Pesquisa: faltam dados nos países pobres, e impactos das mudanças climáticas estão subestimados

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A ciência da atribuição está ampliando o conhecimento sobre os impactos das mudanças climáticas induzidas pelo homem, mas ainda há grandes lacunas sobre a extensão dos danos causados. É o que adverte um novo estudo, divulgado nesta terça-feira (18) na estreia de um novo periódico científico: Environmental Research: Climate, editado pela IOP Publishing.

Pesquisadores da Universidade de Oxford, Imperial College London e Victoria University of Wellington revisaram os impactos de cinco tipos diferentes de eventos climáticos extremos e em que grau esses eventos prejudiciais poderiam ser atribuídos à mudança climática induzida pelo homem.

Para isso, eles combinaram informações dos últimos relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) e os resultados de um conjunto de estudos de atribuição recentes nos quais observações meteorológicas e modelos climáticos são usados para determinar o papel que a mudança climática desempenhou em eventos meteorológicos específicos.

Eles descobriram que para alguns eventos climáticos extremos, tais como ondas de calor, a ligação com a mudança climática é clara e inequívoca em todo o mundo, e que a extensão dos impactos provavelmente está sendo subestimada por seguradoras, economistas e governos. Para outros, como os ciclones tropicais, existem diferenças importantes entre as regiões e o papel que a mudança climática desempenha em cada evento é mais variável do que para as ondas de calor.

“A compreensão do papel que a mudança climática desempenha nesses eventos pode nos ajudar a nos preparar melhor para eles. Isso também nos permite determinar o custo real que as emissões de carbono têm em nossas vidas”, diz Ben Clarke, da Universidade de Oxford, autor principal do estudo.

Os autores observam que há uma necessidade urgente de mais dados de países de renda baixa e média, onde os impactos da mudança climática são mais fortemente sentidos e os esforços de adaptação estão gravemente atrasados.

Uma das principais dificuldades nesses países é a ausência de dados meteorológicos nacionais disponíveis publicamente. Os exemplos incluem a África do Sul, onde a corrupção desvia os fundos para instalações de equipamentos meteorológicos, levando a enormes lacunas de dados em uma rede que, de outra forma, seria boa; a Somália, que é propensa à seca e onde mudanças desordenadas na política perturbaram as medições; e a Polônia, onde os dados meteorológicos só estão disponíveis mediante o pagamento de taxas elevadas, desestimulando pesquisas financiadas com recursos públicos.

“Nós realmente não temos uma visão abrangente ou um inventário detalhado do impacto que as mudanças climáticas estão tendo hoje”, diz o Friederike Otto, do Instituto Grantham – Mudanças Climáticas e o Meio Ambiente do Imperial College London, co-autor do estudo.

“Agora que temos as ferramentas e o conhecimento avançado para criar tal inventário, precisamos que eles cheguem a todo o’mundo de maneira mais uniforme para melhorar nosso entendimento em áreas onde faltam evidências”, defende Otto. “Caso contrário, estamos negando aos países o conhecimento para fazer o melhor uso de fundos esparsos e melhorar as chances das pessoas viverem com segurança e se adaptarem às mudanças climáticas.”

Capitalismo de vigilância está em pânico

Restrições para empresas de tecnologia estão sendo discutidas na UE. Grupos de lobby alertam contra influência

vigilanciaAs empresas de tecnologia temem por seu modelo de negócios: coleta e uso de dados.

Por Fabian Lambeck para o Neues Deutschland

A razão para isso são dois projetos de lei da Comissão da União Europeia (UE) , que se destinam a estabelecer limites mais estreitos para as corporações predominantemente norte-americanas: A Lei de Mercados Digitais (DMA) destina-se a limitar o poder de mercado dos monopolistas.

No entanto, a questão mais quente no momento é a Lei de Serviços Digitais (DSA). Após longas discussões, o Parlamento da UE aprovou seu relatório sobre a DSA na última quinta-feira. Isto constitui a base para novas negociações do trílogo com a Comissão e o Conselho. Esperava-se, portanto, ansiosamente para ver se e como as corporações conseguiriam influenciar o projeto a seu favor.

A proibição planejada da publicidade direcionada foi particularmente contestada. Todos os dados pessoais são aproveitados para poder colocar publicidade direcionada e personalizada . É aqui que as plataformas de mídia social como o Facebook têm uma vantagem, pois coletam todos os dados de seus usuários, como idade, sexo, ocupação, interesses e eventos da vida. Isso cria perfis pessoais que permitem tirar conclusões sobre doenças mentais ou atitudes políticas.

