Incêndios como estratégia de apagamento da memória e do patrimônio arquitetônico em Campos dos Goytacazes

Apesar de não gostar de antecipar trabalhos acadêmicos que eu esteja desenvolvendo com meu grupo de pesquisa, o mais recente incêndio de um edifício tombado pelo seu valor histórico, o Hotel Flávio, me faz pensar que no centro histórico de Campos dos Goytacazes estamos diante de uma eficiente estratégia de apagamento da  nossa rica memória arquetônica via a ocorrência de sinistros. No caso do Hotel Flávio, o mesmo foi construído ainda no século XIX e pertenceu aos familiares do Visconde de Araruama, tendo sido tombado pelo Coppam em 12 de setembro de 2013.

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O fato é que um dos meus orientandos tem no forno um detalhado artigo científico apresentando um mapeamento cuidadoso dos casos de incêndio que consomem edifícios de valor histórico (tombados ou não), sua posterior demolição e trasnformação em estacionamentos. Aliás, vamos esperar para ver o que acontecerá no espaço que hoje abriga o prédio histórico do Hotel Flávio. O meu palpite com base em meu conhecimento científico sobre o centro histórico de Campos? Um estacionamento, é claro.

Temos associado a essa situação à criação de espaços de espera e de reserva de valor, na medida em que os estacionamentos seriam usados como mecanismos de geração de renda até que o centro histórico seja, digamos, abraçado pelo mercado imobiliário que se serviria de um dos metros quadrados mais caros da cidade para gerar o chamado processo de “gentrificação” que tornaria aquela área, mais uma vez, o lócus de produção e reprodução das classes mais abastadas da cidade.

Sabe o que é Gentrificação? - APEGAC

E tudo isso sem que haja a devida reação do poder público para proteger e conservar um patrimônio arquitetônico que contém o segundo maior acervo de edifícios ecléticos do Rio de Janeiro.

Finalmente, adianto que quando o artigo supracitado for finalmente publicado, o mesmo será obviamente postado aqui neste espaço.

 

Incêndios são detectados em fazenda operada pela maior produtora de soja do Brasil

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Fogos ativos foram detectados na Fazenda Perdizes no dia 24 de agosto de 2021 em Porto dos Gaúchos, Mato Grosso. A propriedade pertence e é operada pela SLC Agrícola , maior produtora de soja do Brasil. A Fazenda Perdizes consiste em áreas mantidas sob a propriedade da SLC Agrícola e por meio de joint ventures com outras empresas. Os incêndios detectados recentemente caem na parte da Fazenda Perdizes que a SLC Agrícola possui. Uma análise anterior realizada pela Aidenvironment, parceira do CRR, no início da temporada de incêndios de 2021, detectou outro incêndio na propriedade da SLC Agrícola na Fazenda Palmeira. O atual incêndio na Fazenda Perdizes mostra as conexões contínuas da empresa com o desmatamento para desenvolvimento e expansão de terras agrícolas.

A Fazenda Perdizes possui uma área total de 43.123 hectares (ha), dos quais 26.295 ha consistiam de área de cultivo durante a safra de 2019/20. A Figura 1 mostra a parte da Fazenda Perdizes operada e de propriedade integral da SLC Agrícola que contém aproximadamente 5.840 ha de reserva legal. Os incêndios ativos detectados em 24 de agosto estão dentro da área de reserva legal (Figura 2). De acordo com o Código Florestal Brasileiro, essa área deve permanecer intacta e coberta com vegetação nativa.

Figura 1. Parte da Fazenda Perdizes operada e de propriedade integral da SLC Agrícola em Porto dos Gaúchos, Mato Grosso, Brasil

Nota: A área verde é Reserva Legal

Figura 2:  Incêndios detectados em 24 de agosto na Reserva Legal de uma parcela da Fazenda Perdizes operada e de propriedade integral da SLC Agrícola em Porto dos Gaúchos, Mato Grosso, Brasil

Nota: A fumaça dos fogos ativos é visível na parte central e sul da fazenda. As molduras do lado direito mostram o zoom para os incêndios e fumaça.

Fogos ativos adicionais foram detectados no dia 29 de agosto ainda na reserva legal da Fazenda Perdizes (Figura 3). Alertas de desmatamento do GLAD na mesma área sinalizaram possível desmatamento.

Figura 3. Fogos detectados em 29 de agosto na Reserva Legal de uma parcela da Fazenda Perdizes operada e de propriedade integral da SLC Agrícola em Porto dos Gaúchos, Mato Grosso, Brasil

Fonte: CRR monitora o desmatamento pelos principais desmatadores, como SLC Agricola, por meio do conjunto de dados geoespaciais internos do parceiro CRR Aidenvironment. Os analistas de ambiente identificam pontos críticos de desmatamento e rastreiam alertas de incêndio para cadeias de suprimentos de commodities com base em dados da empresa, registros públicos e conjuntos de dados de parceiros locais. Nota: A fumaça dos fogos ativos move-se para as áreas próximas da parte central e sul da fazenda.

