compradores de produtos importantes para o Paraná, como a soja e a carne bovina. Mas pela reação geral vinda do governo Bolsonaro, as súplicas da FAEP caíram em ouvidos mocos. Por outro lado, a ministra Tereza Cristina, sempre tão loquaz na defesa de agrotóxicos, continua aparentemente fechada em copas em um silêncio que poderá ser sepulcral para a agricultura paranaense.

Finalmente, há que se lembrar que o então candidato Jair Bolsonaro teve expressiva votação nos chamados “estados do agronegócio”. Agora com essa medida que começa prejudicando inicialmente o Paraná, vamos ver como fica a popularidade do presidente que está arriscando perder um grande parceiro comercial em nome de sua ânsia de bajular o presidente estadunidense Donald Trump. Aos latifundiários que juraram amores por Bolsonaro, fica a pergunta se esse amor está sendo retribuído da forma que eles esperavam.

 

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