O presidente da Aprosoja, o latifundiário sojeiro Antonio Galvan, sofreu busca e apreensão em investigação contra manifestações golpistas em 7 de setembro
O envolvimento de entidades ligadas ao latifúndio agro-exportador na organização dos atos anti-democráticos programados para o dia 7 de setembro tem surpreendido muita gente. Pessoalmente não compartilho dessa surpresa, pois estou concluindo a leitura do livro “Formação Política do Agro-Negócio” de autoria do antropólogo Caio Pompeia Ribeiro Neto, que foi publicado pela Editora Elefante em fevereiro de 2021.

Apesar das normais oscilações que marcam o conteúdo de obras sobre assuntos complexos, o livro de Caio Pompeia faz uma excelente radiografia não apenas do nascimento do conceito de “agronegócio” na Universidade de Harvard, e seu posterior entranhamento na realidade brasileira a partir dos esforços corporativos e de docentes da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo, mas também da diligente ação dos líderes de corporações ligadas aos esforço de implantar uma agricultura “a la Revolução Verde” no Brasil e, nada de surpresa, entidades ligadas ao latifúndio agro-exportador.
O livro mostra ainda que, apesar de fricções internas, os membros ligados ao designado “agro-negócio” têm atuado desde a Assembleia Nacional Constituinte de 1988 para regredir direitos sociais e a proteção ao meio ambiente, mas também para impedir que a chamada agricultura familiar tenha acesso aos mesmos benefícios que os grandes proprietários rurais usufruem.
A partir dessa de capacidade de superar divergências localizadas a partir de interesses pontualmente opostos, os membros das entidades ruralistas vem agindo de forma coordenada e eficiente para impor no Congresso Nacional uma série de derrotas aos camponeses, quilombolas e povos indígenas. Caio Pompeu oferece como exemplo a questão do Código Florestal onde a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja) conseguiu sistematizar uma frente unificada para impor no congresso sua agenda anti-social e anti-ambiental e, principalmente, anti-povos indígenas. Aliás, interessante notar que alguns dos aliados da Aprosoja no Congresso Nacional são figuras conhecidas por suas pautas regressivas, incluindo o hoje senador Luiz Carlos Heinze (PP/RS) que tanta vergonha tem passado na CPI da Pandemia.
Desta forma, o envolvimento direta da mesma Aprosoja nos esforços de realizar atos massivos contra o Supremo Tribunal Federal e contra o Congresso Nacional representa uma linha de continuidade de esforços que ocorrem há muito tempo, ainda que a entidade tenha se fortalecido após o “boom” de commodities que ocorreu nos governos do presidente Luis Inácio Lula da Silva. Aliás, este fortalecimento do agronegócio (i.e., latifundio agroexportador rebatizado) é mais um dos resultados das políticas dúbias que marcaram os anos em que o PT esteve à frente do governo federal brasileiro.
Assim, o envolvimento da Aprosoja no financiamento das ações antidemocráticas que visam criar o caos no sistema político brasileiro não é apenas coerente com sua história, mas também bastante alinhado com a visão de país em que seus dirigentes desejam que vivamos todos.