Entre o sutil e o explícito, o Brasil caminha para o precipício climático

“De certa forma, o que estamos vendo é um casamento arrumado entre o negacionismo sutil do governo Lula com o explícito que é promovido pela bancada que representa os interesses do latifúndio agroexportador e das mineradoras.”

Foto: Reprodução 

Marcos Pedlowski para “Nova Democracia”

Como previ em um artigo publicado em março pelo Nova Democracia, a COP30 se configurou com um imenso fracasso no tocante à adoção das medidas necessárias para impedirmos o precipício climático que está sendo gerado pela contínua dependência de combustíveis fósseis para movimentar o sistema produtivo capitalista.  Se olharmos para as principais decisões adotadas na COP30, é possível notar que ali se consumou a adoção de formas de mercado para tentar debelar os efeitos negativos gerados pelo sistema produtivo capitalista.  Mas o parcos resultados não podem ser vistos como surpresa, na medida em que as corporações multinacionais do petróleo e do complexo alimentar possuíam mais lobistas do que delegações de muitos países somados. 

Por outro lado, as idas e vindas do presidente Lula a Belém serviram apenas para explicitar as limitações das propostas de uma forma particular de negacionismo climático, o sutil.  As principais propostas do governo brasileiro, se é que se pode chamar aquilo de proposta, encontraram forte resistência política e financeira.  O autodenominado Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que na prática é uma espécie de consórcio das florestas, acabou reunindo menos promessas de alocação de recursos do que esperado e não se antevê que poderá conter as pressões no sentido de avançar a exploração das áreas que ainda estão cobertas por florestas, especialmente na região tropical.  Além disso, o tal mapa do caminho para alcançar a diminuição do uso dos combustíveis fósseis sequer foi incluído na declaração final da COP30. Aliás, esse resultado foi até facilitado pela guinada feita pelo presidente Lula em prol da exploração de petróleo e gás na Foz do Amazonas.  Ao fazer isso, o Brasil se colocou em uma posição fragilíssima para argumentar em prol da diminuição progressiva do uso de combustíveis fósseis na matriz energética global. 

Coerente e antenada com o fracasso da COP30, a maioria dos deputados e senadores que compõe a atual legislatura entraram em campo para derrubar 52 dos 63 vetos impostos pelo presidente Lula ao chamado PL da Devastação.  Essa derrubada era também esperada, na medida em que a mesma coisa já havia ocorrido durante a tramitação do PL do Veneno. Naquele caso, Lula vetou uma parcela menor dos artigos que foram posteriormente facilmente derrubados por este mesmo congresso. Mas se engana quem acha que houve uma resistência real por parte da bancada governista para manter os vetos de Lula no PL da Devastação.  O que houve, quando muito, foi um simulacro de resistência já que o governo Lula negociou diretamente com Hugo Motta e Davi Alcolumbre a aprovação do PL da Devastação, já que existe um claro interesse governista em passar a boiada na BR-319 e na Foz do Amazonas.

De certa forma, o que estamos vendo é um casamento arrumado entre o negacionismo sutil do governo Lula com o explícito que é promovido pela bancada que representa os interesses do latifúndio agroexportador e das mineradoras.  A diferença entre um e outro é apenas performática, na medida em que o resultado final será um avanço no processo de extração de recursos para alimentar uma economia cada vez mais agromineral dependente. 

O problema é que todo esse cenário se dá em meio ao aumento das evidências de que o Brasil é uma espécie de lócus privilegiado do colapso climático. Se olharmos apenas para as últimas semanas veremos vários episódios de eventos meteorológicos extremos varrendo cidades, sejam na forma de ventos catastróficos, chuvas de granizo com pedras gigantes, ou ainda na seca aguda que compromete o abastecimento hídrico da maior área metropolitana do hemisfério sul.

Aliás, há que se dizer que um dos locais aplastados recentemente por um evento meteorológico extremo, Rio Bonito do Iguaçu foi o município brasileiro que mais desmatou a Mata Atlântica entre 1985 e 2015, com 24,9 mil hectares de florestas destruídas, o que representa aproximadamente 60% da mata original daquela região. Este desmatamento excessivo foi impulsionado pelo latifúndio agroexportador, e o expôs a eventos climáticos extremos, como o recente tornado que devastou grande parte do município. Desta forma, é possível afirmar que o caos instaurado por um tornado em Rio Bonito do Iguaçu é uma espécie de antessala do que deveremos ter pela frente como resultado da combinação das diferentes formas de negacionismo climático.

Diante de um cenário de precipício climático explícito algo óbvio a se dizer é que precisamos reagir de maneira urgente e firme. Os problemas que estão já presentes por causa das formas capitalistas de espoliação da natureza vão ser aprofundados por essa combinação dos negacionismos aqui apontados. É urgente construir a resistência climática sob um novo marco, de forma a incluir a classe trabalhadora e a juventude na construção de ferramentas de transformação de uma realidade que nos encaminha para o colapso climático.


Fonte: Nova Democracia

A captura corporativa minou o progresso na COP30

A COP30 foi alvo de críticas consideráveis, inclusive por sua falha em abordar de forma significativa os perigos que a crise climática representa para a saúde

COP30 agronegócio

Manifestantes denunciaram a contaminação do Cerrado por agrotóxicos na entrada da Agrizone da COP30. Mais de 70% dos agrotóxicos utilizados no Brasil são usados ​​no Cerrado, muitos dos quais são proibidos na Europa. Foto: Oliver Kornblihtt / Mídia NINJA 

Por Ana Vračar para “People´s Dispatch” 

A COP30 deste ano foi alvo de consideráveis ​​críticas, inclusive por sua falha em abordar de forma significativa os perigos que a crise climática representa para a saúde. Ao mesmo tempo, grandes corporações do agronegócio – que desempenham um papel central na deterioração da saúde e do meio ambiente – estiveram presentes no fórum. Muitos ativistas e comunidades indígenas soaram o alarme, especialmente considerando que essas empresas continuam a ameaçar a saúde e os meios de subsistência das pessoas por meio da apropriação de terras, do uso de pesticidas e da comercialização de alimentos ultraprocessados.

Juntamente com as novas tentativas dos governos do Norte Global de evitar assumir a responsabilidade financeira pelas suas contribuições para a crise climática, as preocupações com a participação e a captura corporativa deixaram muitos observadores com a impressão de que a COP30 ficou muito aquém do necessário. A esperança em Belém residia, em vez disso, nas iniciativas populares.

UPF e gigantes do agronegócio na COP

Repórteres do projeto de mídia brasileiro O Joio e o Trigo documentaram a influência exercida pelo agronegócio durante a preparação e a implementação da COP30. Eles observaram que alguns documentos-chave, que pretendiam delinear uma visão de agricultura mais sustentável, foram, na realidade, fortemente influenciados por atores da indústria. Um dos documentos, por exemplo, propôs que o modelo agroindustrial atual é capaz de acabar com a fome no mundo sem prejudicar as comunidades ou o planeta. Essas afirmações, argumentam os repórteres, são profundamente enganosas, principalmente porque ignoram os perigos mais urgentes decorrentes da agricultura industrial.

Uma das omissões mais flagrantes nesse contexto foi o impacto do uso de agrotóxicos no setor agrícola brasileiro. “Se os agrotóxicos são ignorados, os danos que causam também são ignorados; esse silêncio é ensurdecedor em um momento em que as evidências de comunidades prejudicadas pela exposição a agrotóxicos e a crescente suspeita sobre sua ligação com o aumento das taxas de câncer se acumulam rapidamente”, alertou o jornal O Joio eo Trigo .

