
Vista de longe a situação crítica que as universidades estaduais do Rio de Janeiro estão vivendo sob o tacão do (des) governador Luiz Fernando Pezão e sua versão paroquial, mas radical, de neoliberalismo não parece diferente do que se passa no resto do serviço público.
Meses de contas atrasadas colocam em risco a oferta de caros serviços privatizados de segurança e limpeza, deixam mudos os telefones, ameaçam com um apagão inédito e trazem o espectro das torneiras secas. Isso sem falar no sucateamento das atividades acadêmicos com atrasos inexplicáveis em bolsas estudantis que atacam o coração do que é mais estratégico no funcionamento das universidades: a formação de profissionais capacitados e novos líderes para o desenvolvimento científico e tecnológico do Rio de Janeiro.
À primeira vista, a agonia financeira das universidade é uma consequência da crise econômica e da queda dos preços do petróleo. Entretanto, os valores dos orçamentos das três universidades estaduais do Rio de Janeiro (Uenf, Uerj e Uezo) já vinham caindo paulatinamente, mesmo quando os preços do petróleo estavam no seu patamar mais alto. Em outras palavras, a crise que hoje ameaça paralisar as universidades é algo mais antigo e bem mais planejado do que análises superficiais parecem querer indicar.
Do ponto vista de alguém que está trabalhando na Uenf desde 1998, tive que tratar com diferentes governantes que impuseram altos e baixos à instituição criada por Darcy Ribeiro parece ser uma ponte para um futuro melhor para o interior ao norte da cidade do Rio de Janeiro. E posso afiançar que a maioria dos meus interlocutores não possuía a menor preocupação com estratégias de desenvolvimento a partir do conhecimento gerado nas universidades.
E, convenhamos, não é por falta de dinheiro que as universidades se encontram nessa situação calamitosa. Basta ver os bilhões de reais que já foram entregues à AMBEV e à Cervejaria Petrópolis em troca de sabe-se-lá-o-quê.
Mas qual é então a diferença fundamental que os anos inaugurados pela chegada de Sérgio Cabral ao Palácio Guanabara? Para mim é que se fez uma opção preferencial pela privatização completa do Estado, num cenário em que universidades são um estorvo por produzirem conhecimento reflexivo e crítico. E para sufocar essa capacidade criativa das universidades é que está impondo um cerco digno daquele que os nazistas impuseram à cidade russa de Stalingrado durante a segunda guerra mundial. Desse cerco é que decorrem todas as mazelas que citei no início desta postagem.
A questão que surge é a seguinte: a quem cabe o papel de defender as universidades estaduais que estão sob ameaça deste projeto de precarização para serem depois privatizadas? Obviamente os primeiros na fila são os que estão dentro das universidades, seja como servidores ou como estudantes. Mas se a defesa das universidades ficar circunscrita aos que nelas estão é quase certo que o desmanche se tornará inevitável. Por isso, é preciso sensibilizar e mobilizar setores mais amplos da população, especialmente aqueles que têm mais a ganhar com as mudanças positivas que universidades públicas fortes trazem. Para isso, os opositores do desmanche que existem dentro das universidades vão precisar ultrapassar seus discursos corporativos para conseguir demonstrar a real importância que essas instituições ocupam num futuro socialmente mais justo.
Se isto não for feito, e rápido, o mais provável é que o Rio de Janeiro fique cada vez mais para trás no desenvolvimento científico e tecnológico. E, sim, passaremos para a história como o estado que entre a ciência e cerveja, preferiu a segunda.