Em março de 2021, a SLC Agrícola informou que deixará de converter novas áreas em todas as suas propriedades após a safra deste ano. O compromisso anterior da SLC Agrícola de deter o desmatamento do Cerrado em setembro de 2020 também levou à continuação do desmatamento, apesar de sua promessa de desmatamento zero. Conforme relatado pela CRR , a empresa foi a maior desmatadora no Cerrado em 2020, e seus maiores compradores incluem Cargill, Bunge e Amaggi (uma joint venture entre Louis Dreyfus, Grupo Amaggi e Zen-Noh). Todos os três têm compromissos de desmatamento zero e estão expostos ao risco de desmatamento devido às relações comerciais contínuas com a SLC Agrícola. A Cargill em particular enfrentou pressão comercial sobre seu papel no desmatamento no Brasil. Em julho de 2020, a Cargill declarou publicamente   que “o início deliberado de incêndios na Amazônia é inaceitável”. Os incêndios contínuos e o desmatamento violam os compromissos de desmatamento zero dos clientes da SLC Agrícola e de grande parte das indústrias que consomem soja.

A SLC Agrícola é financiada principalmente por investidores brasileiros e bancos com baixa pontuação em políticas ESG, de acordo com a Forests & Finance . Os grandes investidores são Odey Asset Management (US $ 49 milhões), Bradesco, Vanguard, Grupo XP e BlackRock. Grandes credores incluem Itaú Unibanco (US $ 13 milhões) e BNDES. Em 18 de junho de 2021, a SLC anunciou a parceria com o Rabobank em empréstimo de R $ 200 milhões vinculado às metas de sustentabilidade da empresa. O CRR manteve discussões com o Rabobank sobre este empréstimo. As metas e KPIs deste empréstimo para redução das emissões de carbono “referem-se à própria meta comunicada publicamente da SLC Agrícola de reduzir as emissões de carbono escopo 1 e 2 em 25 por cento em 2030, mas com um horizonte de tempo mais curto. Isso inclui o uso da terra e a mudança no uso da terra, e seguirá o GHG Protocol ”, de acordo com o Rabobank. Os dados atuais de incêndio analisados ​​nesta Rede parecem estar em conflito com as políticas de desmatamento do Rabobank , o que pode gerar engajamento.

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Este texto foi escrito originalmente em inglês e publicado pela Chain Reaction Research [Aqui!].

Desmatamento e seca se somam em nova temporada de fogo na Amazônia

Há quase 5 mil quilômetros quadrados de área, quase quatro vezes o município de São Paulo, com vegetação derrubada e seca só esperando alguém chegar com o fogo.

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A estação seca de 2021 na Amazônia traz uma sobreposição de fatores que podem levar a um aumento na incidência do fogo. Uma nova análise feita por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e do Woodwell Climate Research Center mostra que a soma de áreas desmatadas e ainda não queimadas desde 2019 mais uma seca intensa provocada pelo fenômeno La Niña exigem atenção especial neste ano, especialmente na porção sul da região.

Há quase 5 mil quilômetros quadrados de área, quase quatro vezes o município de São Paulo, com vegetação derrubada e seca só esperando alguém chegar com o fogo. A queimada, nesse caso, é a última etapa do desmatamento, a forma mais barata e rápida de limpar o terreno para seu uso posterior. Mais de um terço dessa área está concentrado em dez municípios no Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia.

“Saber que existe essa quantidade de combustível esperando para queimar já seria suficiente para determinar ações em campo que coíbam a prática”, afirma o pesquisador sênior do IPAM Paulo Moutinho. Nesta semana, o governo publicou uma nova moratória de fogo em todo o país. Mesma atitude foi tomada no ano passado, mas com zero efeito prático: houve 15% mais focos na Amazônia em 2020 do que em 2019, segundo dados do INPE. “Se não há atuação forte de controle do desmatamento e do fósforo em campo, a tendência é que a moratória fique no papel.”

Uma queimada de áreas recém-derrubadas pode facilmente escapar para florestas vizinhas, transformando-se em incêndio florestal. Isso é especialmente verdadeiro em anos mais secos do que o normal. O fenômeno La Niña, o resfriamento de águas superficiais do Pacífico, costuma intensificar a seca em algumas regiões na Amazônia, aumentando o risco. “Os efeitos de La Niña não são tão intensos e abrangentes quanto os de El Niño, quando historicamente acontecem os grandes picos de fogo na Amazônia. Mas é um momento de alerta”, explica Moutinho.

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Municípios no sul e no centro da Amazônia apresentam risco extremamente alto, particularmente o noroeste de Mato Grosso, a maior parte de Rondônia, o leste do Acre e um longo trecho da rodovia Transamazônica, entre o Pará e outros estados mais a sul. Os dez municípios que experimentam condições secas ou de extrema seca têm 283 km2 de áreas desmatadas e não queimadas. Esses municípios também possuem grandes trechos de florestas remanescentes que podem ser atingidas por incêndios sem controle.

Entre os municípios com mais combustível pronto para queimar, somente um, Lábrea (AM), também está na rota da seca mais intensa em 2021. Ele também faz parte da lista de 26 municípios que receberão as Forças Armadas neste ano, determinado em nova GLO (Garantia de Lei e Ordem) – mas nenhum dos outros nove mais secos do ano estão na mira do governo como prioridade. “É preciso combater a queimada toda a Amazônia, assim como o desmatamento, que é a origem de um terço do fogo que vimos nos últimos dois anos na região. Vamos lembrar que toda queimada na Amazônia começa com o homem; é essa ação que devemos controlar”, diz o pesquisador.

