O levante da ciência

cientistas engajados

Por Herton Escobar, jornalista especializado em Ciência e Meio Ambiente e repórter especial do “Jornal da USP”

“Sempre que a ciência for atacada, temos que nos levantar.” Palavras do professor Ricardo Galvão, proferidas em 16 de agosto de 2019, no auditório do Conselho Universitário da USP, poucos dias após ter sido removido pelo ministro Marcos Pontes da cadeira de diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que ele ocupava legitimamente desde 2016. Motivo da exoneração: Galvão se levantou. Fez o que o próprio ministro não teve coragem (ou talvez interesse) de fazer: defendeu a ciência brasileira do negacionismo e das mentiras lançadas contra ela pelo então presidente da República, Jair Bolsonaro.

O caso é bem conhecido. Logo nos primeiros meses do governo, aconteceu o que todo mundo previa que iria acontecer: o desmatamento da Amazônia começou a crescer. Pressionado, o presidente colocou em prática a sua especialidade: negar a realidade. Em vez de demonstrar preocupação e anunciar providências, disse que os dados do Inpe eram “mentirosos” e acusou o diretor do Inpe (Galvão) de estar a serviço de ONGs internacionais, conspirando contra o seu governo. Galvão poderia ter ficado calado para se preservar no cargo, mas não. Rebateu publicamente o presidente, defendeu os dados do Inpe e desafiou Bolsonaro a comprovar suas acusações (o que nunca aconteceu). Depois, ainda enfrentou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que em diversas ocasiões tentou, também, desacreditar publicamente o trabalho do Inpe.

Galvão perdeu o cargo, mas caiu de pé. Se o objetivo era desmoralizá-lo, aconteceu o contrário. Galvão virou um símbolo de inconformismo e resistência ao negacionismo científico e ao obscurantismo intelectual que permearam os quatro anos do governo Bolsonaro. Um governo que negou a realidade do desmatamento, negou o perigo das mudanças climáticas, negou a gravidade da pandemia (até o final), negou a segurança das vacinas, negou a necessidade das máscaras, promoveu falsos tratamentos e vendeu falsas soluções para todo tipo de problema, na área ambiental, na área social, na saúde, na educação, na segurança pública, e por aí vai. Gastamos quatro anos lutando contra inimigos imaginários — ameaça comunista, ideologia de gênero, banheiro unissex, satanismo — enquanto o vírus, a pobreza, a fome e outros problemas do mundo real eram simplesmente negados ou ignorados.

Quantas vidas humanas foram perdidas sem necessidade na pandemia em função disso? Quantos quilômetros quadrados de floresta foram desmatados impunemente? Quantos indígenas morreram de fome, sitiados pelo garimpo? Quantas armas foram parar nas mãos de pessoas violentas? Quantos jovens tiveram seus sonhos jogados na lata de lixo? Quantas universidades foram sucateadas? Quantos cérebros deixaram de ser formados ou foram embora para nunca mais voltar? Quantas pesquisas importantes deixaram de ser feitas? Quantas crianças deixaram, e ainda deixarão, de ser vacinadas por conta das mentiras e do medo que o governo semeou na mente de seus pais? Quantas decisões erradas foram tomadas, apesar do conhecimento disponível para evitá-las?

O negacionismo científico não é apenas uma questão acadêmica, de caráter teórico; é um problema real, com consequências práticas e nefastas para toda a sociedade, que precisa ser combatido com urgência e com inteligência.

O saldo desses últimos quatro anos foi desastroso para a ciência brasileira: orçamento esmagado, cientistas perseguidos, universidades e institutos de pesquisa abandonados, cérebros em fuga. Mas poderia ter sido muito pior, se Galvão e tantos outras lideranças e organizações não tivessem se levantado contra o desmonte. Entre elas, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Academia Brasileira de Ciência (ABC), a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) e várias outras entidades que, individualmente ou coletivamente, atuaram para reverter, amenizar, ou ao menos retardar, os impactos dos muitos ataques à ciência e às universidades públicas proferidos nesse período.

Em 17 de janeiro deste ano, Galvão foi apresentado como o novo presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), um dos cargos mais importantes e prestigiados da ciência brasileira. Vai trabalhar de mãos dadas com a nova presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília, que também atuou fortemente em defesa da ciência e da educação nos últimos quatro anos. Duas indicações qualificadas, do ponto de vista técnico, e carregadas de simbologia.

“Hoje é o dia que se faz justiça à ciência brasileira, o dia em que viramos a página do negacionismo, que não pode ser esquecido, para que não volte a acontecer”, disse a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Luciana Santos.

Galvão, que é professor aposentado do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, se emocionou várias vezes durante a cerimônia, especialmente ao lembrar do seu discurso de 2019 na USP. “Prezada ministra, de fato o povo brasileiro não se calou”, disse. “Essa cerimônia, e a indicação da professora Mercedes Bustamante para a Capes, são a comprovação de que nossa ciência sobreviveu ao cataclisma político promovido por um governo negacionista, que empreendeu um verdadeiro desmonte das políticas públicas em diversas áreas.” E concluiu: “No dia de hoje viramos essa página triste de nossa história, com a convicção de que a ciência voltará a promover grandes avanços para a nossa sociedade”.

