Liberação de venenos agrícolas no Brasil durante a gestão Bolsonaro

Mas Bolsonaro gostava de se alimentar de forma orgânica e livre de agrotóxicos

venenos

Venenos agrícolas

Por Christian Russau para a Kooperation Brasilien

O professor universitário brasileiro Marcos Pedlowski, da Universidade estadual de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, manteve registros meticulosos nos últimos anos sobre os venenos agrícolas recém-aprovados pelo governo federal em Brasília. Em 31 de dezembro de 2022 , Pedlowski informou sobre dois atos jurídicos recém-publicados pelo Ministério da Agricultura, nos quais mais 98 venenos agrícolas foram liberados de Brasília. Pedlowski somou tudo e apresentou 2.030 venenos agrícolas aprovados durante o mandato de quatro anos de Jair Bolsonaro (1º de janeiro de 2019 a 31 de dezembro de 2022).

Segundo levantamentos da professora da USP Larissa Bombardi, uma pessoa morre a cada dois dias por intoxicação por agrotóxicos no Brasil, e um quinto das vítimas são crianças e jovens de até 19 anos. O enorme uso de agrotóxicos no Brasil traz riscos à saúde da população local (muitas vezes indígenas e outras comunidades tradicionais) que estão diretamente expostos ao uso de agrotóxicos em áreas rurais por meio de pulverização aérea ou contaminação de lençóis freáticos e solo, bem como de todo o população devido a alimentos cada vez mais contaminados e altos níveis de poluentes na água potável, possibilitados por controles oficiais reduzidos e por limites legais relativamente frouxos. Ex-Relator Especial da ONU sobre Direitos Humanos e Substâncias Tóxicas, Baskut Tuncak (2014-2020),O país caminha para um “futuro cada vez mais tóxico” .

Ao mesmo tempo, o Congresso Nacional (mais conservador-reacionário do que nunca) tramita em Brasília o projeto de lei chamado Pacote do Veneno”, ou seja, o projeto de lei 1459/2022 , que estabelece as disposições básicas para a produção, o armazenamento, o uso e o descarte de agroquímicos no Brasil devem ser redefinidos, ou seja, flexibilizados e liberados o máximo possível de agrotóxicos. Os projetos legislativos no Brasil costumam demorar muitos anos para passar por todas as instâncias, mas algumas instâncias já foram aprovadas com o pacote do veneno – primeiro como PLS 526/99 do então senador e (ainda rei da soja) Blairo Maggi, depois como PL 6299/2002 na Câmara dos Deputados e agora no Senado como o mencionado PL 1459/2022. O relatório da comissão do Senado foi aprovado em dezembro, os bastidores fervilham em Brasília (não só sobre o assunto), mas a briga pelo “pacote de veneno” ainda não está decidida. Essa briga também está sendo acompanhada de perto lá fora , ambos os membros do Parlamento da UE , bem como 21 deputados alemães , enviaram uma carta interpartidária aos presidentes do Senado e a vários presidentes de comissões em Brasília para expressar suas preocupações sobre o “pacote de veneno”.

Por outro lado, a Comissão Européia está (não apenas) comprometida com a ratificação do acordo de livre comércio UE-MERCOSUL, que (além de muitas outras coisas, como mais desmatamento da floresta tropical e mais SUVs, menos tarifas e mais conflitos de terra) leva a mais exportações de agrotóxicos da Europa para o MERCOSUL e, portanto, também para o país que já detém o título de campeão mundial na área de agroquímicos: o Brasil. Ao mesmo tempo, esses pesticidas voltarão ainda mais para a Europa – nos produtos agrícolas que a Europa mais importa É duvidoso que a proibição das exportações de pesticidas não aprovados na Alemanha, almejada pela coalizão do semáforo, seja suficientemente robusta, mas é um primeiro passo. Se essa proibição de exportação também se aplicasse a ingredientes ativos (e não apenas a fórmulas de pesticidas acabados) e também estivesse firmemente ancorada na Lei de Proteção de Plantas, estaríamos um passo adiante.