Empresas com histórico comprovado de comprometimento da saúde humana e planetária marcaram presença na COP30. Bayer e Nestlé, por exemplo, montaram estandes chamativos. Aparentemente, a Nestlé atraiu visitantes oferecendo café e chocolate quente gratuitos. Isso coincidiu quase perfeitamente com a publicação de uma nova série na revista The Lancet , que apontou a empresa como uma das principais integrantes das redes globais da indústria alimentícia que trabalham para sabotar as regulamentações de saúde pública destinadas a mitigar as consequências do consumo de alimentos ultraprocessados. A pegada ambiental da produção desses alimentos, por si só, já seria motivo suficiente para encarar essa participação corporativa com ceticismo; no entanto, empresas semelhantes ainda conseguem se posicionar como participantes legítimos no debate sobre mudanças climáticas.

Uma visão radicalmente diferente surgiu das dezenas de milhares de pessoas que participaram de eventos e marchas alternativas fora dos espaços oficiais da COP30. Muitos, incluindo ativistas do Movimento Popular pela Saúde (PHM), reuniram-se por meio da Cúpula dos Povos . A declaração do encontro identifica atores como as grandes empresas alimentícias como os principais responsáveis ​​pela crise climática. “As corporações transnacionais, em conluio com governos do Norte Global, estão no centro do poder no sistema capitalista, racista e patriarcal, sendo os atores que mais causam e se beneficiam das múltiplas crises que enfrentamos”, afirma o documento.

Ativistas argumentam que uma mudança genuína no enfrentamento da crise climática só pode ser alcançada colocando os movimentos populares no centro das atenções. “Se hoje, aqui em Belém do Pará, a política internacional, o meio ambiente e as mudanças climáticas estão em debate, aqueles que são mais afetados por essas mudanças climáticas devem estar na linha de frente”, disse a fisioterapeuta e parlamentar Vivi Reis à Outra Saúde .

“Já está claro que, na prática, as COPs tiveram pouca influência na luta contra as mudanças climáticas e que as verdadeiras respostas e alternativas são construídas por quem está no terreno”, disse Reis.

Ao contrário das corporações, cujas chamadas soluções se baseiam em combustíveis fósseis, devastação de terras e extrativismo, os movimentos populares estão promovendo modelos enraizados na justiça social e no conhecimento ancestral . “Os povos produzem alimentos saudáveis ​​para alimentar o povo, a fim de eliminar a fome no mundo, com base na cooperação e no acesso a técnicas e tecnologias sob controle popular”, afirma a declaração da Cúpula dos Povos. “Este é um exemplo de uma solução real para enfrentar a crise climática”, acrescenta, enfatizando a necessidade de reforma agrária popular e agroecologia.

A declaração também menciona conexões entre outras tendências em curso no Norte Global, nomeadamente o militarismo, e a crise climática, enfatizando novamente que uma transição significativa deve ser abrangente e abordar todas as fontes de injustiça. “Exigimos o fim das guerras, exigimos a desmilitarização”, afirma o texto. “Que todos os recursos financeiros alocados às guerras e à indústria bélica sejam redirecionados para a transformação deste mundo. [Exigimos] que os gastos militares sejam direcionados para a reparação e recuperação das regiões afetadas por desastres climáticos.”

O Boletim Informativo de Saúde Popular é uma publicação quinzenal do Movimento Popular de Saúde e do jornal People’s Dispatch . Para ler mais artigos e assinar o Boletim Informativo de Saúde Popular, clique aqui .


Fonte: People´s Dispatch

Ativistas contra as mudanças climáticas temem estar perdendo a guerra da informação para as petroleiras

As mudanças políticas, o intenso lobby e a crescente desinformação online têm prejudicado os esforços internacionais para responder à ameaça

Dois manifestantes encapuzados, com os capuzes sobre a cabeça, levantam os punhos sob um globo gigante suspenso na conferência COP30.

Países ricos em petróleo, incluindo os EUA, estão minimizando o consenso científico de que a queima de combustíveis fósseis está aquecendo o planeta de forma perigosa.Crédito: André Penner/Associated Press

Por Lisa Friedman Steven Lee Myers para “The New York Times” 

Quando quase 200 nações assinaram o Acordo de Paris de 2015, reconhecendo a ameaça do aumento das temperaturas globais e prometendo agir, muitos esperavam que a era da negação das mudanças climáticas finalmente tivesse chegado ao fim.

Dez anos depois, ela retornou com força total, possivelmente mais forte do que nunca.

Ao encerrarem as negociações climáticas anuais das Nações Unidas no último sábado, os delegados que têm feito campanha para reduzir o uso de combustíveis fósseis expressaram crescente alarme com o fato de que as forças contrárias a eles estão ganhando terreno na guerra da informação.

As indústrias de petróleo, gás e carvão continuam a minimizar o consenso científico de que a queima de combustíveis fósseis está aquecendo o planeta de forma perigosa. Essa estratégia tem sido adotada por países ricos em petróleo, como a Rússia, a Arábia Saudita e — durante o governo Trump — os Estados Unidos.

O presidente Trump ridiculariza o aquecimento global, chamando-o de farsa, com o apoio de um coro de influenciadores online que regularmente promovem desinformação em plataformas de mídia social que antes tentavam combatê-la. Embora essas opiniões já tenham sido descartadas como teorias da conspiração, sua influência nos debates sobre políticas globais cresceu consideravelmente.

declaração final das negociações da ONU , realizadas em Belém, no Brasil, sequer mencionou a expressão “combustíveis fósseis”.

“Pensávamos que boas ideias levariam as pessoas a agir”, lamentou J. Timmons Roberts, pesquisador da Universidade Brown e diretor executivo de sua Rede de Ciências Sociais sobre o Clima, em uma coletiva de imprensa na véspera das negociações.

“Na verdade, houve uma campanha bastante sistemática, sofisticada e extremamente bem financiada”, disse ele. “Eles conseguiram minar a ação climática globalmente.”

A cúpula climática deste ano ocorreu em um contexto de aumento da perfuração e da mineração — no Brasil, o governo anfitrião concedeu recentemente uma licença à estatal petrolífera para explorar novas fontes de petróleo perto da foz do rio Amazonas.

Chaminés e vários edifícios industriais, incluindo um com o nome da Petrobras na fachada.

Apenas algumas semanas antes da cúpula, veio a notícia de que a Petrobras, estatal petrolífera brasileira, receberia permissão para perfurar perto da foz do Rio Amazonas pela primeira vez. Crédito: Andre Penner/Associated Press

Ainda assim, o líder do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, abriu as negociações denunciando os obstrucionistas que “rejeitam as evidências científicas e atacam as instituições”.

O problema tornou-se tão grave que a cúpula, pela primeira vez, colocou o assunto na agenda. Uma coalizão de países e agências internacionais emitiu uma “Declaração sobre Integridade da Informação sobre Mudanças Climáticas”, que insta os governos a combater a desinformação climática, promover a transparência e proteger jornalistas, cientistas e ambientalistas.

A iniciativa, no entanto, carece de detalhes sobre como os governos devem proceder. Até sexta-feira, apenas 21 dos quase 200 países que assinaram o Acordo de Paris também haviam assinado a declaração sobre desinformação.

O senador Sheldon Whitehouse, democrata de Rhode Island, que esteve em Belém e participou de várias cúpulas sobre o clima, disse que a adesão global ao Acordo de Paris pela maioria dos governos e grandes corporações obscureceu, por um tempo, a ainda forte oposição ao fim dos combustíveis fósseis.

“Acho que havia certa confiança na época de que, quando os governos se reunissem e todos apresentassem seus compromissos nacionais, todos sentiriam que iríamos superar isso facilmente”, disse o Sr. Whitehouse. “Agora, acho que há uma melhor compreensão da verdadeira natureza da campanha de desinformação e corrupção em torno dos combustíveis fósseis.”

O Sr. Lula afirmou que a cúpula deste ano “representaria mais uma derrota para o negacionismo”. Em vez disso, houve dificuldades em se chegar a um consenso.

A declaração final da conferência endossou o apelo para promover a “integridade da informação” e destinou mais verbas para os países vulneráveis ​​atingidos por catástrofes climáticas. No entanto, incluiu apenas um acordo voluntário entre as nações para iniciar discussões sobre um “roteiro” para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis. Esse resultado modesto só foi alcançado após um impasse acirrado com os países produtores de petróleo do Golfo Pérsico.

