Lançamento do E-book “Mineração, violências e resistências”

Num momento historicamente complicado, especialmente para aquelas parcelas da população brasileira que têm o azar de ficar no caminho de grandes projetos de mineração, a professora Andrea Zhouri (da Universidade Federal de Minas Gerais) e um grupo de pesquisadores acabam de produzir uma obra que certamente será muito útil para aqueles que querem não apenas estudar os impactos da mineração sobre ecossistemas naturais e a população que deles depende, mas também para quem desejar participar do necessário processo de enfrentamento a uma lógica que coloca o crescimento econômico acima dos interesses estratégicos do Brasil.

A obra intitulada “Mineração, violência e resistência” é composta por 7 capítulos onde são abordados várias facetas dos impactos negativas da mineração e das mudanças que estão sendo realizadas para facilitar o acesso das grandes mineradoras a territórios que estão longe de ser vazios demográficos ou sem interesse ecológico. 

livro mineração

Dentre os capítulos que constituem a obra há, obviamente, uma grande atenção para a atividade de mineradoras como a Vale e a Samarco que, como muitos devem lembrar, foram c-responsáveis pelo TsuLama que destruiu o Distrito de Bento Rodrigues e causou danos irreparáveis aos ecossistemas do Rio Doce. Mas há também espaço para abordar as múltiplas interações que compõem a trinca mina-ferrovia-porto. Aliás, nesse caso existem dois capítulos que tratam das mazelas que derivam dessa combinação de fatores, sendo que um deles trata especificamente do caso emblemático para os residentes do Norte Fluminense, especialmente os habitantes de São João da Barra, que é chamado projeto Minas-Rio que tem a Anglo American como um dos elementos analíticos.

Para quem desejar baixar este livro de forma gratuita, basta clicar [Aqui!]

Debate e lançamento de livro sobre o preço do extrativismo na América Latina e as alternativas possíveis

livro

Lançamento-debate do livro “O Bem Viver – Uma oportunidade para imaginar outros mundos”, escrito pelo político e economista equatoriano Alberto Acosta, em Minas Gerais, palco da maior tragédia extrativista dos últimos tempos. O livro, um dos maiores clássicos da literatura política contemporânea na América Latina, é fruto da parceria entre as editoras Editora Autonomia Literária e Editora Elefante. A publicação se viabilizou graças ao apoio da Fundação Rosa Luxemburgo e este evento graças aos aguerridos companheiros das Brigadas Populares!

MESA
Alberto Acosta, Andrea Zhouri (UFMG), Isabela Corby (advogada popular do Coletivo Margarida Alves), Sammer Siman (Brigadas Populares) e Letícia Oliveira (Movimento dos Atingidos por Barragens). Mediação Gerhard Dilger (RosaLux)

SINOPSE DO LIVRO

Um sistema com desigualdades gritantes sobrevive há séculos, com o apoio de milhões e a subordinação de bilhões. Agora, nos conduz ao suicídio coletivo. As promessas do progresso, feitas há mais de quinhentos anos, e as do desenvolvimento, que ganharam o mundo a partir da década de 1950, não se cumpriram. E não se cumprirão. Contra problemas cada vez mais evidentes, Alberto Acosta resgata o conceito de sumak kawsay, de origem kíchwa, e nos propõe uma ruptura civilizatória calcada na utopia do Bem Viver, tão necessária em tempos distópicos, e na urgência de se construir sociedades verdadeiramente solidárias e sustentáveis.

Uma quebra de paradigmas para superar o fatalismo do desenvolvimento, reatar a comunhão entre Humanidade e Natureza e revalorizar diversidades culturais e modos de vida suprimidos pela homogeneização imposta pelo Ocidente.

O Bem Viver foi escrito por um dos maiores responsáveis por colocar os Direitos da Natureza na Constituição do Equador, feito inédito no mundo.