Se essa página foi virada, de fato, só o tempo dirá. O negacionismo perdeu a eleição, mas não desapareceu. Assim como o vírus da covid, é um inimigo que chegou para ficar, altamente infeccioso e resiliente, especialmente quando transmitido via WhatsApp, acoplado ao vírus da desinformação.

Desenvolver uma vacina eficaz contra essa doença é um desafio imenso, prioritário e de caráter multidisciplinar, que exige a participação de toda a sociedade — cientistas, professores, médicos, jornalistas, comunicadores, advogados, empresários, poder público. É impossível erradicar o vírus — sempre haverá pessoas dispostas a inventar e disseminar mentiras —, mas, com boa informação, boa educação e um mínimo de bom senso, é possível conter a sua disseminação. Diante desse quadro, só há uma opção daqui para frente: permanecer de pé.

(As opiniões expressas pelos articulistas do Jornal da USP são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem opiniões do veículo nem posições institucionais da Universidade de São Paulo. Acesse aqui nossos parâmetros editoriais para artigos de opinião.)


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Este texto foi inicialmente publicado pelo “Jornal da USP” [Aqui!].

Artigo na Science denuncia aumento de hostilidades a cientistas brasileiros pelo governo Bolsonaro

Um ambiente hostil.’ Cientistas brasileiros enfrentam crescentes ataques do regime de Bolsonaro

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O presidente brasileiro Jair Bolsonaro (ao centro), cumprimentando seus apoiadores sem usar máscara, tem uma relação gelada com a comunidade científica do país. ALAN SANTOS / PR

Por Herton Escobar para a Science

Na semana passada, cientistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), principal agência brasileira para estudar e administrar as vastas áreas protegidas do país, tiveram que começar a obedecer a uma nova regra indesejável. Dá a um dos principais funcionários do ICMBio a autoridade para revisar todos os “manuscritos, textos e compilações científicas” antes de serem publicados.

Os pesquisadores temem que o governo do presidente Jair Bolsonaro, que tem uma relação marcadamente hostil com a comunidade científica brasileira, use as análises para censurar estudos que conflitam com seus esforços contínuos para enfraquecer as proteções ambientais. O governo diz que essa não é a intenção. Mas a mudança se soma aos desenvolvimentos recentes que abalaram muitos cientistas brasileiros e deixaram aqueles que criticam as políticas do Bolsonaro temendo por seus empregos e até mesmo por sua segurança física.

“A ciência está sendo atacada em várias frentes”, diz Philip Fearnside, ecologista veterano do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). “Há negação da pandemia, negação das mudanças climáticas, negação do desmatamento; para não mencionar os cortes no orçamento. ”

As queixas de Bolsonaro com cientistas remontam ao início de seu governo em 2019. Em seguida, acusou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais de “mentir” sobre dados de satélite que mostravam o aumento do desmatamento na Amazônia e demitiu seu diretor, o físico Ricardo Galvão, após defender os números. Desde então, Bolsonaro tem entrado em confronto com pesquisadores por questões que incluem sua rejeição persistente de estratégias baseadas na ciência para combater a pandemia COVID-19, que matou pelo menos 330.000 brasileiros. Mas o relacionamento parece ter entrado em uma fase ainda mais tensa nos últimos meses.

Um exemplo veio em fevereiro, quando a principal agência anticorrupção do Brasil, a Controladoria-Geral da União, informou ao epidemiologista Pedro Hallal, ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas, que ele poderia perder o emprego por causa das críticas que fez ao Bolsonaro em janeiro durante um evento online. Hallal, que coordena o maior projeto de pesquisa em epidemiologia COVID-19 do Brasil, chamou o Bolsonaro de “desprezível”, citando a retórica antivacinação do presidente e sua interferência política na seleção dos reitores das universidades.

Poucas semanas antes, o Ministério da Educação de Bolsonaro ordenou aos reitores de todas as 69 universidades federais, que empregam a maioria dos cientistas brasileiros, que “previnam e punam atos político-partidários” de funcionários. Depois de protestos, o ministério retirou a ordem no mês passado e Hallal finalmente chegou a um acordo com o escritório do controlador, prometendo não “promover a expressão de apreço ou desaprovação no local de trabalho” por 2 anos.

Hallal permanece desafiador. “Se a ideia era me silenciar, tenho que dizer que saiu pela culatra”, diz ele. “Isso está me motivando a ser ainda mais crítico e dizer o que precisa ser dito.” Mas ele teme que o clima político esteja silenciando alguns de seus colegas. “Muitas pessoas estão dizendo menos do que gostariam, por medo de retaliação”.

Os cientistas também estão reconsiderando o que estudam e publicam, diz Marcus Lacerda, especialista em doenças infecciosas da Fundação Oswaldo Cruz. No ano passado, ele enfrentou intensas investigações do Ministério Público Federal – e recebeu ameaças de morte – depois de publicar um trabalho destacando os riscos à saúde de se administrar a droga cloroquina a pacientes com COVID-19 . (Bolsonaro promoveu fortemente a cloroquina, apesar dos estudos concluírem que ela é ineficaz contra o COVID-19.) “Muitas pessoas têm medo de publicar depois do que aconteceu comigo”, diz Lacerda. Colegas abandonaram a pesquisa do coronavírus, acrescenta ele, para evitar o assédio online pelo que é conhecido como “milícia digital” de Bolsonaro.