Os críticos atribuíram os resultados modestos aos interesses do petróleo, gás e carvão, que têm marcado presença crescente nas cúpulas da ONU nos últimos anos. Uma análise dos delegados realizada por um grupo chamado coalizão “Expulse os Grandes Poluidores” constatou a participação de 1.600 representantes de combustíveis fósseis nas negociações de Belém, número que inclui diplomatas de países com empresas petrolíferas estatais.

“Mais uma vez, os lobistas dos combustíveis fósseis superaram em número muitas delegações dos países mais afetados pela crise climática”, disse Brice Böhmer, diretor de clima e meio ambiente da Transparência Internacional, uma organização sem fins lucrativos com sede em Berlim, em um comunicado.

Na imagem, um trem de carga é visto próximo a uma estrada.

Segundo uma análise da coalizão Kick Big Polluters Out, 1.600 representantes de combustíveis fósseis, incluindo diplomatas de países com empresas petrolíferas estatais, participaram da COP30. Crédito: Jared Hamilton para o The New York Times

Para os críticos do movimento ambientalista, a mudança de sentimento demonstrada no Brasil representou uma vitória após anos de pressão sobre as indústrias de energia.

“A realidade nos atingiu em cheio”, disse Steven J. Milloy, fundador do JunkScience.com, um site que contesta o consenso científico sobre as mudanças climáticas. “As pessoas estão percebendo agora que precisamos de combustíveis fósseis. Os combustíveis fósseis vieram para ficar.”

As pesquisas mostram consistentemente que a maioria dos adultos em todo o mundo e nos Estados Unidos considera as mudanças climáticas uma séria ameaça.

Ao mesmo tempo, um número crescente de pesquisas alerta que a desinformação climática — desde afirmações enganosas do Sr. Trump de que as turbinas eólicas “matam todos os pássaros” até hashtags virais que proclamam que a energia limpa é uma farsa — está aumentando constantemente, amplificada pelas redes sociais.

Um estudo recente revelou que a estratégia não é sutil . Os céticos climáticos apresentam sua posição como “projetando racionalidade, autoridade e autocontrole masculino”, enquanto aqueles que reconhecem o aquecimento global “são retratados por meio de imagens emocionalmente carregadas, feminizadas e irracionais”, e rotulados de “alarmistas” que propõem soluções radicais.

As campanhas políticas seguem a mesma estratégia. Os republicanos frequentemente alegavam que o governo Biden estava tentando “emascular” os motoristas americanos, forçando-os a usar veículos elétricos. Lee Zeldin, administrador da Agência de Proteção Ambiental (EPA) do governo Trump, classificou as mudanças climáticas como uma “religião”, em vez de reconhecê-las como o que realmente são: uma questão de física.

Taylor Rogers, porta-voz da Casa Branca, afirmou que o Sr. Trump estava buscando “aumento da produção de energia, não transição energética”.

“O presidente deu um forte exemplo para o resto do mundo ao reverter o curso do escândalo da energia verde e liberar nossos recursos naturais, como o belo e limpo carvão e o gás natural, para fortalecer a estabilidade de nossa rede elétrica e reduzir os custos de energia”, disse ela, citando argumentos que muitos economistas contestam.

Ainda assim, as políticas do Sr. Trump ameaçam mais de 500 projetos de energia solar e armazenamento de energia nos EUA, que deveriam fornecer 116 gigawatts de capacidade. Sua administração também cancelou uma garantia de empréstimo de US$ 4,9 bilhões para uma linha de transmissão de 1.287 quilômetros (800 milhas) que transportaria principalmente energia eólica das Grandes Planícies para algumas das partes mais sobrecarregadas da rede elétrica do país.

As plataformas de redes sociais, podcasts e outras formas de mídia amplificam regularmente a desinformação climática.

Um exemplo recente: quando os delegados foram evacuados após um incêndio em um pavilhão durante a COP30, um blog que promove a negação das mudanças climáticas sugeriu — sem qualquer evidência — que uma bateria “proclamada tecnologia limpa” foi a causa. A publicação foi compartilhada dezenas de vezes, inclusive por opositores proeminentes da ciência climática, embora o ministro do Turismo do Brasil tenha afirmado que o incêndio provavelmente foi causado por um curto-circuito na fiação elétrica.

Operários apontam um extintor de incêndio para um grande foco de incêndio no centro de conferências da COP30.
Um incêndio ocorrendo no Pavilhão dos Países na COP30. Crédito: Douglas Pingituro/Reuters

Embora os críticos tenham pedido que as plataformas de mídia social façam mais, elas, em vez disso, recuaram nos esforços para combater a desinformação climática. “Agora é mais fácil para os céticos climáticos divulgarem sua mensagem”, disse o Sr. Milloy, que anteriormente atuou como conselheiro da equipe de transição do Sr. Trump para a Agência de Proteção Ambiental.

Na véspera da posse de Trump, em janeiro, Mark Zuckerberg, diretor executivo da Meta, empresa controladora do Facebook, anunciou menos restrições a tópicos políticos, encerrando um programa de verificação de fatos nos Estados Unidos que rotineiramente denunciava aqueles que contestavam a ciência climática.

O YouTube proíbe que promotores de desinformação climática monetizem suas contas ou comprem anúncios, mas diversos estudos argumentam que a plataforma não aplica suas regras com rigor.

“Muita gente está ganhando muito dinheiro com essas manchetes sensacionalistas”, disse Rachel Cleetus, diretora sênior de políticas climáticas e energéticas da União de Cientistas Preocupados (Union of Concerned Scientists), que assessorou a elaboração da declaração de integridade da informação. “Este não é apenas um espaço neutro onde a informação flui.”

O Sr. Whitehouse afirmou que o lucro será sempre o objetivo principal da indústria de combustíveis fósseis e de outros que se opõem a esforços significativos para combater as mudanças climáticas.

“Em certo sentido, temos perdido a guerra contra a desinformação climática desde o início”, disse o Sr. Whitehouse. “Estamos onde estamos porque fomos completamente ineficazes em repelir décadas de bombardeio de desinformação.”

Lisa Friedman é repórter do The New York Times e escreve sobre como os governos estão lidando com as mudanças climáticas e os efeitos dessas políticas nas comunidades.

Steven Lee Myers cobre desinformação e notícias falsas em São Francisco. Desde que ingressou no The Times em 1989, ele já fez reportagens em todo o mundo, incluindo Moscou, Bagdá, Pequim e Seul.


Fonte: The New York Times

Promessas climáticas favorecem a remoção de carbono em terra, uma meta irrealista que ignora as florestas

Por Sofia Murphy para IATP 

Esta semana, a Universidade de Melbourne lançou a segunda edição do Relatório sobre a Lacuna de Terras (The Land Gap Report ), que analisa detalhadamente os compromissos climáticos dos países e suas implicações para a forma como a terra deve ser usada — e como as florestas precisam ser protegidas — para atingir essas metas.

O Relatório sobre a Lacuna de Terras é um relato aprofundado e especializado de como concepções errôneas sobre o uso da terra e a importância subestimada das florestas se combinam com promessas climáticas governamentais fracas e irrealistas para agravar a crise climática. Eu escrevi o capítulo sete, que se concentrou no comércio de commodities agrícolas e nas cadeias de valor globais.

O lançamento do relatório foi programado para coincidir com o debate na COP30, o fórum intergovernamental anual da ONU sobre como evitar a catástrofe climática. Um evento paralelo para discutir as conclusões do relatório ocorreu no dia 20 de novembro em Belém.

