Brasil queimou área equivalente a Colômbia e Chile juntos entre 1985 e 2022

Foram mais de 185 milhão de hectares consumidos pelo fogo entre 1985 e 2022. A cada ano, a área queimada no Brasil equivale à do Suriname

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Um novo mapeamento da superfície queimada pelo fogo no Brasil revela que a área queimada entre 1985 e 2022 foi de 185,7 milhões de hectares, ou 21,8% do território nacional. A média anual alcança 16 milhões de hectares/ano, ou 1,9% do Brasil. São extensões comparáveis a países: no caso do acumulado em 38 anos, a área equivale à soma da Colômbia com o Chile; na média anual, ao Suriname.

Os dados são da Coleção 2 do MapBiomas Fogo, lançados no Seminário “Fogo no Brasil: Estratégias aplicadas ao Manejo Integrado do Fogo (MIF)” no dia 26/04 com apoio do PrevFogo-IBAMA. O conjunto de informações sobre as cicatrizes deixadas pelo fogo sobre os mais de 851 milhões de hectares do território brasileiro são obtidas a partir de imagens de satélite e processamento em nuvem. O MapBiomas Fogo não contabiliza o número de focos de calor, mas sim a extensão consumida pelas chamas.

A área afetada pelo fogo varia entre os seis biomas brasileiros, com o Cerrado e a Amazônia concentrando cerca de 86% da área queimada do Brasil entre 1985 e 2022. O Cerrado queimou em média 7,9 mha/ano, ou seja: todo ano uma área maior que a da Escócia queimou apenas nesse bioma. No caso da Amazônia, a média foi de 6,8 milhões de hectares/ano — quase uma Irlanda. Mas quando se analisam as áreas dos biomas, a liderança é do Pantanal, que teve 51% de seu território consumido pelo fogo nesse período.

Clique aqui para ter acesso ao material com gráficos, mapas e destaques.

 

Bioma % no total do país Área queimada % em relação à área do bioma
Amazônia 43,6% 80,95mha 19,2%
Cerrado 42,7% 79,2mha 39,9%
Caatinga 5,7% 10,5mha 12,2%
Pantanal 4,2% 7,7mha 51,1%
Mata Atlântica 3,7% 6,8mha 6,2%
Pampa 0,3% 0,5mha 2,4%

 

O estado de Mato Grosso apresentou maior ocorrência de fogo, seguido pelo Pará e Maranhão. Os municípios que mais queimaram no país entre 1985 e 2022 foram Corumbá (MS), São Félix do Xingu (PA) e Formosa do Rio Preto (BA).

Os dados do MapBiomas Fogo dão importantes pistas para que os governos federal e locais possam combater queimadas e incêndios. Além dos biomas, estados e municípios de maior incidência, o mapeamento também mostra os períodos do ano de maior incidência. Em nível nacional, os meses entre julho e outubro concentram 79% da área queimada no Brasil, com setembro respondendo por 34% do fogo. Mas o registro mensal de fogo varia entre os biomas. No caso da caatinga, por exemplo, aproximadamente 60% do fogo acontecem entre outubro e dezembro;no Cerrado, 89,5% do fogo ocorre principalmente entre julho e outubro.

“Com essa série histórica de dados de fogo podemos entender o efeito do clima e da ação humana sobre as queimadas e incêndios florestais. Por exemplo, percebemos claramente que em anos de El Nino temos mais ocorrência de incêndios, como nos últimos El Ninos (2015 – 2016 e 2019), se comparados aos anos de La Niña, quando chove mais na Amazônia (2018 e 2021). A exceção a essa regra foi 2022, quando mesmo sendo um ano de La Nina, a Amazônia queimou bastante”, explica Ane Alencar, Coordenadora do Mapbiomas Fogo e Diretora de Ciência do IPAM. “Na realidade, para que o fogo ocorra e se espalhe precisa de uma combinação de três ingredientes: precisa ter material em quantidade e em boas condições de queima, um clima favorável para a queima e uma fonte de ignição. A história do fogo contada pelos dados do MapBiomas demonstra claramente tanto os anos de maior seca quanto os anos de maior desmatamento”, completa.

Sobre o Manejo Integrado de Fogo (MIF), Ane explica que “ as pessoas acham que todo o fogo é só ruim. O fogo só é ruim quando é utilizado de forma inadequada e em biomas que não dependem do fogo para se manter, como a Amazônia. Em biomas como o Cerrado, o Pantanal, o Pampa, o fogo tem um papel ecológico e ele deve ser manejado de forma correta para não virar um agente de destruição. Para isso, as práticas relacionadas ao Manejo Integrado do Fogo (MIF) são importantes pois elas podem, através das queimas prescritas e controladas, reduzir a quantidade de material combustível e evitar grandes incêndios”.

Vera Arruda, coordenadora operacional do MapBiomas Fogo e pesquisadora do IPAM, acrescenta que “o Cerrado é um bioma que evolui com a presença do fogo, sendo parte natural do seu ecossistema, onde muitas espécies vegetais e animais dependem dele para sua sobrevivência. Porém a frequência e intensidade do fogo têm aumentado nos últimos anos, devido ao desmatamento e às mudanças climáticas que causam o aumento da temperatura e da seca.”

Queimadas mais recorrentes na Amazônia e no Cerrado

Em todo o Brasil, cerca de 63% da área afetada pelo fogo foi queimada mais de uma vez em 38 anos. Mas esse percentual muda quando analisamos a área queimada em relação ao bioma. No caso do Pampa, da Mata Atlântica e da Caatinga, por exemplo, a área queimada uma única vez entre 1985 e 2022 corresponde a 80%, 72% e 65% do bioma, respectivamente. Na Amazônia, entretanto, apenas 39% foram queimados uma única vez. Quase metade (48%) foi queimada entre duas e quatro vezes, sinalizando que a maioria das queimadas na Amazônia são recorrentes.