Em um caso, o assédio online parece ter escalado para um ataque físico. Depois que o biólogo Lucas Ferrante, candidato a doutorado do INPA, publicou artigos em periódicos de destaque (incluindo  Science ) criticando as políticas ambientais e de saúde de Bolsonaro, suas contas de celular e redes sociais se iluminaram com mensagens ameaçadoras. Então, em novembro de 2020, ele diz que foi atacado por um homem que dirigia o que ele pensava ser um veículo Uber que ele havia saudado; o homem disse a Ferrante que ele “precisava calar a boca” e deu um soco nele. Desde então, Ferrante diz que tem medo de sair de casa e leva um celular que não tem ligação com seu nome.

Nesta semana, um grupo de pesquisadores brasileiros citou preocupações com a segurança ao explicar por que eles não assinaram seus nomes em  um white paper,  publicado pela Climate Social Science Network da Brown University, que descreve os esforços de Bolsonaro para desmantelar as proteções ambientais. Eles decidiram permanecer anônimos “por razões de segurança e considerando o atual cenário político no Brasil”, escreveram.

No ICMBio, a nova regra de supervisão dá autoridade de revisão ao diretor de pesquisa em biodiversidade do instituto, um dos quatro diretores do ICMBio que atuam sob o presidente do instituto. Em um comunicado, funcionários do instituto retrataram a ordem simplesmente como uma mudança burocrática, observando que o presidente do ICMBio anteriormente tinha autoridade de revisão. “Não há censura”, afirma. Mas os pesquisadores observam que nenhum dos principais funcionários do ICMBio é um cientista treinado para conduzir revisões técnicas; todos são ex-policiais militares ou bombeiros.

Uma regra semelhante foi emitida no mês passado no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada do Brasil, uma importante instituição federal de pesquisa.

Os cientistas brasileiros também enfrentam uma crise de financiamento cada vez mais profunda. Os gastos do governo em pesquisa diminuíram em mais de 70% desde o pico de 2014, e o governo Bolsonaro cortou recentemente 34% do orçamento de investimento do ministério da ciência para este ano. A principal agência de financiamento federal do país, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, deve ter menos de US $ 4 milhões disponíveis para bolsas de pesquisa este ano.

Os problemas de financiamento e os conflitos constantes estão desgastando os pesquisadores brasileiros, diz Mercedes Bustamante, ecologista da Universidade de Brasília e cofundadora da Coalizão Ciência e Sociedade, grupo criado em 2019 para promover políticas baseadas na ciência. “Estou tão cansada de ter que me defender o tempo todo”, diz ela. “Enquanto isso, todas as questões importantes que realmente deveríamos enfrentar estão sendo deixadas para trás.”

A maioria dos cientistas brasileiros “não está acostumada a funcionar em ambientes hostis”, acrescenta Atila Iamarino, microbiologista e proeminente comunicador científico. “Eles são treinados para argumentar contra os fatos, mas isso não é o que mais importa nessas situações.”

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Este texto foi escrito originalmente em inglês e publicado pela Science [Aqui!].

Science: desmatamento ilegal no Brasil sobe em clima de impunidade

'Like a bomb going off': why Brazil's largest reserve is facing destruction. Gold prospectors are ravaging the Yanomami indigenous reserve. So why does President Bolsonaro want to make them legal?

As ruínas de um local ilegal de mineração de ouro em uma reserva Yanomami no norte da Amazônia. O desmatamento no Brasil está aumentando mesmo em áreas protegidas legalmente e em terras indígenas, onde os criminosos raramente se aventuravam no passado. GUARDIÃO / EYEVINE / REDUX

Por Herton Escobar para a Science

O desmatamento na Amazônia brasileira aumentou bastante no ano passado – novamente. Estimativas previsto para ser lançado esta semana pelo Instituto Nacional  de Pesquisas Espaciais (INPE) irá mostrar clareiras têm aumentado em pelo menos 28% durante o monitoramento atual ano, que vai de agosto a julho, em comparação com o ano anterior.

É a segunda subida íngreme durante o governo do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que cumpriu sua promessa de campanha de afrouxar a aplicação da lei ambiental e acelerar o desenvolvimento na Amazônia.

Os números vêm do Brasil Sistema de Detecção de Desmatamento em tempo real (DETER), que utiliza imagens de satélite de baixa resolução para identificar rapidamente novas clareiras florestais e autoridades de alerta para possível desmatamento ilegal. Mais de 8700 Km2  de cobertura florestal primária já desapareceram das imagens desde agosto de 2019, de acordo com dados atualizados até 23 de julho , em comparação com 6800 km 2 nos 12 meses anteriores. (Os dados da semana final serão divulgados em 7 de agosto; como julho é o período nobre para o desmatamento na maior parte da Amazônia, é provável que o número suba um pouco mais.)

Embora o sistema não identifique as causas do desmatamento, outros estudos mostram que a grande maioria é ilegal, levada a cabo por fazendeiros, madeireiros, garimpeiros e grileiros que procuram lucrar com a ocupação e exploração das terras florestais públicas.

