Fim do ensino superior público pago no Chile, por que o silêncio?

Governo chileno aprova reforma do ensino superior que põe fim às universidades privadas e adota um modelo de ensino superior gratuito e universal Foto: Alex Ibañez/ Presidencia do Chile

Governo chileno aprova reforma do ensino superior que põe fim às universidades privadas e adota um modelo de ensino superior gratuito e universal
Foto: Alex Ibañez/ Presidencia do Chile

*Por Peter Schulz

Há pouco mais de dois meses um fato banal em si transformou-se em grande notícia. O fato era a entrega de um relatório encomendado pelo governo federal, um ”ajuste justo” proposto pelo Banco Mundial. Entre outros, um ajuste bastante divulgado pelos grandes meios de comunicação era o fim da gratuidade no ensino superior público no Brasil[I]. A repercussão foi enorme, lançando-se mão de exemplos bem sucedidos nesse sentido, como o da Inglaterra. A ampla divulgação não trazia junto o “outro lado”, o contraditório. As críticas a essa proposta apareceram em veículos de menor penetração e, em parte, por meio das redes sociais. Uma vez formados esses polos, não ocorreu propriamente um debate público, não apareceram tréplicas para provocar reposicionamentos ou aprofundar as argumentações. Polarizações sem o necessário embate qualificado são comuns e um caso específico foi analisado de forma bastante clara e será útil para entender a pergunta do título: a (des)informação sobre um ataque com mísseis à Faixa de Gaza em 2014. A análise, tanto da cobertura de imprensa de um lado e a omissão de outro, quanto da repercussão nas redes sociais, é de Gilat Lotan da New York University[II]. Vale a pena olhar a imagem da rede de respostas pelo Twitter sobre esse fato a partir de um Twit do Haaretz.com. É possível ver que as comunidades de Twitters “pró-Israel” e as “pró-Palestina” praticamente não se conectam: polarizam-se, mas cada um não se interessa pelo outro lado da história. Um dos “olhos” – como são chamadas as frases em destaque de um artigo – no texto de Lotan é digno candidato a epígrafe: “nós não estamos vendo pontos de vista diferentes e sim mais do mesmo”. Um subtítulo também é sugestivo: “a Mídia constrói a realidade”.

Quanto aos grandes meios de comunicação, Lotan notou que portais de um dos polos anunciaram claramente o incidente, enquanto que os do outro polo pouca menção faziam a isso. Isso lembra bem o caso de poucos dias atrás. Nos desdobramentos do debate (que acabou não existindo) a partir do relatório do Banco Mundial, seria importante uma análise mais aprofundada da realidade nos países onde o ensino superior público é pago, como Estados Unidos ou Inglaterra[III] e, mais perto daqui, o Chile. Nesse contexto, foi quase só por acaso que ficamos sabendo que “O congresso do Chile aprovou lei de gratuidade da educação superior” no dia 24 de janeiro (manchete do eldiario.es[IV]). Para chegar pelo Google a essa matéria, passei primeiro por uma pequena nota Jornal da Ciência da SBPC e pelo blog do Freitas[V], que exibe o link para matéria na Carta Educação, o único veículo de comunicação que parece ter divulgado a noticia por aqui. Assim temos um relatório que propõe uma coisa (ensino superior público pago) amplamente divulgada e um fato importante, mas no sentido contrário (fim do ensino público pago em um país vizinho), que foi obliterado. Lembrando o texto de Lotan: a mídia constrói a realidade?

Voltando ao fato principal, qual é a notícia? A Câmara dos Deputados aprovou com 102 votos e duas abstenções a lei de ensino superior, que universaliza sua gratuidade e introduz outras reformas em um sistema vigente desde a ditadura de Pinochet. O plano já vem de certo tempo e começou a ser posto em marcha em 2016[VI] debaixo de críticas vindo de diferentes pontos do espectro político. O que é comum em várias das narrativas é o alto custo do sistema que agora tem finalmente o marco legal para sua mudança: as mensalidades das universidades chilenas estão entre as mais caras do mundo em termos de paridade de poder aquisitivo[VII]. Esse modelo, que agora é reformado, se correlacionou como uma enorme expansão do ensino superior, mas desonerando o Estado à custa de onerar as famílias e os estudantes. De forma não sustentável. São conhecidos os protestos estudantis no Chile em 2006 e 2011, esses últimos tendo motivado a reforma em questão.

Entender um sistema de ensino em outro país não é tarefa rápida e simples, mas é imprescindível para uma discussão qualificada. Tomar apenas um ou outro aspecto de forma isolada é simplesmente um exemplo do que já foi batizado como sincericídio[VIII]. O que deve ser oferecido, portanto, é acesso a diferentes narrativas. Aqui eu apresentei algumas e acrescento ainda a de J. Salvador Peralta, publicada no portal Times Higher Education[IX] (clique abaixo) em julho do ano passado, ou seja, em pleno debate da lei que foi aprovada praticamente por unanimidade meses depois.

Ao considerarmos exemplos de qualquer lugar que seja, precisamos nos debruçar sobre essas experiências ao longo do tempo como um todo, pois só assim podemos perceber que o que é apresentado por alguns como uma solução ‘mágica’ (e trágica) acabou em farsa e precisou ser substituída. Convido a todos a acompanhar o desenvolvimento do ensino público e gratuito no Chile. Torço por ele, pois Peralta adverte que a reforma estaria condenada por ser boa demais. Espero também que tenhamos mais acesso às informações sobre isso, sem as manipulações de dados, como as confessadas recentemente pelo Banco Mundial[X].

