Viva Paulo Freire!

paulo freire!

O educador Paulo Freire cujo método pedagógico já livrou milhões do analfabetismo foi um dos pensadores atacados ontem nas manifestações (ou sei lá) que ocorreram no Brasil, como bem mostra a imagem acima, onde a faixa diz “chega de doutrinação marxista. Basta de Paulo Freire”.

Esse tipo de ataque aos ensinamentos de Paulo Freire contraditoriamente ocorre num momento em que a ideologia do mercado é que impulsiona a maioria dos materiais pedagógicos, os quais são regiamente pagos com dinheiro público, como é o caso aqui na cidade de Campos dos Goytacazes.

O peculiar é que Paulo Freire hoje não é apenas celebrado mundialmente, como mostra a citação abaixo, mas também avidamente lido nos países centrais do capitalismo, justamente pela eficácia do seu método que explora elementos mais contundentes da realidade para gerar conhecimento crítico. Por essas e outras é que o Brasil é obrigado a ficar para trás na corrida do conhecimento.  É que enquanto aqui ele é hostilizado pela classe média branca, nos EUA, por exemplo, ele é estudado para melhorar o desempenho escolar das crianças.

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O Globo: Humoristas e blogueiros ironizam declaração de Eike sobre classe média

Sátiras associam a imagem do empresário com ícones populares como copos de requeijão e pacote de férias parcelado

POR EMILIANO URBIM

RIO – De sétima fortuna do mundo a maior meme do Brasil. Parece que esse é um caminho só de ida para Eike Batista — pelo menos nas redes sociais. Assim que anunciou, com pesar, sua “volta à classe média”, o empresário voltou a jato (sem jatinho) para a classe AAA das sátiras que associam sua imagem a ícones populares como copos de requeijão, cupons de desconto e pacotes de férias da CVC — fenômeno que teve uma primeira leva quando foi anunciada a desvalorização de seu patrimônio. Depois de 450 dias sumido do Twitter, ele apelou aos 140 caracteres para tentar se explicar. Em vão. A efervescência de piadistas virtuais, reais e profissionais mostra uma tendência que veio para ficar: cada vez mais, a classe média ri de si mesma.

Seja por não ter acesso a símbolos da classe A (o que faria parecer mais rica), seja por ver a classe C adotar os seus (o que a faz parecer mais pobre), a classe média sofre. A expressão, inclusive, batiza um tumblr que captou essa luta de classes em seu início. Em 2011, inspirados no site americano White Whine (que se autodefine como “uma coleção de problemas de primeiro mundo”), o escritor carioca Alex Castro e amigos criaram o classemediasofre.tumblr.com.

— Claro que a gente é de classe média; se a gente não fosse, seria uma coisa horrível, miserável — diz Alex.

A fórmula: colher nas redes sociais lamentos do tipo “aeroporto virou rodoviária” e temperar com um comentário ironicamente indignado. Sobre a queda de Eike Batista, escreveram: “Olha, já estava difícil de aturar a fila na churrascaria rodízio por causa dessa gentalha vinda de baixo. Se começar a cair gente de cima, não vai sobrar perfume Polo pra ninguém.’’

Desde o primeiro post, os autores dos comentários colhidos na web têm foto e nome apagados. Para Alex, a identidade protegida fez o público se identificar — o protesto lido poderia ser o do leitor. Os fãs mais empolgados, que contribuíam enviando exemplos, foram recrutados como editores, e o site ganhou vida própria, com centenas na criação (ainda que não-intencional) e uma dúzia filtrando conteúdo.

— Só trabalhei no primeiro dia — brinca Alex.

O site inspirou homenagens: um rap com seu nome, composto por Cauê Moura, com clipe estrelado pelo CQC Murilo Couto, já soma milhões de acessos. Um dos testes mais populares do famoso site de listas Buzzfeed é “Quão ‘classe média sofre’ você é?”. Por fim, a consagração: a expressão entrou para léxico digital nacional. Nas redes, muitos conscientemente encerram suas queixas pequeno-burguesas com a hashtag #classemediasofre.