Não se trata de viver la dolce vita, de ser um bon vivant. O Bem Viver não se oferece como a enésima tentativa de um capitalismo menos desumano – nem deseja ser um socialismo do século 21. Muito pelo contrário: acusa a ambos sistemas, irmanados na exploração inclemente de recursos naturais. O Bem Viver é a superação do extrativismo, com ideias oriundas dos povos e nacionalidades indígenas, mas também de outras partes do mundo. 

O que fazer? Acosta oferece uma série de caminhos, mas também nos alerta: não há apenas uma maneira para começar a construir um novo modelo. A única certeza é de que a trajetória deve ser democrática desde o início, construída pela e para a sociedade. Os seres humanos são uma promessa, não uma ameaça.

SOBRE O AUTOR

Nascido em Quito em 1948, Alberto Acosta é um dos fundadores da Alianza País, partido que chegou à Presidência do Equador com Rafael Correa em 2007. Foi ministro de Energia e Minas e presidente da Assembleia Constituinte que incluiu pela primeira vez em um texto constitucional os conceitos de plurinacionalidade, Direitos da Natureza e Buen Vivir.

OUTROS LANÇAMENTOS

Lançamento em São Paulo (26/1, terça às 19h)
Local: Coworking Espacio 945 – Conselheiro Ramalho 945, Bixiga
Mesa: Alberto Acosta, Célio Turino (Raiz Cidadã) e Salvador Schavelzon (UNIFESP). Mediadora Verena (RosaLux)
Nome da mesa: Bem Viver: um horizonte para superação do desenvolvimentismo
Link: https://www.facebook.com/events/645815612224272/

Lançamento no Rio (27/1, quarta às 18h)
Local: auditório UFRJ na praia vermelha
Abertura: Camila Moreno (UFRJ/RosaLux), Alexandre Mendes (Uninomade), Tadeu Breda (jornalista) que em seguida pode intermediar o debate
Mesa debate: Depois do ciclo progressista: novas alternativas ao sul. Com Alberto Acosta e Camila Moreno e Oscar Camach Oki (da Bolívia, do grupo Comuna).
Link: https://www.facebook.com/events/1544810705836245/

Ficha técnica:
O Bem Viver – Uma oportunidade para imaginar outros mundos
Editora Autonomia Literária
Editora Elefante
Páginas: 264
Autor: Alberto Acosta
Tradução: Tadeu Breda
Orelha: Boaventura de Sousa Santos
Prefácio: Célio Turino
Posfácio: Gerhard Dilger
Projeto Gráfico: Bianca Oliveira

FONTE: https://www.facebook.com/events/802305846581806/?feed_story_type=22&action_history=[%7B%22surface%22%3A%22permalink%22%2C%22mechanism%22%3A%22surface%22%2C%22extra_data%22%3A[]%7D]

Andrea Zhouri do GESTA/UFMG dá aula pública para explicar consequências da explosão das barragens da Samarco (Vale + BHP)

Em BH, pesquisadora expõe as consequências do crime em Mariana em aula pública

Por Jorge Rocha

 

 

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Imagine ouvir, por mais de duas horas, alguém falando sobre mapeamento das condições das famílias afetadas pelo rompimento da barragem de Fundão e as prováveis consequências deste crime, racismo ambiental, crítica ao modelo de negócios impulsionado pela ideia – enviesada e conceitualmente bamba – de desenvolvimento sustentável e deficiências do projeto de lei proposto por Fernando Pimentel para reformar o Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema). Tantos temas controversos e extremamente importantes para o momento atual abordados nesse espaço de tempo poderiam fundir a cabeça de qualquer vivente, por conta da quantidade de detalhes de cada um deste tópicos e seus desdobramentos sociais práticos. Mas não foi isso que aconteceu ontem, durante o aulão de Andrea Zhouri, professora da UFMG e especialista em ecologia política, movimentos ambientalistas e conflitos socioambientais, realizado no espaço Fôlego Cultural, no centro de BH.