O diretor-executivo do IPAM, André Guimarães, lembra que análises desse tipo ajudam na melhor gestão de recursos, financeiros e humanos, na hora de enviar equipes de fiscalização para o campo. “A nova GLO, por exemplo, determina 26 municípios prioritários em cima dos dados do passado, em vez de incorporar tendências do presente”, diz. “Boa ciência deveria ser a base para a tomada de decisão, e hoje existem meios para que isso aconteça.”

Incêndios estruturais aumentaram 43,7% no Brasil em 2020

Monitoramento diário de ocorrências de incêndios no País, realizado pelo Instituto Sprinkler Brasil, contabiliza 1244 reportagens

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 As notícias de incêndios estruturais aumentaram consideravelmente em 2020.  É o que revela levantamento do Instituto Sprinkler Brasil, organização sem fins lucrativos que tem como missão difundir o uso de sprinklers nos sistemas de prevenção e combate a incêndios em instalações industriais e comerciais no País. Por meio do monitoramento diário de notícias de incêndios no Brasil, o Instituto conseguiu capturar 1244 ocorrências de incêndios estruturais de janeiro a dezembro do último ano, representando alta de 43,7% ante 2019, quando foram registradas 866 notícias.

Os números representam uma alta progressiva em comparação com 2018, quando foram capturadas 531 reportagens, acionando um alerta para a falha nas medidas de prevenção. “Por acompanhar o assunto há décadas, sei que o dado que coletamos pela imprensa é menor do que acontece oficialmente. Se o recorte já nos mostra que muita coisa precisa ser feita para que tragédias sejam evitadas, imagine se tivéssemos acesso às informações oficiais. Esses incêndios tradicionalmente acontecem por problemas de qualidade de equipamento, falta de manutenção, erros de projetos e de instalação, problemas de treinamento da mão de obra e falta de interesse, de modo geral, dos proprietários na proteção contra incêndio, que fazem somente o mínimo necessário para ser aprovado pelos bombeiros”, diz Marcelo Lima, diretor-geral do ISB.

Os sinistros contabilizados são os chamados “incêndios estruturais”, ou seja, aqueles que poderiam ter sido contornados com a instalação de sprinklers e ocorreram em depósitos, hospitais, hotéis, escolas, prédios públicos, museus, entre outros. O ISB não inclui nas estatísticas os incêndios residenciais, que apesar de também serem incêndios estruturais, não são objeto de acompanhamento porque a legislação de segurança contra incêndio não se aplica a residências unifamiliares, onde acontece o maior número de ocorrências.

Entre as diferentes categorias de estruturas, os estabelecimentos comerciais (lojas, shopping centers e supermercados) registraram o maior número de notícias na imprensa nos últimos três anos, seguidos pelos depósitos e as indústrias, como revela o gráfico abaixo.

A legislação de prevenção e combate a incêndios é estadual e está atualizada. A de São Paulo é uma das mais avançadas do País e serve de modelo para grande parte do Brasil. “A questão está em aplicá-la corretamente”, explica Marcelo Lima.

“O estado exige a instalação de sistemas de incêndio, mas não faz qualquer exigência quanto ao nível de qualidade dos equipamentos. Não há certificação, exceto para extintores. Com isso, temos sistemas instalados por todo o Brasil que atendem plenamente à legislação, mas que provavelmente não funcionarão e isso só será descoberto no pior momento, durante uma ocorrência de incêndio”, conclui Lima.

Uso de sprinklers ainda é tímido  

Uma recente pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos junto a empresas multinacionais e de capital nacional com mais de 250 funcionários a pedido do ISB, revelou que o grau de adoção de sprinklers nas empresas é baixo. Apenas 36% das 300 companhias entrevistadas pelo Ipsos disseram contar com sistemas deste tipo em suas instalações. 

O levantamento mostrou ainda que apenas 14% das entrevistadas disseram contar com sistema deste tipo em todas as suas unidades e 22% declararam contar com o sistema em apenas algumas unidades operacionais.

O estudo detectou que o uso de sprinklers é maior entre as multinacionais. 48% das empresas estrangeiras, com operações no país, ouvidas pelo levantamento, disseram ter sprinklers em suas operações. Entre as empresas nacionais, o índice é de 34%.

O porte também influi na aderência a este tipo de tecnologia. O índice de uso sprinklers em empresas com mais de 500 funcionários é de 45%. Entre empresas menores, com 250 a 499 funcionários, o percentual é de 28%.

  Sobre o ISB (Instituto Sprinkler Brasil)   

O Instituto Sprinkler Brasil (ISB) é uma organização sem fins lucrativos que tem como missão difundir o uso de sprinklers – também conhecidos como chuveiros automáticos – nos sistemas de prevenção e combate a incêndios em instalações industriais e comerciais no País. Fundado em 2011, o ISB defende o uso desta tecnologia como a medida mais eficaz de evitar perdas humanas e materiais.

Desmatamento na Amazônia dispara em outubro, revertendo a tendência de 3 meses

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Por Mongabay

O desmatamento na Amazônia brasileira aumentou 50 por cento em outubro, encerrando uma sequência em que a taxa de desmatamento da região caiu por três meses consecutivos, de acordo com dados divulgados sexta-feira pelo instituto nacional de pesquisas espaciais INPE. A notícia veio logo depois que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro pareceu ameaçar a perspectiva de usar força militar contra os Estados Unidos caso este tentasse impor sanções ao país sul-americano por seu fracasso em desacelerar o aumento do desmatamento.

