Sobrevoo na bacia do Rio Tapajós mostra grande destruição causada por garimpo ilegal, extração seletiva e monocultura da soja

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Graças a um esforço do pessoal do ClimaInfo (as imagens são da lavra de Christian Braga) é possível ver os resultados de um sobrevoo realizado na bacia do Rio Tapajós, principalmente nos municípios paraenses de Itaituba, Santarém e Trairão, como mostram as imagens logo.

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O que essas imagens eixam claro é que no Pará está ocorrendo uma pilhagem muito bem organizada dentro de áreas de proteção e de terras indígenas para a qual está sendo aplicada uma grande quantidade de capital, já que se pode observar a presença de barcas, pistas de aterrissagem e instalações de garimpo que não instaláveis sem grande injeção de capitais.

As imaghens mostram ainda a presença de plantios de soja em larga extensa em terras protegidas, o que serve para desmacarar toda a suposta cadeia de “due diligence” que as grandes corporações que controlam o comércio global de grãos alegam possuir. 

Por outro lado, a grande quantidade de sedimentos chegando no Rio Tapajós e seus tributários principais é uma demonstração da magnitude da ação do garimpo ilegal de ouro, principlamente em torno do município de Itaituba, mas se estendendo por outras partes da bacia hidrográfica de um dos principais tributários do Rio Amazonas.

O somatório de todas essas coisas é que há um imenso passivo social, econômico e ambiental sendo gerado na Amazônia neste momento e que em tempo futuro irá trazer gravíssimos prejuízos para o Brasil, sobrecarregando ainda mais as populações mais pobres que servirão como uma espécie de receptáculo de todos os males que estão sendo realizados neste momento.

Enquanto isso, ficamos em um debate vazio sobre “democracia”, com os saqueadores nacionais e internacionais se aproveitando disso para avançar no processo de grilagem de terras e exploração irracional das riquezas da Amazônia. Simples assim, mas ainda trágico.

Para acessar todas as imagens desse sobrevoo, basta clicar [Aqui!].

Degradação na Amazônia é maior que o desmatamento

desmatamentoO acúmulo de distúrbios na floresta (como queimadas e extração de madeira) causa a degradação da Amazônia, que entre 1992 e 2014 superou o desmatamento em termos de área afetada. Crédito da imagem: Bruno Kelly / Amazônia Real , sob licença Creative Commons 2.0

  • Embora o foco seja o desmatamento, a degradação da Amazônia é um grande risco
  • Autores alertam que ambos os fenômenos afetam 30 por cento do bioma
  • Menos atenção à degradação pode ser porque é mais difícil de medir do que o desmatamento
Por: Washington Castilhos

Mais de um milhão de quilômetros quadrados podem ter sido destruídos na Amazônia brasileira não só pelo desmatamento, mas pela degradação, fenômeno menos conhecido, mas que entre 1992 e 2014 superou o desmatamento em termos de área afetada, apurou um estudo.

Enquanto a degradação destruiu 330.427 quilômetros quadrados do bioma, 308.311 quilômetros quadrados foram desmatados neste período.

Os dados, publicados em estudo da revista Science , chamam a atenção para uma equação preocupante: somando a estimativa oficial de 20 por cento do desmatamento com a taxa de degradação de 10 por cento medida pelos autores, há apenas um máximo de 70 por cento da floresta preservada.

Esse cálculo sugere que mais de um de seus mais de cinco milhões de quilômetros quadrados de floresta já foi afetado.

“Toda a narrativa foi construída sobre o desmatamento. Não desmatar não significa que a floresta está sendo deixada intacta. Muita atenção tem sido dada ao desmatamento, enquanto o ritmo de degradação pode estar ocorrendo muito mais rapidamente “, alertou Marcos Pedlowski, geógrafo da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro, e um dos autores do estudo. 

“Muita atenção tem sido dada ao desmatamento, enquanto a taxa de degradação pode estar ocorrendo muito mais rapidamente.”

Marcos Pedlowski, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Brasil

Pedlowski explicou por telefone ao SciDev.Net que desmatamento e degradação não são necessariamente fenômenos coexistentes.

Provocado pela expansão da agricultura e da mineração , entre outros fatores, o desmatamento se refere à conversão total das florestas para outro tipo de uso do solo. Por sua vez, a degradação ocorre quando o acúmulo de distúrbios na floresta (queimadas e extração de madeira, por exemplo) altera todo o ecossistema e o funcionamento da floresta, afetando sua capacidade de armazenar carbono e água.

Esses distúrbios têm consequências ambientais importantes, incluindo a liberação de gases de efeito estufa, mudanças no balanço hídrico, perda de biodiversidade e aumento na incidência de doenças infecciosas.

No artigo, os pesquisadores destacam que, no período de 22 anos em que comparam um fenômeno a outro, a área degradada ultrapassou a área desmatada porque o desmatamento tem recebido maior atenção dos órgãos de controle e em desenvolvimento.

Eles também enfatizam que o desmatamento é mais fácil de medir. O desafio no monitoramento da degradação, observam os autores, é que ela ocorre dentro das florestas, então o dossel da floresta – o dossel superior da floresta, composto de copas de árvores – torna difícil a detecção de satélite.

Portanto, “a degradação é mais difícil de confirmar” porque “visualmente pode parecer normal”, disse Pedlowski. “Muitas madeireiras, por exemplo, usam estratégias para esconder a área perturbada. Nem tudo é óbvio ”, acrescentou.

Para estimar a área calculada, 1.200 imagens de satélite foram analisadas. Mas como o sensoriamento remoto não é absoluto, os cientistas foram a campo validar as informações do satélite.