Esses dados íntimos são o capital das empresas de tecnologia. A organização Corporate Europe Observatory (CEO) também se refere a “um grande número de outros atores deste sistema”; além das agências de publicidade, existem “editores de mídia que dependem da receita de publicidade, corretores de dados que vendem informações para completar perfis de usuários e trocas de publicidade que conectam anunciantes a editores”.

A indústria reagiu com pânico correspondente quando o Parlamento aprovou um relatório em outubro de 2020 que recomendou que a Comissão da UE praticamente proibisse essa publicidade direcionada. A publicidade direcionada deve “ser regulamentada de forma mais rigorosa em favor de formas menos intrusivas de publicidade”.

Na versão que foi então submetida ao parlamento para votação, muitas das exigências do relatório foram suprimidas ou significativamente atenuadas. Certamente também um resultado direto do lobby. O CEO registrou um total de 613 reuniões entre lobistas e tomadores de decisão desde dezembro de 2020.

E, portanto, a proibição de publicidade direcionada deve ser limitada apenas a menores. Isso foi contestado pela Tracking-Free Ads Coalition, um grupo de trabalho entre partidos. Este grupo, que é apoiado por deputados social-democratas, liberais, verdes e de esquerda, conseguiu fazer passar no parlamento que pelo menos dados pessoais sensíveis, como orientação política e sexual, bem como religião, deveriam ser tabu.

O líder da facção de esquerda Martin Schirdewan falou de um “importante sucesso parcial”. O seu grupo absteve-se da votação porque pedia a proibição total deste tipo de publicidade. Além disso, o relatório contém muitas lacunas, que os conservadores no Parlamento, em particular, querem ver protegidas, de acordo com o grupo parlamentar. Por exemplo, as corporações poderiam invocar segredos comerciais se deveriam divulgar algoritmos, conforme exigido no rascunho.

De fato, as grandes plataformas deveriam ser obrigadas a publicar os algoritmos que – invisíveis aos usuários – decidem quais notícias ou produtos são exibidos a eles. A remoção de conteúdos ilegais nas plataformas em linha também deve ser melhorada sem pôr em perigo a liberdade de expressão. Além disso, as empresas de tecnologia devem controlar melhor que produtos falsificados ou perigosos não sejam mais vendidos. As violações podem resultar em multas de até seis por cento das vendas anuais. Nada de amendoim quando você considera que a empresa controladora do Google, Alphabet, teve vendas de mais de US$ 182 bilhões em 2020.

Então é muito dinheiro. E resta saber se as corporações serão capazes de relaxar ainda mais a lei nas próximas negociações do trílogo.

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Este texto foi escrito inicialmente em alemão e publicado pelo jornal “Neues Deutschland” [Aqui!].

Mais de 70 entidades assinam nota contra ocultação de dados da COVID-19 pelo governo Bolsonaro

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A nota foi divulgada nesse domingo, 7 de junho,  pela SBPC e pela ABC. “Repudiamos qualquer omissão ou deturpação de dados relativos à covid-19. A subtração e a manipulação de dados não mudam a realidade. E não aliviam o peso de milhares de mortes sobre aqueles que preferirem a ficção à ação, abdicando de seu dever de proteger a saúde da população”, escrevem as entidades

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), divulgaram nesse domingo, 7 de junho uma nota contra a ocultação de dados da covid-19 pelo governo. Até o momento, o documento foi subscrito por mais de 70 entidades e instituições de todo o País.

Na carta, as entidades alertam que a atitude do atitude do Governo Federal em não revelar os dados da pandemia permite a manipulação das informações sobre a evolução da doença no Brasil, além de impedir o correto acompanhamento e contenção do vírus que já infectou centenas de milhares de pessoas e levou dezenas de milhares à morte.

“Repudiamos qualquer omissão ou deturpação de dados relativos à COVID-19. A subtração e a manipulação de dados não mudam a realidade. E não aliviam o peso de milhares de mortes sobre aqueles que preferirem a ficção à ação, abdicando de seu dever de proteger a saúde da população”, escrevem as entidades.

O documento foi encaminhado ao Ministério da Saúde (MS), à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (SCTIE) do MS, ao Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e ao Conselho Nacional de Saúde (CNS).

Leia a carta na íntegra:

NOTA DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS E DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA SOBRE A OCULTAÇÃO DOS DADOS DA COVID-19

Na noite de sexta feira, 5 de junho de 2020, foi retirado o acesso ao portal do governo federal que divulga os dados diários da COVID-19. O referido portal foi reaberto no sábado, 6 de junho de 2020, contendo informações reduzidas, com a justificativa de adoção de nova sistemática de contabilização de casos e óbitos causados pela doença.