 [I] https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/11/27/o-banco-mundial-contra-ataca

[II] https://medium.com/i-data/israel-gaza-war-data-a54969aeb23e

[III] https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/peter-schulz/universidades-publicas-ameacadas-em-outros-lugares

[IV] http://www.eldiario.es/sociedad/Congreso-Chile-gratuidad-educacion-superior_0_733176683.html

[V] https://avaliacaoeducacional.com/2018/01/28/chile-aprova-gratuidade-no-ensino-superior/

[VI] http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/01/1728059-chile-passa-a-ofertar-ensino-superior-gratis.shtml

[VII] https://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/reportagens/reforma-do-ensino-superior-chileno-entra-em-pauta

[VIII] https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/roberto-romano/sobre-o-sincericidio

[IX] https://www.timeshighereducation.com/world-university-rankings/latin-america-university-rankings-2017-unwelcomed-advance-chile

[X] https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/14/economia/1515899491_574904.html

*Peter Schulz foi  foi professor do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW) da Unicamp durante 20 anos. Atualmente é professor titular da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira. Além de artigos em periódicos especializados em Física e Cienciometria, dedica-se à divulgação científica e ao estudo de aspectos da interdisciplinaridade. Publicou o livro “A encruzilhada da nanotecnologia – inovação, tecnologia e riscos” (Vieira & Lent, 2009) e foi curador da exposição “Tão longe, tão perto – as telecomunicações e a sociedade”, no Museu de Arte Brasileira – FAAP, São Paulo (2010).

FONTE: https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/peter-schulz/fim-do-ensino-superior-publico-pago-no-chile-por-que-o-silencio

Nota de apoio à ADUENF e em defesa das Universidades Estaduais do Rio de Janeiro

Resultado de imagem para ADUFF MANIFESTAÇÃO

Reforçamos, por meio desta nota, nosso apoio à ADUENF e ao importante papel que a mesma tem cumprido na luta em defesa das universidades estaduais do Rio de Janeiro (UENF, UERJ e UEZO)

O Rio de Janeiro é uma espécie de laboratório do projeto neoliberal do governo e de seus financiadores de destruição do caráter público das universidades. O objetivo nos parece claro: precarizar para privatizar. Ao retirar das universidades estaduais quaisquer condições de trabalho, estudo e manutenção, não tem demorado para que setores oportunistas defendam as mais variadas estratégias de privatização que não resolvem e não resolverão os graves problemas nos quais estamos imersos. Quando opta por não pagar docentes, técnicos, aposentados, atrasar o pagamento de bolsas ao mesmo tempo em que segue com uma política criminosa de isenções fiscais voltada a beneficiar grandes empresários, o governo indica claramente que não está entre suas prioridades a educação pública superior no estado, a ciência e a tecnologia. O governo se utiliza permanentemente do argumento da crise para tentar mascarar suas opções políticas e tentar aprová-las de forma autoritária.

Diretoria da Aduff-SSind – Gestão Democracia e Luta:
Em defesa dos Direitos Sociais, do Serviço Público e da Democracia Interna, Biênio 2016/2018

FONTE: http://aduff.org.br/site/index.php/notocias/noticias-recentes/item/3133-nota-de-apoio-a-aduenf-e-em-defesa-das-universidades-estaduais-do-rio-de-janeiro

ADUENF lança vídeo para promover defesa da UENF

uenf sos

A Associação de Docentes da Universidade Estadual do Norte Fluminense (ADUENF) fez hoje o lançamento público de um vídeo de divulgação para promover e ampliar a defesa da instituição que hoje se encontra sob forte ataque do (des) governo Pezão. Com esse vídeo, a ADUENF sinaliza a disposição de continuar avançando sua agenda de defesa incondicional do caráter público e gratuito da Uenf.

Com este tipo de material de divulgação a ADUENF procura ainda suprir a conhecida capacidade das diferentes administrações que ocuparam a reitoria da Uenf a partir de 1999 de fazer a devida publicização das grandes realizações alcançadas ao longo de seus 24 anos de existência.

E que em 2018 possamos todos estar unidos na defesa do patrimônio público que a Uenf efetivamente é.

Marcelo Auler mostra as entranhas da operação contra a UFMG

O jornalista Marcelo Auler vem realizando uma série de reportagens sobre a ação realizada por mais de 100 policiais federais contra o reitor e vários outros gestores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) no dia 06 de Dezembro. 

Até aqui o que o material levantado por Marcelo Auler revela uma série de contradições, exageros que foram realizados para supostamente impedir a destruição de provas de um caso para lá de prosaico se não envolvesse uma maiores universidades públicas brasileiras e a construção de um memorial que nos lembra das piores atrocidades cometidas pelo regime militar de 1964.

As revelações já apresentadas por Auler em suas reportagens têm para mim um sentido bastante pedagógico, na medida em que fica clara a finalidade política de desmoralizar dirigentes para facilitar o avanço do processo de privatização das universidades públicas seguindo as orientações bem pagas do Banco Mundial.

E aqui é preciso dizer que em determinados casos, como esse da UFMG,  os exageros cometidos acabam desmoralizando os que realizam as ações que visavam desmoralizar os alvos de sua sanha persecutória, surtindo uma espécie de efeito “bumerangue” e punindo quem realizou as ações punitivas.

Mas para que isso ocorra é fundamental o papel cumprido por jornalistas investigativos do naipe de Marcelo Auler que nos brinda com uma cobertura que permite que ultrapassemos o limiar rasteiro que caracteriza a ação da mídia corporativa cuja maioria dos jornalistas é circunscrita aos ambientes refrigerados e controlados das redações onde trabalham sob os olhos vigilantes de proprietários que possuem completa ojeriza à coberturas densas do que está efetivamente acontecendo.

Para quem desejar acessar o blog do jornalista Marcelo Auler para ler o conjunto de matérias que ele já publicou sobre o caso da Polícia Federal versus UFMG, basta clicar [Aqui!].