Por Douglas Barreto da Mata
Há vários ensinamentos embutidos na “guerra” da Estrada dos Ceramistas, quando uma obra estadual provocou o caos urbano na cidade de Campos dos Goytacazes.
O primeiro: em toda guerra, a primeira vítima é a verdade. A oposição ao Prefeito Wladimir Garotinho pode apontar vários defeitos em sua gestão ou em seu estilo pessoal de governar, menos dizer que ele toma decisões radicais ou de forma inadvertida.
O problema acerca do desvio do tráfego de carretas enormes, a maioria com direção ao Porto do Açu, e os estragos e transtornos causados por essa medida, já se arrasta há meses, e o Prefeito tentou várias soluções, sem que o governo do estado cumprisse seu papel:
Fazer a obra no tempo devido, e com a criação de alternativas de trânsito, seja com pare-e-siga, que dizem impossível (um caso inédito ou muito incomum na engenharia), ou abrindo desvios e variantes no percurso.
Sim, nenhuma obra de engenharia pode acontecer sem um plano ou estudo de impacto, em outras palavras, sem a precisa previsão de alternativas aos incômodos que irá causar, e como fazer para diminuir ao máximo o risco às pessoas, ao ambiente, e possíveis danos aos patrimônios públicos e/ou privados. Nada disso foi efetivado pelo governo do Estado.
O segundo ensinamento, pimenta no olho do outro é refresco. Essa é a lógica da oposição campista, que está vinculada ao governo do Estado e ao presidente da Alerj. Já que são as ruas da cidade e as pessoas da cidade que estão em risco, por que não aproveitar e jogar a bomba no colo do prefeito?
Perfeito, é do jogo, alguns dirão e eu concordaria…mas todo jogo tem regras.
Parece que a oposição campista não conhece regra, nem limite, assim como a empresa que escolheram como bandeira. Colocar o interesse do Porto do Açu acima do interesse da população, principalmente daquelas pessoas que moram à beira da estrada do Carvão, cujas casas já apresentariam danos estruturais, sem mencionar os riscos de incidentes, como atropelamentos, é uma prova de que vale tudo para desgastar a imagem do inimigo.
A desinformação também é disseminada sem freios. O Porto do Açu emprega muito pouca gente de Campos dos Goytacazes, e muito menos de SJB, e essa é uma das principais críticas dos analistas e cientistas locais. Mesmo assim, ainda que esse número fosse grande, não se pode submeter uma cidade para atender uma suposta demanda por empregos.
Até porque, esse dilema é falso. Não existe ou é emprego ou libera a cidade para as carretas. A empresa está destruindo a cidade porque é mais barato, e porque o governo do Estado não fez o que deveria. Assim, a invasão da cidade por monstros de mais de 50 toneladas, sem que a empresa tenha buscado uma solução alternativa para o problema não é uma declaração de apreço pela cidade e seu povo.
Quando busca garantir o trânsito de seus caminhões pela cidade, a empresa diz em alto e bom som: Danem-se. Toda aquela história de desenvolvimento verde ou socialmente responsável é só conversa fiada mesmo.
O terceiro aprendizado é que nenhuma atividade poderá submeter as comunidades aos seus interesses econômicos, por mais legítimos que sejam. Condutores de caminhões têm o direito ao exercício de seu trabalho, mas as ruas, estradas, enfim, o território nacional não é um lugar sem leis e autoridade.
A última lição é para prefeitos, governadores e até mesmo para presidentes. Deve haver um limite, uma barreira entre governos e empresas, e o nome dessa fronteira é autoridade e interesse público. Não é fácil impor essas prerrogativas.
O Prefeito Wladimir deve se sentir como Davi para Golias, citando uma passagem bíblica para ele, evangélico, nessa questão contra um empreendimento que parece não enxergar barreiras. Que o digam as populações do V distrito de SJB que foram atingidas em cheio pelos efeitos colaterais da implantação do Porto do Açu.
Agora, chega a notícia que uma decisão do Tribunal de Contas do Estado (TCE) pode paralisar a obra na Estrada dos Ceramistas. Com a palavra, a justiça ou o bom senso.