Os jornalistas investigativos do De Olho nos Ruralistas já haviam apresentado sua pesquisa de fundo sobre o lobby político das agroempresas em Brasília durante o governo Bolsonaro em agosto do ano passado , revelando o envolvimento de empresas multinacionais no financiamento aninhado do think tank do agronegócio denominado Instituto Pensar Agro, incluindo empresas como Bayer, Basf, Syngenta, JBS, Cargill e Nestlé, segundo a análise, e realizaram um total de 278 reuniões com o governo Bolsonaro.

Este último bateu recordes nas questões da liberalização e flexibilização dos agrotóxicos no Brasil, ao mesmo tempo em que aparentemente se esforçou ao máximo para alimentar a si e a sua família que alimentos biologicamente orgânicos eram servidos como pratos no palácio do Planalto. Com o cartão de crédito presidencial de Bolsonaro (quem paga o contribuinte) foram feitas 158 compras no mercado de orgânicos nos últimos quatro anos.


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Este texto escrito originalmente em alemão foi publicado pela Kooperation Brasilien [Aqui!].

Relatório técnico documento processo de contaminação por agrotóxicos nas águas do Pantanal

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O estado de Mato Grosso registrou o uso de 142.738,855 kg de princípios ativos de agrotóxicos e é o estado brasileiro que mais utiliza substâncias tóxicas na agropecuária. Os municípios de Poconé, Cáceres e Mirassol D’Oeste foram afetados com importante quantidade de substâncias que contaminam o solo e principalmente os recursos hídricos levando assim doença e destruição dos bens comuns.

Essas e outras conclusões alarmantes estão reunidas no Relatório Técnico: “Agrotóxicos no Pantanal”, realizado pela educadora da FASE, mestre em Saúde Pública, Fran Paula; com a colaboração da professora Marcia Montanari, do Instituto de Saúde Coletiva da UFMT; Naiara Andreoli Bittencourt, advogada da Terra de Direitos e Lucinéia Freitas do MST e com revisão de Maria Emília Pacheco, assessora do Grupo Nacional da FASE.

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Para baixar a íntegra do relatório, basta clicar [Aqui!]

Observatório dos Agrotóxicos: uso e custos estão aumentando em velocidade maior do que a produção agrícola brasileira

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Dados disponibilizados pelo  Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) na última 5a. feira (12/05) mostram que entre 2017 e 2021 a área que recebeu a aplicação de agrotóxicos aumentou 36,6% (o equivalente a adicionais 505 milhões de hectares) em função do aumento da presença de pragas, doenças e ervas daninhas de difícil controle (ver figura abaixo)

.O resultado financeiro desse aumento foi que o valor de mercado dos agrotóxicos utilizados pelos agricultores aumentou 17,4%, em 2021, passando de US$ 12,485 bilhões (2020) para US$ 14,655 bilhões (2021).  Dentre as culturas que precisaram do uso de agrotóxicos, o Sindiveg afirmou que a soja representou 53% do valor total, com US$ 7,779 bilhões, enquanto o milho participou com 13% e a cana, com 9%. Em outras palavras, estas três culturas de exportação representaram juntas 75% de todos os agrotóxicos utilizados no Brasil no ano passado, confirmando uma tendência de que esse tipo de monocultura está fortemente apegada ao uso intensivo de venenos agrícolas.

Além disso, há que se notar que no tocante ao volume de agrotóxicos utilizados, houve um crescimento anual de 9,4%, passando de 1,081 milhão de toneladas para 1,183 milhão t. Se levarmos em conta que pelo menos 30% dos agrotóxicos usados no Brasil estão banidos pela União Europeia em função dos seus danos à saúde humana e ao meio ambiente, é possível afirmar que as razões para preocupação com os efeitos devastadores desses venenos agrícolas também aumentaram consideravelmente.

Perda de safra considerável, apesar do uso intenso de venenos agrícolas

Um dado apresentado de forma mais ligeira pelo Sindiveg se refere ao fato de que apesar de todo o crescimento na área aspergida com agrotóxicos, “os problemas fitossanitários podem representar quebra de até 40% na produção agrícola brasileira, que equivale a cerca de 100 milhões de toneladas por ano“. Em outras palavras, apesar dos seus altos custos e dos fortes que causam sobre seres humanos e ecossistemas naturais, os agrotóxicos não evitam fortes perdas em termos de produção, as quais se somam em forma de custos aos elevados desembolsos associados à aquisição destes venenos agrícolas.