— Tenho um certo orgulhinho do site porque vejo muita gente se autocensurando — diz Alex. — Quando penso em tudo que as pessoas deixaram de falar, acho que é uma contribuição mínima para o mundo.

O humor mais ferino também tem público, como comprova a viralização de “O perfeito idiota de classe média brasileiro”, que o jornalista e empresário Adriano Silva publicou em seu blog Manual de Ingenuidades: “O perfeito idiota de classe média brasileiro é, sobretudo, um cara cafona. Usa roupas de polo sem saber o lado por onde se monta num cavalo. Nem sabe que aquelas roupas são de polo. Ou que polo é um esporte”, escreve Adriano. O sucesso do post surpreendeu o autor e rendeu uma continuação também muito compartilhada.

— É um comportamento que localizei na classe média, me referindo na verdade à classe média alta, mas que pode ser visto em qualquer classe social. O perfeito idiota brasileiro para em vaga de deficiente ou de idoso no shopping. Não está nem aí para ninguém. Falsifica carteirinha de estudante pelo prazer do pequeno desvio. Somos um país de cleptomaníacos.

Como mostram os gráficos do IBGE, o Brasil é também um país em transformação, onde os cercadinhos que separavam as classes média baixa, média e alta se misturaram. A antiga pirâmide social, onde cada andar era menor que o anterior, virou um losango, com a maioria da população localizada no miolo.

Para o autor, ator e diretor Miguel Falabella, o que importa é não perder o humor. O intérprete do personagem Caco Antibes, um falido que tinha ódio de pobre no extinto seriado “Sai de baixo’’, diz que ri muito com a classe média:

— É uma forma do inconsciente coletivo digerir esse mundo absurdo. Eu adoro essas piadas, está no nosso DNA. A comédia é o melhor jeito de dizer a verdade, melhor até do que carta anônima. Não me sinto ofendido quando fazem piada comigo e acho que o Eike também não deveria se ofender. Aliás, acho que ele nem se ofende mais.

Aliás, na mais recente delas, uma montagem com Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho e Regina Casé, o empresário aparece com uma cara ótima.

FONTE:  http://oglobo.globo.com/economia/humoristas-blogueiros-ironizam-declaracao-de-eike-sobre-classe-media-14072160#ixzz3Ed7QmKed

É muito dura a vida “classe média” de Eike Batista: voos na primeira classe, viagens de helicóptero e hotéis cinco estrelas

Como é a vida do “classe média”  Eike Batista

Mesmo em tempos bicudos, o empresário se hospeda em hotel cinco estrelas em Nova York e não abre mão de usar o helicóptero para ir a Angra dos Reis

Malu Gaspar
Empresário Eike Batista

Empresário Eike Batista (Marcos D’Paula/AE/VEJA)

Eike Batista emergiu na semana passada de um ano de raro e absoluto silêncio. Acusado de manipulação de mercado e uso de informação privilegiada – crimes financeiros para os quais as penas podem chegar a cinco e oito anos de prisão, respectivamente –  ele saiu da toca depois de uma decisão judicial que arrestou os bens de sua família até o limite de 1,5 bilhão de dólares.  Seguindo uma estratégia desenhada por seus advogados, ele chamou quatro veículos de comunicação (entre os quais a VEJA) para deixar bem claro que não tem esse dinheiro.  Como não conseguiu pagar as dívidas que acumulou enquanto seu império esteve no auge (cerca de 15 bilhões de dólares em 2012), o empresário é hoje um homem de menos  1 bilhão de dólares.  “É um baque gigantesco voltar à classe média”, afirmou à Folha de S. Paulo na primeira das quatro conversas. Trata-se, é claro, de um tipo sui generis de classe média, uma vez que seu salário é 15 267 vezes a renda média de um cidadão dessa classe social.  Na sexta à noite, ele se corrigiu no twitter:  “Esclarecendo: a menção à classe média referia-se à sua capacidade (da classe média)  de adaptar-se a situações adversas!”