O desmatamento vem aumentando lentamente no Brasil desde 2013, mas as ações e palavras de Bolsonaro deram um grande impulso. “O desmatamento é uma empresa de alto risco, profundamente conectada às decisões políticas e à retórica que influenciam a percepção desse risco”, diz Raoni Rajão , pesquisador de políticas ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. Os desmatadores agora sentem uma sensação de impunidade, diz Rajão. As clareiras estão aumentando em áreas protegidas legalmente e em terras indígenas, onde os criminosos raramente se aventuravam no passado. Enquanto isso, as operações policiais estão fora do ar e os agentes de campo que combatem os mineradores ilegais foram repreendidos publicamente e submetidos a investigações internas por suas próprias agências.

O DETER é um sistema de alerta e não é otimizado para medições precisas de área, mas os cientistas dizem que ainda é um bom termômetro de desmatamento. No ano passado, no entanto, Bolsonaro chamou as estimativas igualmente preocupantes do DETER de “mentira e demitiu o diretor do INPE , Ricardo Galvão. Números divulgados mais tarde pelo Projeto de Monitoramento por Satélite do Desmatamento na Amazônia, um sistema de resolução mais elevada também operado pelo INPE que produz Brasil dados oficiais de desmatamento, mostrou resultado ainda piores. Eles mostraram que 10.100 Km2 de floresta foram derrubados entre agosto de 2018 e julho de 2019 – um aumento de 34% em relação ao ano anterior .

O ressurgimento do desmatamento-de longe a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa do Brasil- é um desastre para a reputação internacional do Brasil ”, diz Luiz Aragão, chefe da Divisão de Sensoriamento Remoto do INPE. O país está sob crescente pressão de governos e investidores estrangeiros para proteger a floresta, juntamente com seu carbono e biodiversidade, ou enfrentar consequências diplomáticas e econômicas. Precisamos de mensagens claras e ações decisivas contra essas atividades ilegais”, diz Aragão.” O  Brasil precisa restabelecer sua ordem ambiental se tivermos ambições de crescer economicamente e participar como líder na discussão de questões globais”.

Jair Bolsonaro tomou algumas medidas para proteger a floresta. No início deste ano, ele recriou o Conselho da Amazônia – composto em grande parte por oficiais militares – para supervisionar o desenvolvimento sustentável da região e, em maio, ele autorizou o envio de forças armadas para combater crimes ambientais na região. Outro decreto de 15 de julho tornou ilegal o uso de fogo na Amazônia pelos próximos 4 meses.

A última medida pode de fato ajudar a reduzir o desmatamento, se for aplicada adequadamente. Depois que as árvores são derrubadas, os desenvolvedores precisam queimar a vegetação derrubada para limpar a terra para pastos ou terras agrícolas, diz Rajão. Ele também vê esperança no fato de que a quantidade de floresta derrubada nas primeiras 3 semanas de julho foi menor do que em julho de 2019, embora ainda seja muito maior do que no mesmo mês dos anos anteriores.  Isso pode ser um sinal positivo de que a taxa de desmatamento está diminuindo um pouco”, diz ele.  Mas temos que esperar e ver.”

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Este artigo foi escrito originalmente em inglês e publicado pela revista Science [Aqui!].

O desmatamento na Amazônia está aumentando, mas o presidente do Brasil chama os dados de “uma mentira”

para deforestationO desenvolvimento está invadindo a floresta no estado do Pará no Brasil. Cerca de 7500 quilômetros quadrados de floresta foram derrubados em todo o país em 2018. IMAGENS DE GALLO / ORBITAL HORIZON / COPERNICUS SENTINEL DATA 2018 / GETTY IMAGES

Por Herton Escobar*

O desmatamento está subindo novamente na Amazônia brasileira, de acordo com dados de monitoramento por satélite. Mas o presidente de extrema-direita do Brasil, Jair Bolsonaro, que muitos culpam pelo aumento, contestou a tendência e atacou a credibilidade do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que produziu os dados. Bolsonaro classificou os números como “mentirosos” durante uma conversa de café da manhã com jornalistas em 19 de julho, e sugeriu que o diretor do INPE, Ricardo Galvão, estava “a serviço de alguma organização não-governamental”. “Com toda a devastação que você nos acusa de fazer No passado, a Amazônia já se extinguiria ”, afirmou.

Seus comentários provocaram uma violenta reação da comunidade científica, que se sente cada vez mais sitiada pela administração Bolsonaro. “Os satélites não são responsáveis ​​pelo desmatamento – eles registram apenas objetivamente o que acontece”, diz um manifesto da Coalizão pela Ciência e Sociedade, um grupo recém-formado de cientistas preocupados com os acontecimentos políticos no Brasil. “Os fatos científicos prevalecerão, quer as pessoas acreditem ou não neles.” Galvão chamou de Bolsonaro um “covarde” por expressar acusações infundadas em público. “Espero que ele me chame a Brasília para explicar os dados e que ele tenha a coragem de repetir [o que disse] cara a cara”, disse Galvão em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

Bolsonaro – que disse que Galvão poderia se reunir com um ministro do gabinete – já atenuou suas críticas, mas insiste que o INPE deve consultar autoridades do governo antes de divulgar dados de desmatamento no futuro porque está prejudicando a imagem do Brasil no exterior. (A política oficial do INPE é divulgar todos os seus dados.) Muitos cientistas e ambientalistas proeminentes culpam o aumento do desmatamento nas agressivas declarações e políticas de desenvolvimento de Bolsonaro, incluindo a promoção da agricultura e mineração em terras protegidas.