No novo relatório, avaliamos os compromissos governamentais mais recentes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (em planos conhecidos como Contribuições Nacionalmente Determinadas, ou NDCs) e constatamos que os países não apenas aumentaram sua dependência da Remoção de Dióxido de Carbono (CDR) em terra, exigindo um total combinado de 1,01 bilhão de hectares, como também estão muito distantes das trajetórias que poderiam alcançar seu compromisso de deter e reverter o desmatamento e a degradação florestal até 2030. Pior ainda, como aponta o relatório, não há terra suficiente no mundo para concretizar esses planos. A CDR é uma parte racional de uma resposta abrangente à emergência climática, mas quanto mais adiarmos a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e de outros grandes poluidores climáticos, maior será o aumento esperado das temperaturas médias e maior a probabilidade de incêndios florestais, secas, inundações e outros desastres.   

O relatório deixa claro que o problema com os compromissos florestais e climáticos não é a falta de vontade política e de recursos financeiros, embora ambos sejam importantes. O financiamento privado e o comércio de carbono também não resolverão o problema. Em vez disso, os capítulos defendem uma transformação nos setores florestal e fundiário. Isso seria alcançado se os governos identificassem e desmantelassem os mecanismos e políticas estruturais inter-relacionados que mantêm a extração em vigor, incluindo mudanças na dívida, na política fiscal, na tributação e na legislação comercial. 

O Relatório sobre a Lacuna de Terras oferece soluções climáticas muito mais ambiciosas — e muito mais eficazes — do que os planos de ação propostos pelos governos. As recomendações focam na proteção das florestas existentes, na eliminação gradual do uso de combustíveis fósseis e em reformas profundas nos subsídios públicos, incentivos fiscais e regras de comércio e investimento internacionais. O relatório insta os governos a pararem de permitir a externalização dos custos da poluição na contabilidade econômica. O agronegócio precisa começar a arcar com os custos reais de seus modelos de produção extrativistas. 

Que papel desempenham o comércio e a agricultura num relatório sobre o uso da terra e o clima?

Escrevi o sétimo capítulo do relatório: “ Reforma da política comercial para a proteção florestal e a soberania alimentar ”. Nesse capítulo, analiso o comércio internacional, as commodities agrícolas e a soberania alimentar, argumentando que mudanças políticas eficazes para desacelerar o desmatamento e a degradação florestal só podem ser feitas com uma compreensão clara e matizada das forças que impulsionam o comércio de commodities.

Por que um relatório sobre desmatamento e mudanças climáticas inclui um capítulo sobre comércio e agricultura? Porque a agricultura é o principal fator de mudança no uso da terra que polui o clima, incluindo o desmatamento. Vinte e seis por cento da perda global de cobertura arbórea no período de 2001 a 2015 é atribuída à expansão da produção de sete commodities agrícolas (gado, óleo de palma, soja, cacau, borracha, café e fibra de madeira de plantações), todas elas intensamente comercializadas. Ao mesmo tempo, a agricultura é uma das atividades econômicas mais afetadas pelas mudanças climáticas e pela perda de biodiversidade. As florestas são essenciais não apenas para as comunidades e a biodiversidade que as habitam, mas também para os ciclos climáticos e hídricos em todo o planeta. Precisamos proteger os sistemas alimentares e agrícolas que protegem as florestas se quisermos sobreviver.

A ação climática e florestal tem sido impulsionada, há duas décadas, pela constatação de que um pequeno grupo de agronegócios globais domina as sete commodities que são desproporcionalmente responsáveis ​​pelo desmatamento. Essa constatação foi combinada com a crença de que essas empresas poderiam ser persuadidas a melhorar suas práticas, resultando em uma estratégia focada em ações voluntárias e mesas-redondas que incluíram agronegócios, organizações da sociedade civil e representantes governamentais. O objetivo, refletido em resultados como a Moratória da Soja no Brasil , era elevar os padrões de produção e aprimorar a sustentabilidade das cadeias de valor. 

Apesar de alguns pequenos sucessos, os níveis devastadores de desmatamento persistem. Precisamos alinhar os incentivos econômicos e ecológicos. O Acordo sobre Agricultura da OMC é a estrutura que rege a maioria das regras do comércio agrícola internacional. O acordo foi concebido para limitar o papel do Estado na gestão dos mercados agrícolas e para facilitar o acesso às importações, com pouca ou nenhuma consideração por objetivos de políticas internas, como sistemas de produção limpos e justos. O acordo ignora o poder de mercado concentrado nas mãos dos comerciantes de commodities e como esse poder distorce os preços e desequilibra a distribuição dos benefícios que a teoria do comércio prevê para os produtores eficientes. Na prática, os pontos nos sistemas de distribuição agrícola onde a concorrência é fraca — incluindo o acesso a transporte, armazenamento e capacidade de processamento — criam assimetrias de preços que prejudicam os produtores locais e, muitas vezes, os orçamentos públicos do país produtor. Práticas como a precificação de transferência permitem que as empresas ocultem seus lucros onde a carga tributária é menor (geralmente pequenos estados sem florestas tropicais para proteger, mas com grande número de empresas bancárias privadas). 

O que deve vir a seguir?

É impossível prever o que a COP30 nos reserva. Havia grandes expectativas, durante anos, de que esta COP obtivesse resultados melhores do que as dos últimos anos, em que as COPs foram sediadas por países produtores de petróleo, ávidos por evitar a redução do uso de combustíveis fósseis. O Brasil é um país extenso e florestal, cujo governo, sob o primeiro mandato de Lula, conquistou uma reputação positiva por seus eficazes programas de combate à fome e cuja atual liderança pressiona por financiamento significativo para a proteção florestal. Mas, uma semana após o início das negociações, os problemas e as divergências intransponíveis entre os Estados-membros são desanimadores.

Então, o que os governos poderiam fazer? A ação contra as mudanças climáticas exigirá a participação de todos os níveis de governo, e há muito a ser feito enquanto o multilateralismo estiver paralisado. Os países têm a obrigação de cumprir o direito humano universal à alimentação — um direito que depende da proteção dos recursos naturais e dos ecossistemas nos quais uma diversidade de alimentos prosperará. Esse sistema alimentar precisa ser soberano, o que não significa que seja separado de outros sistemas, mas sim que as pessoas precisam ter controle sobre as decisões que afetam sua capacidade de produzir e acessar alimentos.

A produção em massa de produtos agrícolas em escala industrial para cadeias de valor globais não deve ser confundida com segurança alimentar; elas exigem regulamentações e controles diferentes. As regras comerciais devem ser reformadas para distinguir essas diferentes formas de agricultura, como muitos países em desenvolvimento vêm defendendo há anos em sua solicitação por proteções adicionais contra importações a preços de dumping. 

Os mecanismos comerciais também precisam se conectar com as comunidades locais. Por exemplo, o Regulamento da UE sobre Desflorestamento visa as empresas na cadeia de valor, responsabilizando-as por suas práticas de fornecimento de matérias-primas. Isso é positivo, mas não há nenhum mecanismo previsto para envolver as pessoas que vivem e trabalham na floresta. Precisamos de mais camadas no comércio e na gestão florestal para desmantelar os incentivos perversos e míopes que encorajam a destruição de nossas florestas.

Em última análise, precisamos de um novo sistema econômico que valorize a Terra e seus recursos. Como os povos indígenas bem sabem, a proteção ambiental não é uma opção: sem a natureza, não podemos ter atividade econômica.


Fonte: IATP

COP30: a COP das “não-decisões”

Quase duas semanas de negociações em Belém não conseguiram produzir um avanço em questões-chave

A presidente da conferência, Corrêa do Lago, durante um intervalo em uma sessão plenária.

O presidente da conferência, Corrêa do Lago, durante um intervalo em uma sessão plenária. Foto: dpa/AP/Andre Penner 
Por Lisa Kuner e Christian Mihatsch, de Belém, para “Neues Deutschland”

Com quase um dia de atraso, o martelo do presidente da COP 30, André Corrêa do Lago, bateu na tarde de sábado na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Belém, Brasil: representantes de quase 200 países adotaram uma declaração final que delineia como a comunidade internacional pretende proceder com a política climática no futuro. Entre outras coisas, a declaração pede mais financiamento para adaptação ao aquecimento global, um mecanismo para uma transição energética justa e o fortalecimento dos direitos territoriais indígenas. Segundo observadores, isso não é suficiente para tornar a meta de 1,5 grau novamente alcançável.