O percentual de áreas queimadas recorrentemente na Amazônia é maior do que no Cerrado, onde 36% da área queimada pegou fogo uma única vez. O fogo recorrente, de duas a quatro vezes entre 1985 e 2022, atingiu 38% da área queimada no Cerrado no período — 10% a menos que na Amazônia e 5% a menos que no Pantanal, onde a área queimada de duas a quatro vezes correspondeu a 43% do bioma. Em contrapartida, o Cerrado é o Bioma que tem a maior quantidade de áreas com recorrência de eventos de fogo maiores que 16 vezes, ou seja, áreas que queimaram pelo menos a cada 2 anos, totalizando mais de 2 milhões de hectares.

Mais de dois terços (68,9%) do fogo no período ocorreram em vegetação nativa; apenas 31,1% foram em área antrópica. Campos e Savanas são o tipo de vegetação nativa que mais queima; no caso de tipo de uso de solo, é a pastagem. Mas a proporção varia entre os biomas. Na Amazônia e Mata Atlântica a maior parte do fogo ocorreu em áreas antrópicas, como pastagem. Os demais biomas seguem o padrão nacional, com a maior parte do fogo ocorrendo em vegetação nativa.

 Sobre o MapBiomas Fogo

Mapeamento da superfície do Brasil por meio do processamento de mais de 150 mil imagens geradas pelos satélites Landsat 5, 7 e 8 de 1985 a 2022. Com a ajuda de inteligência artificial, foi analisada a área queimada em cada pixel de 30 m X 30 m dos mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados do território brasileiro ao longo do período, em todos os tipos de uso e cobertura da terra. Os dados resultantes estão disponíveis em mapas e estatísticas anual, mensal e acumulada em para qualquer período entre 1985 e 2022 na plataforma aberta a todos. Ela também inclui dados de frequência de fogo, indicando as áreas mais afetadas nos últimos 38 anos e o tipo de cobertura e uso do solo que queimou, permitindo recortes territoriais e fundiários por bioma, estado, município, bacia hidrográfica, unidade de conservação, terra indígena, assentamentos e áreas com CAR.

Sobre o MapBiomas

Iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil, para buscar a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais, como forma de combate às mudanças climáticas. Esta plataforma é hoje a mais completa, atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país disponível no mundo. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa. Além disso, a rede MapBiomas ampliou-se para outras regiões e países como na Amazônia, Chaco, Bosque Atlântico, Pampa Sul-americano e Indonésia, como também gera outros produtos como MapBiomas Alerta, MapBiomas Fogo e MapBiomas Água.

Pesquisadores entregam recomendações sobre florestas degradadas ao MMA

Documento elaborado por um grupo de pesquisadores de instituições como IPAM, Embrapa, Universidade de Lancaster, MPEG, INPE, CEMADEN, Woodwell entre outras defende aprimoramento do PPCDAm para combater de forma eficiente a degradação, além do desmatamento.

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Um grupo de pesquisadores entrega, nesta terça-feira (25), ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima um policy brief de políticas públicas com recomendações para o combate à degradação florestal na Amazônia.

O documento aponta caminhos para o aprimoramento do PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal), a fim de tornar a prevenção e o combate à degradação um tema prioritário na agenda ambiental brasileira. Atualmente, este é o principal projeto para conter desmatamento no país, e está na fase de consulta pública. Mas os pesquisadores alertam que temos que ir além de conter desmatamento e combater a degradação na Amazônia também.

A degradação florestal é a deteriorização das florestas remanescentes da Amazônia, resultado de distúrbios causados pela ação humana, como o fogo e a exploração madeireira ilegal. Enquanto o desmatamento remove toda a vegetação de uma área, a degradação mantém alguma parte, mas em um estado enfraquecido. Entre 1992 a 2014, foram degradados 337.427 km², enquanto o desmatamento atingiu 308.311 km². Áreas degradadas também respondem por um volume semelhante de emissões de CO2.

Florestas degradadas tem um valor ecológico mais baixo do que florestas intactas; são menos eficazes na regulação do clima, contêm menos e biodiversidade, e aumentem a vulnerabilidade social das populações locais. Pesquisas estimam que florestas degradadas bombeiam um terço a menos de água para a atmosfera do que florestas intactas, afetando diretamente o abastecimento hídrico e a produção de chuva em diversas regiões do país.

As características das florestas degradadas e do processo de degradação fazem com que as ações focadas no combate ao desmatamento tenham pouco efeito na recuperação e fiscalização dessas áreas. De acordo com o relatório, diversas regiões da Amazônia conseguiram frear o desmatamento, mas ainda sofrem com o avanço da degradação por falta de políticas para esse fenômeno.

Dentre as medidas sugeridas pelo documento, estão o aprimoramento no mapeamento de florestas degradadas e a criação de um fundo de emergência capaz de apoiar a proteção de áreas degradadas em anos de seca, quando incêndios nessas áreas são comuns. O briefing também defende a criação de mecanismos específicos para garantir a qualidade das áreas dentro de reservas legais e outras áreas protegidas, além da necessidade de um grupo de trabalho técnico-científico que atue junto ao Ministério no desenvolvimento de novas políticas.

Cerca de 38% do que resta da Amazônia sofre com algum tipo de degradação, segundo estudo publicado na revista “Science” que conta com a participação de mais de 30 autores de instituições nacionais e internacionais, como a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o IPAM, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e a Universidade de Lancaster no Reino Unido.

O Policy Brief foi resultado do encontro “Degradação das florestas amazônicas: um diálogo entre ciência e sociedade em busca de soluções”, ocorrido em Belém (PA), no mês passado. Participaram da elaboração, além do IPAM, CEMADEN (Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais), Museu Paraense Emílio Goeldi, EMBRAPA(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), SEMA-PA (Secretaria de Estado de Meio Ambiente) do Pará, IMAZON (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), Woodwell Climate Research Center, UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), Universidade Federal Rural da Amazônia, NASA (National Aeronautics and Space Administration), UFPA (Universidade Federal do Pará), Universidade de Yale, Universidade de Oxford e Universidade de Lancaster.

