
Por Ângelo Cavalcanti
Está disponível o Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado) que é uma plataforma fácil, intuitiva, criteriosa e que disponibiliza dados e informações sobre as altas ondas de devastação da savana brasileira. Vale a pena conhecer! O SAD mostra com precisão para onde vai, para onde segue o fogo, a carbonização e o desmatamento e que, impiedoso, flagela o Cerrado! Sim! Há método, métrica e intenção na destruição!
Para esse caso específico, há uma lógica coerente, clara, preconcebida e que impõe ritmo, dinâmica e sutilezas próprias aos intentos dos criminosos ambientais. Não por menos, reparem bem, o SAD revela que, de longe, os desmatamentos apetecidos no Brasil acontecem fundamentalmente, em áreas de Cerrado; o drama cerradeiro é maior, bem maior do que a correlata tragédia amazonida. Pois sim…
Na expiação do Cerrado, o grosso e essencial da sua aniquilação se concentra, sobretudo, no polígono georeferente e assim denominado de Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Tem mais. Algo próximo a 85% desse mesmo desmatamento se realiza nas proximidades físicas e objetivas de cinco bacias hidrográficas de importância central para o Brasil e para todo o Cone Sul.

Como diz Chico Buarque, ” trocando em miúdos”, a falência cerradeira não é só mais um tipo de ruína brasileira; é uma devastação e que, de uma forma ou de outra, se estende, se amplia por todo o quadrilátero sul-americano. Atinge e envolve toda a Amazônia colombiana, os desfiladeiros e florestas peruanas, as nevascas e geleiras dos Andes e os imediatos rios, córregos e arroios e que trespassam e umedecem as repúblicas da Argentina e do Chile.
O drama do Cerrado é, de fato, das maiores bombas ambientais do planeta! Ora… Os números estão aí para atestar o que esse provinciano provocador tenta contar. Por bom augúrio, a metástase devastante e que varre o Cerrado brasileiro por cinco anos consecutivos teve, ao fim, uma importante redução de 33% no ano derradeiro de 2024.
Esse índice, oxalá, se mantenha e que seja mesmo ampliado… só foi possível, no entanto, com muita ação, intervenção estatal na fiscalização, acompanhamento, monitoramento e é claro, punições duras aos “cidadãos de bem” e que “produzem” riquezas para o “Brasil”.
Em que pese a situação do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) restrito a ínfimos 2,6 mil servidores, de sorte que mil destes funcionários, caminham, ainda neste ano, para a aposentadoria, segundo informações de Rodrigo Agostinho, presidente do órgão, a redução do holocausto ambiental das nossas savanas só foi possível porque combinou um padrão de fiscalização obstinado e irrefreável mais um conjunto interminável de advertências, ajustes e multas e que, para 2024, ultrapassou um bilhão de reais.
Não há saída. O Cerrado e sua gestão são questões que envolvem a própria governança nacional e, em si, é estratégia definitiva de compromisso e integração latino-americana. Lula não pode olvidar, não tem o direito de esquecer dessa questão absolutamente decisiva para o país, seu povo e sua economia, o subcontinente da América Latina e mesmo o mundo.
*Angelo Cavalcante- Economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Unidade Itumbiara.
O aquecimento global e o desmatamento poderiam impactar o transporte de umidade da floresta amazônica para a Bacia do Prata através dos chamados “rios voadores ou aéreos”. Crédito da imagem: Fábio Mitsuka Paschoal/Wikimedia Commons , licenciado sob Creative Commons CC BY-SA 4.0 Deed

