
Na foto acima, o presidente eleito simula esfaquear um oficial da Marinha durante um churrasco na Ilha da Marambaia (RJ), onde irá passar o Natal com a família.
A mídia corporativa vem propagandeando diferentes pesquisas que mostram um alto otimismo entre os brasileiros acerca da possibilidade de que a vida vai melhorar após a posse do presidente eleito no dia 01 de Janeiro.
Esse otimismo chegaria a 65%, um pouco abaixo dos índices alçançados pelos presidentes Lula e Dilma Rousseff no mesmo período que antecedeu à posse dos mesmos.
Esse otimismo é do tipo que pode não passar do Carnaval quando o país efetivamente começará a funcionar em 2019. É que os anúncios de ataques à maioria pobre dos brasileiros são tão fartos que não há como existir um otimismo que resista quando os mesmos forem implementados.
De toda forma, quem mais poderá se surpreender com o que acontecerá quando todos os ataques forem consumados, dados os índices de otimismo sendo divulgados, será o próprio presidente eleito. É que, apesar de toda a boa vontade da mídia corporativa, o que as pessoas esperam que é o fim da brutal recessão que assola o Brasil não deverá ocorrer, sendo o oposto o mais possível.
Por isso mesmo é que quando leio as matérias sobre esse suposto otimismo, não consigo deixar de lembrar do poeta paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914) e seu formidável “Versos Íntimos” que posto logo abaixo. Não sei o porquê, mas tenho a impressão que Versos Íntimos serão a marca do governo que está por começar.
Versos íntimos
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa ainda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Pau d’Arco, 1906
Publicado no livro Eu (1912).
In: REIS, Zenir Campos. Augusto dos Anjos: poesia e prosa. São Paulo: Ática, 1977. p.129-130. (Ensaios, 32