Mais impressionante do que esses pequenos sucessos é o que não foi decidido: os culpados pela crise climática, os combustíveis fósseis carvão, petróleo e gás, sequer foram mencionados na principal decisão da COP 30. Um roteiro para a eliminação gradual desses combustíveis, proposto pela ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, e prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não obteve maioria. “As empresas petrolíferas e países exportadores como Arábia Saudita e Rússia impediram a conferência de adotar uma eliminação acelerada do petróleo, gás e carvão”, afirma Martin Kaiser, do Greenpeace. Mais de 80 países, principalmente da Europa, América Latina e pequenos estados insulares, defenderam esse roteiro até o fim, mas encontraram forte resistência de um grupo igualmente grande de países, incluindo Arábia Saudita, Índia, Rússia e China. Mesmo alguns dos países mais pobres do mundo acabaram não apoiando o plano. O ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Carsten Schneider (SPD), disse estar “um pouco decepcionado” com a falta de decisões mais ambiciosas.

Contudo, formou-se resistência contra as potências dos combustíveis fósseis: vários países latino-americanos – em particular a Colômbia, com sua dedicada delegada Daniela Durán – continuaram a defender a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, mesmo na sessão plenária de encerramento. O mundo precisa finalmente ouvir a ciência e agir, afirmou ela. A Colômbia planeja sediar uma conferência no próximo ano para discutir a eliminação gradual dos combustíveis fósseis. Resta saber se os maiores poluidores estarão presentes.

Em última análise, não houve uma decisão vinculativa para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, mas uma iniciativa voluntária para acelerar os esforços dos países em matéria de proteção climática foi acordada como o mínimo denominador comum. Isso reafirmou a decisão já tomada dois anos antes na COP 28 em Dubai (Emirados Árabes Unidos): no chamado Consenso dos Emirados Árabes Unidos, os países foram convocados a iniciar a transição para longe dos combustíveis fósseis. Lá, os países também se comprometeram a triplicar a capacidade de energia renovável até 2030, dobrar a taxa anual de melhoria da eficiência energética e reduzir as emissões de metano em 30%.

“Infelizmente, a COP 30 dá continuidade à tendência dos últimos anos e, mais uma vez, alimenta falsas esperanças.”

Instituto Johan Rockström  Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático

Após a aprovação na sessão plenária de encerramento, o presidente da conferência, Corrêa do Lago, tirou o equivalente a um coelho da cartola das profundezas do regimento interno da ONU: como presidente da COP até a COP 31, ele lançou a meta de desenvolver dois roteiros: um sobre combustíveis fósseis e outro sobre desmatamento. Com essa manobra, ele pode garantir que os roteiros façam parte do processo da COP e, ao mesmo tempo, aproveitar os recursos do Secretariado do Clima da ONU em Bonn. A continuidade dessas iniciativas, no entanto, dependerá dos futuros presidentes da COP. Aqui também houve um compromisso um tanto peculiar: Turquia e Austrália discutiram sobre quem deveria sediar a conferência climática do ano seguinte e finalmente concordaram que a conferência climática de 2026 aconteceria na cidade turística turca de Antalya, mas sob a presidência australiana. A COP 32 será então realizada em Addis Abeba, sob a presidência etíope.

O mundo está atualmente lutando para chegar a um acordo e precisa agir muito mais rápido. Eventos climáticos extremos estão se tornando cada vez mais frequentes – no início da conferência climática, fortes chuvas causaram inundações no sul do Brasil, e um tufão provocou muitas mortes no Vietnã e nas Filipinas. Um incêndio no local da conferência climática na quinta-feira teve um desfecho menos grave, felizmente resultando apenas em ferimentos leves em algumas pessoas.

Nos preparativos para a conferência, questionamentos foram levantados repetidamente sobre se a infraestrutura de Belém seria suficiente para um evento dessa magnitude. Devido à escassez de quartos de hotel, alguns participantes tiveram que se hospedar em navios de cruzeiro. O presidente brasileiro Lula escolheu deliberadamente a cidade amazônica para sediar a conferência, a fim de destacar a importância da conservação florestal. No início da conferência, foi lançado um novo fundo, com o objetivo de destinar bilhões de dólares anualmente a países tropicais para a proteção das florestas tropicais. No entanto, resta saber se a quantia arrecadada será suficiente. Os países participantes não conseguiram chegar a um acordo sobre um “roteiro para acabar com o desmatamento”, conforme prometido pelo presidente brasileiro.

A questão central da COP 30, no entanto, foi o financiamento da adaptação às mudanças climáticas. Durante a sessão plenária de encerramento, quase houve uma revolta quando Corrêa do Lago tentou aprovar a decisão sem considerar os comentários da plateia. Isso é permitido se apenas um ou dois países desejarem expressar sua oposição, mas inúmeros países europeus e africanos, bem como, surpreendentemente, quase todos os estados vizinhos do Brasil, se opuseram. A sessão plenária de encerramento foi, portanto, suspensa por um período prolongado, e as regras de procedimento da ONU foram consultadas: estas estipulam que uma resolução é válida assim que o martelo cerimonial do Presidente da COP for utilizado.

Isso significa que os países decidiram triplicar o financiamento para a adaptação às mudanças climáticas sem especificar o ponto de partida. No entanto, permanece incerto quanto financiamento estará realmente disponível em 2025, criticou Sabine Minninger, da organização Bread for the World. Devido à retirada dos EUA de seus compromissos e aos cortes no financiamento para o clima e o desenvolvimento, inclusive por parte da Alemanha, Minninger teme que o financiamento deste ano seja significativamente insuficiente. A especialista em clima da organização de desenvolvimento ligada à Igreja acredita que as decisões relativas à meta global de adaptação estão longe de ser adequadas para proteger efetivamente as populações mais pobres e vulneráveis.

Johan Rockström também se mostra bastante crítico em relação aos resultados. Dez anos após Paris, a COP 30 foi proclamada uma cúpula da “verdade” e da “implementação”, recorda o diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático. No entanto, ele argumenta que os chefes de Estado e de governo não cumpriram essa promessa. A única chance de manter o aquecimento global abaixo de 1,5 grau Celsius, calcula o cientista do sistema terrestre, reside em quebrar a curva de emissões globais até 2026 e, em seguida, reduzir as emissões em pelo menos cinco por cento a cada ano. Isso teria exigido roteiros concretos em Belém para uma eliminação acelerada dos combustíveis fósseis e para a proteção da natureza. Ambos estiveram ausentes, afirma Rockström: “Infelizmente, a COP 30 continua a tendência dos últimos anos e, mais uma vez, alimenta falsas esperanças.”

O que deu a Belém alguma esperança foi, principalmente, o povo: depois de anos de conferências climáticas realizadas em estados autoritários que reprimiam protestos, no Brasil a situação era diferente. Seja em manifestações em barcos, ocupações ou cúpulas paralelas, os ativistas se mostraram ativos, visíveis e criativos. Além disso, a participação de indígenas na conferência climática foi maior do que nunca. Esses esforços se refletem, ao menos em parte, nos resultados: os países conseguiram chegar a um acordo sobre um mecanismo para uma transição energética justa. Segundo a ONG Rede de Ação Climática, isso fortalece significativamente a vinculação dos direitos humanos à proteção climática.


Fonte: Neues Deutschland

Decisões meia-boca mostram fracasso da COP30 e aumentam a demanda por novos mecanismos de combate contra o colapso climático

Mais da metade da COP30 já passou, e o sábado foi marcado por avanços  diplomáticos, mobilizações populares e uma expectativa crescente por  resultados concretos - TV Pampa

Em março deste ano, escrevi um texto em que anunciei que a COP30 seria um fracasso.  O texto escrito para o jornal Nova Democracia. Afora meus apontamentos das muitas contradições entre discurso e prática no âmbito do governo Lula, eu indicava as limitações óbvias do próprio mecanismo das COPs que têm sido dominadas pelos lobbistas que representam os interesses dos grandes poluidores que estão na raiz da crise climática que nos envolve e ameaça colapsar partes inteiras do planeta.

