O Porto do Açu e a extrema pobreza em São João da Barra: dados mostram que o tão prometido desenvolvimento econômico não passou de miragem

Lanlamento da pedra fundamental Porto do Açu -27-12-2006 (1)

Eike Batista e o lançamento da pedra fundamental do Porto do Açu no distante ano de 2006

Em função das minhas múltiplas tarefas semanais na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), acabei não cometendo mais uma excelente postagem vinda do blog do economista José Alves Neto. Me refiro ao texto em que ele aborda a prevalência da miséria extrema na região Norte Fluminense. Segundo dados apresentados pelo José Alves Neto, a  extrema pobreza afeta 17.294 pessoas ou 47,08% dos habitantes do município de São João da Barra (36.731), o que vem a ser o índice mais alto de todo o Norte Fluminense. José Alves Neto lembra ainda que  é justamente São João da Barra que abriga o Porto do Açu onde alegadamente foram investidos mais R$20 bilhões de desde 2014 e se deverá investir outros R$ 22 bilhões até 2033, conforme está anunciado no site do empreendimento.

Como tenho estudado o empreendimento com profundida desde que começou a sua implantação, sou obrigado a apontar para o fato de que a maior parte desses investimentos realizados serviram apenas para criar um enclave geográfico com pouquíssimo contato com as áreas externas pertencentes ao município de São João da Barra.

Além disso, a verdade é que, apesar de todo o dinheiro aplicado na custosa implantação do Porto do Açu, o empreendimento até hoje é  “mais espuma do que chopp”. Segundos dados levantados por movimentos sociais, o Porto do Açu funciona hoje com menos de um terço de sua capacidade na área de óleo e gás, reforçando o óbvio que é o fato de que todo o dinheiro ali investido pelo Estado brasileiro foi basicamente um grande desperdício econômico. É que, como mostram os dados levantados por José Alves Neto, o Porto do Açu não só não serviu para aliviar a extrema miséria, mas acabou retirando as fontes de geração da renda de milhares de famílias de agricultores e de pescadores artesanais que vivam modestamente, porém com dignidade, no território de onde foram defenestradas para a instalação do empreendimento.

A concorrência do Porto Central deverá aumentar a inoperância do Porto do Açu e agravar a extrema pobreza no Norte Fluminense

Mas como desgraça pouca é bobagem, o jornal “A Gazeta”  informou ontem (11/5) que o presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, informou que foi emitida a licença de instalação do Porto Central que ficará sediado no município de Presidente Kennedy (ES).  O Porto Central é uma espécie de cópia minimizada do Porto do Açu, mas irá oferecer uma concorrência direta para um empreendimento que nunca esteve à altura das promessas mirabolantes de Eike Batista (ver imagem abaixo).

Porto Central colocará  o Estado no caminho de  mais cargas

Maquete do Porto Central que teve sua construção em Presidente Kennedy (ES) liberada pelo IBAMA

O pior é que estando localizado a apenas 160 km de distância rodoviária de São João da Barra, o Porto Central deverá agravar os problemas ambientais que já foram gerados nas áreas ao norte do Porto do Açu, atingindo diretamente as cidades de Bom Jesus de Itabapoana e São João da Barra o que, por sua vez, deverá agravar os problemas sociais, com o risco de aumentar ainda mais a extrema pobreza nesses dois municípios. 

Não tenho dúvidas de que o somatório desses dois portos irá causar estragos ainda incalculáveis para toda a região Norte Fluminense, mas principalmente para os segmentos que hoje se encontram nas piores condições de vida.   É que esses enclaves geográficos não estão sendo idealizados para gerar desenvolvimento regional, mas sim formas ainda mais absurdas de exploração dos territórios onde são instalados. Aliás, no dia de hoje foi iniciada mais uma greve de trabalhadores no Porto do Açu que demandam  reajustes de até 30% em algumas categorias, além de reivindicar melhores condições de trabalho. Como se vê, mais um bom exemplo de que a miragem não resiste a um exame mínimo dos fatos.

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