Autocontrole é a senha do governo Bolsonaro para “chutar o balde” no controle da produção de carne e do desmatamento

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O governo Bolsonaro ainda não começou mas já sabemos qual será a senha para afrouxar os frágeis controles que existem sobre a indústria de carne no Brasil. A palavra que vem sendo usada para nos informar das pretensões de um governo de concretizar amplos retrocessos na frágil estrutura de controle existente no Brasil é “autocontrole”. 

Autocontrole foi usado pela futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM/MS) para anunciar sua pretensão de afrouxar o controle existente nos frigoríficos brasileiros e deixar sob o controle das empresas a responsabilidade de atender a legislação no tocante ao abate animal e produção de carne [1]. A desculpa é permitir a ampliação da produção de carne, como se não tivéssemos tido recentemente a operação “Carne Fraca” que revelou uma série de procedimentos ilegais, mesmo em face da inspeção diária de fiscais.

Autocontrole também apareceu nas declarações do futuro presidente do IBAMA,  Eduardo Fortunato Blm, que indicou que deixará a cargo dos grandes proprietários rurais realizar uma forma de “licenciamento ambiental automático” para permitir não apenas acelerar o processo, mas como também deixar a cargo do interessado a responsabilidade por seguir a legislação no tocante ao controle das atividades envolvidas, incluindo a remoção de floresta nativa [2].

Quando combinadas as intenções da ministra da Agricultura e do presidente do IBAMA, o que está se preparando é o aumento do risco de que a carne produzida no Brasil não atenda os critérios legais e de que haja uma aceleração no processo de desmatamento, especialmente na bacia Amazônica, região onde a criação de pastagens já é o principal tipo de uso do solo para dar conta ao crescimento do rebanho bovino.

A questão que certamente não deve estar sendo levada em conta pelos membros do governo Bolsonaro é que essa combinação também deverá causar uma forte reação dos países que tenham preocupações não apenas com a segurança alimentar de sua população, mas também com as consequências desastrosas que o avanço do desmatamento na Amazônia deverá causar na regulação climática da Terra.

Como já escrevi várias vezes aqui neste blog, todos esses anúncios toscos por parte dos membros do governo Bolsonaro já acenderam todas as luzes de alerta em muitos países que adquirem produtos de origem anima que são produzidos pelo Brasil.  Se acrescentarmos ainda a possibilidade de boicote dos países árabes por causa da anunciada mudança da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, os agro-exportadores de “face moderna” terão muitas preocupações com as ações do governo que ajudaram a colocar no poder.

É que apesar do desejo do presidente eleito de retroceder o Brasil para o Século XIX, o resto do mundo está mais preocupado com a aplicação de agendas que ele e seus ministros consideram com questões que ele considera fúteis.

Um bom sinal de que a porca poderá torcer o rabo foi a declaração do atual ministro da Agricultura, o latifundiário Blairo Maggi, que afirmou que quem exige a presença diária de fiscais dentro dos frigoríficos são os países que importam a carne brasileira, a começar pelos EUA [3]. Assim, ao anunciar essa intenção de “chutar o balde” em nome do “aucontrole”, o que os futuros dirigentes do governo Bolsonaro estarão fazendo é colocar em risco a posição do Brasil como um grande fornecedor de carne animal e outras commodities que fazem a alegria do latifúndio agro-exportador.


[1] https://www.terra.com.br/economia/futura-ministra-quer-acabar-com-inspecao-diaria-em-frigorificos-do-pais,9fe49e07279475b6829c144870ea2ea05uxcilcy.html

[2] https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,futuro-presidente-do-ibama-quer-licenciamento-ambiental-automatico,70002653997

[3] https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2018/12/22/estado-e-vital-no-frigorifico-diz-blairo-maggi-sobre-proposta-de-nova-ministra.htm