Desmatamento mensal conforme sistema de alerta de desmatamento do INPE, DETER e sistema SAD do Imazon.  O Imazon é uma ONG brasileira que monitora o desmatamento independentemente do governo brasileiro.
Desmatamento mensal conforme sistema de alerta de desmatamento do INPE, DETER e sistema SAD do Imazon. O Imazon é uma ONG brasileira que monitora o desmatamento independentemente do governo brasileiro.

O sistema de alerta de desmatamento por satélite do INPE mostra que 836 quilômetros quadrados de floresta amazônica – uma área 246 vezes o tamanho do Central Park da cidade de Nova York – foram cortados em outubro de 2020. O desmatamento do mês traz a área de perda de floresta para o ano- até o momento, para 7.899 quilômetros quadrados, 6% abaixo de onde estava no mesmo período do ano passado, quando o desmatamento atingiu o maior nível registrado desde 2008.

Os dados de outubro também mostraram um aumento de 3% na degradação florestal e corte seletivo – que muitas vezes precedem o desmatamento completo – e um salto de 66% na área afetada por incêndios no ano passado. O INPE estimou a extensão das “cicatrizes de queimaduras” em 14.487 quilômetros quadrados, uma área maior que o estado americano de Connecticut.

Desmatamento mensal acumulado de acordo com o sistema de alerta de desmatamento do INPE, DETER.  Esta tabela mostra o desmatamento desde o início de agosto, que é o período de referência que o Brasil usa para rastrear o desmatamento na Amazônia.

Desmatamento mensal acumulado de acordo com o sistema de alerta de desmatamento do INPE, DETER. Esta tabela mostra o desmatamento desde o início de agosto, que é o período de referência que o Brasil usa para rastrear o desmatamento na Amazônia.

Desmatamento mensal acumulado de acordo com o sistema de alerta de desmatamento do INPE, DETER.  Esta tabela mostra o desmatamento desde o início de janeiro.Desmatamento mensal acumulado de acordo com o sistema de alerta de desmatamento do INPE, DETER. Esta tabela mostra o desmatamento desde o início de janeiro.

O aumento da área queimada não é surpreendente. O monitoramento aéreo e imagens de satélite mostraram incêndios generalizados em toda a Amazônia brasileira e áreas adjacentes, como o Pantanal , a maior área úmida tropical do mundo, nos últimos meses. Alguns desses incêndios atingiram densas florestas tropicais , áreas protegidas e territórios indígenas . Os incêndios foram tão fortes durante o verão que o presidente Bolsonaro enviou o exército para tentar sufocá-los.


Hots spots em áreas com avisos do Prodes indicando desmatamento entre 2017 e 2019. Área próxima aos limites do território indígena Kaxarari em Lábrea, no estado do Amazonas.  Tirada em 17 de agosto de 2020. CRÉDITO: © Christian Braga / Greenpeace
Incêndio em área próxima aos limites da Terra Indígena Kaxarari, em Lábrea, no Estado do Amazonas. Tirada em 17 de agosto de 2020. CRÉDITO: © Christian Braga / Greenpeace

Na terça-feira, o presidente Bolsonaro ganhou as manchetes internacionais quando advertiu o presidente eleito dos EUA, Joe Biden, que o Brasil responderia com “pólvora” se os Estados Unidos tentassem impor sanções econômicas pelo aumento do desmatamento na Amazônia. Biden sugeriu que poderia haver “consequências econômicas” não especificadas durante o primeiro debate presidencial no final de setembro. Ele também disse que o mundo deve oferecer ao Brasil US $ 20 bilhões para combater o desmatamento na Amazônia.

“Vimos recentemente um grande candidato a chefe de estado dizer que se eu não apagar o fogo na Amazônia, ele colocará barreiras comerciais contra o Brasil”, disse Bolsonaro à Reuters , referindo-se a Biden, que Bolsonaro ainda não foi reconhecido como presidente eleito. “E como podemos lidar com tudo isso? Só a diplomacia não basta … Quando acaba a saliva, é preciso ter pólvora, senão não adianta ”.

Bolsonaro é conhecido por fazer declarações controversas e retórica inflamada. Por exemplo, ele culpou ambientalistas, povos indígenas e o ator Leonardo DiCaprio pelo desmatamento na Amazônia para desviar as críticas internacionais aos esforços de seu governo para reverter a aplicação da lei ambiental, conceder anistia a desmatadores ilegais e incentivar a mineração, extração madeireira e agricultura industrial . O desmatamento aumentou drasticamente desde que Bolsonaro assumiu o cargo em janeiro de 2019.

Floresta queimada, em Porto Velho, estado de Rondônia.  18 de agosto de 2020 CRÉDITO: © Christian Braga / Greenpeace

Floresta queimada, em Porto Velho, estado de Rondônia. 18 de agosto de 2020 CRÉDITO: © Christian Braga / Greenpeace

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Este texto foi escrito originalmente em inglês e publicado pelo site Mongabay [Aqui!].