A atitude do Governo em não revelar os dados da pandemia permite a manipulação das informações sobre a evolução da COVID-19 no país e impede o acompanhamento e a contenção da doença que tem afetado centenas de milhares de brasileiros. Um cenário de desinformação contribui para que a população se sinta abandonada à sua própria sorte. A ocultação de dados prejudica também a programação para volta de atividades e circulação de pessoas, impactando o planejamento econômico para a saída da recessão, e atenta contra a imagem do Brasil no exterior.

Os dados epidemiológicos são fundamentais para esse planejamento e impactam não somente o conhecimento da evolução da doença no país, mas também no exterior, pois são coletados por instituições  como a tradicional universidade John Hopkins dos Estados Unidos e o Imperial College do Reino Unido. É inaceitável a omissão dos dados sobre a pandemia

É, portanto, indispensável e urgente que sejam restabelecidas a transparência e a clareza na divulgação dos dados, em tempo real, para toda a população e para o mundo, condição necessária para o enfrentamento dessa terrível pandemia. Só assim será possível, a partir da análise científica baseada em dados confiáveis, sair da crise e reduzir o número de vítimas.

Repudiamos qualquer omissão ou deturpação de dados relativos à COVID-19. A subtração e a manipulação de dados não mudam a realidade. E não aliviam o peso de milhares de mortes sobre aqueles que preferirem a ficção à ação, abdicando de seu dever de proteger a saúde da população.

Rio de Janeiro, 7 de junho de 2020

Ildeu de Castro Moreira

Presidente da SBPC

 Luiz Davidovich

Presidente da ABC

Veja o documento aqui.

 

Além da SBPC e da ABC, subscrevem o documento as seguintes entidades:

Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP)

Academia Pernambucana de Ciências (APC)

Associação Brasileira de Antropologia (ABA)

Associação Brasileira de Bioinformática e Biologia Computacional (AB3C)

Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação (ABECO)

Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP)

Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas (ABCF)

Associação Brasileira de Cristalografia (ABCr)

Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM)

Associação Brasileira de Engenharia e Ciências Mecânicas (ABCM)

Associação Brasileira de Estatística (SBE)

Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED)

Associação Brasileira de Etnomusicologia (ABET)

Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

Associação Brasileira de Limnologia (ABLimno)

Associação Brasileira de Linguística (Abralin)

Associação Brasileira de Mutagênese e Genômica Ambiental (Mutagen-Brasil)

Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (ABRAPEC)

Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor)

Associação Brasileira de Química (ABQ)

Associação Nacional de História (ANPUH)

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (ANPARQ)

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP)

Associação Nacional de Pós graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL)

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS)

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED)

Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Geografia (ANPEGE)

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (ANPUR)

Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia (ANPOF)

Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Comunicação (COMPÓS)

Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE)

Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas da Comunicação (SOCICOM)

Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FESBE)

Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC)

Sociedade Astronômica Brasileira (SAB)

Sociedade Brasileira de Automática (SBA)

Sociedade Brasileira de Biofísica (SBBfis)

Sociedade Brasileira de Biologia Celular (SBBC)

Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq)

Sociedade Brasileira de Computação (SBC)

Sociedade Brasileira de Ecotoxicologia (ECOTOX-Brasil)

Sociedade Brasileira de Eletromagnetismo (SBMAG)

Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC)

Sociedade Brasileira de Farmacognosia (SBFGnosia)

Sociedade Brasileira de Física (SBF)

Sociedade Brasileira de Fisiologia (SBFis)

Sociedade Brasileira de Fisiologia Vegetal (SBFV)

Sociedade Brasileira de Genética (SBG)

Sociedade Brasileira de História da Ciência (SBHC)

Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE)

Sociedade Brasileira de Ictiologia (SBI)

Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI)

Sociedade Brasileira de Inflamação (SBIN)

Sociedade Brasileira de Matemática (SBM)

Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC)

Sociedade Brasileira de Microbiologia (SBM)

Sociedade Brasileira de Microeletrônica (SBMicro)

Sociedade Brasileira de Micro-ondas e Optoeletrônica (SBMO)

Sociedade Brasileira de Microscopia e Microanálise (SBMM)

Sociedade Brasileira de Ornitologia (SBO)

Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP)

Sociedade Brasileira de Parasitologia (SBP)

Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat)

Sociedade Brasileira de Pesquisa Operacional (SOBRAPO)

Sociedade Brasileira de Protozoologia (SBPz)

Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP)

Sociedade Brasileira de Química (SBQ)

Sociedade Brasileira de Telecomunicações (SBrT)

Sociedade Brasileira de Virologia (SBV)

Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB)

União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (Ulepicc-Brasil)

Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE)

Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (ECOECO)

Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO)

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Esta matéria foi inicialmente publicada pelo jornal eletrônico da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) [Aqui!].