Como as florestas são degradadas?

Existem dois agentes principais responsáveis pela degradação da floresta Amazônica: o fogo e a exploração ilegal de madeira. Segundo dados do MapBiomas, entre 1985 e 2020, cerca de 114.000 km2 de áreas florestais na Amazônia foram afetadas por incêndios. Além da emissão de grandes quantidades de CO², incêndios florestais na Amazônia, bioma que não está adaptado a esse tipo de evento, mata metade das árvores da área afetada e torna aquela região ainda mais propensa a novas queimadas.

A abertura de clareiras e estradas para a retirada, o transporte e venda da madeira de árvores derrubadas ilegalmente, também cria degradação na floresta. Esse tipo de perturbação cria áreas mais iluminadas e secas dentro das matas, prejudicando o desenvolvimento das espécies nativas e contribuindo para a ocorrência de incêndios.

O encontro e o Policy Brief foram financiados pelos CNPq e UKRI.

Maioria do desmatamento no Brasil é ilegal, mostram dados do Monitor da Fiscalização

Três em cada quatro hectares desmatados têm indícios de ilegalidade. Levantamento se refere ao período entre 2019 e 2022

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 Por Paulliny Tort – Repórter da Agência Brasil – Brasília

Quase 73% das áreas desmatadas, entre 2019 e 2022, apresentam indícios de ilegalidade – o que corresponde a três em cada quatro hectares. Essa é a conclusão obtida a partir de dados recentes do Monitor da Fiscalização do Desmatamento, plataforma online do MapBiomas. De acordo com a organização, que une universidades, organizações não governamentais (ONGs) e empresas de tecnologia, os números revelam um alto índice de ilegalidade no uso da terra.

“A ideia é compreender quanto do desmatamento é legalizado, porque ele tem uma autorização do órgão competente, quanto não tem autorização e, portanto, apresenta indícios de ilegalidade, e quanto disso já foi fiscalizado pelos órgãos competentes”, explica Ana Valdiones, coordenadora da plataforma.

Lançado em 2022, o Monitor da Fiscalização atualmente compila dados de dez unidades federativas: Acre, Amazonas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Rondônia e São Paulo. Segundo as informações obtidas, 72,6% das áreas desmatadas no período avaliado estiveram livres de fiscalização.

“A gente conseguiu chegar a dez estados porque eram aqueles que tinham essa informação disponível na internet com a qualidade que nos permitia uma análise”, afirma Ana Valdiones. Os estados que apresentaram números mais alarmantes foram Acre, Ceará e Rondônia. No Acre, apenas 146 alertas de desmatamento tiveram ações de fiscalização sobrepostas, dos mais de 32 mil alertas validados no estado.

O monitor usa como base informações fornecidas por órgãos federais e estaduais de controle, tais como autorizações, autuações e embargo de propriedades rurais. Para identificar quanto do desmatamento tem ações de fiscalização sobrepostas, esses dados são cruzados com os alertas de desmatamento publicados pelo MapBiomas. Cada alerta é conferido, validado e gera um laudo com imagens em alta resolução de antes e depois da área desmatada. Para Ana Valdiones, é preciso aumentar a transparência sobre os dados ambientais disponibilizados. “Nossa intenção é que o monitor cubra todos os estados brasileiros, com a atuação de todos os órgãos ambientais, estaduais e federais, mas a gente se depara com essa questão de nem sempre ter acesso facilitado a informações de qualidade”, esclarece.

O Monitor da Fiscalização do Desmatamento é uma iniciativa do MapBiomas em parceria com o Instituto Centro de Vida (ICV) e com a plataforma Brasil.IO, que propõe a disponibilização de dados públicos em formato acessível para a população. As informações compiladas pelo monitor podem ser acessadas online gratuitamente. De acordo com Ana Valdiones, a organização espera ampliar o monitoramento para todo o território nacional até o final de 2023.


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Este texto foi inicialmente publicado pela Agência Brasil [Aqui!].

Desmatamento do Cerrado sobe 35% no primeiro trimestre de 2023

O bioma teve 48,4 mil hectares a mais desmatados em relação ao mesmo período do ano passado; Bahia concentra 25% dos alertas, segundo SAD Cerrado .
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O desmatamento no Cerrado chegou a 188,2 mil hectares no primeiro trimestre deste ano. Esse número representa 35% a mais do que o registrado nos três primeiros meses do ano anterior, quando foram desmatados 139,8 mil hectares, segundo dados do SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado) divulgados nesta sexta-feira. Apesar do aumento no primeiro trimestre, o registro de alertas de desmatamento para o mês de março diminuiu em relação a fevereiro desde ano (redução de 31,9 mil hectares).

“É necessário cautela ao interpretar os dados de desmatamento na época de chuva. A alta cobertura de nuvens nessa época pode aumentar o tempo de detecção dos alertas de desmatamento pelo SAD Cerrado. Portanto, um desmatamento que ocorreu em janeiro ou fevereiro pode estar sendo detectado somente agora em março devido à presença de nuvens naquela área nos meses anteriores. Assim como podemos detectar nos próximos meses novos desmatamentos que na verdade ocorreram agora no mês de março, mas estavam cobertos por nuvens nas imagens desse mês. Normalmente temos uma baixa detecção de alertas na época chuvosa devido à cobertura de nuvens, e também devido ao próprio calendário agrícola. Por isso, esse aumento significativo de desmatamento no primeiro trimestre em relação aos últimos dois anos é bastante preocupante”, aponta a pesquisadora do IPAM, Fernanda Ribeiro.

Dos 188,2 mil hectares desmatados no Cerrado no primeiro trimestre, aproximadamente 48 mil estão na Bahia. O estado foi o que mais concentrou (25%) novas áreas de desmatamento do bioma no período. A área desmatada mais que dobrou em relação ao primeiro trimestre de 2022, quando foram registrados 20,2 mil hectares derrubados no estado da Bahia.