Notificações de incêndios estruturais em hospitais aumentam 96% até outubro no Brasil

Monitoramento diário de notícias de incêndios no país, realizado pelo Instituto Sprinkler Brasil, contabiliza 45 ocorrências nos primeiros 10 meses do ano

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As notificações de incêndios estruturais em hospitais praticamente dobraram em 2020. É o que revela levantamento do Instituto Sprinkler Brasil, organização sem fins lucrativos que tem como missão difundir o uso de sprinklers nos sistemas de prevenção e combate a incêndios em instalações industriais e comerciais no país. Por meio do monitoramento diário de notícias de incêndios nacionais, o Instituto capturou 45 ocorrências de janeiro a outubro deste ano, registrando alta de 96% em relação ao mesmo período de 2019, quando foram contabilizados 23 registros.

Os sinistros são os chamados “incêndios estruturais”, ou seja, aqueles que poderiam ter sido contornados com a instalação de sprinklers e ocorreram em depósitos, hospitais, hotéis, escolas, prédios públicos, museus, entre outros.

“Começamos a contabilizar os incêndios noticiados pela imprensa por falta de dados estatísticos oficiais no país. É um indicador interessante para acompanharmos o volume e onde estão acontecendo. A partir daí, conseguimos ter um desenho de como os incêndios estão impactando nos negócios pelo País. O aumento substancial de incêndios em hospitais nos mostram que há algo de errado e que muita coisa precisa ser feita para que tragédias como estas sejam evitadas”, explica Marcelo Lima, diretor-geral do ISB.

São vários os motivos que nos proporcionam uma quantidade alta de incêndios, mas que começam com a falta de consciência da população e das autoridades. Para reverter o cenário, o Instituto Sprinkler Brasil publica informações sobre incêndios constantemente, prezando pela capacitação de profissionais e pelo progresso da área de incêndios nacional. “Por meio da disseminação do conhecimento, conseguiremos buscar mais e melhores respostas aos desafios que temos encontrados permanentemente em segurança contra incêndio”, conclui Marcelo Lima.

Mapa de Incêndios

Com o objetivo de manter os profissionais do setor atualizados, fazendo com que previnam erros similares, a instituição acaba de disponibilizar, em seu site, o Mapa de Incêndios, ferramenta que oferece as estatísticas anuais de ocorrências noticiadas pela imprensa. O recurso apresenta, de forma dinâmica e visual, os edifícios comerciais e industriais atingidos pelas chamas por todo o Brasil, com link de direcionamento para a matéria publicada na mídia. Os filtros disponibilizados permitem aos usuários refinar as buscas por estado, ano, mês ou tipo de ocupação do caso apurado. Confira a nova funcionalidade acessando o endereço eletrônico: http://bit.ly/315FqUv.

Uso de sprinklers ainda é tímido

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos junto a empresas multinacionais e de capital nacional com mais de 250 funcionários a pedido do ISB, revelou que o grau de adoção de sprinklers nas empresas é baixo. Apenas 36% das 300 companhias entrevistadas pelo Ipsos disseram contar com sistemas deste tipo em suas instalações.

O levantamento mostrou ainda que apenas 14% das entrevistadas disseram contar com sistema deste tipo em todas as suas unidades e 22% declararam contar com o sistema em apenas algumas unidades operacionais.

O estudo detectou que o uso de sprinklers é maior entre as multinacionais. 48% das empresas estrangeiras, com operações no país, ouvidas pelo levantamento, disseram ter sprinklers em suas operações. Entre as empresas nacionais, o índice é de 34%.

O porte também influi na aderência a este tipo de tecnologia. O índice de uso sprinklers em empresas com mais de 500 funcionários é de 45%. Entre empresas menores, com 250 a 499 funcionários, o percentual é de 28%.

Sobre o ISB (Instituto Sprinkler Brasil)

O Instituto Sprinkler Brasil (ISB) é uma organização sem fins lucrativos que tem como missão difundir o uso de sprinklers – também conhecidos como chuveiros automáticos – nos sistemas de prevenção e combate a incêndios em instalações industriais e comerciais no País. Fundado em 2011, o ISB defende o uso desta tecnologia como a medida mais eficaz de evitar perdas humanas e materiais.

Grandes incêndios causam alarme e preocupação na América do Sul

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Por Ulrike Bickel  para a Amerika21

Grande parte do Pantanal brasileiro está em chamas. É a maior área úmida do planeta, estendendo-se até a Bolívia e o Paraguai, e abriga uma imensa biodiversidade. Nas primeiras duas semanas de outubro, havia ali mais de 2.700 fontes de incêndios.

Porém, o desastre não se limita ao Pantanal. Os incêndios em grande escala estão destruindo ecossistemas em grandes partes da América do Sul. O Papa Francisco estava extremamente preocupado com os “incêndios provocados pelo homem, intensificados pela mudança climática”, expressou há uma semana  .

Mas Argentina, Bolívia, Venezuela e Colômbia também estão sendo afetados por incêndios. O Delta do Rio Paraná e 13 outras províncias da Argentina sofrem extensos incêndios em florestas e pastagens. Rosário, capital da província de Santa Fé, está coberta de fumaça há semanas. Mais de 2.000 km2 de floresta foram destruídos em Córdoba, dez vezes a área de Buenos Aires. Em muitas cidades, a sociedade civil forma grupos auto-organizados de combate a incêndios.

Houve 13.000 incêndios na Venezuela e duas vezes mais incêndios na Colômbia do que em anos “normais”. Lá, a destruição de florestas disparou desde o acordo de paz e o desarmamento dos guerrilheiros das Farc porque mineiros, traficantes, especuladores de terras e colonos conseguiram desenvolver áreas antes inacessíveis.

