Aterros sanitários dos EUA são a principal fonte de poluição tóxica por PFAS, segundo estudo

Nova pesquisa mostra que gás tóxico ‘químico eterno’ pode escapar de aterros sanitários e ameaçar o meio ambiente

lixãoTrabalhadores usam maquinário pesado para mover lixo e resíduos em Irvine, Califórnia, em junho de 2021. Fotografia: Mike Blake/Reuters

Por Tom Perkins para o “The Guardian” 

Os PFAS que são conhecidos como “produtos químicos eternos ”, que vazam dos aterros sanitários para as águas subterrâneas estão entre as principais fontes de poluição nos EUA e continuam sendo um problema para o qual as autoridades ainda não encontraram uma solução eficaz.

Agora, uma nova pesquisa identificou outra rota pela qual o PFAS pode escapar dos aterros sanitários e ameaçar o meio ambiente em níveis ainda maiores: o ar .

O gás PFAS emitido pelos resíduos de aterros sanitários acaba altamente concentrado nos sistemas de tratamento de gás das instalações, mas os sistemas não são projetados para gerenciar ou destruir os produtos químicos, e muitos deles provavelmente acabam no meio ambiente.

As descobertas, que mostraram até três vezes mais PFAS no gás de aterro do que no chorume, são “definitivamente algo alarmante para nós vermos”, disse Ashley Lin, pesquisadora da Universidade da Flórida e principal autora do estudo.

“Essas descobertas sugerem que o gás de aterro, um subproduto menos examinado, serve como um caminho importante para a mobilidade de PFAS dos aterros”, escreveram os autores do artigo.

PFAS são uma classe de cerca de 16.000 compostos usados ​​para fazer produtos resistentes à água, manchas e calor. Eles são chamados de “produtos químicos eternos” porque não se decompõem naturalmente e foram encontrados se acumulando em humanos. Os produtos químicos estão ligados ao câncer, defeitos congênitos, doenças do fígado, doenças da tireoide, queda na contagem de espermatozoides e uma série de outros problemas de saúde sérios.

À medida que os pesquisadores começaram a entender os perigos dos produtos químicos nos últimos anos, o foco tem sido amplamente na poluição da água, e os reguladores disseram que praticamente todo o chorume dos 200 aterros sanitários do país contém PFAS. Mas os cientistas estão começando a entender que a poluição do ar por PFAS também é uma ameaça significativa.

Os produtos químicos se concentram em aterros sanitários porque são amplamente usados ​​em dezenas de indústrias e estão em milhares de produtos de consumo que acabam nas instalações no fim de suas vidas. À medida que os produtos se decompõem, os produtos químicos podem se transformar em gás e ser liberados no ar.

Grande parte disso pode ser capturado pelos sistemas de coleta de gás dos aterros sanitários. O gás capturado em alguns casos é passado por filtros ou queimado em um flare. No entanto, os PFAS são notoriamente difíceis de destruir, e os flares não são uma maneira eficaz de eliminá-los.

Normalmente, flares ou incineração simplesmente quebrarão PFAS em formas menores dos produtos químicos em vez de destruí-los completamente, e esse resíduo será enviado para o ar. Por enquanto, não há uma imagem clara dos níveis, ou como os aterros sanitários podem lidar com o problema.

“Essa é uma boa pergunta”, disse Lin. “Precisamos entender esse aspecto de gerenciamento e o que pode acontecer com os diferentes tipos de tecnologias de tratamento em vigor.”


Fonte: The Guardian

Estudo da CNM mostra baixa nos investimentos federais para política de resíduos sólidos e saneamento

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A tramitação e a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), prevista na Lei 12.305/2010, levaram duas décadas para acontecer no Brasil. Passados dez anos de sua implementação, ou seja 30 anos desde o início do debate, as mudanças ainda caminham a passos lentos. Um novo estudo da Confederação Nacional de Municípios (CNM), divulgado nesta sexta-feira, 7 de agosto, mostra realidade preocupante de baixa nos investimentos federais e falta de apoio técnico para garantir o Plano Nacional de Saneamento Básico (PNSB).

O estudo faz um contraponto dos investimentos da União para efetivar a Política Nacional de Resíduos Sólidos e mostra as consequências do baixo investimento federal nos últimos dez anos para a área de resíduos sólidos. De acordo com a PNRS, as principais obrigações municipais diretamente ligadas à gestão de resíduos sólidos são: planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos; coleta seletiva, compostagem e aterros sanitários. Já as melhorias no saneamento são competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

O estudo indica a necessidade de R$ 28,7 bilhões em investimentos, para o setor de resíduos sólidos de acordo com o Plano Nacional de Saneamento Básico, até 2033, sendo 40% da União e 60% dos Estados, dos Municípios e de setores privados. Isso só seria possível se o governo federal investisse R$ 800 milhões/ano, de 2019 a 2033. Considerando os programas federais relacionados a resíduos sólidos, o baixo índice de execução fica evidente, especialmente se forem desconsiderados os restos a pagar de 2010 a maio de 2020. Foram autorizados R$ 415 milhões para ações de resíduos sólidos, entretanto, o que foi efetivamente pago corresponde a R$ 3,6 milhões, somente 0,8% do que foi autorizado. Também se constatou a ausência de recursos novos desde 2016 para a área, com a execução exclusiva de restos a pagar de anos anteriores.

Sem dotação orçamentária federal, o que ocorre é o esforço do Ministério do Meio Ambiente (MMA) em buscar recursos em fundos difusos, resultando em editais que, considerando a demanda, atendem poucos Municípios. Ao mapear a realidade de 4.175 Municípios referente às obrigações municipais relacionadas à PNRS, a CNM confirmou o impacto da crise financeira na gestão local, que impede avanços no fechamento dos lixões e na implantação de aterros sanitários, por exemplo.

Desde 2015 até 2019, a quantidade de Municípios que conseguiu fazer a disposição final ambientalmente adequada em aterros sanitários cresceu 3,9%. Em relação a Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS), o crescimento foi 8,2%. A coleta seletiva, implantada pelos governos locais, cresceu 3,5% entre 2015 e 2019. Porém, um dado preocupante diz respeito à compostagem, uma vez que reduziu em 1,9% a quantidade de Municípios que informaram possuir iniciativas em compostagem de resíduos orgânicos desde 2015.

Diante desse cenário, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), que deveria ter sido o primeiro passo desde 2010, com diagnóstico preciso da situação e meios de solucionar os problemas relacionados a resíduos sólidos no país, foi colocado em consulta pública agora, no dia 31 de julho. Já sobre os planos estaduais, estima-se que cerca de 18 Estados possuem seus planos de resíduos sólidos. Isso significa que milhares de Municípios não dispõem de nenhuma referência para planejar suas políticas municipais de resíduos sólidos, mas estão sendo responsabilizados, civil e criminalmente, pelo não cumprimento da lei.

A partir do estudo, a CNM volta a alertar para a situação em que se encontram os gestores municipais, sem recursos suficientes para tal demanda e sem recursos técnicos e financeiros por parte da União ou dos Estados. Por fim, a CNM destaca que está atuando no Congresso para derrubar o veto ao trecho que previa apoio técnico e financeiro dos Estados e da União aos Municípios para cumprirem com os novos prazos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, de forma a evitar que a prorrogação advinda da Lei 14.026/2020 se torne sem eficácia.

Confira o estudo: Diagnóstico da Política Nacional de Resíduos Sólidos