O INPE, um instituto de pesquisa público com sede em São José dos Campos, vem acompanhando o desmatamento na Amazônia por meio de imagens de satélite desde a década de 1970. “Esses dados há muito são usados ​​como um indicador confiável do que está acontecendo na Amazônia brasileira”, diz Bill Laurance, diretor do Centro de Ciência Ambiental e Sustentável Tropical da James Cook University, em Cairns, Austrália. Um dos sistemas de monitoramento do INPE, chamado Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER), gera um alerta toda vez que uma clareira maior que 3 hectares é detectada no dossel da floresta. Ele é projetado para funcionar como um sistema de alarme e guiar a aplicação da lei em campo, mas também gera registros aproximados de novos desmatamentos que são liberados semanalmente. Os dados mais recentes do DETER sugerem que mais de 4200 quilômetros quadrados de floresta foram cortados da Amazônia brasileira entre 1º de janeiro, quando Bolsonaro assumiu o poder, e 24 de julho. Isso é 50% mais do que nos primeiros 7 meses de 2018 e mais que o dobro da área desminada no mesmo período de 2017.

Outro sistema, o Projeto de Monitoramento de Satélite do Desflorestamento da Amazônia (PRODES), gera as taxas anuais oficiais de desmatamento do Brasil, calculadas a partir de uma seleção de fotos de alta resolução de diferentes satélites. Embora o PRODES seja mais preciso do que o DETER, os dois sistemas tendem a concordar entre si, então é provável que o próximo relatório do PRODES, esperado em dezembro, mostre um pico de desmatamento de magnitude similar, dizem os analistas.

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Declarar que os dados do INPE são uma mentira é semelhante a argumentar que a Terra é plana. Bill Laurance, James Cook University

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As taxas anuais de desmatamento diminuíram em mais de 80% entre 2004, quando o DETER entrou em operação, e em 2012, mas têm tendência de alta desde então. Cerca de 7500 quilômetros quadrados de floresta foram derrubados em 2018. Mas o pico deste ano se destaca, dizem especialistas. “Ao invés de ser uma surpresa, o resultado confirma os muitos relatos de desmatamento [atividades] no chão, e se encaixa com a expectativa do clima de impunidade que a retórica do governo promoveu”, diz Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Desmatamento. Pesquisa na Amazônia em Manaus, Brasil.

Bolsonaro é um feroz crítico das regulamentações ambientais brasileiras e agências de aplicação da lei, que ele afirma serem tendenciosas contra a agricultura e o desenvolvimento econômico. Ele transferiu o controle sobre as terras indígenas para o Ministério da Agricultura e prometeu rever os limites dos parques nacionais e de outras áreas protegidas que, segundo ele, estão retardando o progresso no Brasil.

Outros cientistas defendem os números do INPE. “Declarar os dados do INPE é uma mentira que alega que a Terra é plana”, diz Laurance. “Eu sempre fui impressionado com a habilidade técnica dos cientistas do INPE e aplaudi-los por seus esforços pioneiros para fornecer estimativas anuais de desmatamento”, diz Douglas Morton, chefe do Laboratório de Ciências Biosféricas no Goddard Space Flight Center da NASA em Greenbelt, Maryland, EUA. e professor adjunto da Universidade de Maryland em College Park.

O INPE recebeu muito menos apoio do ministro da Ciência e Tecnologia do Brasil, o ex-astronauta da NASA e engenheiro aeroespacial Marcos Pontes, cujo departamento supervisiona o instituto. Em uma declaração de 22 de julho, Pontes, um membro do partido de Bolsonaro, disse que considera o INPE “em alta consideração”, mas aceitou as preocupações de Bolsonaro ao condenar o contra-ataque de Galvão. Pontes disse que pediu um “relatório técnico completo” do INPE sobre os últimos 24 meses de dados de desmatamento e disse que seu ministério havia convidado Galvão para “esclarecimentos e orientações”. Ele também disse que concorda que o INPE não divulgue seus dados tão cedo. como eles estão prontos.

“É claro que ninguém esperava [Pontes] entrar em choque com o presidente”, diz Mercedes Bustamante, ecologista da Universidade de Brasília e co-fundadora da Coalizão para Ciência e Sociedade, “mas o tom de sua declaração foi decepcionante”.

*Herton Escobar é jornalista especializado em ciência e meio ambiente em São Paulo.

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Este artigo foi originalmente publicado em inglês pela revista científica “Science” [Aqui!].

No Brasil, ‘idiotas úteis’ protestam contra cortes nas verbas da pesquisa e da educação

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Por Herton Escobar para a revista Science

Milhares de cientistas, educadores e estudantes lotaram as ruas do Brasil nesta semana para protestar contra cortes no financiamento da educação e da pesquisa. Marchas ocorreram na última quarta-feira em todas as capitais do país e em mais de 200 outras cidades, segundo relatos da mídia. Várias universidades públicas, e até mesmo algumas instituições privadas não diretamente afetadas pelos cortes orçamentários, cancelaram as aulas para permitir que funcionários e estudantes participassem das manifestações.

“Eu nunca tinha visto nada dessa magnitude”, diz Fabricio Santos, professor de genética e evolução da Universidade Federal de Minas Gerais, que se juntou a um protesto na cidade de Belo Horizonte. “Foi uma lição de democracia e descontentamento”.

