A marcha da insensatez prossegue: projetos de lei querem criar categoria de conservação que resultaria na abertura ou reabertura de estradas dentro de parques nacionais
A renomada revista Science publicou na sua edição deste 28 de fevereiro uma carta assinada por três pesquisadores (Renata Ruaro, William Laurance e Roger Paulo Mormul) alertando sobre o grave risco em que se encontram os parques nacionais brasileiros por causa de possíveis mudanças nas leis que regem a sua proteção (ver imagem abaixo).
Segundo os signatários da carta, os parques nacionais brasileiros poderão ser seriamente ameaçados se os projetos de Lei No.984/2019 e No.61/2013 forem aprovados, pois iriam gerar mudanças importantes na Lei Federal No.9.985/ 2000 que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).
Os signatários alertam que a criação de uma nova categoria de unidade de conservação, as chamada “Estrada Parque” poderia trazer resultados desastrosos, pois resultariam em problemas graves tais como a caça ilegal, desmatamentos ilegais, tráfico de animais silvestres e o atropelamento de animais. Uma unidade que sofreria um impacto direto com a criação da “estrada parque” seria o Parque Nacional do Iguaçu que protege o maior remanescente da Mata Atlântica e é um hotspot de biodiversidade global. É que desde sua criação, o Parque Nacional do Iguaçu sofre pressões políticas para a reabertura da chamada Estrada do Colono que, se concretizada, colocaria em risco a sua integridade ecológica e serviços ambientais que ali são gerados.
Reabertura da “Estrada do Colono” ameaça o futuro do Parque Nacional do Iguaçu
A carta lembra ainda que o Brasil possui mais de 70 parques nacionais, ocupando mais de 25 milhões de hectares em diferentes biomas, incluindo a Mata Atlântica em perigo, os ecossistemas do Cerrado e a floresta amazônica. Segundo os signatários da correspondência publicada pela Science, os projetos de lei que estão sendo analisados poderiam estabelecer um precedente alarmante para a abertura de novas estradas dentro dessas e de outras áreas protegidas. Segundo eles, tal ação poderia causar danos irreparáveis à biodiversidade e os serviços de estabilização climática de florestas intactas, fatos que poderiam afetar não apenas o Brasil, mas também todo o planeta.
Como se vê, a marcha da insensatez deflagrada com a eleição de Jair Bolsonaro não quer deixar pedra sob pedra, nem árvore ao lado árvore.