Como o Sindiveg também informou que os fabricantes de agrotóxicos também enfrentaram “sérios problemas relacionados a aumento do câmbio, desabastecimento de algumas matérias-primas vindas da China, atraso nas entregas, elevação dos custos dos fretes marítimos”, fatores estes que estão se agravando em 2022, algo que deve ser esperado é um aumento ainda maior nos custos relacionados à compra de agroquímicos. Tal fato reforça as evidências de que os custos com a manutenção de monocultivos de larga extensão vão muito além do que os eventuais ganhos com a produção obtida.  A verdade é que estamos todos pagando de forma subliminar o direta para que os operadores do latifúndio agro-exportador possam manter suas margens de lucros.

Observatório dos Agrotóxicos: a tsunami de agrotóxicos do governo Bolsonaro não para e mais 25 produtos foram liberados hoje

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A tsunami de agrotóxicos do governo Bolsonaro não para. No dia de hoje, por meio do Ato No. 14 de 7 de março de 2022 foram liberados mais 25 agrotóxicos. Agora o “grand total” do governo Bolsonaro chegou a 1.634 agrotóxicos liberados desde janeiro de 2019.

Como sempre ocorre na publicação de novas liberações de agrotóxicos pelo governo Bolsonaro, nos próximos dias irei postar a planilha individual do Ato No. 14 de 07 de março e a outra com todos os 1.634 agrotóxicos liberados pelo governo Bolsonaro desde janeiro de 2019.

Mais uma coisa é certa: a sede por venenos agrotóxicos do latifúndio agro-exportador nacional não tem mesmo fim.

Entrevista na TV GGN sobre os impactos agrotóxicos sobre o ambiente e a saúde no Brasil

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Na noite de ontem (09/03) começou a ser veiculada uma entrevista que foi dada ao professor Ruben Rosenthal, do blog Chacoalhando, na TV GGN. Nessa entrevista eu e Rosenthal conversamos de forma ampla sobre a problemática representada pelo amplo uso de venenos agrícolas na agricultura brasileira, e dos problemas que isso vem acarretando para a população brasileira.

Dentre os muitos pontos abordados, um que procurei destacar é que as ações em prol de uma agricultura que não seja dependente de venenos agrícolas banidos em outras partes do mundo são fundamentais para que se assegure o direito dos brasileiros a não serem diariamente envenenados quando realizam os atos de se alimentar e ingerir água, como é o caso dos dias atuais em que crescem as evidências que estão sendo submetidos a níveis inaceitavelmente altos de resíduos de agrotóxicos banidos em outras partes do mundo por sua alta periculosidade.

Abaixo vai o vídeo com a íntegra da entrevista concedida a Ruben Rosenthal.

Governo Bolsonaro libera mais de um agrotóxico por dia

Em 1.158 dias de governo, foram liberados 1.629 agrotóxicos, a maioria altamente perigosa. Entre os autorizados mais recentemente estão produtos com nomes sugestivos como Sniper, Patrol e Forasteiro

trator-agrotóxicoAs liberações desenfreadas preocupam o Ministério Público do Trabalho. O sistema de saúde muitas vezes não relaciona as enfermidades com a exposição a esses produtos

Por Cida de Oliveira, da RBA

São Paulo – O governo do presidente Jair Bolsonaro vai entrar para a história do país como o que liberou mais de um agrotóxico por dia. Uma média de 1,4 por dia, muitos deles altamente perigosos à saúde e ao meio ambiente e por isso proibidos em muitos países. No último dia 25 de fevereiro, quando foram completados 1.158 dias da atual gestão, a Coordenação de Agrotóxicos e Afins do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicou o Ato 11, autorizando mais 26 destes produtos usados pelo agronegócio. Com esta mais recente leva, com produtos com nomes sugestivos como Sniper, Patrol e Forasteiro, que lembram armas e mortes em filmes sempre violentos, o governo Bolsonaro chegou à triste marca de 1.629 agrotóxicos liberados até o momento.