Embora não haja contagem oficial, os organizadores estimaram que as marchas atraíram centenas de milhares de pessoas em grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. As manifestações foram originalmente convocadas por sindicatos, que estão protestando contra mudanças na previdência social e pensão do Brasil. sistemas propostos pela administração do Presidente Jair Bolsonaro.

Em um esforço para enfrentar as lutas econômicas, Bolsonaro anunciou recentemente uma série de medidas de contenção fiscal, incluindo a retenção de 42% do orçamento de investimento do Ministério da Ciência e Tecnologia e cerca de 25% do financiamento do Ministério da Educação para as universidades federais. As autoridades também congelaram mais de 3.000 bolsas de estudo destinadas a apoiar pesquisas de pós-graduação.  O governo federal sinalizou que liberará esses fundos se a legislatura do Brasil aprovar as mudanças nos programas sociais, o que, segundo autoridades do governo Bolsonaro, é fundamental para colocar as finanças do país em ordem.

Embora os governos anteriores tenham tomado medidas semelhantes, o clamor desta vez foi alimentado por uma série de políticas controversas avançadas por Bolsonaro, bem como por comentários inflamatórios que ele e seus nomeados fizeram. Ontem, por exemplo, Bolsonaro disse a repórteres que os manifestantes eram “idiotas úteis” e “imbecis” que estavam sendo manipulados por uma “minoria smarthead” que controla as universidades federais. E o ministro da educação Abraham Weintraub provocou controvérsia ao ameaçar reduzir o financiamento para as universidades que “promoveram raquetes” em vez de melhorar seu desempenho acadêmico.

Funcionários da universidade também estão alarmados com um decreto, publicado na quarta-feira, que dá à administração de Bolsonaro novos poderes para controlar a seleção de administradores seniores no sistema universitário federal. “É inacreditável o que está acontecendo”, diz Santos. “É uma reversão completa do princípio da autonomia acadêmica”.

O congelamento de bolsas de estudo para estudantes de pós-graduação, anunciado na semana passada, motivou os pesquisadores a participar das marchas, diz Nathalie Cella, bioquímica da Universidade de São Paulo que ajudou a organizar a Marcha pela Ciência em abril de 2017. Os estudantes de pós-graduação são uma importante força de trabalho científico nas universidades públicas do Brasil, ela observa, que produzem mais de 90% da produção científica do país. Cella diz: “Muitas pessoas terão que abandonar suas pesquisas se essa situação não for revertida”.

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Este artigo foi publicado originalmente em inglês pela revista Science [Aqui!]

 

“Foi uma tragédia anunciada” – Fogo destrói o Museu Nacional do Brasil e suas premiadas coleções científicas

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Incêndio no Museu Nacional do Brasil no domingo FOTO AP / LEO CORREA

Por Herton Escobar e Gretchen Vogel para a Science [1]

Um incêndio no Museu Nacional do Brasil no Rio de Janeiro destruiu uma das coleções científicas mais importantes do país. Ninguém ficou ferido no incêndio, que eclodiu depois que o museu fechou no domingo à noite. Mas o incêndio devastou os enormes arquivos e coleções do museu, com cerca de 20 milhões de itens, segundo algumas estimativas. O museu não tinha sistema de sprinklers, e apenas uma quantidade limitada de água  estava disponível em hidrantes localizados ao lado do prédio quando os bombeiros chegaram.

Fundado há 200 anos, antes da independência do Brasil de Portugal, o museu abrigava antigos artefatos egípcios, gregos e romanos, importantes coleções de paleontologia e história natural, incluindo um dos mais antigos fósseis humanos da América Latina, o crânio de 11.500 anos chamado Luzia. Nos últimos anos, os problemas orçamentários haviam atormentado o museu, e os cientistas haviam alertado, desde 2004, para uma rede elétrica precária e para a falta de proteção contra incêndios.

“É uma perda irreparável, não só para a ciência brasileira, mas para o mundo. O edifício pode ser reconstruído, restaurado e tudo mais, mas as coleções nunca poderão ser substituídas. Dois séculos de ciência e cultura estão perdidos para sempre ”, disse Sergio Alex Azevedo, paleozoologista e ex-diretor do museu.

A extensão total do dano ainda não está clara. Alguns espécimes de vertebrados e algumas coleções de botânica foram alojados em um prédio separado que não foi afetado pelo incêndio. Mas milhões de espécimens, incluindo a coleção de invertebrados globalmente importante do museu, foram destruídos. Imagens aéreas mostravam telhados desmoronados, com pilhas de cinzas e entulho no interior das paredes externas que estavam de pé. O interior do prédio era em sua maioria de madeira, e as atualizações de segurança eram difíceis de serem feitas por causa das regras federais que regem sites historicamente protegidos. (O edifício foi construído em 1808 como a residência oficial da família real portuguesa no Brasil.)