Durante o mês de março, foram desmatados 54,8 mil hectares de Cerrado, um aumento de 37,7% em relação ao mesmo período em 2022, quando o bioma perdeu 39,8 mil hectares. Durante o terceiro mês do ano, a Bahia respondeu por 30% de todo o desmatamento, cerca de 16,3 mil hectares.

O resultado é impulsionado pelo desmatamento em municípios do oeste baiano, dentro da fronteira agrícola do Matopiba – que compreende os estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. No trimestre, o Matopiba concentrou 64% do desmatamento do bioma. Para as pesquisadoras, os últimos relatórios mensais do SAD Cerrado indicam uma continuidade na alta do desmatamento na região, com uma maior concentração no oeste da Bahia.

“O Oeste da Bahia tem se destacado com o aumento do desmatamento nos últimos meses. Só no último trimestre foram 47,8 mil hectares derrubados na região. Isso afeta diretamente a manutenção da biodiversidade local e nos modos de vida das populações tradicionais. Essa expansão está ocorrendo em áreas de alta importância para manutenção da conectividade entre áreas protegidas da região, e também dentro de territórios tradicionais, fomentando diversos conflitos sociais na região”, afirma Tarsila Andrade, pesquisadora do IPAM que atua no SAD Cerrado.

O SAD Cerrado é uma ferramenta de monitoramento do desmatamento do bioma desenvolvida pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com a rede MapBiomas e com o LAPIG (Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento) da UFG (Universidade Federal de Goiás).

Municípios

Também é na região do oeste baiano que está localizado São Desidério, o município com as maiores taxas de desmatamento de todo o Cerrado para o trimestre. De 2022 para 2023 o desmatamento quadruplicou no município: foram 12 mil hectares desmatados entre janeiro e março deste ano, o que corresponde a 25% de todo o desmatamento na porção de cerrado do estado no período, contra quase 4 mil hectares derrubados nos primeiros três meses do ano passado.

Correntina, vizinha de São Desidério e segunda colocada do ranking em 2023também quadruplicou seu desmatamento em relação ao ano passado. Foram 8,2 mil hectares detectados no primeiro trimestre do ano, contra 1,3 mil ha no mesmo período do ano passado. 

Área afetada por desmatamento na região de Correntina (BA). Imagens ©PlanetScope

Outros municípios baianos também registraram aumentos significativos no desmatamento em relação ao mesmo período de 2022. Seis dos dez municípios que mais desmataram no primeiro trimestre de 2023 estão localizados no estado e respondem por 20% de todo o desmatamento no Cerrado.

Jaborandi, quarto colocado, aumentou seu desmatamento em 154%, desmatando 3,6 mil ha no primeiro trimestre de 2023. Barreiras, que ocupa a quinta posição e é também o município mais populoso do oeste baiano, desmatou 3,4 mil, um aumento de 439% em relação ao início de 2022. Já Cocos, sexto município que mais desmatou, derrubou 3,3 mil hectares, um aumento de 207%.

Alto Parnaíba, no Maranhão, Baixa Grande do Ribeiro e Sebastião Leal, no Piauí, Rio Sono, no Tocantins, e Riachão das Neves, também na Bahia, completam a lista dos 10 municípios com a maior área desmatada.

Desmates maiores

O tamanho das áreas de Cerrado desmatadas também aumentou. Segundo levantamento do SAD, entre janeiro e março de 2023, alertas de desmatamento com mais de 50 hectares corresponderam a 51,3% de todo o desmatamento registrado. Em 2022, áreas desse tamanho representavam menos de 30% de todos os alertas de desmatamento registrados para o bioma.

A proporção de alertas de desmatamento localizados dentro de propriedades rurais privadas também aumentou, representando mais de 88% do que foi desmatado no primeiro trimestre. Em 2022, registros privados de CAR (Cadastro Ambiental Rural) já representaram cerca de 79% dos alertas emitidos pelo SAD.

Sobre o SAD Cerrado

O Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado é um sistema de monitoramento mensal e automático utilizando imagens de satélites ópticos do sensor Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia. O SAD Cerrado é uma ferramenta analítica que fornece alertas de supressão de vegetação nativa para todo o bioma, trazendo informações sobre desmatamento no Cerrado desde agosto de 2020. A confirmação de um alerta de desmatamento é realizada a partir da identificação de ao menos dois registros da mesma área em datas diferentes, com intervalo mínimo de dois meses entre as imagens de satélite. A metodologia é detalhada no site do SAD Cerrado.

Relatórios de alertas para o primeiro trimestre de 2023 e períodos anteriores estão disponíveis neste link. No painel interativo, é possível selecionar estados, municípios, categorias fundiárias e o intervalo temporal para análise.

O objetivo do sistema é fornecer alertas de desmatamentos maiores de 1 hectare, atualizados mês a mês. Pesquisadores entendem que o SAD Cerrado pode se constituir como uma ferramenta complementar a outros sistemas de alerta de desmatamento no bioma, como o DETER Cerrado, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), otimizando o processo de detecção em contextos visualmente complexos.

Acesse os dados georreferenciados clicando aqui.

Aplicações em Escolas e Ações de Combate ao Desmatamento são as novidades da quinta edição do Prêmio MapBiomas

Inscrições encerram-se no dia 31 de março

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Encerram-se nesta sexta-feira, 31 de março, as inscrições para a quinta edição do Prêmio MapBiomas, que distribuirá R$ 80 mil entre os vencedores. Realizado em parceria com o Instituto Ciência Hoje, o Prêmio MapBiomas visa reconhecer, estimular e ampliar o uso dos dados de qualquer módulo ou iniciativa do projeto no Brasil e fora do país, por estudantes, professores, pesquisadores, membros do governo, do setor empresarial e da sociedade civil em trabalhos que desenvolvam soluções e contribuam para a produção de conhecimento. As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas pelo site neste Link. Ao todo, serão escolhidos oito trabalhos que apresentarem maior consistência, relevância, originalidade, inovação e potencial de impacto técnico-científico, socioeconômico, ambiental e em políticas públicas. A divulgação dos resultados e a premiação devem acontecer em junho.