Na Bolívia, quase 1,4 milhão de hectares foram perdidos para os incêndios. Além disso, existem muitas áreas em reservas naturais inacessíveis que estão queimando. Nos departamentos de Santa Cruz, onde pelo menos 830.000 ha foram destruídos por incêndios florestais, e Chuquisaca, os governadores declararam estado de desastre.

Os incêndios também ameaçam os santuários indígenas bolivianos de Charagua, Iñao e Aguarague. De acordo com a Coordenação Nacional de Defesa das Áreas de Origem Indígena e Rurais e Áreas Protegidas (Contiocap), as comunidades tradicionais estão desesperadas. Os povos indígenas isolados do Brasil também são ameaçados por incêndios criminosos, mas também por grilagem e desmatamento. A denúncia é da coordenação das organizações indígenas da Amazônia brasileira (Coiab) e da organização de direitos humanos Survival International.

Entre eles estão os Ãwa, cuja casa é a floresta de mamão na Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo. Oitenta por cento de sua floresta foi queimada no ano passado. Este ano, o restante da floresta intacta está em chamas. Mais de 100.000 gado pastam na ilha. A Survival International também relata que índios isolados foram ameaçados nos estados de Rondônia e Maranhão e na área de Ituna Itatã (“cheiro de fogo”) no estado do Pará. Este território foi o mais desmatado de todas as áreas indígenas em 2019 por fazendeiros e outros ladrões de terras.

A Associação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) fez um apelo mundial às pessoas e empresas para boicotar produtos originados de áreas indígenas. A Survival International instou s supermercados na Europa e nos EUA a pararem de comprar produtos agrícolas do Brasil até que os direitos dos povos indígenas sejam cumpridos .

Parte dos incêndios se deve ao fenômeno climático “La Niña”, que causou uma seca histórica neste verão . Muitos dos incêndios são iniciados deliberadamente com o objetivo de ganhar novas terras ​​para fazendas de gado e cultivo de soja e para atender a demanda global por matérias-primas como soja, ração animal, carne, madeira e minerais. A União Europeia (UE), os EUA e a China importam milhões de toneladas de produtos agrícolas da América do Sul todos os anos.

Com isso em mente , várias organizações ambientais e de direitos humanos estão alertando sobre o planejado acordo de livre comércio UE-Mercosul. Isso aceleraria a destruição dos ecossistemas sul-americanos, daí as críticas. O Brasil é um exemplo claro disso. A política agrícola do presidente Jair Bolsonaro é parcialmente responsável pela penetração da indústria agrícola em diversos ecossistemas.

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Este texto foi originalmente escrito em alemão e publicado pela Amerika21 [   ].

Empresa ligada a BTG Pactual e André Esteves foi quem mais devastou Pantanal, segundo Ibama

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Por DE OLHO NOS RURALISTAS

A Polícia Federal ainda não concluiu as investigações sobre os suspeitos de terem iniciado as queimadas que devastaram o Pantanal mato-grossense neste ano. Mas uma pesquisa sobre as multas históricas aplicadas pelo Instututo Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) nos sete municípios do Mato Grosso e nove do Mato Grosso do Sul nos últimos 25 anos dá bons indícios de quem são os maiores destruidores desse bioma.

O maior multado do Pantanal, conforme a pesquisa do De Olho nos Ruralistas feita para a série De Olho nos Desmatadores, é uma empresa de agropecuária ligada ao BTG Pactual, do banqueiro André Esteves, instituição que se apresenta como o maior banco de investimentos da América Latina. A BRPec recebeu uma multa de R$ 57.999.500, em 12 de maio de 2018, em Corumbá, maior município do Mato Grosso do Sul, na fronteira com Bolívia e Paraguai, e uma das capitais da pecuária no Brasil.

esteves-exame-226x298André Esteves foi capa da Exame em 2011; no ano seguinte, de Época. (Imagem: Reprodução)

Multas por devastação da flora são calculadas com valor-base na área de vegetação destruída. No caso da Amazônia, os recordistas em autuações na categoria flora foram apresentados, com base nos mesmos dados, pelo De Olho nos Ruralistas, em parceria com The Intercept Brasil Carta Capital no início do ano. O observatório publica agora uma série de reportagens sobre os maiores multados no Pantanal.

Com cerca de 15 milhões de hectares, o Pantanal está dividido entre os dois estados brasileiros e partes do Paraguai e da Bolívia. A estimativa é que 85% dele fique no Brasil. Até 1.º de outubro, o bioma acumulava 18.259 focos de incêndios em 2020, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Empresa foi a única multada em mais de R$ 50 Milhões

Os valores na Amazônia são bem maiores, onde há 25 autuados por desmatamento com multas acima de R$ 50 milhões cada um — o maior deles, por sinal, é a AgroSB, antes Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, empresa dos fundos de investimentos geridos pelo banco Opportunity, de Daniel Dantas, com mais de R$ 325 milhões em atuações. No Pantanal, a BRPec é a única a receber sanção superior aos R$ 50 milhões.

A sede da BRPec fica na mesma propriedade multada em 2018, no município de Miranda (MS). Sua atividade principal é a produção de gado para corte. Apesar de não estar em nome do banco BTG Pactual, nem no de André Esteves, a ligação da empresa ao banco já foi citada até em processos judiciais.