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) gerenciou o museu com recursos do governo federal, e muitos cientistas culparam o subfinanciamento crônico pelo desastre. “Todos nós sabíamos que algo assim ia acontecer mais cedo ou mais tarde; era apenas uma questão de tempo ”, disse o antropólogo Walter Neves, professor aposentado da Universidade de São Paulo, que descreveu o crânio de Luzia. “O museu foi completamente abandonado, deixado a apodrecer pelo desdém e descuido das autoridades públicas. Estou em completa tristeza ”, disse ele. (O crânio de Luzia foi coletado na década de 1970, mas permaneceu esquecido no museu até que Neves o encontrou 20 anos depois. Ele foi mantido em um estojo de metal, então os pesquisadores dizem que existe a possibilidade de ele ter sobrevivido ao incêndio.)

Outros compartilhavam a raiva e a tristeza de Neves. “Foi uma tragédia anunciada”, diz o herpetólogo Hussam Zaher, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, que é natural do Rio e iniciou sua carreira científica no Museu Nacional. “O museu nunca recebeu o reconhecimento que merecia.”

Alexander Kellner, o paleontólogo que recentemente se tornou diretor do museu, usou as comemorações do aniversário de 200 anos do museu em junho para soar novamente o alarme, dizendo que o museu precisava de ajuda urgente para atualizar sua infraestrutura. A coleção de paleontologia continha vários espécimes-chave de pterossauros, a especialidade de Kellner, dinossauros e outros animais pré-históricos da América do Sul.

“Me deixa extremamente triste pensar naqueles milhões de espécimes e exibições, o produto de duzentos anos de coleta e o trabalho da vida de tantas centenas de cientistas e exploradores, apenas pegando fogo e transformando-se em pó. Isso me faz querer chorar ”, diz o paleontólogo Stephen Brusatte, da Universidade de Edimburgo, que trabalhou com as coleções de fósseis do museu.

O físico Luiz Davidovich da UFRJ, presidente da Academia Brasileira de Ciências, diz que o desastre foi algo “para ser lamentado oficialmente com bandeiras a meio mastro”, para que todos soubessem que “o Museu Nacional está morto”. O incêndio é outro golpe,  além dos drásticos cortes orçamentários recentes, acrescenta. “É outro triste capítulo no desmantelamento da ciência brasileira – que afeta não só o futuro do país, mas também sua memória”.

Publicado originalmente em inglês pela revista Science [Aqui!]

CNPq, mais uma vítima da política de destruição do futuro imposta pelo governo Temer

Às ruas, cientistas!

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No mesmo dia em que o Brasil acorda sabendo que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) se concederam um aumento de 16,38% em seus salários que atualmente são de “módicos” R$ 33,7 mil mensais, criando um efeito cascata que deverá gerar um custo adicional de R$ 4 bilhões para os cofres públicos, o jornalista Herton Escobar nos traz a informação de que o orçamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) também levou uma tesourada brutal pelo governo “de facto” de Michel Temer, o implicará na ausência de financiamento para projetos de pesquisa em 2019 [1 & 2].
Como de forma geral não há um entendimento imediato do que significa desprover a ciência brasileira de novos investimentos, é preciso lembrar que serão interrompidas e/ou perdidas pesquisas estratégicas em várias áreas sensíveis, começando, por exemplo, pela saúde, onde certamente serão interrompidas pesquisas sobre, por exemplo, doenças tropicais como a malária e a dengue. Mas ainda na área da saúde serão devastados grupos de pesquisa que estudam doenças como o câncer.
Apenas à guisa de comparação com os custos gerados pelo auto aumento concedido pelos ministros do STF que vão onerar os cofres públicos em R$ 3 bilhões, Herton Escobar nos informa que o orçamento do CNPq irá cair de R$ 1,2 bilhão para R$ 800 milhões em 2019, sendo que só as bolsas providas pela agência já custam por volta de R$ 900 milhões!
Apenas para parafrasear uma declaração do ministro Celso de Mello durante a sessão em que a maioria dos ministros do STF decidiram aumentar seus salários e mandar a conta para a víuva, , “estamos aqui em face daquelas escolhas trágicas”. A questão é que a tragédia que está se desenhando com a liquidação do ainda incipiente sistema brasileiro de ciência e tecnologia extrapola o destino de quem insiste em praticar ciência no Brasil. Com a liquidação da CAPES e do CNPq, o que está se fazendo a partir de escolhas que só são trágicas para que não está encastelado na alta burocracia do estado e para os segmentos da sociedade que se beneficiam do rentismo que sufoca a economia brasileira. O problema é que os excluídos dessas benesses representam quase a totalidade da população brasileira.
É por isso que eu repito que a comunidade científica precisa sair da sua letargia e tomar as ruas para pressionar o governo Temer para que estes cortes absurdos sejam revistos. Do contrário, estaremos diante do abismo de onde será difícil sair se os atuais cenários de asfixia orçamentária foram concretizados.
Às ruas, cientistas!


[1] https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2018/08/08/stf-aprova-reajuste-de-16-para-ministros-da-corte-a-partir-de-2019.htm
[2] https://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,cnpq-diz-que-so-tera-verba-para-bolsas-em-2019,70002438970

Evento discute os rumos da ciência no Brasil pós corte

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“É o fim? Um debate sobre os rumos da ciência no Brasil. E inspirações de Berlim” é o tema do debate que acontece no dia 1º de fevereiro, às 18h30, no espaço de eventos da livraria Fnac Paulista. Depois do ano tumultuado no Brasil – ainda sem uma perspectiva de alívio –, convidados de peso discutem por que é importante para o país investir em ciência.