A divulgação dos termos gerais do que foi acordado em Belém não só confirmam minhas análises, como jogam as soluções necessárias para um futuro que parece próximo, mas que é completamente distante do que precisamos para impedir o agravamento da crise climática.

Essa distância aparece nos principais compromissos que foram conseguidos após o risco de que nada poderia ser acordado por causa das resistência dos petroestados arábes e do seu patrono ausente, o governo Trump.

Pelo que pude ler, os representantes dos 194 estados presentes na COP30 concordaram em triplicar o financiamento para adaptação – um dinheiro que deverá ser fornecido pelas nações ricas e que é mais do que necessário para que os países vulneráveis ​​protejam suas populações . No entanto,  a meta de aproximadamente US$ 120 bilhões anuais foi adiada para 2035, restando saber quanto efetivamente será entregue até que se chegue a 2035.

Por outro lado, a questão fundamental da diminuição no uso dos combustíveis fósseis foi eliminada da declaração final da COP30, muito em função da resistência dos petroestados, a começar pela Arábia Saudita;  Desta forma, qualquer compromisso com um roteiro para a transição para longe dos combustíveis fósseis não fez parte do acordo formal em Belém, o que objetivamente abrirá mais espaço ainda para que se acelere a exploração e consumo dos derivados do petróleo.

Além disso, a COP30 termina sem qualquer mecanismo para acabar como  desmatamento nas florestas tropciais. A medida anunciada pelo Brasi, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (FFTS), foi mantido fora da declaração final, o que enfraquece a sua implementação já que os países ricos ficarão dispensados de entegarem as somas pretendidas pelo Brasil. De quebra, o uso de mecanismos de mercado para angariar recursos para o FFTS, o que sabemos implicar em práticas que inibirão as medidas que são efetivamente necessárias para combater o processo desmatamento.

Por último, a COP30 termina sem que haja qualquer acordo concreto para garantir a diminuição das emissões de gases estufa, algo imprescindível para manter o objetivo de aumento  da temperatura global no limite máximo de 1,5°C. A promessa de um programa para diminuir as emissões na COP31 equivale a mais uma promessa vaga que não possui qualquer garantia de que será adotada.

Como eu escrevi em março, é chegada a hora de se superar as soluções “meia boca” e de aceitar o limiar de praticar política no limite do que é possível. E os resultados de mais esta COP, mostra que precisamos de mecanismos de mobilização social que extrapolem o limiar dessas conferências controladas pelos que causam a crise climática para começo de conversa. O que se viu mesmo em Belém, especialmente nos enfrentamentos realizados para que os povos originários tivessem pelo menos acesso aos espaços de decisão, mostra que toda a energia social existente em relação à luta por uma adaptação climática justa precisa ser canalizada para espaços em que possam florescer em vez de serem domesticadas.

Investigação revela que mais de 300 lobistas do agronegócio participam da COP30

Lobistas representando a indústria responsável por um quarto a um terço das emissões globais participaram de negociações importantes na cúpula climática da ONU 

Pessoas seguram cartazes com os dizeres "emergência climática, nós somos a resposta".

Indígenas protestam por justiça climática e proteção territorial durante a COP30, a conferência climática da ONU, em Belém, Brasil, em 17 de novembro de 2025. Fotografia: Anderson Coelho/Reuters

Por Rachel Sherrington e Nina Lakhani para “The Guardian”

Mais de 300 lobistas da agroindústria participaram das negociações climáticas da ONU deste ano, realizadas na Amazônia brasileira, onde o setor é a principal causa do desmatamento, segundo uma nova investigação.

O número de lobistas representando os interesses da pecuária industrial, dos grãos e dos pesticidas aumentou 14% em relação à cúpula do ano passado em Baku – e é maior do que a delegação da décima maior economia do mundo, o Canadá, que levou 220 delegados à COP30 em Belém, de acordo com a investigação conjunta da DeSmog e do The Guardian.

Um em cada quatro dos grandes lobistas da agricultura (77) participam da COP30 como parte de uma delegação oficial de um país, com um pequeno subconjunto (seis) com acesso privilegiado às negociações da ONU, onde os países devem elaborar políticas ambiciosas para conter a catástrofe climática global.

A agricultura é responsável por um quarto a um terço das emissões globais e os cientistas afirmam que será impossível atingir as metas do Acordo de Paris de 2015 sem mudanças radicais na forma como produzimos e consumimos alimentos.

A pecuária é o principal fator de desmatamento na Amazônia, seguida pela produção industrial de soja, utilizada principalmente para ração animal. Cientistas alertam que até metade da floresta amazônica pode atingir um ponto de inflexão até 2050 devido ao estresse hídrico, ao desmatamento e às mudanças climáticas.

“Mais de 300 lobistas do agronegócio ocupam o espaço na COP30 que deveria pertencer aos povos da floresta. Enquanto falam em transição energética, despejam petróleo na bacia amazônica e privatizam rios como o Tapajós para o cultivo de soja. Para nós, isso não é desenvolvimento, é violência”, afirmou Vandria Borari, da Associação Indígena Borari Kuximawara, do território Alter do Chão.

As revelações surgem em meio à crescente frustração com o acesso irrestrito concedido a corporações que lucram com a manutenção da dependência global de combustíveis fósseis e/ou com a destruição de florestas e outros ecossistemas vitais para mitigar a catástrofe climática.

O setor alimentício industrializado celebrou a falta de ação nas recentes cúpulas climáticas, que não conseguiram recomendar metas vinculativas para a redução das emissões, do uso de combustíveis fósseis ou do consumo de carne. Um estudo de 2020 constatou que, mesmo que os combustíveis fósseis fossem eliminados imediatamente, a manutenção do status quo no setor alimentício provavelmente inviabilizaria a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais – e até mesmo a meta de 2°C.

Os setores de carne e laticínios enviaram o maior número de representantes, representando 72 dos 302 delegados. Esse número é quase o dobro do total de negociadores da Jamaica, a nação caribenha devastada pelo furacão Melissa no mês passado – uma supertempestade que, segundo cientistas, foi intensificada pelo aquecimento global causado pela ação humana. A Índia, um país com 1,45 bilhão de habitantes que enfrenta grandes desafios climáticos, enviou uma delegação de 87 negociadores.

Segundo uma análise recente da Friends of the Earth US, as emissões das 45 maiores empresas de carne e laticínios são equivalentes às da Arábia Saudita, o maior produtor de petróleo do mundo. A JBS, a maior empresa de carne do mundo, responsável sozinha por um quarto (24%) das emissões, tem oito lobistas na COP30, incluindo seu CEO, Gilberto Tomazoni.

Os agroquímicos – pesticidas e fertilizantes sintéticos – contam com 60 delegados, e os biocombustíveis com 38 representantes – um aumento de 138% em relação ao ano passado. A gigante dos pesticidas Bayer enviou 19 lobistas, o maior número, enquanto a Nestlé tem nove.

A maioria dos fertilizantes sintéticos é derivada de combustíveis fósseis e emite óxido nitroso – um gás de efeito estufa 300 vezes mais potente que o CO2, sendo a agricultura a principal responsável por sua emissão.

“Essas descobertas comprovam que a agricultura industrial conseguiu cooptar a convenção climática. A COP jamais alcançará ações climáticas efetivas enquanto os lobistas da indústria tiverem permissão para influenciar governos e negociadores”, afirmou Lidy Nacpil, do Movimento dos Povos Asiáticos sobre Dívida e Desenvolvimento.

A alimentação não é o foco das negociações deste ano, mas o setor tem a ganhar com vários temas importantes em discussão, incluindo decisões sobre biocombustíveis – muitos dos quais são produzidos a partir de produtos agrícolas como milho e soja, que contribuem para o desmatamento.

