Tsunami tóxica: consumo de agrotóxicos ultrapassou 1 milhão de toneladas, alcançando 1,6 bilhão de hectares no Brasil em 2020

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Estudo realizada pela empresa Spark Consultoria Estratégica a pedido do  Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), a área afetada pelo uso de agrotóxicos cresceu 6,9 no Brasil em 2020, totalizando o emprego do valor estratosférico de 1.052.520 toneladas (ou traduzindo em um número mais compreensível, cerca de 1 milhão de toneladas) que foram usados 1,6 bilhão de hectares, 107 milhões a mais que em 2019 (ver figura abaixo).

Segundo o mesmo relatório, a  soja concentrou 48% do valor em agrotóxicos, representando outro valor estrastoférico, US$ 5,8 bilhões. Em segundo lugar, apareceu o milho, com 13% do total, equivalente a US$ 1,6 bilhão, depois a cana (11% do valor de mercado), o algodão (10%). Assim, juntas essas commodities produzidas primariamente para exportação representaram 82% do consumo total de agrotóxicos no Brasil em 2020!

Em relação ao tipo de agrotóxicos utilizados, mais de 413 milhões de hectares foram afetados pelo uso de inseticidas, cerca de 25% do total. Em seguida, apareceram os herbicidas, com cerca de 401 milhões de hectares (24%). Além disso, os produtores também aplicaram fungicidas em 306 milhões de hectares (19%), enquanto outros 149 milhões de hectares receberam aplicações de produtos para o tratamento de sementes (9%).

Com todos esses números impressionantes, o que temos no Brasil é uma super utilização de agrotóxicos explicitamente para dar conta de quatro commodities (i.e., soja, milho, cana e algodão) que afetam cada vez mais área rurais, e objetivamente contribuem para a poluição ambiental e a contaminação dos habitantes dessas regiões, estejam eles trabalhando direto com agrotóxicos ou não.

Como venho mostrando em seguidas postagens, diversas publicações científicas que estão aparecendo nas melhores revistas científicas do mundo já estão documentando os fortes impactos sobre a saúde dos brasileiros por causa da alta exposição a agrotóxicos altamente perigosos, os quais estão banidos nos países que os produzem. E com isso vem abaixo todo o discurso empregado pelo governo Bolsonaro para facilitar a liberação desses produtos indesejados por outros países no Brasil que lembremos vai no sentido de que mais agrotóxicos traria modernização e segurança.

Esse custo subliminar de um modelo agrícola baseado na exportação de commodities produzidas em grandes áreas de monocultura cedo ou tarde sobrecarregará, tal qual faz a COVID-19 neste momento, um sistema de saúde cada vez mais privatizado e indisponível justamente para aqueles que estão sendo mais diretamente impactados por essa verdadeira tsunami de agrotóxicos que assola o Brasil neste momento.

Finalmente, nunca é demais lembrar que todo esse volume de agrotóxicos já está causando um afastamento de mercados importantes das commodities agrícolas brasileiras. Essa aposta tóxica poderá, mais cedo do que tarde, colocar a produção brasileira em uma espécie de isolamento sanitário por aqueles mesmos países que vendem a lucros fabulosos os venenos agrícolas que estão sendo utilizados no Brasil.

Observatório dos Agrotóxicos disponibiliza a lista completa dos 1001 agrotóxicos liberados nos dois anos do governo Bolsonaro

Agenda tóxica do governo Bolsonaro continua favorecendo a aprovação de agrotóxicos proibidos e altamente perigosos para a saúde humana e o ambiente. Empresas chinesas estão entre as principais fornecedoras

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Com a publicação atrasada do Ato No. 70 de 23 de Dezembro de 2020, o governo Bolsonaro alcançou um novo patamar na verdadeira avalanche de agrotóxicos iniciada desde os primeiros dias da atual administração. É que, ao contrário do que este blog havia divulgado anteriormente, o total de agrotóxicos liberados no biênio 2019-2020 alcançou os quase inacreditáveis 1001 produtos.

A novidade no Ato No. 70 veio por uma participação relativamente alta do Brasil que teve empresas sediadas no próprio país respondendo por 36% dos produtos, muito em parte por causa da liberação de 19 agrotóxicos da modalidade de controle biológico. Entretanto, a China se destacou novamente, com participação superior ao Brasil por causa do controle de empresas sediadas em outros países, como é o caso da Syngenta, que apesar de sediada na Suíça é de propriedade da estatal chinesa ChemChina (ver figura abaixo). 

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O Ato No. 70 trouxe dois casos interessantes: o do “inédito” Tolfenpirade, inseticida do grupo químico Pirazol que, além de proibido em todos os países da União Europeia (EU), jamais foi obteve liberação para uso pela Comissão Europeia.  Outro caso de um agrotóxico proibido em todos os países da EU e que agora começará a ser comercializado no Brasil é o Trifloxissulfuron sódico, herbicida do grupo químico Sulfoniluréias. 

Aliás, o Ato No. 70 traz um total de  18 agrotóxicos químicos proibidos (total ou parcialmente) pela EU, o que apenas confirma a tendência de que o Brasil foi transformado em uma espécie de zona de sacrifício para onde são enviados produtos que não podem mais ser utilizados nos países que originalmente os desenvolveram. 

Quem desejar acessar o arquivo contendo a base de dados contendo apenas os 56 agrotóxicos liberados por meio do Ato No. 70, basta clicar [Aqui!]. Já quem desejar acessar a base de dados completa para o biênio 2019-2020, basta clicar [Aqui!] .

Agenda tóxica: Governo Bolsonaro publica ato e eleva total de agrotóxicos liberados em 2020 a 498

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Andava estranhando a pausa na liberação de novos agrotóxicos pelo governo Bolsonaro, visto que o último ato detectado havia sido o  No.65 de 23 de Novembro de 2020. Entretanto, hoje o Diário Oficial da União trouxe a publicação atrasado do Ato No. 70 de 23 de Dezembro, com a liberação de mais 56 agrotóxicos, o que eleva o total aprovado no ano de 2020 para 498 produtos. Com isso, o “grande total” dos produtos liberados pelo governo Bolsonaro em seus dois primeiros anos de mandato chega a incríveis 1001 agrotóxicos.

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É interessante notar que este último ato de 2020 repete uma forte influência de fabricantes chineses de agrotóxicos que são os produtores primários de um número significativo dos agrotóxicos aprovados. Este fato reforça que toda a oposição mostrada pelo presidente Jair Bolsonaro ao uso da vacina Coronavac da empresa chinesa Sinovac não alcança os agrotóxicos fabricados na China, muitos deles proibidos em outras partes do mundo. 

Além disso, há que se frisar que todo o atraso que está se vendo para o início da vacinação contra a COVID-19 não ocorre com a liberação de agrotóxicos, o que reforça ainda mais a primazia da agenda tóxica sobre a saúde dos brasileiros.

Amanhã o Observatório dos Agrotóxicos do Blogo do Pedlowski irá divulgar a lista completa dos agrotóxicos liberados pelo Ato No. 70, bem como a planilha completa para o ano de 2020.