,A VEJA, ele se referiu a si próprio como um “assalariado” – ou melhor, um “assalariado com potencial de levar uma participação nesses ativos que sobraram aí”.  Eike não disse, mas o pro-labore em questão é de 5 milhões de dólares por ano, quantia que lhe prometeu o fundo soberano de Abu Dabui, o Mubadala, seu maior credor,  para o ano que vem, caso ele cumpra algumas condições estabelecidas no acordo pelo qual entregou quase todos os  bens aos árabes. Na quarta-feira, depois de uma tarde inteira repetindo a mesma coisa,  com ar cansado e os olhos caídos,  o “classe média” Eike entrou em sua caminhonete Hilux blindada e foi para casa – uma mansão de 3 500 metros quadrados fincada num terreno com vinte vezes esse tamanho,  aos pés do Cristo Redentor e com vista para os mais belos cartões postais do Rio de Janeiro. Seguiam-no quatro seguranças.

Na semana anterior, ele havia transitado entre Doha, a capital do Catar, e Nova York, resolvendo pendências financeiras.  Fechou a venda da mineradora de ouro AUX por 400 milhões de dólares (o dinheiro foi todo para os credores) para os emires do país árabe e  seguiu para reuniões com um grupo de coreanos que ele diz estar tentando atrair para o porto do Açu, no norte fluminense, em que ainda tem 10% das ações.  Não usou o jato Gulfstream  de 40 milhões de dólares que era a joia de sua frota de quatro aviões e dois helicópteros e que ainda é dele. Preferiu economizar  tomando um vôo de carreira.  Na primeira classe, é claro, que ninguém é de ferro. Em Manhattan,  hospedou-se no mesmo hotel de sempre, um cinco estrelas na avenida  Madison,  e circulou de van ou de limusine com o mesmo motorista que o atende há anos.

Praia

Mesmo em tempos bicudos, Eike também não abre mão de usar o helicóptero Agusta – o outro remanescente de sua frota —  nas idas frequentes a Angra dos Reis, onde ainda mantém uma mansão de dois andares na Baía de Vila Velha.  Assim como a do Jardim Botânico, a “casa de praia” não está mais em nome dele. Em julho, no auge da crise da petroleira OGX, que arrastou seu império para o buraco,  ele transferiu os imóveis aos filhos Thor, 22 anos,  e Olin, 18 anos,  e ainda comprou uma cobertura de 5,3 milhões de reais  em Ipanema para a namorada, Flávia Sampaio, que é mãe do caçula de Eike, Balder, de 1 ano. Por causa dessas doações, está sendo acusado pelos procuradores da República de fraude a credor – algo que ele repele, dizendo que foi tudo feito às claras e declarado à Receita Federal. Uma vez no litoral, Eike ainda dispõe do super iate de 115 pés que comprou em 2009 por 80 milhões de reais. Na embarcação, circula entre as ilhas do balneário com o comandante e dois auxiliares. 

E como é que uma pessoa que deve 1 bilhão de dólares na praça ainda consegue desfrutar de todo esse conforto? A resposta  tem a ver com um ditado bastante repetido no mercado financeiro:  se você deve 100 dólares aos bancos, o problema é seu. Mas, se deve 100 milhões, o problema  é deles.  Aos bancos a quem Eike deve dinheiro (Itaú e Bradesco, principalmente) não interessa tomar os bens que restam e registrar em seus balanços prejuízos de centenas de milhões de dólares. Mais inteligente, do ponto de vista contábil, é mantê-lo respirando e negociar os pagamentos aos poucos, em suaves prestações. Assim, apesar de carregar uma dívida impensável para a imensa maioria dos mortais, Eike segue mantendo seu padrão de vida quase intacto, com algumas poucas alterações.  É o famoso “devo, não nego, pago quando puder”, transposto ao universo dos ex-bilionários. Talvez esteja aí  um ponto de contato entre a vida de Eike e a de boa parte da classe média. Segundo a estatística oficial,  metade dos brasileiros dessa classe social está endividada. 

FONTE: http://veja.abril.com.br/noticia/economia/a-vida-do-classe-media-eike-batista