O Brasil está empenhado em quadruplicar o uso de biocombustíveis, que muitas vezes são comercializados como energia verde – mas um estudo recente constatou que eles podem gerar 16% mais emissões do que os combustíveis fósseis devido aos impactos do uso da terra no cultivo de monoculturas.

Outro fator crucial é o financiamento climático, do qual os maiores poluidores agrícolas do mundo – que já são grandes beneficiários de subsídios públicos – estão se posicionando para receber grandes parcelas.

“O que está acontecendo em Belém não é uma conferência climática, mas uma negociação de reféns sobre o futuro do planeta, onde aqueles que detêm os detonadores – os barões da soja, os cartéis da carne, os vendedores de pesticidas – estão sentados à mesa como mediadores honestos”, disse Raj Patel, autor de Stuffed and Starved: The Hidden Battle for the World Food System (Enchidos e Famintos: A Batalha Oculta pelo Sistema Alimentar Mundial).

“Esses lobistas da indústria alimentícia estão comprando acesso e legitimidade por meio de políticos dispostos a aceitar seus cheques enquanto o planeta queima”, acrescentou Patel, professor de pesquisa na Escola de Assuntos Públicos Lyndon B. Johnson da Universidade do Texas, em Austin.

A análise baseia-se na lista provisória da UNFCCC com 56.000 delegados da COP30 e inclui representantes das maiores corporações de carne e laticínios, pesticidas e fertilizantes, processadores de alimentos, comerciantes de commodities e sementes, varejistas de alimentos e biocombustíveis. Os números também incluem grupos comerciais globais e regionais, além de sindicatos e institutos nacionais de agricultores com vínculos corporativos e/ou histórico de lobby alinhado às demandas da indústria.

Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) , principal braço de lobby do agronegócio no Congresso, apoiou diversas leis antiambientais controversas, incluindo um projeto de lei que restringe a demarcação e o acesso à terra para populações indígenas, e tentou revogar a moratória da soja na Amazônia, um acordo voluntário histórico para bloquear a venda de soja ligada ao desmatamento.

O Instituto da Carne – que representa 350 empresas de processamento e embalagem de carne, responsáveis ​​por 95% da produção de carne e aves nos EUA – possui dois delegados. A associação comercial tem feito forte lobby contra regulamentações, incluindo a oposição a iniciativas que obrigam as empresas americanas a divulgar a extensão total de suas emissões, e contra mudanças nas diretrizes alimentares para a redução do consumo de carne vermelha.

Nos Estados Unidos, as corporações do agronegócio e os grupos comerciais gastaram bem mais de meio bilhão de dólares em lobby no Congresso entre 2019 e 2023 para obter legislação favorável, então não é surpreendente ver o agronegócio em larga escala na COP30, de acordo com Karen Perry Stillerman, vice-diretora do programa de alimentos e meio ambiente da União de Cientistas Preocupados.

“Os defensores já estão pedindo que a indústria de combustíveis fósseis e sua desinformação sejam banidas das futuras negociações climáticas, e a influência do agronegócio é igualmente tóxica… não teremos sistemas alimentares sustentáveis, justos, saudáveis ​​ou resilientes às mudanças climáticas em nenhum lugar do mundo enquanto as gigantescas empresas do agronegócio e da alimentação estiverem ditando as regras.”

A participação da agroindústria aumentou 71% em comparação com a COP27 em Sharm el-Sheikh, mas está abaixo do recorde da COP28 em Dubai, que foi a maior cúpula da ONU de todos os tempos, com 86.000 delegados, em comparação com os 56.000 inscritos no Brasil.

Um porta-voz da Bayer afirmou: “Temos sido transparentes em relação aos nossos compromissos com a COP… apoiamos firmemente as ações para evitar a crise climática. O processo exige o envolvimento de todos.”

Um porta-voz da JBS afirmou em comunicado: “A JBS, como empresa do setor alimentício, concentra-se em aumentar a produtividade agrícola, aprimorar a eficiência do sistema alimentar e reduzir as perdas e o desperdício de alimentos.”

A Nestlé, a CNA e o Instituto da Carne não responderam aos pedidos de comentários. A presidência brasileira da COP30 e a UNFCCC também não responderam aos pedidos de comentários.


Fonte: The Guardian

Declaração da Cúpula dos Povos rumo à COP30

Cúpula dos Povos luta por justiça climática – Radis Comunicação e Saúde

Nós, da Cúpula dos Povos, reunidos em Belém do Pará, na Amazônia brasileira, de 12 a 16 de novembro de 2025, declaramos aos povos do mundo o que acumulamos em lutas, debates, estudos, intercâmbios de experiências, atividades culturais e depoimentos, ao longo de vários meses de preparação e nestes dias aqui reunidos.

Nosso processo reuniu mais de 70.000 pessoas que compõem movimentos locais, nacionais e internacionais de povos originários e tradicionais, camponeses/as, indígenas, quilombolas, pescadores/as, extrativistas, marisqueiras, trabalhadores/as da cidade, sindicalistas, população em situação de rua, quebradeiras de coco babaçu, povos de terreiro, mulheres, comunidade LGBTQIAPN+, jovens, afrodescendentes, pessoas idosas, dos povos da floresta, do campo, das periferias, dos mares, rios, lagos e mangues. Assumimos a tarefa de construir um mundo justo e democrático, com bem viver para todas e todos. Somos a unidade na diversidade.

O avanço da extrema direita, do fascismo e das guerras ao redor do mundo exacerba a crise climática e a exploração da natureza e dos povos. Os países do norte global, as corporações transnacionais, e as classes dominantes são os maiores responsáveis por essas crises. Saudamos a resistência e nos solidarizamos com todos os povos que estão sendo cruelmente atacados e ameaçados pelas forças do império estadunidense, Israel e seus aliados da Europa. Há mais de 80 anos, o povo palestino tem sido vítima de genocídio praticado pelo Estado sionista de Israel, que bombardeou a faixa de Gaza, deslocou pela força milhões de pessoas e matou dezenas de milhares de inocentes, a maioria crianças, mulheres e idosos. Nosso repúdio total ao genocídio praticado contra a Palestina. Nosso apoio e abraço solidário ao povo que bravamente resiste, e ao movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS).

Ao mesmo tempo, no mar do Caribe, os Estados Unidos intensificam sua presença imperial. Fazem-no expandindo operações conjuntas, acordos e bases militares, em conluio com a extrema direita, sob o pretexto de combate ao narcotráfico e ao terrorismo, como com a operação recém anunciada “Lança do Sul”. O imperialismo segue ameaçando a soberania dos povos, criminalizando movimentos sociais e legitimando intervenções que historicamente serviram aos interesses privados na região. Nos solidarizamos à resistência da Venezuela, Cuba, Haiti, Equador, Panamá, Colômbia, El Salvador, República Democrática do Congo, Moçambique, Nigéria, Sudão, e com os projetos de emancipação dos povos do Sahel, Nepal e de todo o mundo.

Não há vida sem natureza. Não há vida sem a ética e o trabalho de cuidados. Por isso, o feminismo é parte central do nosso projeto político. Colocamos o trabalho de reprodução da vida no centro, é isso que nos diferencia radicalmente dos que querem preservar a lógica e a dinâmica de um sistema econômico que prioriza o lucro e a acumulação privada de riquezas.

Nossa visão de mundo está orientada pelo internacionalismo popular, com intercâmbios de conhecimentos e saberes, que constroem laços de solidariedade, lutas e de cooperação entre nossos povos. As verdadeiras soluções são fortalecidas por esta troca de experiências, desenvolvidas em nossos territórios e por muitas mãos. Temos o compromisso de estimular, convocar e fortalecer essas construções. Por isso, saudamos o anúncio da construção do Movimento Internacional de Atingidas e Atingidos por barragens, pelos crimes socioambientais e pela crise climática.

