Descumprimento das regras de comércio e meio ambiente pode afetar negociações internacionais do Brasil

Retomada econômica consciente depende do cumprimento de tais regras, sob pena de inviabilização do acordo com a União Europeia e a participação do Brasil como membro da OCDE

comercio meio ambiente

O Brasil ainda precisa trabalhar no cumprimento das regras ambientais contidas nos acordos internacionais dos quais o Brasil é parte. Esse cenário pode afetar negativamente a análise feita pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para acessão do Brasil à qualidade de membro. Quem faz o alerta é Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington e Londres e presidente do conselho superior de Comércio Exterior da FIESP, durante webinar do Veirano Advogados.

O evento, realizado em 25 de junho, teve como tema “Brasil e OCDE: Ganhos Ambientais e Econômicos”, com o objetivo de debater os ganhos nacionais decorrentes da harmonização de normas ambientais brasileiras com os instrumentos da OCDE. Contou com a participação de Leopoldo Butkiewicz, diretor de Meio Ambiente e América Latina na Secretaria de Relações Internacionais do Ministério do Meio Ambiente; Rubens Barbosa, embaixador do Brasil na Inglaterra e nos Estados Unidos (1994-2004) e presidente do conselho superior de Comércio Exterior da FIESP e moderação de Ana Luci Grizzi, sócia da área Ambiental do Veirano Advogados.

Segundo Ana Luci Grizzi, esta é uma pauta estratégica, em pleno andamento no Governo Federal e Governos Estaduais. “Apesar da pandemia e do cenário instável em que nos encontramos, a agenda não foi e nem será paralisada, já que representa um grande benefício econômico ao Brasil. Temos potencial para lançar o país à liderança de assuntos que podem nos trazer vantagens competitivas. Neste sentido, a OCDE apresenta enorme oportunidade, trazendo inovação e desenvolvimento ambiental como diretriz de planejamento estratégico. A base de trabalho é Federal e Estadual, com vários Estados se mobilizando em relação aos instrumentos que podem solucionar problemas nacionais diversos”.

O Brasil já é parceiro-chave da OCDE desde 2009, tendo aderido a diversas normas, inclusive ambientais, durante os anos. O pedido de acessão à OCDE na qualidade de país-membro ocorreu 2017. A OCDE propõe a colaboração e a discussão de políticas públicas e econômicas que devem servir como modelo para os países-membros. Atualmente, representa aproximadamente 80% da economia mundial.

No entanto, segundo Rubens Barbosa, o país ainda não segue a rigor os parâmetros propostos pela Organização. “A entrada no Brasil na OCDE o tornará um país normal. Nós não cumprimos as regras internacionais na área de comércio e meio ambiente, então, o grupo irá trazer a necessidade de seguirmos as práticas regulatórias, não por obrigatoriedade, mas por representar interesses. Precisamos ter em vista que o processo será bastante longo, dificultado ainda mais por conta das transformações ocorrendo na Europa, de reformulação de novas políticas industriais de meio ambiente, para adequação ao novo normal pós-pandemia. A evolução trará influência, possivelmente negativa, para o exame que a OCDE fará do Brasil”, analisa.

Barbosa aponta que apesar de alguns setores nacionais não aderirem plenamente a uma reapresentação da política de meio ambiente e da retórica do governo, a questão da mudança de clima e meio ambiente não sairá da agenda global. “Após a pandemia, os temas ficarão ainda mais intensos, com questões ligadas à questão alimentar e saúde, por exemplo, em pauta. Somos exportadores de produtos primários. Sabemos que medidas de cautela e restrição serão tomadas por países exportadores. E o que estamos fazendo para nos adequar? Temos interesses a preservar, afinal, o consumidor tem papel importante e a política ambiental está diretamente relacionada às negociações comerciais. Não temos como evitar o assunto. Por realismo, tanto setor privado quanto governo terão de se ajustar às novas realidades”.

Leopoldo Butkiewicz, por sua vez, informou que o Brasil se relaciona intensamente com OCDE desde 1990. “Certamente, somos o país mais engajado com a organização, mesmo não sendo membro efetivo. Trabalhamos para aderir às práticas e às políticas públicas, independentemente da aceitação no grupo. Já aderimos a 84 dos 254 instrumentos legais. 60 estão em processo de adesão. A aderência também é viável para outros 59. Apenas 20% permanecem em análise do governo e consultas públicas. Não há país no mundo que trate com mais seriedade a questão ambiental que o Brasil. Podemos sofrer uma série de restrições e ataques, mas a situação de hoje é que somos uma potência ambiental e temos a condição de demonstrar para outros países como se protege o meio ambiente efetivamente. 60% do nosso solo é de vegetação nativa. Também temos reservas indígenas, com vasto patrimônio. Podemos prover serviços ambientais para o mundo todo”.

