Divulgação do livro “Terra arrasada: desmonte ambiental e violação de direitos no Brasil”

terra arrasada

Aproveito deste espaço para divulgar o livro “Terra arrasada: desmonte ambiental e violação de direitos no Brasil”, que foi  organizado pelas professoras Felisa Anaya, Débora Brons e Sônia Magalhães. Os pesquisadores envolvidos na construção desta obra partiram da necessidade de espacializar os processos socioeconômicos envolvidos na mineração e no garimpo na Amazônia Legal no período recente, e apresentam esta obra como resultado parcial desse esforço de pesquisa. Aqui, o leitor encontrará, em um primeiro momento, os principais objetos técnicos que servem a infraestrutura para o processo de produção e circulação dessas atividades, instaladas ou em vias de instalação na região.

Estruturas como portos, ferrovias, minerodutos e pistas de pouso servem para garantir a fluidez do processo e territórios de acumulação contemporâneo vinculados à lógica do neoextrativismo, na última década (2012-2022).

Os pesquisadores também mapearam as principais minas instaladas e as empresas que as (des)organizam. As substâncias minerais e seus principais destinos também foram foco da investigação para entender a mineração na Amazônia. Tudo isso acompanhado pelo levantamento de seus valores para a exportação.

Convido a todos à leitura dos resultados dessa pesquisa, lembrando que seus autores desejam que ela se converta em instrumento, não só de localização, mas também de transformação das realidades mineradas nessas porções setentrionais do Brasil. 

Para baixar este livro em sua íntegra, basta clicar [Aqui!].

Mais da metade da população da Amazônia Legal e Centro-Oeste sofre com poluição causada por queimadas, aponta estudo

Pesquisadores calcularam exposição da população da região da Amazônia Legal e do Centro-Oeste à poluição do ar gerada por queimadas entre 2010 e 2019. Mais de 20 milhões de brasileiros são expostos a ar de má qualidade por até seis meses ao ano. Exposição à poluição pode causar doenças respiratórias e cardiovasculares e gerar impacto no SUS nas regiões afetadas

fumaça amazonia

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Mais de 20 milhões de habitantes da Amazônia Legal e do Centro-Oeste do Brasil convivem por mais de seis meses ao ano com poluição do ar constante gerada por queimadas na Floresta Amazônica. O levantamento foi feito por pesquisadores da Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT) com dados de satélite do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo analisados entre 2010 e 2019. Os resultados estão publicados na edição de sexta (28) da revista “Cadernos de Saúde Pública”.

Os incêndios, segundo observação dos cientistas, são provocados no processo de produção agropecuária. Esse tipo de queima de biomassa é uma das etapas para derrubada da floresta e gera partículas poluentes chamadas de material particulado fino. O estudo classifica a qualidade do ar de acordo com a Organização Mundial da Saúde, que determina que a concentração máxima aceitável desse material no ar é de 15 microgramas por metro cúbico em uma média diária. Acima disso, a concentração passa a ser de risco para a saúde humana.

Para efeitos de comparação, algumas áreas da região metropolitana da cidade de São Paulo convivem com níveis altos de poluição por até 80% dos dias do ano. Já a área estudada, que compreende as regiões Norte e Centro-Oeste mais o estado do Maranhão, conviveu quase inteiramente com níveis preocupantes de poluição por, pelo menos, metade do ano durante uma década. A área equivale a 68% do território brasileiro e conta com mais de 40 milhões de habitantes no total.

“É consolidado que a poluição faz mal à saúde. Sabemos que tem consequências cardiovasculares importantes e efeitos respiratórios”, afirma Eliane Ignotti, epidemiologista, professora da UNEMAT e uma das autoras do artigo. “Essa poluição por queima de biomassa interfere na qualidade de vida das pessoas”, avalia. Longe de ser esporádica, a exposição sofrida pela população amazônida, tanto de cidades pequenas, quanto grandes acontece todos os anos no período da seca. Por isso, os efeitos sobre a saúde e qualidade de vida da população também são sentidos ao longo do tempo.

Consequentemente, diz Ignotti, estes efeitos terão impacto sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) nas regiões afetadas. “Em termos de custo, serão milhões de reais, que poderiam ser usados para outras finalidades”, avalia a pesquisadora. Para os cientistas, a poluição na área monitorada piorou nos últimos cinco anos com a redução de políticas públicas voltadas para a preservação do meio ambiente. O artigo alerta que os municípios mais impactados pela má qualidade do ar estão na região conhecida como arco do desmatamento, que envolve Acre, Rondônia, sul do Amazonas e do Pará e norte do Mato Grosso.