A novidade desta edição é a inclusão de duas categorias – Destaque Aplicações em Escolas Ações de Combate ao Desmatamento – às quatro que já faziam parte das edições anteriores: Geral, Jovem, Aplicação em Políticas Públicas e Aplicação em Negócios. A nova categoria de Destaque Aplicações em Escolas abre espaço para trabalhos que utilizem os dados de qualquer iniciativa do MapBiomas na educação básica (ensino infantil, fundamental ou médio) em materiais didáticos e aulas, por exemplo, bem como outras atividades curriculares e extracurriculares ou recursos didáticos nas escolas. Já a categoria especial Ações de Combate ao Desmatamento visa reconhecer trabalhos que utilizem dados de qualquer iniciativa do MapBiomas para subsidiar ações de redução, combate e fiscalização do desmatamento.

Para Julia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas, a ampliação das categorias do prêmio visa refletir a crescente diversidade de uso dos dados abertos produzidos sob diferentes iniciativas e projetos: MapBiomas Brasil, MapBiomas Amazônia, MapBiomas Chaco, MapBiomas Bosque Atlantico, MapBiomas Pampa Sul-Americano, MapBiomas Indonésia, MapBiomas Alerta, MapBiomas Fogo, MapBiomas Água, MapBiomas Árida ou o portal GeoCovid MapBiomas. “O MapBiomas nasceu com o princípio de que a ciência deve ser aberta, acessível e utilizável para gerar um impacto positivo. Cada edição do prêmio nos prova que essa premissa é verdadeira: o uso dos dados gerados pelo MapBiomas tem crescido e se diversificado ano após ano. É por isso que desde o ano passado temos criado novas categorias que permitam reconhecer e incentivar o uso além da comunidade científica”, explica.

Podem concorrer ao Prêmio MapBiomas trabalhos inéditos ou produzidos ao longo de 2022 como estudos, artigos, monografias, dissertações, teses ou relatórios, individuais ou em co-autoria, de autoria de estudantes de escolas, nível técnico, graduação, pós-graduação, professores, profissionais de empresas privadas ou de ONGs, gestores públicos, etc. Para as categorias de políticas públicas, negócios, escolas e ações de combate ao desmatamento, as inscrições não precisam ter o formato de artigo científico. Não há restrição de idade ou formação, salvo para a categoria Jovem, que aceita apenas trabalhos de autores com até 30 anos e que ainda não tenham completado a graduação ou tenham se graduado ao longo de 2022.

 Sobre MapBiomas

O MapBiomas é uma iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil, para buscar a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais, como forma de combate às mudanças climáticas. Esta plataforma é hoje a mais completa, atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país disponível no mundo. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa. Além disso, a rede MapBiomas ampliou-se para outras regiões e países como na Amazônia, Chaco, Bosque Atlântico, Pampa Sul-americano e Indonésia, como também gera outros produtos como MapBiomas Alerta, MapBiomas Fogo e MapBiomas Água.

Desmatamento do Cerrado no Matopiba coloca em risco oferta de água

Cinco bacias hidrográficas na região concentram 74,5% do desmatamento no bioma; sem vegetação nativa, perdem capacidade de absorção e distribuição. Tocantins e São Francisco estão entre as mais comprometidas, mostra SAD Cerrado

unnamedPesquisadores alertam para conexão entre desmatamento do bioma e segurança hídrica no Dia Mundial da Água (Foto: Acervo IPAM)

O desmatamento do Cerrado no Matopiba pode reduzir o abastecimento e a qualidade da água em ao menos 373 municípios, se seguir o ritmo atual. Esses municípios estão dentro da área das bacias hidrográficas mais desmatadas do bioma em 2022, na região da fronteira agrícola. Segundo o SAD Cerrado, 74,5% de todo o desmatamento do Cerrado ano passado ocorreu nas bacias dos rios Tocantins (210.804 hectares), São Francisco (116.367 ha), Parnaíba (105.419 ha), Itapecuru (88.049 ha) e Araguaia (78.368 ha).

A análise de pesquisadores expõe, neste Dia Mundial da Água (22), a relação entre desmatamento e segurança hídrica no bioma considerado berço das águas do Brasil. O SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado) é desenvolvido pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com o MapBiomas e com o LAPIG (Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento) da UFG (Universidade Federal de Goiás).

Com a perda de vegetação nativa, fica comprometida a capacidade natural de absorção e distribuição da água, que chega a “viajar” centenas de quilômetros antes de ser aproveitada para uso humano, seja em consumo próprio, afazeres domésticos, geração de energia, produção industrial ou irrigação, por exemplo. O SAD Cerrado indica que os municípios que mais desmataram dentro da área das bacias foram Balsas (MA), São Desidério (BA), Correntina (BA), Carolina (MA) e Formosa do Rio Preto (BA).

“Garantir a proteção dos remanescentes de vegetação nativa do Cerrado e, ao mesmo tempo, recuperar áreas próximas a nascentes, rios e bacias, é essencial para a manutenção dos recursos hídricos que temos hoje e para o equilíbrio climático. São diversos e complexos os efeitos que a diminuição na oferta de água teria nos municípios, mas uma coisa é certa: se o desmatamento continuar na velocidade e na extensão em que está, a disponibilidade hídrica será cada vez menor”, explica Fernanda Ribeiro, pesquisadora no IPAM responsável pelo SAD Cerrado.

O Cerrado tem 24 bacias hidrográficas, com nascentes de 8 das 12 principais regiões hidrográficas do país. As cinco bacias mais desmatadas em 2022 são também as que têm os maiores contínuos de vegetação nativa.

Segundo o SAD Cerrado, foram 815.532 hectares desmatados no bioma ano passado. Maranhão teve a maior derrubada no período e Balsas (MA) foi o município que mais desmatou: subiu quase 60% em relação a 2021. Já em 2023, Bahia, Goiás e Minas Gerais tiveram recorde, com altas de 227%, 82,5% e 69%, respectivamente.