Para o procurador do Ministério Público do Trabalho Leomar Daroncho, o “liberou geral” destas substâncias é um grande problema. Afinal, muitas delas têm formulações banidas em países da União Europeia. E justamente em defesa da saúde e da vida. “Não há nada que justifique esse ritmo alucinante de liberação de novos produtos. Esses produtos químicos tóxicos, quando são banidos nos países do primeiro mundo, onde há preocupação com a saúde e com o meio ambiente, não são banidos por acaso”, disse à RBA.

“São produtos nocivos à saúde, ao meio ambiente e alguns deles têm inclusive impacto que só vai se mostrar ao longo dos anos, afetando gestações, crianças. Há fartura de dados na academia, entre os pesquisadores, sobre esse impacto. Há uma preocupação muito grande com esse ritmo frenético de liberação de agrotóxicos com alto potencial de comprometimento da vida e da saúde humana, além do meio ambiente em geral”, completou.

Sede de agrotóxicos no governo Bolsonaro

O tema está no centro das atenções do Ministério Público do Trabalho (MPT), segundo Daroncho. Isso porque esses produtos são manuseados ou despejados sobre populações sem condições de avaliar a gravidade da exposição.

“Boa parte desses trabalhadores que têm contato com esses produtos tem um nível de instrução muito rudimentar; é alto ainda o analfabetismo funcional nos rincões agrícolas, nas fronteiras agrícolas. Nem sequer há condição de atendimento adequado para os contaminados”, lembrou.

O procurador chama a atenção para o fato de que algumas doenças crônicas são causadas pela exposição aos venenos agrícolas. E o sistema de saúde do interior não tem muitas vezes condições nem de fazer o nexo de que essas enfermidades estão relacionadas com a exposição.

Outra preocupação é com a aprovação na Câmara, em fevereiro, do Pacote do Veneno, agora sob análise do Senado. “Se aprovado, abre a perspectiva de liberação de mais veneno do que a gente já tem, inclusive com mecanismos que admitem a liberação por decurso de prazo caso o agente de análise do governo não conclua a avaliação em um determinado prazo. Preocupa também que tenham sido retirados dos papeis de protagonistas as entidades do governo que cuidam da saúde (Anvisa) e do meio ambiente (Ibama), concentrando o poder apenas nas mãos do Ministério da Agricultura.”

“Um cenário bastante preocupante. Nos faz pensar sobre a necessidade de estabelecer um corredor humanitário para essas populações sujeitas à exposição de grande volume de veneno banido nos países que são rigorosos nesse controle”, disse, comparando com a alternativa pleiteada para saída segura de civis da Ucrânia. “Aos poucos vamos no tornando uma espécie de lixeira do mundo. Aquilo que ninguém mais aceita, continua e segue sendo liberado aqui.”

Ouça o procurador:

Observatório dos agrotóxicos

Em seu observatório dos agrotóxicos, o professor e pesquisador da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Marcos Pedlowski avalia o Ato Nº 11, das mais recentes liberações. Para ele, é a repetição de características persistentes; a presença de substâncias proibidas na União Europeia em torno de 30% do total liberado, a presença de empresas como Basf, Syngenta e Adama, e ainda a hegemonia de produtos fabricados no exterior.

“E, por último, a inclusão das culturas de exportação como principais usuárias de venenos agrícolas que, por sua periculosidade para o meio ambiente e a saúde humana, estão banidos nos países em que são fabricados, o que revela um duplo padrão de comportamento por essas corporações que pregam sustentabilidade em casa, e enviam produtos banidos para o chamado Sul Global onde serão usados de forma abundante e sem maiores controles.”

Pedlowski disponibiliza planilhas com informações sobre todos os produtos já liberados no governo Bolsonaro, que podem ser acessados por pesquisadores, ativistas sociais e todos os interessados no tema que ele chama de “verdadeira tsunami de aprovações de venenos agrícolas que tem caracterizado as ações do governo Bolsonaro em prol do latifúndio agro-exportador e das grandes corporações químicas que os fabricam”.

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Este texto foi inicialmente publicado pela Rede Brasil Atual [Aqui!].

Jornada de Lutas mobiliza ações de denúncia contra os agrotóxicos em todo o Brasil

Entre os dias 27 de novembro e 11 de dezembro, será realizado um festival cultural, seminários, lançamentos de livros e ações de agitação. As ações marcam o Dia Internacional de Luta Contra os Agrotóxicos, 3 de dezembro. 

