A prestigiosa revista Science publicou nesta 5a. feira (16/07) um artigo na seção “Forum Policy” que deverá levantar ainda mais rugas nas testas do presidente Jair Bolsonaro e de seus auxiliares mais fiéis. Sob o título de “The rotten apples of Brazil´s agribusiness” (ou em bom português, “As maçãs podres do agronegócio brasileiro”, o artigo que tem como autor principal o professor Raoni Rajão, do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) apresenta um minucioso mapeamento que relaciona a produção de soja, que em parte considerável acaba exportada para a União Europeia, em terras ilegalmente desmatadas nos biomas da Amazônia e do Cerrado (ver mapa abaixo).
Como os próprios autores adiantam no texto, os resultados desse estudo certamente criarão embaraços para o agronegócio brasileiro, não apenas com seus parceiros europeus, mas eventualmente com os chineses. É que dada a sensível situação que foi criada com a política do “passa boiada” engendrada pelo presidente Jair Bolsonaro e levada a cabo com inegável maestria pelos ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Tereza Cristina (Agricultura), agora ficará evidente que parte nada desprezível da soja brasileira está sendo produzida em áreas onde há forte possibilidade de que a remoção da vegetação nativa (floresta tropical ou Cerrado) foi feita de forma ilegal, ao arrepio do que determina a própria legislação brasileira.
Os autores do artigo incluíram ainda um cálculo sobre emissões de gases estufa associados à produção de commodities agrícolas produzidas em áreas desmatadas ilegalmente, o que deverá expor o papel indireto que a União Europa no aquecimento global por “não restringir as importações e consumir produtos agrícolas produtos contaminados com o desmatamento, ilegal ou não”. O cálculo feito para a emissão de gases estufa apenas a partir da importação de soja mostra que a União Europeia (UE) poderia ser responsável pela emissão indireta “de 58,3 ± 11,7 milhões de toneladas de CO2 equivalente (MtCO2e) do desmatamento legal e ilegal nos principais biomas brasileiros entre 2009 e 2017“. Os autores apontam ainda que “é provável que a parte da UE aumente como resultado de acordos comerciais Mercosul-UE e EUA-China“.
Uma curiosidade na publicação deste artigo e de outros que devem estar ainda nas prensas é que todo movimento para conter as informações produzidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) são inúteis, e que informações ainda mais danosas para os interesses comerciais podem ser produzidas por equipes de cientistas que não estão sob o controle estrito do governo Bolsonaro. Nesse sentido, a marcha da ciência é, digamos, imparável.
Quem desejar ler este artigo e os materiais suplementares publicados pela Science, basta clicar [Aqui!] e [Aqui!].
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Professor, bom dia. Acabei de conhecer o seu blog, e confesso estar muito feliz. Vou compartilhar com amigos e me debruçar lendo o conteúdo aqui colado. Parabéns, pelo ótimo trabalho.
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Obrigado Amanda. Eu tento transformar este espaço em algo que seja interessante a todos os que se interessam por ciência, meio ambiente e política.
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Esse “artigo , não passa de pura guerra de contrainformaçao, somente os desabilitados ,sofredores de lapso cognitivo ou os espertalhões do agronegócio, Europeu ,que não tem como competir com o Brasil, é que aplaudirão uma baboseira dessas encomendada a essa mui notória revista . Deve ter custado uma boa soma . A turma da science,deve estar só sorrisos…Ora , vão se f…. todos vocês.
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Almir, desculpe pelas pequenas edições, mas eu não divulgo expressões de ódio neste blog. Por outro lado, eu diria para você aguardar que outros artigos desse tipo vão surgir em importantes revistas científicas sobre os descalabros que estão ocorrendo no Brasil neste momento, inclusive no tocante à associação mostrada neste artigo da Science. É que ao contrário do mundo das opiniões infundadas, a ciência moderna segue seu curso implacável de mostrar a verdade há mais de 500 anos.
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