Observatório dos Agrotóxicos: com 1.734 liberações, governo Bolsonaro transforma Brasil em celeiro de venenos agrícolas banidos no resto do mundo

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Com alguma demora, o “Observatório dos Agrotóxicos” do Blog do Pedlowski divulga hoje a lista completa dos produtos liberados por meio do Ato No. 31 de 28 de junho (n=46) completa o estratosférico número de 1.734 agrotóxicos liberados pelo governo Bolsonaro desde 01 de janeir de 2019.

Os agrotóxicos liberados pelo Ato No. 31 confirmam vários aspectos das rodadas anteriores, na medida em que empresas chinesas (localizadas na China ou fora dela) se tornaram as principais fornecedoras para alimentar a produção de monoculturas de exportação, incluindo algodão, cana de açúcar, milho e soja. Com isso, o que se vê é que toda a conversa de que agrotóxicos são essenciais para alimentar o mundo não passa de um falácia, na medida em que alimentar o mundo não é o caso dessas monoculturas que, no plano interno, são responsáveis pelo avanço do desmatamento dos biomas amazônicos e do Cerrado, bem como por graves violações dos direitos trabalhistas, incluindo a prática de trabalho escravo.

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Além disso, há ainda o Ato No. 31 confirma persistente liberação de produtos banidos em outras partes do mundo, o que vai de encontro às teses propaladas pela ex-ministra (e atual candidata ao senado federal) Tereza Cristina de que toda essa enxurrada de venenos traria modernização do portfólio de agrotóxicos usados na agricultura brasileira. Na prática, o que se vê é a liberação de produtos banidos na União Europeia há algum tempo, como no caso dos herbicidas Ametrina e Atrazina, mas também de vários compostos de grupos químicos conhecidos por causarem a extinção de polinizadores (por exemplo as abelhas) como no caso dos piretróides e neonicotinóides.

O Brasil como celeiro das corporações dos venenos agrícolas

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Um aspecto que já foi revelado por estudos realizados por organizações internacionais, como é o caso da ONG suíça “Public Eye”, e que se confirma nessa nova rodada de liberações é que para o Brasil e outros países do chamado Sul Global (que congregam a periferia capitalista formada por ex-colônias das potências europeias)  estão sendo enviados aqueles produtos que foram banidos nos países centrais por serem altamente perigosos e, consequentemente, causarem várias doenças graves (incluindo câncer, má formação fetal, alterações no sistema neurológico).

É esse aspecto que precisa ser sempre lembrado, pois em troca do fornecimento de commodities relativamente baratas, os governos dos países centrais estão contribuindo para danos irreparáveis em ecossistemas estratégicos para o equilíbrio ecológico da Terra.  E isso tudo apenas para manter um padrão de acumulação que perpetua as graves desigualdades que existem no sistema econômico global.

Como já escrevi anteriormente, uma das discussões centrais que deveriam estar ocorrendo na atual campanha eleitoral, e que não está ocorrendo, é sobre este modelo agrícola tão dependente de venenos agrícolas para manter níveis de produção medíocres e que só gera safras expressivas em função do aumento da área plantada. Rediscutir esse modelo anti-ecológico e de baixa eficiência deveria ser um dos pontos chaves dos debates, pois os efeitos cumulativos do uso de quantidades gigantescas de venenos altamente tóxicos terá consequências gravíssimas no médio e longo prazo.

Para quem desejar baixar a base com os 46 agrotóxicos liberados pelo Ato No. 31 de 28 de junho de 2022, basta clicar [Aqui!]. Para quem desejar baixar a base completa dos 1.734 agrotóxicos liberados pelo governo Bolsonaro, basta clicar [Aqui].

 

Fundação Rosa Luxemburgo lança relatório sobre comércio global de agrotóxicos perigosos por multinacionais alemãs

Agrotóxicos perigosos da Bayer e da BASF: um comércio global com padrões duplos

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As duas empresas agroquímicas alemãs são responsáveis ​​por sérios problemas de saúde entre trabalhadores agrícolas na África do Sul e grupos indígenas no Brasil.

Os gigantes agroquímicos alemães Bayer e BASF estão entre os quatro maiores produtores de ingredientes ativos do mundo. Em um novo estudo internacional, a Rosa-Luxemburg-Stiftung, INKOTA-netzwerk e MISEREOR, juntamente com a rede brasileira Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida e a organização sul-africana Khanyisa, documentam como as duas empresas comercializam um grande número de ingredientes ativos na África do Sul e no Brasil com suas próprias marcas, bem como em produtos de fabricantes nacionais que não são aprovados na UE. A Bayer possui pelo menos sete ingredientes ativos que não são aprovados na África do Sul e a BASF em pelo menos quatro. No Brasil, as duas empresas agroquímicas comercializam pelo menos 12 ingredientes ativos que não são aprovados na UE. Sete dos ingredientes ativos no mercado nos dois países foram explicitamente proibidos na UE devido a riscos ambientais e à saúde. Trata-se de um negócio perverso, com padrões duplos, que deve ser claramente rejeitado da perspectiva dos direitos humanos.

O estudo examina os casos em que a aplicação de pesticidas da Bayer e da BASF levou a envenenamentos graves e outras doenças entre trabalhadores agrícolas na África do Sul e grupos indígenas no Brasil. Nas fazendas de citros na África do Sul, o envenenamento durante a pulverização resultou em hospitalização dos trabalhadores. No Brasil, vilas inteiras são fortemente envenenadas pela aspersão de agrotóxicos por aviões, e um grande número de ingredientes de agrotóxicos é liberado nas águas subterrâneas. No caso de uma comunidade indígena em Tey Jusu, um tribunal brasileiro confirmou que os habitantes foram envenenados por um avião pulverizando um produto da Bayer.

Entre outras descobertas, os autores do estudo concluíram que o governo alemão deveria proibir a exportação de ingredientes ativos que não são aprovados na UE. Os governos da África do Sul e do Brasil, por sua vez, devem aprovar uma lei que proíba a importação de ingredientes ativos e agrotóxicos que não são aprovados na UE ou em outros países.

Quem desejar baixar o relatório completo sobre os agrotóxicos perigososo da Bayer e da Basf, basta clicar Aqui!.

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Este texto foi originalmente publicado em inglês pela Rosa Luxemburg Stiftung [Aqui!].