Websérie mostra como um projeto sustentável salvou o pirarucu da extinção na Amazônia

Disponível no YouTube, “O Gigante da Amazônia” mostra como o manejo sustentável mudou o destino do pirarucu, espécie de grande importância econômica e cultural que quase foi extinta no passado

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Não faz muito tempo que a pesca desordenada gerou a diminuição drástica da população de pirarucus, um dos maiores peixes de água doce do planeta e considerado uma iguaria amazônica. O risco do desaparecimento da espécie levou à proibição da pesca que, atualmente, é permitida em Unidades de Conservação (UCs) praticantes do manejo sustentável. A atividade é considerada de extrema importância sociocultural, visto que é realizada há séculos por populações tradicionais indígenas e ribeirinhas, tanto para consumo quanto para comércio.

Desde 2010, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS), em parceria com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas (Sema/AM), IBAMA e Associação dos Moradores e Usuários da Reserva Mamirauá (Amurmam), tem auxiliado no aumento da renda de populações locais por meio do apoio ao manejo sustentável do pirarucu em Unidades de Conservação do Amazonas. O modelo se tornou exemplo mundial de investimento em programas de sustentabilidade como solução para o meio ambiente, além de aprimorar a qualidade de vida das pessoas que vivem na Amazônia. Disponível no YouTube da FAS, a websérie O Gigante da Amazônia explica, sob a ótica de pescadores comunitários, como é a rotina das famílias que dependem diretamente do manejo do pirarucu.

Na década de 1970, com a intensificação da exploração comercial do pirarucu, a espécie entrou em declínio. A pesca mínima e o período de defesa reprodutiva (de dezembro a maio) foram estabelecidos pelo Ibama. No entanto, devido à falta de fiscalização, a espécie passou a sofrer sério risco de extinção e, no ano de 1996, a pesca em grande escala foi proibida, sendo permitida apenas em áreas e reservas devidamente licenciadas para o manejo.

Devido à demanda de pescadores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá, no município Fonte Boa, localizado 678 km de Manaus, que queriam trabalhar legalmente, o Instituto Mamirauá – organização social fomentada e supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações – criou o sistema de manejo participativo do pirarucu. O projeto foi aprovado em 1999 e, desde a sua implementação, tem funcionado de forma satisfatória. Atualmente, a pesca sustentável do peixe gera renda significativa para as famílias ribeirinhas e funciona como barreira de proteção dos rios. 

Para garantir a economia local, a FAS tem apoiado o manejo sustentável do pirarucu em cinco UCs na Amazônia, com investimento em infraestrutura, logística e mercado. No último ano, a fundação apoiou a captura e venda de 108 toneladas do pescado. Nas três freiras realizadas pela Fundação no último ano, foram comercializados 14.18 toneladas do peixe, que gerou um faturamento bruto de R$ 118.692.96 para as 67 famílias beneficiadas.

Edvaldo Corrêa, gerente do Programa Floresta em Pé, explica que o manejo da espécie é essencial para dar continuidade a projetos de sustentabilidade. 

“O manejo do pirarucu traz muitos benefícios para o ecossistema, porque ajuda na conservação da espécie e gera uma grande produtividade. Para as comunidades, gera renda e emprego, profissionalização para pescadores e investimentos em locais de uso comunitário, trazendo ganhos financeiros e sociais para as comunidades e para o meio ambiente”, afirma Edvaldo. 

Os ribeirinhos também relatam os benefícios do manejo para a comunidade. O pescador Joilson de Souza, por exemplo, enxerga a melhoria na vida dele e de outros familiares. Para ele, o manejo sustentável é a chance de unir o ofício familiar à geração de renda.

“O manejo se desenvolveu muito com o passar dos anos e melhorou bastante. E eu vejo meus irmãos e primos, que enxergam (o manejo) como a renda deles. Eles têm o pai como espelho para seguir adiante com o que o pai deixou para eles e têm isso como propriedade deles. Eles lutam por isso, assim como eu. Eu vivo por isso, eu luto por isso”, explica Joilson.

Conheça as etapas do manejo

Antes do pirarucu chegar às nossas mesas, o pescado passa por algumas etapas que dependem diretamente dos períodos de cheia dos rios. E são esses detalhes que a websérie da FAS aborda. 

1. Defesa e monitoramento dos lagos (Período de cheia)

Durante a entressafra, as famílias se dividem em turnos para vigiar os lagos – principais locais onde ficam concentrados os peixes -, garantindo que nenhum pescador exerça atividades nesse período, que é considerado inapropriado para pesca. Essa época deve ser respeitada para garantir o crescimento e reprodução da espécie.  

2. Contagem (Período de seca)

Durante a seca, é feita a contagem do número de peixes no lago. Por possuir respiração pulmonar, o pirarucu é uma espécie que precisa subir até a superfície para respirar, o que ocorre em intervalos de 20 minutos. É nesse momento que os pescadores especializados conseguem estimar o número de indivíduos.

3. Pesca (Período de seca)

A partir da contagem, é estabelecida a cota de pesca, que permite a retirada de 30% dos peixes adultos, a fim de não prejudicar a reprodução da espécie. O período de pesca é intenso e envolve toda a família dos pescadores: homens, mulheres e jovens, que se dividem nas funções de pesca, pesagem e limpeza.

4. Processamento e estocagem (Período de seca)

O pirarucu pode ser armazenado congelado ou dessecado ao sol e salgado. Geralmente, as partes mais vendidas são o filé, a ventrecha e a manta.

5. Escoamento (Período de seca)

Normalmente, as comunidades envolvidas na pesca estão localizadas em regiões muito distantes dos centros urbanos onde o peixe é comercializado. Por isso, na maioria das vezes, os pescadores vendem para intermediários que vão às comunidades e compram o pescado por um preço menor. Para contribuir com a valorização da cadeia produtiva e dos manejadores, a FAS apoia a participação dos produtores da Feira da FAS, onde o pescado é vendido por um preço justo. No último ano, o filé foi comercializado por R$25, a manta por R$18, a ventrecha R$14 e a carcaça por R$6.

Sobre a Fundação Amazônia Sustentável

A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil fundada em 2008, com a missão de “contribuir para a conservação ambiental da Amazônia, através da valorização da floresta em pé e sua biodiversidade, aumentando a qualidade de vida das comunidades ribeirinhas associando a implementação e disseminação de conhecimento sobre desenvolvimento sustentável”. Com base em Manaus, a FAS coordena projetos ambientais, sociais e econômicos focados na conservação da floresta amazônica. É uma organização sem fins lucrativos, sem ligações político-partidárias, de utilidade pública e assistência social.

Um comentário sobre “Websérie mostra como um projeto sustentável salvou o pirarucu da extinção na Amazônia

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