Além do desmatamento, monoculturas e atividades agrícolas que não levam em conta o equilíbrio com a sociobiodiversidade acabam causando outros prejuízos para a segurança hídrica, não só de quem vive na cidade, mas de povos, comunidades tradicionais e agricultores familiares no campo, com a seca e o envenenamento de rios. A transformação de áreas de vegetação nativa para pastagem e agricultura já tornou o clima no Cerrado quase 1°C mais quente e 10% mais seco. Nos locais desmatados, a temperatura média anual pode subir até 3,5°C com queda de 44% na evapotranspiração, processo que contribui para a umidade do ar.

“O Cerrado está ficando cada vez mais quente e seco, com menos água disponível. Este cenário acende o alerta para que tipo de planeta queremos habitar no futuro. É como destacou o relatório-síntese do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, das Nações Unidas], precisamos lidar com a emergência do clima tendo como prioridades a justiça climática e a equidade para o bem-estar humano e da biodiversidade”, conclui Julia Shimbo, pesquisadora no IPAM e coordenadora científica do MapBiomas.

Fogo na Terra Indígena Yanomami cai 62% no primeiro bimestre

Operação que retomou a presença do Estado e expulsa garimpeiros da região é um fator que pode explicar queda na área queimada

queimada floresta

A Terra Indígena Yanomami apresentou queda de 62% na área queimada em janeiro e fevereiro de 2023, em comparação ao primeiro bimestre do ano passado. O número é do Monitor do Fogo, iniciativa do MapBiomas em parceria com o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Para especialistas, a redução está ligada à operação que retomou a presença do Estado, expulsando garimpeiros e invasores da terra indígena.

“Normalmente, janeiro e fevereiro são meses de muita chuva no Brasil. Mas, existe um lugar onde a chuva chega mais tarde e esse lugar é Roraima. Segundo o Monitor do Fogo, apesar de o estado ter sido o que mais queimou a Amazônia no período este ano, houve uma redução que foi ainda maior na terra indígena Yanomami. É possível avaliar essa mudança como uma consequência do reaparecimento do Estado na região e de uma governança que foi reinaugurada para o cumprimento da lei”, diz Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo.

Dados divulgados essa semana pelo Monitor do Fogo mostram que a Amazônia foi o bioma mais queimado no Brasil nos dois primeiros meses do ano, e que Roraima, Mato Grosso e Pará foram, respectivamente, os estados com maior área atingida. Ainda assim, o estado de Roraima teve uma queda de 44% no fogo em comparação com o ano passado: foram 259 mil hectares em 2023, ou 48% de toda a área queimada no Brasil. Em janeiro e fevereiro de 2022, haviam sido 470 mil hectares.

“A redução dos focos de queimadas na Terra Indígena Yanomami é a comprovação de que a presença do governo federal é fundamental para a proteção dos territórios indígenas. Somente a atuação firme do Estado pode garantir a proteção e segurança dos povos e seus territórios e, a partir da fiscalização e devida punição aos criminosos ambientais, assegurar também a preservação de nossas florestas”, afirma a ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara.

A Terra Indígena Yanomami chegou a ser uma das com maior área sob invasão do garimpo na Amazônia, entre elas, também com presença de povos indígenas em isolamento voluntário, as terras Kayapó, Munduruku e Sawré Muybu, no Pará. Um estudo publicado pelo IPAM e pela COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), em janeiro deste ano, mostrou que Terras Indígenas com isolados são metade de todas as atingidas pelo garimpo e têm maior área (10,9%) com sobreposição de registros ilegais no Cadastro Ambiental Rural do que as sem isolados (7,8%).

No total, a área queimada no bioma Amazônia no primeiro bimestre de 2023 equivale a quatro vezes a capital paraense Belém e representa 90% de tudo o que queimou no país. O Brasil teve 536 mil hectares queimados nos dois meses, uma área 28% menor do que a registrada no mesmo período em 2022.

Amazônia concentra 90% da área queimada no Brasil no primeiro bimestre de 2023

Foram 487 mil hectares queimados no bioma; confira os dados do Monitor do Fogo divulgados nesta segunda-feira (13)

Fire Monitoring in the Amazon in July, 2021Monitoramento de Queimadas na Amazônia em Julho de 2021

Queimada feita em uma área de desmatamento recente na Amazônia

A Amazônia foi o bioma mais queimado no Brasil nos dois primeiros meses do ano, com 487 mil hectares atingidos pelo fogo. A área equivale a quatro vezes a capital paraense Belém e representa 90% de tudo o que queimou no país no período. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (13) pelo Monitor do Fogo, iniciativa do MapBiomas em parceria com o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

“O principal fator para o fogo na Amazônia nesse período é a ocorrência do fogo em formações campestres, principalmente ao norte do Bioma. Ainda que seja um número alto para a época de chuvas, é 25% menor que os 654 mil hectares que pegaram fogo no bioma em janeiro e fevereiro do ano passado”, comenta Vera Laisa Arruda, pesquisadora no IPAM responsável pelo Monitor do Fogo.

Entre os estados em todos os biomas, Roraima foi o que mais queimou nos meses de janeiro e fevereiro. Foram 259 mil hectares, ou 48% de toda a área queimada no Brasil. Roraima, Mato Grosso e Pará, os últimos com 90 mil e 70 mil hectares queimados, concentram 79% do fogo ocorrido no Brasil no período.

“O padrão de área queimada em Roraima pode estar relacionado a características climáticas e ambientais únicas do estado. Roraima está localizado no hemisfério norte, enquanto a maior parte dos demais estados se localiza no hemisfério sul. Dessa forma, enquanto o período de seca em boa parte do país ocorre entre os meses de maio a setembro, em Roraima os meses de seca ocorrem entre dezembro e abril”, explica Felipe Martenexen, pesquisador no IPAM e responsável pelo mapeamento da Amazônia no Monitor do Fogo.