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Por Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

Está chegando o Dia Internacional de Luta Contra os Agrotóxicos, 3 de dezembro, que neste ano será marcado por uma Jornada de Lutas de 27 de novembro a 11 dezembro, em todo o Brasil. Com um festival, seminários, lançamentos de livros e ações de agitação, a iniciativa da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida quer ampliar a denúncia sobre o aumento do uso de venenos no país. 

A mobilização dá continuidade às mobilizações contra o símbolo do agronegócio, e pretende atingir diferentes públicos, desde quem produz agroecologia, passando pela diversidade de organizações que formam a Campanha Permanente, até segmentos ainda não familiarizados com a luta contra os agrotóxicos. 

A Jornada marca o Dia Internacional de Luta Contra os Agrotóxicos, que tem como origem o crime ocorrido em Bhopal, na Índia, em 1984, quando 27 toneladas do gás isocianato de metila vazaram de uma fábrica de agrotóxicos da empresa estadunidense Union Carbide. Cerca de 2,2 mil pessoas morreram na hora e quase 600 mil foram afetadas ao longo dos anos, segundo a Campanha Internacional por Justiça em Bhopal. 

Os agrotóxicos seguem fazendo vítimas em todo o mundo, e no Brasil ganharam ainda mais espaço durante o governo Bolsonaro. Foram 1456 novos agrotóxicos liberados desde o início da gestão, em 2018. O Projeto de Lei 6299/2002, conhecido como “Pacote do Veneno”, foi parcialmente imposto pelo Decreto Presidencial 10888/2021, e o governo segue “passando a boiada” sob à biodiversidade, os bens naturais e à saúde humana. 

Confira abaixo as 5 propostas de ações nacionais de formação, agitação, divulgação e denúncia contra os agrotóxicos: 

  • Placas “Aqui não usamos veneno” 

Convidamos comunidades, cooperativas, escolas, roçados comunitários, coletivos e hortas urbanas a inaugurarem placas “Aqui não usamos veneno” em seus espaços de produção. Esta ação tem o objetivo de envolver diretamente camponeses/as e produtores/as agroecológicos e orgânicos, do campo e da cidade. A proposta é de que sejam inauguradas entre os dias da Jornada, 27 de novembro e 11 de dezembro. 

> Como participar: 

– A Campanha Permanente confeccionará uma remessa de placas, que serão enviadas pelos Correios, conforme os pedidos feitos através da nossa secretaria via correio eletrônico secretaria@contraosagrotoxicos.org e/ou pelo contato de whatsapp 41 99676 5239. É preciso que os pedidos cheguem o quanto antes, para haver tempo de envio. Caso haja demanda maior, cada região/estado/organização tem autonomia para confeccionar mais placas, inspiradas no modelo enviado em anexo. 

– Divulgação: envie para a Campanha Contra os Agrotóxicos os seguintes materiais de registro: 

  1. pelo menos 5 fotos, na vertical e na horizontal; 
  2. um vídeo na vertical do momento de fixação da placa e do coletivo da sua comunidade, escola, família, em torno dela, com simbologia do movimento ou coletivo do qual faz parte; 
  3. pelo menos cinco linhas com as informações gerais sobre a comunidade/ação: nome da comunidade/escola/coletivo; cidade; estado; o que produzem; se faz parte de algum movimento / povo tradicional.
  • Seminários das Grandes Regiões

Serão encontros virtuais de fortalecimento das articulações regionais da Campanha Contra os Agrotóxicos, que ganharam força ao longo deste ano na luta contra o Pacote do Veneno. Cada grande região definirá o tema específico e a programação, conforme as realidades locais. 

Os seminários também serão espaços para mobilizar para ações práticas presenciais durante a Jornada de Luta Contra os Agrotóxicos, em cidades e comunidades de cada estado. 

O público principal destes encontros serão as próprias organizações, movimentos e militantes da Campanha Permanente, pesquisadores e estudantes, parlamentares e representantes dos Poderes Públicos.  

> Calendário de seminários regionais (todos acontecerão via plataforma zoom, com transmissão pelo youtube e facebook da Campanha e organizações realizadoras). 

