Futuros cientistas sociais da UENF fazem trabalho de campo na Praia do Açu e vêem o avanço da erosão

Estive hoje na Praia do Açu com um grupo de estudantes de Ciências Sociais da UENF como parte de um trabalho de campo da disciplina Geografia I que sempre ministro no segundo semestre letivo. Tradicionalmente o final do percurso que se inicia na localidade de Barcelos e termina no Pontal de Atafona, hoje terminou nas areias da Praia do Açu, pois decidi mostrar a evolução do processo de erosão que hoje consome uma área considerável da parte central da faixa de areia.

Numa das etapas da visita, os estudantes ouviram relatos de um morador da Barra do Açu que lhes narrou as crescentes dificuldades sendo vivenciadas na localidade em função das mudanças causadas pela construção do Porto do Açu. Em uma explanação rápida, o morador traçou um panorama da situação que os pouco mais de 2.000 habitantes da Barra do Açu vivem atualmente, onde as promessas de futuro dourado estão sendo substituídas por um panorama de estagnação social e degradação ambiental.

Essa exposição à realidade fora das paredes e muros da UENF é sempre uma coisa que me motiva, pois acredito que todo o conhecimento teórico que é ministrado fica fora de contexto se os nossos estudantes não virem as repercussões objetivas de, por exemplo, políticas macroeconômicas sobre a realidade do cidadão comum.

Em relação à Praia do Açu, a situação me pareceu estabilizada em relação à minha última visita dentro de um quadro claro de encurtamento da faixa de areia. Agora vamos ver o que acontece nas próximas semanas para ver aquela área terá algum uso turístico no verão que se inicia.

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Um epitáfio para José Bittencourt Paes

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Como um dia disse Darcy Ribeiro, a UENF não seria feita por prédios ou equipamentos caríssimos, mas sim pelas pessoas que nela entrassem para lhe dar vida. José Bittencourt Paes que ingressou aos 60 anos no curso de Ciências Sociais nos mostrou com toda a sua generosidade como se deve tentar construir uma universidade que se pretende pública, democrática e voltada para os interesses da maioria pobre de nossa população.

Fui seu professor e aluno do Sr. José Bittencourt por um semestre, e o tratei como qualquer um dos outros de sua turma. É bom que se diga que dele nunca recebi nenhum pedido de tratamento diferenciado. E nem precisava, pois sempre tratou suas tarefas com seriedade e disciplina, de forma que pode, confessadamente com a ajuda pontual de sua companheira, realizar atividades que os mais jovens tiveram mais dificuldade para realizar.

O Sr. José Bittencourt me impressionava por muitos motivos. E aqui não falo do fato que enfrentava quase todos os dias a dureza da viagem entre Macaé e Campos com bom humor e generosidade com seus colegas mais jovens. É que para mim ele era o exemplo não de uma pessoa com mais idade que resolveu retomar seus estudos, mas de alguém que se entregava com afinco a uma busca que muitos outros, jovens ou não, não tinham o mesmo entusiasmo de procurar.

Eu sempre digo que nossa experiência como universidade é coletiva. Assim, a morte precoce do Sr. José Bittencourt é para todos os que o conheceram uma perda igualmente coletiva. Não é só a sua família de sangue que está de luto no dia de hoje, mas todos nós que pudemos participar de sua família do destino. Mas mais do que qualquer coisa, tenho certeza que o Sr. José iria querer que nós nos lembrássemos de seus muitos exemplos para podermos fazer um esforço coletivo de terminar o trabalho que ele começou, e tornar o Centro de Ciências do Homem em um ambiente acadêmico onde todos se empenham para dar o melhor de si em prol dos outros. Talvez assim estejamos à altura de seus sonhos e dos sonhos de Darcy Ribeiro.

José Bittencourt Paes vive!