Butkiewicz reforça que o governo tem trabalhado para aprimorar o geoprocessamento dos dados, entender os gargalos nacionais e estabelecer medidas que os solucionem. “A OCDE trará a inteligência, transparência e capacidade de gestão que precisamos. Queremos internalizar todos estes ensinamentos e oferecer maior segurança jurídica aos investidores internacionais. Temos de valorizar o bem ambiental, com nomes bem estruturados, afinal, intervir erroneamente é aumentar a destruição. Temos muito o que ganhar com a adesão ao grupo. O trabalho está sendo feito e ainda seremos vistos com respeito”.

Os debatedores também falaram sobre o andamento do acordo entre Mercosul e União Europeia, que estabelece diálogo político, cooperação e livre comércio. Para Rubens Barbosa, podemos enfrentar uma nova etapa, tão difícil quanto a primeira: o processo de ratificação no próximo ano. “Depois de um longo processo, com mais de 20 anos de estudos, o acordo foi finalizado, mas ainda não assinado. Pode começar a haver uma oposição dos parlamentos europeus, graças à política ambiental brasileira. Precisamos sair da defensiva e desenvolver uma nova política agrícola. Não se trata de gostar ou não. Devemos nos ajustar por pragmatismo, caso contrário, teremos dificuldade na aprovação do acordo e até mesmo nas finanças. Precisamos de resultados concretos de redução de desmatamento, controle de queimadas e garimpo ilegal. Só o discurso não é válido para a comunidade internacional. Temos que recuperar nossa credibilidade por meio dos resultados”.

Leopoldo Butkiewicz conta que o Ministério do Meio Ambiente e seus secretários estão trabalhando com foco em criar instrumento de mercado para inserir na cadeia ambiental o valor que é dado pelos países europeus. “Vemos eles usando instrumentos de acordos e normas internacionais como barreiras não tarifárias para nossos produtos, é a maneira de se protegerem. Temos oportunidade de mudar o jogo e atacar os problemas que temos em diversos biomas. Procuramos países parceiros para desenvolver políticas públicas de governo, que também sirvam como políticas de estado”.

O evento é parte da programação de debates on-line, criada pela equipe do Veirano Advogados durante o isolamento social, que aborda diversos temas relevantes para os negócios, com panoramas durante e pós-pandemia de COVID-19.

Porto do Açu: o mito do desenvolvimento e suas falácias são desvelados

O texto abaixo vindo do blog do economista e professor da UENF Alcimar Chagas desnuda um dos principais mitos que deram sustentação a todas as barbáries cometidas pelo (des) governo Cabral e seus parceiros privados contra a população de pescadores e agricultores do V Distrito de São João da Barra. É que os algozes sempre utilizaram o argumento de que estavam criando um novo ciclo de desenvolvimento econômico e, com isso, justificavam seus malfeitos.

Agora com essa análise baseada em estatísticas oficiais, o Alcimar Chagas demonstra que, pelo menos no âmbito da criação de postos de trabalho no comércio de São João da Barra, o efeito do Porto do Açu é quando muito nulo ou mesmo negativo.

Como amanhã (02/12) o deputado Roberto Henriques estará realizando uma audiência pública a partir das 10 horas na Câmara Municipal de São João da Barra exatamente sobre o Porto do Açu quem sabe ele possa usar uns poucos minutinhos para pedir explicações aos governantes e empreendedores de como isso se explica.

De minha parte retorno à obra de Celso Furtado “O Mito do Desenvolvimento Econômico” lançado em 1973 para dizer que o que se viu até agora no Porto do Açu foi muita espuma e pouco sabão  (ou seria muito sal e pouca feijoada?), pois esse retorno à uma base primária é parte de um engodo muito maior de que podemos ascender no processo de desenvolvimento sem tocar nas profundas desigualdades econômicas e sociais que persistem no Brasil e, principalmente, na região Norte Fluminense. 

Os investimentos do porto do Açu e seus reflexos no emprego no comércio em São João da Barra

Os saldos de emprego gerados em São João da Barra, no período de construção do Porto do Açu, evidenciam as contradições nos relatórios de impacto ambiental, que registram os impactos e as promessas de políticas compensatórias por conta das intervenções. Observem que as obras iniciam no final de 2007 e tem seu seu ápice em 2008. Ainda sem o impacto das obras, o ano de 2007 registra uma geração de 34 novas vagas no comércio. Em 2008, realmente observa-se um forte crescimento com o registro de 89 novas vagas no comércio. Em 2009 são geradas somente 10 vagas, em 2010 são geradas 28 vagas e em 2011 são geradas 39 vagas. Em 2012 observa-se um resultado negativo, onde as demissões superaram as admissões em 29 vagas e em 2013, até outubro, foram geradas somente 23 vagas. A conclusão que se chega é que as promessas de geração de emprego, em função das obras do porto do Açu, não se concretizaram. Somente nos anos de 2008 e 2011, o saldo de emprego superou 2007. Segundo esses indicadores do Ministério do Trabalho, os investimentos do porto do Açu não tiveram impacto no comércio, conforme promessa.