Centro-oeste – 29 de novembro
Sul – 1 de dezembro
Nordeste – 6 de dezembro
Sudeste – a confirmar
Norte  – a confirmar

  • Festival Nacional contra os Agrotóxicos

Será realizado no Dia Internacional de Luta Contra os Agrotóxicos, 3 de dezembro, com caráter de agitação  e cultural, e em formato online. O objetivo é trazer a denúncia, mas por meio da música, da poesia, do grafite e a diversidade de expressões artísticas, como enfrentamento à narrativa hegemônica, com participação de artistas nacionais, regionais e locais, apoiadores da luta contra os agrotóxicos e em favor da agroecologia. Também apresentaremos receitas, intervenções locais e regionais, e vídeo com mensagens de artistas e figuras públicas apoiadoras da luta contra os agrotóxicos e pela vida. 

Com esta ação, pretendemos atingir um público mais amplo, de setores progressistas ainda não vinculados à Campanha Permanente, ativistas urbanos, classe artística, coletivos, movimentos urbanos ligados à pauta da alimentação saudável, do cicloativismo, ambientalistas, etc. 

  • Intervenções artísticas e de agitação presenciais 

Propomos a meta de pelo menos uma intervenção artística ou de agitação por grande região, por meio do grafite, teatro, ações diretas, interagindo com o Festival Nacional do dia 3 de dezembro. Estas ações serão protagonizadas por coletivos de juventude e de agitação e propaganda. A viabilidade da ação deve ser construída com apoio das organizações locais integrantes da Campanha Permanente. 

  • Lançamentos do Dossíê contra o Pacote do Veneno

Em continuidade à divulgação do Dossiê Contra o Pacote do Veneno, seguimos realizando lançamentos em conjunto com a campanha Semeando Saberes e Sabores em Armazéns do Campo de todo o Brasil, também como parte da Jornada de Lutas. 

Para participar, escreva para as redes da Campanha Permanente: 

https://www.instagram.com/contraosagrotoxicos/ 

https://www.facebook.com/contraosagrotoxicos 

ou para o email: secretaria@contraosagrotoxicos.org 

Lucro tóxico: venda de agrotóxicos teve maior resultado de vendas dos últimos cinco anos em 2020

Em uma prova cabal de que há quem esteja ganhando muito dinheiro durante a pandemia da COVID-19, o portal especializado na área do agronegócio Agrolink publicou hoje os resultados de um levantamento feito pelo Empresômetro, plataforma de “business intelligence” que oferece soluções baseadas em informações estratégicas para o mercado B2B,  que mostra que o mercado brasileiro de agrotóxicos teve o seu maior percentual dos últimos cinco anos. 

Segundo o relatório do Empresômetro, em 2020 o crescimento foi recorde, com alta de 8,77%, alcançando R$ 101,7 bilhões (o equivalente a cerca de 19 bilhões de dólares na cotação desta 4a. feira). Segundo informou em nota o Agrolink, as informações do levantamento foram obtidas com base na emissão de notas fiscais eletrônicas de vendas B2B, B2C e B2G emitidas no Brasil. Desta forma, mais de 37 milhões de notas fiscais de vendas de agrotóxicos teriam sido emitidas em 2020, abarcando agrotóxicos importados e também que são manipulados ou produzidos no Brasil.

É interessante notar um dado que reforça a dependência do latifúndio agro-exportador do uso de agrotóxicos em suas grandes de monocultura, pois o comércio de agrotóxico no atacado representou 57% de toda a movimentação financeira do setor em 2020, enquanto que as vendas das indústrias são responsáveis pela produção destes venenos agrícolas ficou em 34%, sendo seguida pela venda no varejo que representou 9% .

Segundo  Gilberto Luiz do Amaral, Head de Estudos do Empresômetro, citado na matéria do Agrolink, “As operações de venda podem ocorrer da indústria para o atacado, varejo e consumidor final, assim como do atacado para o varejo e consumidor final e, por fim, do varejo para o consumidor final. Por isso, não há um padrão linear das transações, pois as indústrias, que são também importadoras, podem dar maior relevância para as vendas diretas ao consumidor final ou então optar em concentrar suas transações nos atacados, próprios ou de terceiros, tradings e ou nas lojas de varejo”. Amaral ainda informou que  “algumas indústrias contam com filial que possui o próprio ramo atacadista. Se considerarmos este fator a movimentação de vendas das indústrias atinge a marca de 58%“. “Essa é uma estratégia comum das indústrias, que acabam optando por produzir ou importar os defensivos  (i.e., agrotóxicos) e transferir para uma filial que tenha o ramo atacadista próprio. Isso acontece por questões tributárias ou logísticas”, finalizou.