Campos, como os lavrados roraimenses, foram o tipo de vegetação mais afetado: na Amazônia, os 266 mil hectares que pegaram fogo entre janeiro e fevereiro de 2023 eram de formações campestres, ou 55% da área queimada no bioma; no Brasil, a proporção chega a 84% .

“As vegetações campestres têm um papel fundamental na manutenção dos ciclos naturais essenciais para a vida, como o do carbono e do nitrogênio, além de contribuírem para a absorção e distribuição de água pelo solo. Por essa relação interdependente e complementar, medidas de proteção da biodiversidade devem considerar ecossistemas como um todo para serem efetivas”, acrescenta Vera Arruda.

O Cerrado foi o segundo mais queimado em janeiro e fevereiro, com 24 mil hectares atingidos pelo fogo. A época de chuva em regiões do bioma dificulta o alastramento dos incêndios. No total, o Brasil teve 536 mil hectares queimados nos dois meses, uma área 28% do que a registrada no mesmo período em 2022

Garimpo Ilegal acontece em todo território da Amazônia

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A Amazônia nunca esteve tão no centro das discussões como agora. De acordo com levantamento feito pelo Instituto Socioambiental (ISA), com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe/Prodes), o desmatamento em terras indígenas aumentou em 157% durante o governo do ex-presidente Bolsonaro.

Garimpo, invasões e roubo de madeira continuam assolando terras indígenas e unidades de conservação. Áreas da floresta estão sendo vendidas via leilão para empresas explorarem petróleo e gás natural.

Boa parte deste desmatamento está associada à expansão das áreas do garimpo nos territórios, mas também pela ação de madeireiros – atividades que andam lado a lado quando o assunto é invasão de terras indígenas. Entre 2010 e 2021, aponta o MapBiomas, o garimpo em terras indígenas cresceu cerca de 625%. O aumento mais expressivo ao longo dos últimos dez anos foi registrado justamente entre 2019 e 2021 e ele não está limitado às cinco terras indígenas citadas pelo relatório.

A Igreja, sempre atenta às necessidades da comunidade, desenvolve ações e cuidados especiais com os indígenas. De acordo com o assessor da Rede Eclesial Pan-Amazônica, a REPAM-Brasil e também da Comissão Ecologia Integral e Mineração da CNBB, padre Dário Bossi, a Igreja se aproxima desses povos em defesa da vida. “Amazônia sempre foi considerada uma terra de conquista, é pautada pelo viés do extrativismo predatório”. 

“O garimpo, na verdade, é como se fosse a primeira etapa de uma invasão, que possui ciclos, onde o primeiro ciclo é a desflorestação, que depois deixa espaço ao latifúndio da soja, do boi e das siderúrgicas, como um modelo que vem avançando. Assim o garimpo entra ocupando e contaminando pequenas áreas para depois deixar abertura para outros modelos de mineração mais consistentes e impactantes e, aos poucos, ir tomando posse dos territórios, por isso, não dá para medir ou para controlar a entrada no território. Há regiões na Amazônia onde precisamos dizer não à mineração. São territórios sagrados, santuários, que precisam ser preservados”, destacou o padre.  

De acordo com o MapBiomas, em relatório publicado há cinco meses, o Pará concentra o maior número de invasões em terras indígenas. Das cinco terras listadas pelo estudo, que utilizou dados de 2021, a TI Kayapó é a mais invadida, com 11.542 hectares de área de garimpo; em segundo lugar, a TI Munduruku, com 4.743 hectares de destruição. Somadas, as duas TIs concentram 16.285 hectares de áreas com lavra ilegal de ouro, o equivalente a 17 mil campos de futebol aproximadamente. Os Yanomami vêm em terceiro. 

A Igreja, sempre atenta às necessidades da comunidade, desenvolve ações e cuidados especiais com os indígenas. De acordo com o assessor da Rede Eclesial Pan-Amazônica, a REPAM-Brasil e também da Comissão Ecologia Integral e Mineração da CNBB, padre Dário Bossi, a Igreja se aproxima desses povos em defesa da vida. “Amazônia sempre foi considerada uma terra de conquista, é pautada pelo viés do extrativismo predatório”. 

Padre Dário fala sobre a importância da atuação da Igreja na região,“Há uma sensibilidade cada vez mais forte do mundo religioso sobre a importância de repensar o modelo, como dizíamos, não pode ser mais um modelo de saque e sim um modelo de reciclagem, reuso, limites e de controle dessa sania extrativa. Essa é a única maneira para permitir uma convivência equilibrada das comunidades em seus territórios”. 

“A opção pelo extrativismo predatório, infelizmente, continua sendo a prioridade de muitos países na América Latina, naturalmente, empurrada por interesses de fora, ainda mais agora, neste tempo de crise, num tempo em que supostamente por necessidade de transição energética, se fazem necessários os famosos minerais estratégicos, portanto, a fronteira de busca desses minerais e de expansão do extrativismo vem ameaçando cada vez mais comunidades que não sabem como se defender. As comunidades indígenas e a Amazônia são como a última fronteira de resistência. O que deve mudar, com certeza, é o ritmo e a intensidade desse sistema extrativo, que não vai se sustentar por muito tempo, por isso, temos que aprender com os povos indígenas uma nova maneira de conviver com o meio ambiente que não seja tão vorazmente predadora dos nossos territórios”. 

Para a professora Márcia Oliveira, da Universidade Federal de Roraima e assessora da REPAM-Brasil, é necessário determinar a retirada dos garimpeiros que oferecem grande risco e grande contaminação ao meio ambiente, destruição da floresta, dos rios, e dos povos que necessitam viver em paz em seus territórios e viver de forma autônoma com a soberania alimentar que eles fazem subliminarmente.

