
Todos os brasileiros estão acostumados a ouvir a cantilena de que o agro é isso, o agro é aquilo, e que o agro carrega o Brasil nas costas. A verdade, porém, é que o Brasil, principalmente os brasileiros pobres, carrega o agro nas costas, normalmente com subsídios diretos e indiretos, e com financiamentos para lá de generosos.
A crise que engolfa o Banco do Brasil por causa do calote gigantesco que seus clientes do “agro” estão dando apenas demonstra isso de forma que não se pode esconder. Assim, notícias publicadas pela mídia corporativa dão conta que neste momento o Banco do Brasil possui nada menos que 20 mil devedores ligados ao “agro”, o que está derrubando as suas taxas de lucro, a instituição publiciiuzou uma queda de 60% no lucro, que caiu para R$ 3,8 bilhões, na última quinta-feira (14/8). E isso não é fortuito, na medida em que o Banco do Brasil é responsável por metade do financeiro do “agro” brasileiro.
Um pimenta a mais nessa situação preocupante para o principal banco público brasileiro é que parte dos devedores do “agro” está se aproveitando de forma maliciosa de uma mudança feita na legislação do instituto da recuperação judicial (RJ) para não pagar suas dívidas. O truque implica em utilizar a RJ sem antes tentar renegociar suas dívidas diretamente com o Banco do Brasil. De quebra, escritórios de advocacia estariam fazendo propaganda em redes sociais para que os produtores não paguem suas dívidas e os contratem para cuidar da RJ.
Como a já apontou a Coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lúcia Fatorelli, em um estudo feito em 2021, a análise dos orçamentos públicos de todas as esferas – federal, estadual e municipal – mostra que a participação do agronegócio no financiamento do Estado é negativa, devido às inúmeras isenções e subsídios, incentivos fiscais etc. de tal maneira que os tributos arrecadados do setor são próximos de zero.
Agora com esse calote gigantesco que está sendo cometido contra o Banco do Brasil, a coisa fica ainda mais explícita, pois já não se trata mais de não contribuir com o financiamento do Estado, mas de ser uma fonte gigantesco de drenagem de recursos. Afinal de contas, quem tem dúvidas que esse calote vai acabar sendo assimilado “pela viúva”, ao custo de um maior empobrecimento da classe trabalhadora?
O fato é que com o “agro” é assim: o lucro é todo meu, e o prejuízo é todo de vocês.
E antes que eu me esqueça: o que será que apareceria se uma auditoria pública fosse feita de todos os empréstimos que agora estão inadimplentes? Quantos desses empréstimos foram realmente usados para o fim para o qual foram tomados (isto é, o financiamento dos plantio e colheita) e quantos foram usados em atividades diversas? Algo me diz que muito desse dinheiro foi parar em outras coisas, inclusive especulação no mercado financeiro.