Trocando em miúdos, o varejo que serve prioritariamente os agricultores familiares consome uma fração desprezível do mercado de agrotóxicos que, como já sabemos, depende das commodities agrícolas de exportação para a geração de lucros fabulosos, que são aumentados por políticas públicas de isenção fiscal que causam bilhões de reais aos cofres públicos.  Assim, enquanto os fabricantes de agrotóxicos acumulam fortunas em lucros, o Brasil se vê diante de uma crise sanitária silenciosa que resulta da dependência de substâncias altamente perigosas para tocar um modelo de agricultura de exportação.

Tsunami tóxica: consumo de agrotóxicos ultrapassou 1 milhão de toneladas, alcançando 1,6 bilhão de hectares no Brasil em 2020

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Estudo realizada pela empresa Spark Consultoria Estratégica a pedido do  Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), a área afetada pelo uso de agrotóxicos cresceu 6,9 no Brasil em 2020, totalizando o emprego do valor estratosférico de 1.052.520 toneladas (ou traduzindo em um número mais compreensível, cerca de 1 milhão de toneladas) que foram usados 1,6 bilhão de hectares, 107 milhões a mais que em 2019 (ver figura abaixo).

Segundo o mesmo relatório, a  soja concentrou 48% do valor em agrotóxicos, representando outro valor estrastoférico, US$ 5,8 bilhões. Em segundo lugar, apareceu o milho, com 13% do total, equivalente a US$ 1,6 bilhão, depois a cana (11% do valor de mercado), o algodão (10%). Assim, juntas essas commodities produzidas primariamente para exportação representaram 82% do consumo total de agrotóxicos no Brasil em 2020!

Em relação ao tipo de agrotóxicos utilizados, mais de 413 milhões de hectares foram afetados pelo uso de inseticidas, cerca de 25% do total. Em seguida, apareceram os herbicidas, com cerca de 401 milhões de hectares (24%). Além disso, os produtores também aplicaram fungicidas em 306 milhões de hectares (19%), enquanto outros 149 milhões de hectares receberam aplicações de produtos para o tratamento de sementes (9%).

Com todos esses números impressionantes, o que temos no Brasil é uma super utilização de agrotóxicos explicitamente para dar conta de quatro commodities (i.e., soja, milho, cana e algodão) que afetam cada vez mais área rurais, e objetivamente contribuem para a poluição ambiental e a contaminação dos habitantes dessas regiões, estejam eles trabalhando direto com agrotóxicos ou não.

Como venho mostrando em seguidas postagens, diversas publicações científicas que estão aparecendo nas melhores revistas científicas do mundo já estão documentando os fortes impactos sobre a saúde dos brasileiros por causa da alta exposição a agrotóxicos altamente perigosos, os quais estão banidos nos países que os produzem. E com isso vem abaixo todo o discurso empregado pelo governo Bolsonaro para facilitar a liberação desses produtos indesejados por outros países no Brasil que lembremos vai no sentido de que mais agrotóxicos traria modernização e segurança.

Esse custo subliminar de um modelo agrícola baseado na exportação de commodities produzidas em grandes áreas de monocultura cedo ou tarde sobrecarregará, tal qual faz a COVID-19 neste momento, um sistema de saúde cada vez mais privatizado e indisponível justamente para aqueles que estão sendo mais diretamente impactados por essa verdadeira tsunami de agrotóxicos que assola o Brasil neste momento.

Finalmente, nunca é demais lembrar que todo esse volume de agrotóxicos já está causando um afastamento de mercados importantes das commodities agrícolas brasileiras. Essa aposta tóxica poderá, mais cedo do que tarde, colocar a produção brasileira em uma espécie de isolamento sanitário por aqueles mesmos países que vendem a lucros fabulosos os venenos agrícolas que estão sendo utilizados no Brasil.