Para [a membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) ] Helena Nader , que esteve por 10 anos à frente da SBPC (Sociedade Brasileira para Progresso da Ciência) e participa do debate, esse investimento não é despesa. Pesquisadora da Unifesp, ela fala em impactos negativos da redução de recursos para pesquisa, que abalam a prosperidade econômica e social do Brasil.

Não falta só dinheiro. Falta estratégia. Essa é a crítica feita por Paulo Artaxo , pesquisador da USP, Universidade de São Paulo [ e Acadêmico da ABC]. Um dos cientistas brasileiros de maior prestigio internacional, Artaxo vê a diminuição da importância do Brasil no cenário mundial como uma das sequelas da perda de recursos.

Para que tenha defensores, a ciência não pode ficar restrita aos laboratórios. Esse é o trabalho que Herton Escobar, jornalista do Estadão e colaborador da Science, leva muito a sério, e que ele dará mais detalhes no debate. O jornalista é um dos organizadores da USP Talks, iniciativa que aproxima o público da universidade.

De Berlim, capital da Alemanha, um dos países que mais investem em pesquisas científicas, Nina Mikolaschek, da Humboldt-Universität zu Berlin, trará exemplos de como o investimento é considerado uma das prioridades. Berlim, que carregou por décadas o slogan “É pobre, mas é sexy”, tenta cumprir à risca um planejamento para se tornar a “cidade cérebro”, novo slogan a ser emplacado.

O evento será mediado pela jornalista Nádia Pontes, que organizou o debate como parte das atividades do Berlin Science Communication Award, concedido pela Humboldt-Universität zu Berlin e financiado pela Sociedade Alemã de Amparo à Pesquisa (DFG), com apoio do Ministério de Educação e Pesquisa da Alemanha (BMBF).

Serviço:
“É o fim? Um debate sobre os rumos da ciência no Brasil. E inspirações de Berlim”
Data: 01/02
Horário: Às 18h30
Local: Fnac Paulista (Av. Paulista, 901 – Bela Vista, São Paulo). 
Entrada livre

FONTE: http://www.abc.org.br/centenario/?Evento-discute-os-rumos-da-ciencia-no-Brasil-pos-corte

Governo Temer coloca em xeque monitoramento da Amazônia e previsão do tempo

O jornalista Herton Escobar publicou uma ampla matéria sobre os impactos que estão sendo causados pelos cortes feitos pelo governo “de facto” de Michel Temer na capacidade do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de realizar o monitoramento da Amazônia Legal e de continuar fornecendo informações relacionadas à previsão do tempo no território nacional [1]

herton amazonia

O primeiro aspecto óbvio nesta matéria se refere ao avanço do processo de desmonte do sistema científico brasileiro do que o Inpe é um dos principais pilares de sustentação.  O fato é que além de já ter estabelecido mecanismos robustos de monitoramento dos processos de mudança na cobertura da terra e de previsão do tempo, o Inpe participa ativamente do complexo processo de fabricação e lançamento de satélites, colocando o Brasil numa posição avançada no controle das tecnologias espaciais.

O segundo aspecto igualmente importante é que sem as ferramentas de controle e previsão que o Inpe possui os danos aos ecossistemas naturais será inevitável, na medida em que os degradadores do ambiente estarão livres para praticar crimes ambientais, especialmente os relacionados à extração ilegal de madeiras e ao desmatamento. Além disso, sem a capacidade de previsão do tempo, a agricultura brasileira estará diante de um cenário de voo cego mediante às condições mais imprevisíveis causadas pelas mudanças climáticas por que a Terra passa neste momento.


[1http://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,corte-no-orcamento-do-inpe-ameaca-satelites-e-monitoramento-da-amazonia,70002097320

Amazônia será tema do próximo USP Talks

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Como desenvolver a Amazônia sem destruí-la? Como fomentar o desenvolvimento social e econômico da região sem colocar a floresta abaixo para isso? Agropecuária, mineração e conservação ambiental podem conviver pacificamente no mesmo espaço?

Este será o tema da próxima edição do USP Talks, que acontece no dia 25 de outubro, com os pesquisadores Carlos Nobre e Eduardo Assad.

Carlos Nobre é um dos maiores especialistas em mudanças climáticas e Amazônia no Brasil. Foi pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) durante 30 anos, com protagonismo internacional nas discussões sobre desmatamento e o futuro da floresta amazônica em grande escala.

Eduardo Assad é engenheiro agrícola, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desde 1987; considerado um dos maiores especialistas do país no estudo das interações entre agricultura, clima, economia e sustentabilidade na Amazônia e no Cerrado.

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USP Talks – Amazônia


Data: 25 de outubro de 2017
Local: Faculdade Cásper Líbero – Edifício Gazeta (Av. Paulista, 900)
Horário: 18h30 às 19h30
Lotação máxima do auditório: 420 lugares (Não é necessária inscrição prévia nem haverá distribuição de senhas no dia do evento. Basta chegar no horário e participar).
O evento tem duração de uma hora, com duas apresentações de 15 minutos, mais meia hora de debate com o público. A entrada é gratuita e haverá transmissão ao vivo pela internet. Ao início da sessão, as portas serão fechadas para garantir a acomodação de todos os presentes.

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Realização: Pró-Reitoria de Pesquisa da USP e Estadão
Apoio: Faculdade Cásper Líbero