No quadro de sócios, Antonio Carlos Canto Porto Neto e Marcelo Del Nero Fiorellini aparecem como conselheiros de administração e Marco Antonio Guimarães Vianna Filho, Antonio Carlos Canto Porto Filho e Anderson Daniel Freitas Vargas como diretores. Fiorellini e Porto Filho são sócios e têm cargos no BTG.

Outros sócios e funcionários do banco também já participaram da direção da empresa de pecuária. Eles até mesmo promoveram assembleias da BRPec na sede do BTG. Em uma das atas de reunião da empresa, a BTG Pactual Serviços Financeiros é citada como representante do Fundo de Investimento e Participações Bravo.

Esteves é um dos dez maiores bilionários brasileiros, segundo a revista Forbes. Aos 52 anos, ele ocupa o sétimo lugar no ranking, com uma fortuna de R$ 24,96 bilhões, 430 vezes mais que a multa recebida no Pantanal em 2018.

Área Pertencia a José Carlos Bumlai, condenado na Lava Jato

A relação do BTG com a BRPec já foi mais clara. Em abril de 2012, o pecuarista Jose Carlos Bumlai vendeu a fazenda Cristo Rei, de 110 mil hectares, ao BTG Pactual. Foi uma forma de abater suas dívidas com o banco. Um ano e meio depois, o banco vendeu a propriedade para a BRPec. Bumlai e Esteves foram presos em 2015, durante as investigações da Operação Lava Jato.

Uma das imagens de divulgação do site da BRPEC Agropecuária. (Foto: Reprodução)

Bumlai ficou conhecido nacionalmente durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em razão de suspeitas de que teria sido favorecido economicamente por ser próximo do presidente. O pecuarista — a rigor amigo de muitos outros políticos, de diversos partidos — também tem uma multa de R$ 2,75 milhões por devastação da flora, mas fora do Pantanal, em Campo Grande. Ele foi condenado em primeira instância, pelo então juiz federal Sergio Moro, a 9 anos e 10 meses de prisão, acusado de intermediar vantagens indevidas do Grupo Schahin em negociações com a Petrobras.

O banqueiro e pecuarista André Esteves foi investigado com base nas delações do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, por supostos atos de corrupção envolvendo a Petrobras. Em um dos casos, o Ministério Público Federal resolveu não denunciá-lo por falta de provas. Em outro, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou os mandados de busca e apreensão contra ele por considerá-los constrangimento ilegal.

Banqueiro fez doação para campanha de Tereza Cristina

Mesmo quando já não estava oficialmente à frente da fazenda, Esteves foi visto pela imprensa especializada em agronegócio como um símbolo de um avanço do setor bancário e financeiro sobre as terras da região. Em 2015, uma reportagem informava que, em parceria com o Mubadala Development Corp, um fundo com sede em Abu Dhabi, o banqueiro iniciava o cultivo de 40 mil hectares de soja na fazenda, na margem do bioma pantaneiro. A produção de gado nelore, porém, continuou sendo a principal atividade da propriedade.

Esteves sempre teve boas relações políticas. Até 2017, o economista Pérsio Arida, um dos autores dos Planos Cruzado e Real, era sócio do banco. Em 2013, o BTG pagou passagens e hospedagens para o então senador Aécio Neves (PSDB-MG) e a mulher dele, logo após terem se casado, para Nova York. O senador afirmou que a viagem foi para fazer uma palestra para investidores — a assessoria do banco, na época, não quis comentar o assunto.

Durante os governos petistas, Esteves manteve boa relação com o governo e negócios com as estatais. O BTG, ao lado do Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Santander, foi acionista da Sete Brasil, criada para fornecer equipamentos à Petrobras, entre os quais sondas para exploração de petróleo e investigada pela Operação Lava-Jato.

No Mato Grosso do Sul, Esteves foi um dos financiadores, em 2014, da campanha a deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS). O valor doado foi de R$ 300 mil. A deputada hoje é ministra da Agricultura do governo de Jair Bolsonaro. Antes de ser parlamentar, ela foi secretária de Desenvolvimento Agrário da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo da gestão André Puccinelli.

Empresa diz que áreas já estavam desmatadas

btg-menor-447x298Sede do BTG, na Avenida Faria Lima, em São Paulo. (Foto: Divulgação)

Confira o pronunciamento oficial enviado pela assessoria de imprensa do BTG Pactual:

“O BTG Pactual informa que a BRPec é uma empresa controlada por um fundo gerido pelo banco e pratica as melhores e mais modernas técnicas de manejo sustentável de suas fazendas, com o objetivo de manter o equilíbrio e o manejo correto das pastagens, dos rebanhos e dos recursos naturais. 

Sobre o questionamento da multa, em dezembro de 2018 a BRPec apresentou defesa administrativa que, dentre os pontos elencados, destacou: 

1. A anterioridade de uso da área da fazenda, sendo que as áreas estavam abertas muito antes da aquisição da Fazenda pelo atual proprietário, conforme comprovado por diversas imagens de satélite; e

2. As atividades de limpeza de pasto realizadas na área foram autorizadas pelo órgão ambiental estadual competente pelo licenciamento ambiental no estado do Mato Grosso do Sul (Imasul). Todas as licenças emitidas nos diversos processos do Imasul constam da defesa administrativa, inclusive fotos georreferenciadas dos técnicos do Imasul junto às leiras de aromita (espécie exótica, considerada uma praga da região) que foram objeto da limpeza. 