Cada um destes tópicos foi apresentado de maneira clara, direta e efetiva, com explicações plausíveis nos campos político, econômico e técnico, sem firulas; estamos todos precisando ouvir mais falas desse tipo, pode apostar. Andrea Zhouri é desses exemplares de intelectuais – cada vez mais difíceis de encontrar, infelizmente – que se recusa a meramente fincar raízes no mundo acadêmico e ali deitar em berço esplêndido. Com doutorado em Sociologia pela Universidade de Essex, Inglaterra, e mestrado em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas, a professora da UFMG tem um acúmulo de experiências, pesquisas, relatos e artigos acadêmicos críticos e assertivos que falam por si só. Um destes registros que merece ser lido atentamente é o livro “Formas de matar, de morrer e de resistir: limites da resolução negociada de conflitos ambientais”, produzido em parceria com Norma Valêncio e publicado ano passado. Mas ciente de que o papel do intelectual preocupado com a sociedade não se limita por quatro paredes de um gabinete, ela não se furta em estar presente em momentos decisivos da política ambiental.

Por exemplo, Andrea também esteve na audiência pública realizada na Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), agendada para discutir o PL nº 2.946/15, de autoria do governador de MG, Fernando Pimentel, projeto ao qual faz ferrenha oposição. No aulão de ontem, a professora fez questão de reafirmar sua posição, engrossando as fileiras dos movimentos sociais, associações e sindicatos que acreditam que este projeto de lei possui um “caráter centralizador no poder executivo e a redução do poder do Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM)”, conforme explicita textualmente a Nota Pública da Frente Contra o PL 2946-2015. E este é apenas o ponto central a ser destacado; há muito mais a criticar.

E críticas, é claro, não poderiam faltar à condução da Samarco junto às famílias desabrigadas pelo rompimento da barragem, crime ambiental que é de responsabilidade da mineradora, juntamente com a Vale e BHP. Houve a explicitação de um ponto mais elucidativo para essa crítica, a chave para compreender como e por que a mineradora tem agido desse jeito em relação a este episódio – réu sendo responsável por “cuidar e amparar” os desabrigados, sem permitir que haja acesso às famílias e sem dar sinais de que promoverá uma assistência completa, tudo isso com aval do governo estadual. Andrea Zhouri desmistificou a ideia de que não se trata de um conflito socioambiental, como esse episódio tem sido caracterizado. A diferença entre este tipo de conflito e crime ambiental? Conflitos pressupõem negociações onde o lado economicamente mais forte tem vantagens claras; no caso de crime ambiental, não há o que negociar, há apenas fazer com que se cumpra a lei e os prejuízos – materiais, trabalhistas, sociais, etc – sejam ressarcidos. Na medida em que for possível restaurar certos padrões dessas famílias, uma vez que perderam “não somente” suas casas, empregos e familiares, mas sim toda uma comunidade social. Talvez seja essa a grande lição que possamos tirar desse aulão.

(foto da chamada: Frente Terra e Autonomia – FTA)

FONTE: http://crimideia.com.br/miniver/?p=235

Minas Gerais, um estado cheio de conflitos ambientais devidamente mapeados

No dia de hoje participei de um painel que compôs a programação do XII Congresso da Brazilian Studies Association em Londres. Durante esse evento acadêmico, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente a antropóloga e professora da Universidade Federal de Minas Gerais, Andréa Zhouri. A Professora Zhouri se especializou no estudo dos conflitos sociais e ambientais que estão ocorrendo em território mineiro em função de diferentes tipos de projetos econômicos.

O trabalho da doutora Zhouri e sua equipe de pesquisa gerou uma plataforma virtual que permite a visualização dos centenas de casos de conflitos ambientais que foram identificados após uma minuciosa análise, onde os casos descritos são acompanhados por fotografias e vídeos. Esta plataforma está abrigada no Observatório dos Conflitos Ambientais de Minas Gerais, e pode ser acessada (Aqui!).

Coincidentemente ou não, um dos casos retratados no Mapa dos Conflitos Ambientais é o que ocorre em Conceição do Mato Dentro, onde estão as minas da Anglo American de onde deverá partir o minério de ferro que deverá um dia ser exportado através do Porto do Açu (Aqui!).