O próximo passo da equipe é medir os impactos econômicos e sociais da elevada exposição da população brasileira à poluição do ar. “Os riscos de desenvolver problemas de saúde não são iguais para todos os indivíduos. Eles são maiores para os mais vulneráveis, ou seja, crianças, idosos e pessoas em vulnerabilidade social e econômica”, afirma Ignotti. “Mas é importante frisar que toda a população está exposta, e os tomadores de decisão precisam ficar atentos”, conclui.


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Este texto foi originalmente publicado pela Agência Bori [Aqui!].

Desmatamento cresce 169% na Amazônia Legal

Wev’s Bronw/Creative Commons

Desmatamento na Amazônia

Desmatamento na Amazônia: Destruição da floresta foi maior no Mato Grosso e Rondônia

Fábio de Castro, do Estadão Conteúdo

São Paulo – Em janeiro de 2015, foram desmatados 288 km² na Amazônia Legal – aumento de 169% em relação ao mesmo mês do ano anterior, quando a devastação se estendeu por 107 km².

O monitoramento, não oficial, foi realizado pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), de Belém, no Pará.

Além dos dados sobre o corte raso, o boletim publicado pelo Imazon também incluiu números relativos à degradação florestal – áreas onde a floresta não foi inteiramente suprimida, mas foi muito explorada ou atingida por queimadas.

Em janeiro, as áreas degradadas chegaram a 389 km², um salto de 1.116% em relação ao mesmo mês de 2014, quando foram registrados 32 km². Segundo o boletim, toda a degradação florestal detectada em 2015 aconteceu em Mato Grosso.

Desta vez, o território monitorado pelo Imazon foi maior que no ano passado. Em janeiro de 2015, 50% da floresta estava encoberta por nuvens e, portanto, fora do alcance dos satélites. Já em janeiro de 2014, as nuvens cobriam 58% da Amazônia Legal.

O boletim destaca, no entanto, que em 2015 a cobertura se concentrou sobre regiões importantes (como Pará e Amazonas), o que reduziu a capacidade de detecção. “Em virtude disso, os dados de desmatamento e degradação florestal em janeiro de 2015 podem estar subestimados”, diz o relatório.

Os Estados que mais sofreram com o desmatamento foram Mato Grosso (75%) e o Pará (20%), seguidos por Rondônia (2%), Amazonas, Tocantins e Roraima, todos com 1%.

Os municípios mais devastados da Amazônia foram Feliz Natal (MT), com 19,3 km², Altamira (PA), com 16,8 km², Rondon do Pará (PA), com 15,8 km², e Porto dos Gaúchos (MT), com 15,3 km². Dos dez municípios mais devastados, oito estão em Mato Grosso.

Segundo o boletim, 80% da devastação registrada aconteceu em áreas privadas. O restante se distribuiu por assentamentos de reforma agrária (12%), unidades de conservação (7%) e terras indígenas (1%).

O desmatamento acumulado entre agosto de 2014 e janeiro de 2015 – período que corresponde aos seis primeiros meses do calendário oficial de medição da devastação – chegou a 1.660 km². O aumento foi de 213% em relação ao período anterior, quando o desmatamento acumulado somou 513 km².

Diferentes

O SAD utiliza imagens dos mesmos sensor e satélite empregados pelo Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que fornece ao governo federal as informações sobre as novas áreas de desmatamento na Amazônia. No entanto, as metodologias utilizadas pelo Inpe e pelo Imazon são distintas.

Os últimos dados do Deter foram relativos a agosto, setembro e outubro de 2014, indicando aumento do desmatamento de 117% em relação ao mesmo período em 2013. Os dados do SAD para o mesmo trimestre de 2014 mostraram alta de 227% em relação ao ano anterior.

Além do Deter, que monitora o desmatamento em tempo real, o Inpe opera o sistema Degrad, que mapeia áreas expostas à degradação florestal, e o sistema Prodes, que tem resolução maior e fornece ao governo taxas anuais oficiais de desmatamento da Amazônia Legal. 

FONTE: http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/desmatamento-cresce-169-na-amazonia-legal