BBC: Homenagem a CEO de sócia da Samarco provoca petição de estudantes na Inglaterra

Montagem em petição na internet critica King’s College de Londres por título concedido a CEO de mineradora

A entrega do título de doutor honoris causa ao CEO da mineradora anglo-australiana BHP Billiton, uma das donas das barragens que se romperam em Mariana (MG), motivou uma reação dura de alunos do King’s College, uma das universidades mais tradicionais da Inglaterra.

O geólogo escocês Andrew Mackenzie recebeu a homenagem em outubro, uma semana antes do maior desastre ambiental da mineração no Brasil. O título foi concedido em reconhecimento a seu trabalho de destaque como geólogo e “por ter chegado aos mais altos níveis de liderança em negócios globais através de uma combinação de tino comercial, liderança regida por princípios e uma contínua fascinação com a ciência”.

Na semana passada, estudantes organizaram um abaixo-assinado na internet em protesto contra a honraria. Pedem que a universidade revogue o título ao “executivo da mineradora responsável pelo derrame de lama tóxica no Brasil”. Até a publicação da reportagem, a iniciativa reunia cerca de 150 apoiadores.

“Como uma instituição de pesquisa de ponta que pretende reconhecer sua responsabilidade em sustentabilidade e proteção ambiental, o King’s deveria estar liderando um caminho de respeito ao ambiente global, mais do que conceder títulos honorários a CEOs de empresas que estão lucrando por meio de práticas empresariais irresponsáveis e danosas”, afirma o texto da petição.

A BHP é a maior mineradora do mundo. Ao lado da brasileira Vale, controla a Samarco, dona das barragens que se romperam em Mariana e lançaram 40 bilhões de litros de rejeitos de mineração na bacia do rio Doce, em Minas Gerais e no Espírito Santo. Ao todo, 15 pessoas morreram e quatro ainda estão desaparecidas.

Ainda não há dados definitivos sobre a composição dos rejeitos e seus potenciais danos à saúde. Não houve estudos de órgãos de governo, apenas análises de qualidade da água, com resultados distintos.

Na semana seguinte à tragédia, Andrew Mackenzie esteve em Mariana. Ao lado dos presidentes da Vale e da Samarco, disse “lamentar muito” o desastre e prometeu reconstruir casas de famílias atingidas.

Image copyrightBHP Em entrevista em Mariana ao lado dos presidentes da Vale e da Samarco, Andrew Mackenzie disse “lamentar profundamente” o desastre e prometeu apoio aos atingidos

“Lamentamos profundamente por todos que sofreram, e irão sofrer, por essa terrível tragédia, por amigos e parentes dos mortos e desaparecidos e a aqueles que perderam suas casas e bens, e que sentem que sua sobrevivência pode estar em risco”, disse o CEO da BHP na ocasião.

Após o desastre e multas impostas por órgãos de governo à Samarco, as ações da BHP atingiram o menor valor em dez anos. A empresa também revisou para baixo sua meta de produção de minério de ferro para o ano fiscal de 2016.

‘Ficha demorou a cair’

A mobilização contra a homenagem partiu, sobretudo, de estudantes brasileiros do King’s College ligados ao Brazil Institute, centro de estudos brasileiros da universidade.

“Demorou um pouco para cair a ficha (em relação à homenagem). Depois veio a revolta, e não só pelo título, mas pela prática de grandes universidades de conceder homenagens a representantes de empresas que não se pautam pela ética”, afirmou Grace Souza, aluna de doutorado no Brazil Institute.

Souza disse considerar que falta diálogo com a comunidade acadêmica no processo de definição dos homenageados.

“Apesar de saber que a universidade não irá revogar o título, até porque houve uma petição contrária antes mesmo da homenagem, achamos que vale demonstrar que a comunidade brasileira e simpatizantes da causa ambiental não estão satisfeitos. A universidade está jogando lama em seus alunos”, afirmou.

AF Desastre liberou cerca de 25 mil piscinas olímpicas de rejeitos de mineração e causou graves danos ambientais e sociais

Antes da concessão do título, uma outra petição online, encabeçada por ativistas ambientais, já pedia que a homenagem não fosse concretizada. O abaixo-assinado, que reuniu 227 apoiadores, apontava contradição entre o ato e a política da instituição de incentivo à economia de baixo carbono.

Procurado pela BBC Brasil, o King’s College disse que a comunidade acadêmica pode indicar nomes para as homenagens, e que todo o processo é detalhado no site da instituição.

“O King’s homenageou o dr. Andrew Mackenzie em reconhecimento a seu trabalho de destaque como geólogo e um dos principais líderes empresariais do mundo. Eleito para a Royal Society (a academia britânica de ciência) em 2014, dr. Mackenzie publicou mais de 50 artigos como cientista, e integra o subcomitê de Ciência Ambiental e de Sistemas Terrestres para universidades do Reino Unido”, informou a universidade.

A reportagem procurou a assessoria de imprensa da BHP para eventuais comentários sobre a petição, mas não havia obtido resposta até a publicação desta reportagem.

FONTE: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151210_protesto_bhp_tg

Tragédia de Mariana: em resposta rápida, BHP Billiton coloca todos seus projetos de “joint venture” na lupa

bhp

O Financial Times acaba de postar um artigo em seu sítio da internet que mostra que a BHP Billiton está reagindo de forma rápida às péssimas consequências que o desastre da Mineradora Samarco trouxe para o valor de suas ações (Aqui!). Segundo o que declarou o presidente da BHP Billiton, Andrew Mackenzie, a empresa agora vai conduzir uma revisão dos seus projetos de “joint venture” (como é o caso da Samarco) para determinar se o processo de “governança” deve ser alterado neste tipo de parceria, de modo a garantir que o mesmo seja compatível com a realidade atual do mundo da mineração.

A matéria ainda reforça a tese de que as operações da Mineradora Samarco deverão ficar suspensas por vários anos, um detalhe que ainda não está aparecendo de forma clara no pool de informações que a mídia brasileira vem disseminando. Nesse aspecto, Andre Mackenzie afirmou que ” Nós temos claramente uma mina potencialmente viável , desde que nós possamos encontrar uma maneira de processar adequadamente e de forma segura os rejeitos de produção. “

Na matéria ainda é informado que a BHP Billiton fará uma avaliação global de todas as áreas de rejeito das maiores operações de mineração ao redor do mundo como resultado do incidente causado pela Mineradora Samarco em Mariana.

Diante desta rápida reação da BHP Billiton, cujo histórico não é lá essas coisas, o comportamento lerdo da presidente Dilma Rousseff, do governador Fernando Pimentel e do presidente da Vale, Murilo Ferreira, se mostra ainda mais inaceitável.  Mas se um consolo existe, bastará apenas seguir o receituário que a BHP Billiton diz estar adotando para não ver os preços das suas ações caírem ainda mais.