Quo vadis DCE UENF?

quo vadis

Estou ausente do campus Leonel Brizola cumprindo um período de recesso que julgo ser muito merecido, após um primeiro semestre de grande intensidade de atividades, tanto como docente do Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais ou como chefe do Laboratório de Estudos do Espaço Antrópico.

Hoje tive a oportunidade de conversar com um colega que está em Campos dos Goytacazes, e acompanhando a situação envolvendo uma denúncia anônima de assédio sexual contra um estudante de graduação que teria ocorrido no centro em que eu trabalho, o de Ciências do Homem. 

Esse colega, sempre astuto, me compartilhou a sua perplexidade em torno não da denúncia em si, mas do silêncio cavernoso que vem sendo praticado pelos dirigentes do Diretório Central dos Estudantes da UENF. É que, como esse colega bem lembrou, essa questão deveria já ter tido uma ação pronta do DCE/UENF para exigir a apuração do caso, especialmente porque envolve supostamente uma discente do curso de Ciências Sociais, que, se de fato existir, deveria estar tendo seus direitos defendidos pelo sindicato dos estudanres de graduação.

Mas ao que parece que este caso não serviu para gerar uma cobrança do DCE/UENF em relação à reitora da UENF que, lembremos,  foi eleita com a bandeira do fortalecimento dos direitos das mulheres uenfianas. O que estará impedindo uma ação dos dirigentes do DCE cobrando explicações sobre este incidente foi a pergunta que meu astuto colega me fez.

E aí é que eu pergunto: Quo Vadis,  DCE/UENF?

A Uenf sob o manto da confusão (II): antes da apuração, o veredito via mídia corporativa?

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Notei aqui neste blog uma situação esquisita que está ocorrendo neste momento no campus Leonel Brizola envolve a denúncia até agora anônima de um suposto caso de assédio sexual. Como escrevi, esse caso deveria ter sido cuidadosamente apurado pela reitoria antes que houvesse qualquer pronunciamento público ou publicização via a mídia corporativa local.

Eis que hoje o assunto continua sendo veiculado em um veículo da mídia corporativa campista com a apresentação de diversas manifestações sobre o caso, inclusive da reitora Rosana Rodrigues. No caso específico da reitora, ela não deveria estar se colocando em uma posição pública antes de ter sequer tomado a iniciativa básica de fazer instaurar uma comissão especial de sindicância. 

E pior, é que se alguém cometeu um delito e uma infração administrativa, ao caluniar alguém, a reitora incorreu em um grave erro, ao divulgar as diligências que eventualmente estejam em andamento, o que pode favorecer o(a) infrator (a). E mais ainda, se realmente houve um assédio, a ação da reitora é pior ainda porque o que está se fazendo é re-vitimizar a vítima, e coagir (o) a noticiante.

Por outro lado, uma coisa que salta aos olhos nessa cobertura continuada do caso é que não há uma apuração mínima em torno do objeto da denúncia anônima, que seria a ocorrência de um caso de assédio. Mais interessante ainda é que um dos citados na denúncia anônima é um frequentador assíduo da programação do referido veículo da mídia corporativa, o que deveria ter suscitado uma ação mais cuidadosa por parte dos seus proprietários, e principalmente algo que se assemelhasse a uma apuração imparcial dos fatos.

Há que se lembrar ainda que a Uenf está localizada na mesma cidade onde ocorreu o rumoroso caso das “Meninas de Gurarus, o que deveria ter acendido luzes de cuidado nas redações locais. Mas, pelo jeito, mais uma vez parece que não se aprendeu nada com a história. Mas, pensando bem, esperar o contrário seria demais em se tratando de quem se trata.

Uma coisa é certa: as possibilidades de apuração imparcial desse caso estão completamente contaminadas pela cobertura jornalística pobre de um caso que deveria ter ficado sigiloso. Com isso, a reitora Rosana Rodrigues está perdendo uma excelente oportunidade para mostrar que sua propaganda eleitoral virou prática de governo. E com isso,  perde a Uenf, mas principalmente suas estudantes e professoras que terão ainda mais dificuldade de expor casos de assédio dentro do campus Leonel Brizola.

Uenf sob o manto da confusão: a publicização precoce de fatos internos sem a devida apuração serve a quais propósitos?

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Estou na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) desde janeiro de 1998 e já presenciei vários eventos esquisitos, mas um que ganhou as manchetes da mídia corporativa local está no topo das esquisitices. Falo aqui de uma denúncia assédio sexual que foi divulgada de forma que eu considerei incorreta na última reunião do Conselho Universitário que ocorreu no dia 12 de julho.

A denúncia colocada de forma anônima nas paredes do prédio da reitoria da Uenf envolve dirigentes universitários e, por isso mesmo, já deveria ter resultado na abertura de uma comissão especial de sindicância (CES) que é o mecanismo institucional para apurar fatos e decidir pela tomada de uma série de medidas que podem resultar ou não em um inquérito administrativo.

Estranhamente, o fato foi divulgado pela reitora Rosana Rodrigues sem que ela nos informasse se já tinha determinado a abertura de uma CES. Ao verificar a edição desta segunda-feira (15/7) do Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, não verifiquei que uma CES tenha ainda sido aberta.

Por outro lado, o fato ainda sem apuração ganhou ares públicos com a publicação de um artigo de opinião em um veículo local com uma manchete que é, no mínimo, dúbia: “Denúncia de assédio na Uenf ou tentativa de difamação?“.

O problema de confundir denúncia com difamação, como faz a manchete deste artigo de opinião, é que o caso relatado agora na mídia corporativa pela reitoria da Uenf não é o único que emergiu na nossa comunidade universitária recentemente, sendo que uma delas foi feita de forma identificada por quem denunciou e disse estar disposto a ir até as últimas consequências para que o suposto assediador seja punido.

Mas mais importante ainda, a forma que a reitoria está divulgando o caso sem a devida apuração, mas colocando no campo das “fake news”  pode estar servindo como um indulto precoce de um possível assediador. Além disso, assumindo que é possível que alguém tenha sido efetivamente assediado, estaremos diante da possibilidade de que esteja não apenas se garantindo a impunidade, mas incorrendo em um evento de revitimização. 

Pessoalmente considero grave que a reitoria da Uenf tenha tornado essa situação pública, na prática emitindo um pré-julgamento sobre o mérito de uma denúncia que deveria ter sido tratada de forma muito cuidadosa, principalmente por causa da existência de uma possível vítima de assédio sexual, sem ter em mãos uma rigorosa apuraração dos fatos. Esse caso deveria ter ficado reservado aos limites do Conselho Universitário, onde o caso foi apresentado pela reitora Rosana Rodrigues, e não tornado público sem que qualquer apuração tenha sido aparentemente iniciada.

Agora que a situação está exposta de forma precoce, a reitora da Uenf acabou se colocando em uma exposição que nada serve aos interesses estratégicos da universidade. Não sei se essa era a intenção, mas é o que esta publicidade acabou fazendo foi fragilizar a figura da reitora. 

De toda forma, a minha expectativa é de que os instrumentos internos existentes sejam imediatamente acionados para que sejam feitas as devidas apurações, de modo a separar fato de fake news, e punir os eventuais responsáveis pelas ações que deverão ser meticulosamente investigadas, e da forma sigilosa que a situação requer.

Finalmente, eu espero que a Uenf passe a fortalecer a sua governança interna , visto que vivemos um período em que se exige cada vez mais a adoção de mecanismos internos  que fortaleçam integridade, ética e accountability.