Em consequência o próprio Ibama desembargou praticamente toda área em questão. Atualmente, a empresa aguarda a decisão final do Ibama em relação ao tema.

Importante destacar ainda que a fazenda incentiva a pesquisa ambiental e tem câmeras de monitoramento de fauna instalada nestas áreas, que já registraram uma rica biodiversidade local, como onças pintadas, onças pardas, antas e gato mourisco.

A produção segue rigoroso controle de pragas, usando tecnologia de ponta e drones para acompanhamento das lavouras. Dentre as práticas adotadas, destacam-se o mapeamento integrado de pragas e o uso de controle biológico para controle das pragas, ambas medidas que reduzem as aplicações preventivas na lavoura e garantem melhor qualidade ambiental.

Sobre a aromita, espécie retirada das pastagens existentes, é importante esclarecer que se trata de uma praga exótica originária do Paraguai, considerada tóxica para o desenvolvimento de espécies nativas. De acordo com o WWF, no documento “Conservando Pastagens e Paisagens”, a aromita é uma das espécies invasoras mais agressivas presentes no Centro-oeste brasileiro, e prejudica o ecossistema e a produção em áreas onde ocorre”.

Foto principal (Corpo de Bombeiros Militar/MT): fogo toma conta do Pantanal mato-grossense.

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Esta reportagem foi inicialmente publicado pelo “De olho nos ruralistas” [Aqui!].

Dados oficiais sobre focos de incêndio e rebanho bovino desmentem a falácia do “boi bombeiro” no Pantanal

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Enterrando de vez a falácia do “Boi Bombeiro” reiteradamente usada pelos ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente?)  Thereza Cristina (Agricultura) para se eximir da destruição em curso no bioma Pantanal, o  gráfico abaixo mostra que cada ponto azul representa um município e o número de cabeças de gado obtidos pelo IBGE e o número de focos de calor do Monitoramento de Queimadas fornecido pelo Inpe  no respectivo município).

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A conclusão da observação deste gráfico é  que existe uma relação direta entre o aumento do número de focos de incêndio e o tamanho do rebanho bovino no Pantal, onde quanto maior o rebanho, maior será o número de focos de calor, e não o contrário.

Assim, qualquer tentativa do governo Bolsonaro de se eximir das responsabilidades da pecuária extensiva em relação à destruição do bioma Pantanal deve ser ignorado, pois não passa de mais uma “fake news” bolsonarista.

Brasil: jacarés, onças-pintadas, ariranhas … Incêndios devastam biodiversidade no Pantanal

O Pantanal, maior área úmida tropical do planeta, vive um desastre ecológico sem precedentes, com danos irreparáveis ​​à biodiversidade. 

Por Hamza Hizzir

“Você sabe que as ONGs não têm voz comigo. Estou firme com essas pessoas, mas não posso matar esse câncer que a maioria das ONGs tem”, disse com certa medida. que o caracteriza, Jair Bolsonaro, o presidente do Brasil, quinta-feira, 3 de setembro. É porque a raiva está rugindo. Do Greenpeace ao Human Rights Watch, por meio de uma campanha na Internet intitulada “Defundbolsonaro.org”, o ator Leonardo Di Caprio ou mesmo um grupo de fundos de investimento de US $ 4 trilhões: todos exortam o chefe de estado a reagem, enquanto as chamas mais uma vez assolam a Amazônia, e mais particularmente o Pantanal, a maior área úmida tropical do planeta.

Mais de 2,3 milhões de hectares já viraram fumaça desde o início do ano, segundo dados compilados pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ). Os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) já identificaram 12.567 incêndios no Pantanal desde janeiro, um total já maior do que todos os anos de 2018 e 2019 juntos. E acima de tudo, o recorde de um ano inteiro (de 12.536 residências), datado de 2005, acaba de ser batido, em menos de nove meses, segundo novos dados atualizados quarta-feira, 9 de setembro.

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Mas, além dos números, é uma verdadeira tragédia que se desenrola neste santuário de biodiversidade com fauna excepcional, localizado no extremo sul da floresta amazônica e que se estende do Brasil ao Paraguai e à Bolívia. . No local, isso resulta em incontáveis ​​cadáveres de ariranhas e jacarés carbonizados, cobrindo um solo deserto com toda a água e vegetação. “Uma vez que o animal anda no chão brilhante, seu corpo queima, e ele não consegue mais se mover” , explica ao TF1, Felipe Coutinho, médico veterinário que, com outros voluntários, percorre essa paisagem infernal para emprestar a mão forte para os bombeiros.

Daniel, dono de um hotel na região, dá o alerta: “Nos mobilizamos com todos os vizinhos. Uma das maiores áreas de biodiversidade do mundo está desaparecendo. E não estamos recebendo nenhuma ajuda. ! ”  O Exército brasileiro foi de fato enviado em agosto para combater os incêndios. Mas é como escavar o oceano com uma colher de chá. Nesta semana, o Parque Natural Encontro das Águas, conhecido por abrigar a maior concentração de onças-pintadas do mundo, foi atingido por chamas … Felipe Coutinho, no entanto, tenta manter a coragem. E esperança: “ É um trabalho árduo. Não podemos salvar toda a região , confidencia. Mas se cada um de nós fizer a sua parte todos os dias.

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Este texto foi originalmente escrito em francês e publicado pelo canal de TV LCI [ Aqui!].