 “São diversas tentativas de invasões em TI desde 2016, quando os governos Temer e após o governo Bolsonaro abriram espaços para o garimpo. São trabalhadores que são agenciados a grandes empresas ligadas ao mercado do ouro e promovem uma grande exploração do trabalho análogo ao escravo, são pessoas muito pobres entrando na região, contaminando todo território os rios com mercúrio e também contaminando com a verminose. São de 20 a 30 mil pessoas no mesmo espaço, as águas levam toda a espécie de contaminação e isso tem resultado em um surto muito grande de verminose entre os povos indígenas”, declara a professora Márcia Oliveira, assessora da REPAM-Brasil. 

São muitos os religiosos e padres que atuam e moram em aldeias. A Igreja sempre se manifestou em relação ao garimpo. E grupos fizeram denúncias na Organização das Nações Unidas (ONU).

Desmatamento no Cerrado quase dobrou em dezembro de 2022

Desenvolvido pelo IPAM, SAD Cerrado revela avanço na derrubada de vegetação nativa, sobretudo no Tocantins, que devastou cerca de oito vezes mais no mesmo período do ano passado

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O desmatamento no Cerrado quase dobrou em dezembro de 2022 em comparação com o mesmo período em 2021. Foram 83.998 hectares derrubados, alta de 89% sobre os 44.486 ha desmatados no mesmo mês em 2021.

 Os números são do SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado), ferramenta de monitoramento do bioma desenvolvida pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com a rede MapBiomas e com o LAPIG (Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento), da UFG (Universidade Federal de Goiás).

O SAD revela que, em 2022, o desmatamento do Cerrado foi quase 20% maior do que em 2021 (com 691.296 ha derrubados), totalizando 815.532 hectares desmatados – uma área maior que a do Distrito Federal.

Durante os dois últimos anos, o Maranhão segue liderando como o estado que mais desmata, com destaque para o município de Balsas (MA), que em 2021 desmatou 14.527 ha e, em 2022, subiu para 24.581 ha, crescimento de quase 60% do desmatamento. O mês de dezembro foi o que mais acumulou área desmatada em 2022 neste município, totalizando 3.948 ha.

Estados e municípios

A devastação da vegetação nativa em Tocantins se sobressai quando comparada aos meses de dezembro dos dois últimos anos. Foram 2.650 ha, em 2021, e 20.257 ha em 2022 – um crescimento quase oito vezes maior.

Os municípios que aparecem no topo da lista do acumulado anual de 2022 são Balsas (MA), com 24.581 ha derrubados, São Desidério (BA) com 17.187 ha, e Alto Parnaíba (TO) com 11.112 ha – todos localizados na região do Matopiba. Em dezembro de 2022, foram 52.263 ha desmatados nesta região, representando 62% do total desmatado neste mês.

“Matopiba é a região com os últimos grandes remanescentes de Cerrado, mas também é a principal fronteira agrícola no bioma nos últimos anos, principalmente para soja“, afirma a pesquisadora do IPAM que atua no SAD Cerrado, Tarsila Cutrim Andrade. “Essa é a região onde se deveriam focar esforços para combater e reduzir o desmatamento no bioma”.

Tipos de vegetação

As formações savânicas, entre os diferentes tipos de vegetação do Cerrado, foram as mais afetadas pelo desmatamento em 2022: nessa vegetação se concentra 65% da área desmatada. Um fato alarmante é que, apesar de representar 10,6% da área de vegetação natural remanescente no bioma, as formações campestres já somam 23,8% do total do desmatamento em 2022.

Caso as propostas de legislações internacionais anti desmatamento considerem como áreas a serem protegidas apenas aquelas caracterizadas como florestas, de acordo com a definição da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), os biomas brasileiros que possuem prioritariamente outros tipos de vegetação nativa não florestal estarão descobertos, permitindo que as commodities ocupem essas áreas sem nenhuma repreensão do mercado, conforme aponta a diretora de Ciência do IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo e da equipe do Cerrado no MapBiomas, Ane Alencar.

“Grande parte da soja brasileira é produzida no Cerrado, por exemplo. Ao utilizar a caracterização de floresta da FAO, mais de 74% da área de vegetação nativa do bioma estaria desprotegida pela legislação europeia, justamente onde ocorre grande parte do desmatamento: mais de 85% do total”, destaca Alencar.

Categorias fundiárias

Os dados do SAD Cerrado revelam que a maior parte do desmatamento no bioma ocorre em propriedades privadas. Em 2022, cerca de 80% da área desmatada está nesta categoria. O restante está em vazio fundiário (13,5%), assentamentos (4,5%) e áreas protegidas (3,6%).

“Para combater o desmatamento no Cerrado, é necessário que exista uma ação conjunta entre setores privado, financeiro, e governos Estadual e Federal. Além de intensificar a fiscalização, é crucial que planos importantes sejam retomados, como o PPCerrado [Plano de ação para prevenção e controle do desmatamento e das queimadas no Cerrado]. O governo atual sinalizou que irá retomar essas ações, o que pode significar uma oportunidade”, afirma a pesquisadora no IPAM e coordenadora científica do MapBiomas, Julia Shimbo.

Serviço

O relatório de alertas do SAD Cerrado para dezembro e de todo o ano passado, bem como para outras séries temporais, está disponível neste link. No painel interativo, é possível selecionar estado, município, categoria fundiária e intervalo para análise.

Os dados georreferenciados podem ser baixados neste link.

Sobre o SAD Cerrado

O Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado foi lançado em 12 de setembro pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com a rede MapBiomas e com o LAPIG (Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento), da UFG (Universidade Federal de Goiás), e está disponível para acesso aberto em plataforma virtual. O SAD Cerrado funciona por meio de inteligência artificial e utiliza imagens do satélite Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia, com resolução de 10 metros.

O objetivo é que o sistema forneça alertas de desmatamentos maiores de 1 hectare, atualizados mês a mês. Pesquisadores entendem que o SAD Cerrado pode se constituir como uma ferramenta complementar a outros sistemas de alerta de desmatamento no bioma, como o DETER Cerrado, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), otimizando o processo de detecção em contextos visualmente complexos.