Considerando que as medidas não são exatas, os especialistas acreditam que a área associada à degradação pode ser pelo menos igual à área desmatada, tornando os índices comparáveis. Como resultado, a taxa de destruição pode chegar a cerca de 40% e a soma da degradação com o desmatamento pode chegar a um milhão de metros quadrados.

Em particular, o trabalho mostra um alto índice de degradação em áreas protegidas e reservas indígenas .

“Considerando que a Amazônia representa 60% do território brasileiro, é uma área colossal”, alertou o físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), que não participou da investigação , alertou por telefone o SciDev.Net .

“O estudo é importante porque mostra que o bioma está sendo mais afetado do que revelam os números oficiais projetados pelo Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais], e a perda de carbono é muito maior do que o estimado”, acrescenta Artaxo, que trabalhou na NASA e é membro do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC).

Os pesquisadores acreditam que entender o que está acontecendo na Amazônia exige considerar todas as formas de degradação que podem ser prejudiciais à floresta, e não apenas o desmatamento.

“As estruturas de controle precisam funcionar tanto para um fenômeno quanto para outro. O governo brasileiro não pode continuar dizendo que 80% da floresta ainda está intacta, quando na verdade é muito menos ”, concluiu Pedlowski.

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Este texto foi originalmente publicado em espanhol pela SciDev.Net [Aqui!].

Artigo científico mostra que extração de madeira em florestas ocorre como fenômeno desagregado do desmatamento

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Um artigo que acaba de ser publicado pela revista Ciência Florestal, que é publicada pela Universidade Federal de Santa Maria, aborda a questão da  extração seletiva de madeiras no estado do Mato Grosso. Nesse estudo, no qual tive a oportunidade de colaborar, é discutida a dinâmica espaço-temporal da extração seletiva de madeiras no estado de Mato Grosso com base em um série temporal  de dados de florestas exploradas seletivamente entre 1992 e 2016, usando dados de sensoriamento remoto.

ciencia florestal extração madeira mt

Os dados apresentados no artigo foram gerados a partir da interpretação visual e a classificação semiautomática de imagens Landsat que foram utilizadas para detectar a alteração de florestas pelas atividades de extração seletiva de madeiras.

Com base nos resultados obtidos,  foi estimado que 41.926 km2 de florestas nativas foram exploradas ao menos uma vez em Mato Grosso entre 1992 e 2016, com uma área média anual de 1.747 km2 (ver figura abaixo).

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As florestas exploradas seletivamente e detectadas com distúrbios persistentes ou recorrentes foram mais frequentes nos anos mais recentes do período analisado.  Uma constatação importante do estudo foi que a maioria das florestas exploradas seletivamente na área e no período de estudo não foram desmatadas até 2016.  Este fato indica que a extração seletiva de madeiras consiste em um fenômeno desagregado do desmatamento no estado de Mato Grosso (ver figura abaixo).

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Este estudo mostra que a exploração madeireira impacta uma grande extensão de florestas nativas anualmente no estado de Mato Grosso e, por isso, precisa ser devidamente considerada e monitorada pelos órgãos ambientais devido aos seus potenciais impactos nas florestas.

Quem desejar baixar este artigo na íntegra, basta clicar [Aqui!].

O Ibama abre mão de fiscalizar a exportação de madeira e acelera degradação da Floresta Amazônica

Ibama-madeira

O presidente do Ibama, Eduardo Bim, mudou a norma que exigia que toda a exportação de madeira fosse fiscalizada pelo órgão, o que era feito para conferir se as cargas de fato correspondiam à documentação. A mudança feita por Bim aboliu esta exigência, apesar da existência de parecer contrário de técnicos do órgão.

Segundo Rafael Neves e Leonardo Fuhrmann, do Intercept Brasil, João Pessoa Riograndense, o diretor de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas do Ibama, disse que o órgão pode combater fraudes fazendo inspeções periódicas apenas em cargas suspeitas, por amostragem. Bim deu um passo à frente (ou atrás) ao mencionar em despacho

“uma norma recente, de 21 de fevereiro, para garantir que o Ibama terá acesso ‘a posteriori’ – ou seja, após as exportações – aos dados de exportação informados pelas empresas, de forma a identificar eventuais irregularidades.”

Para Neves e Fuhrmann, além de incentivar a extração ilegal de madeira – tanto em áreas protegidas quanto de espécies protegidas – “a decisão obtida pelos madeireiros vai prejudicar quem trabalha seguindo as regras ambientais. Em grandes mercados, o aval do Ibama era uma garantia de procedência e de que a madeira havia sido abatida e exportada com respeito ao meio ambiente deve reduzir as compras de produtos brasileiros.”

Jake Spring, da Reuters, também comenta a decisão de Bim e conta que no ano passado, milhares de cargas de madeira extraídas da Floresta Amazônica foram exportadas sem a fiscalização do Ibama. Spring diz que isto aumentou o risco de parte desta carga ter sido extraída ilegalmente. A UOL traduziu o artigo de Spring.

Uma sequência de tuítes do Observatório do Clima mostra como estes movimentos do Ibama se correlacionam com a explosão na degradação florestal por corte seletivo observada pelo sistema DETER-B, do INPE. Em 2019, a degradação bateu de longe todos os recordes da série, quando foi 50% maior do que no pior ano até então, considerando o período de janeiro a dezembro.

ClimaInfo, 5 de março de 2020.

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Este texto foi inicialmente publicado pelo Climainfo [Aqui!].