Iniciamos nossa Cúpula dos Povos navegando pelos rios da Amazônia que, com suas águas, nutrem todo o corpo. Como o sangue, sustentam a vida e alimentam um mar de encontros e esperanças. Reconhecemos também a presença dos encantados e de outros seres fundamentais na cosmovisão dos povos originários e tradicionais, cuja força espiritual orienta caminhos, protege territórios e inspira as lutas pela vida, pela memória e por um mundo de bem viver.

Depois de mais de dois anos de construção coletiva e de realizar a Cúpula dos Povos, afirmamos:

  1. O modo de produção capitalista é a causa principal da crise climática crescente. Os principais problemas ambientais do nosso tempo são consequência das relações de produção, circulação e descarte de mercadorias, sob a lógica e domínio do capital financeiro e das grandes corporações capitalistas.
  2. As comunidades periféricas são as mais afetadas pelos eventos climáticos extremos e o racismo ambiental. Enfrentam, por um lado, a ausência de políticas de infraestrutura e de adaptação. Por outro, a falta de ações de justiça e reparação, em especial às mulheres, jovens, pessoas empobrecidas e não brancas.
  3. As empresas transnacionais, em cumplicidade com governos do norte global, estão no centro de poder do sistema capitalista, racista e patriarcal, sendo os atores que mais causam e mais se beneficiam das múltiplas crises que As indústrias de mineração, energia, das armas, o agronegócio e as Big Techs são as principais responsáveis pela catástrofe climática em que vivemos.
  4. Somos contrários a qualquer falsa solução a crise climática que venha a perpetuar práticas prejudiciais, criar riscos imprevisíveis e desviar a atenção das soluções transformadoras e baseadas na justiça climática e dos povos, em todos os biomas e Alertamos que o TFFF, sendo um programa financeirizado, não é uma resposta adequada. Todos os projetos financeiros devem estar sujeitos a critérios de transparência, acesso democrático, participação e benefício real para as populações afetadas.
  5. É evidente o fracasso do atual modelo de São cada vez mais recorrentes os crimes ambientais e os eventos climáticos extremos que ocasionam mortes e destruição. Isto demonstra o fracasso das inúmeras conferências e reuniões mundiais que prometeram resolver esses problemas, mas nunca enfrentaram as suas causas estruturais.
  6. A transição energética está sendo implementada sob a lógica capitalista. Apesar da ampliação das fontes renováveis, não houve redução nas emissões de gases de efeito estufa. A expansão das fontes de produção energética acabou por se configurar também como um novo espaço de acumulação de capital.
  7. Finalmente, afirmamos que a privatização, mercantilização e financeirização dos bens comuns e serviços públicos contrariam frontalmente os interesses populares. Nestes marcos, as leis, instituições de Estado e a imensa maioria dos governos foram capturados, moldados e subordinados à busca do lucro máximo pelo capital financeiro e pelas empresas transnacionais. São necessárias políticas públicas para avançar na recuperação dos Estados e enfrentar as      privatizações.

Frente a esses desafios, propomos:

  1. O enfrentamento às falsas soluções de mercado. O ar, as florestas, as águas, as terras, os minérios e as fontes de energia não podem permanecer como propriedade privada nem serem apropriados, porque são bens comuns dos povos.
  2. Cobramos que haja participação e protagonismo dos povos na construção de soluções climáticas, reconhecendo os saberes ancestrais. A multidiversidade de culturas e de cosmovisões, carrega sabedoria e conhecimentos ancestrais que os Estados devem reconhecer como referências para soluções às múltiplas crises que assolam a humanidade e a Mãe Natureza.
  3. Exigimos a demarcação e proteção das terras e territórios indígenas e de outros povos e comunidades locais, uma vez que são quem garantem a floresta Exigimos dos governos o desmatamento zero, o fim das queimadas criminosas, e políticas de Estado para restauração ecológica e recuperação de áreas degradadas e atingidas pela crise climática.
  4. Reivindicamos a concretização da reforma agrária popular e o fomento à agroecologia, para garantia da soberania alimentar e combate à concentração fundiária. Os povos produzem alimentos saudáveis, a fim de eliminar a fome no mundo, com base na cooperação e acesso a técnicas e tecnologias de controle popular. Esse é um exemplo de verdadeira solução para combater a crise climática.
  5. Demandamos o combate ao racismo ambiental e a construção de cidades justas e periferias vivas através da implementação de políticas e soluções ambientais. Os programas de moradia, saneamento, acesso e uso da água, tratamento de resíduos sólidos, arborização, e acesso à terra e à regularização fundiária, devem considerar a integração com a natureza. Queremos o investimento em políticas de transporte público, coletivo e de qualidade, com tarifas zero. Essas são alternativas reais para o enfrentamento da crise climática nos territórios periféricos no mundo todo, que devem ser implementadas com o devido financiamento para adaptação climática.
  6. Defendemos a consulta direta, a participação e gestão popular das políticas climáticas nas cidades, para o enfrentamento às corporações do setor imobiliário que têm avançado na mercantilização da vida urbana. A cidade da transição climática e energética deverá ser uma cidade sem segregação e que abrace a Por fim, condicionar o financiamento climático a protocolos que visem a permanência habitacional e, em última instância, a indenização justa para pessoas e comunidades com garantia de terra e moradia, tanto no campo quanto nas cidades.
  7. Exigimos o fim das guerras e a desmilitarização. Que todos os recursos financeiros destinados às guerras e à indústria bélica sejam revertidos para a transformação desse mundo. Que as despesas militares sejam direcionadas à reparação e recuperação de regiões atingidas por desastres climáticos. Que sejam tomadas todas as medidas necessárias para impedir e pressionar Israel, responsabilizando-o pelo genocídio cometido contra o povo palestino.
  8. Exigimos a justa e plena reparação das perdas e danos impostos aos povos pelos projetos de investimento destrutivos, pelas barragens, mineração, extração de combustíveis fósseis e desastres climáticos. Também exigimos que sejam julgados e punidos os culpados pelos crimes econômicos e socioambientais que afetam milhões de comunidades e famílias em todo o mundo.
  9. Os trabalhos de reprodução da vida devem ser visibilizados, valorizados, compreendidos como o que são – trabalho – e compartilhados no conjunto da sociedade e com o Estado. Esses são essenciais para a continuidade da vida humana e não humana no Isso também garante autonomia das mulheres, que não podem ser responsabilizadas individualmente pelo cuidado, mas devem ter suas contribuições consideradas: nosso trabalho sustenta a economia. Queremos um mundo com justiça feminista, autonomia e participação das mulheres.
  10. Demandamos uma transição justa, soberana e popular, que garanta os direitos de todos os trabalhadores e trabalhadoras, bem como o direito a condições de trabalho dignas, liberdade sindical, negociação coletiva e proteção social. Consideramos a energia como um bem comum e defendemos a superação da pobreza e da dependência energética. Tanto o modelo energético, quanto a própria transição, não podem violar a soberania de nenhum país do mundo.
  11. Exigimos o fim da exploração de combustíveis fósseis e apelamos aos governos para que desenvolvam mecanismos para garantir a não proliferação de combustíveis fósseis, visando uma transição energética justa, popular e inclusiva com soberania, proteção e reparação aos territórios. Em particular na Amazônia e demais regiões sensíveis e essenciais para a vida no planeta.
  12. Lutamos pelo financiamento público e taxação das corporações e dos mais Os custos da degradação ambiental e das perdas impostas às populações devem ser pagos pelos setores que mais se beneficiam desse modelo. Isso inclui fundos financeiros, bancos e corporações do agronegócio, do hidronegócio, aquicultura e pesca industrial, da energia e da mineração. Esses atores também devem arcar com os investimentos necessários para uma transição justa e voltada às necessidades dos povos.
  13. Exigimos que o financiamento climático internacional não passe por instituições que aprofundam a desigualdade entre Norte e Sul, como o FMI e o Banco Mundial. Ele deve ser estruturado de forma justa, transparente e democrática. Não são os povos e países do Sul global que devem continuar pagando dívidas às potências dominantes. São esses países e suas corporações que precisam começar a saldar a dívida socioambiental acumulada por séculos de práticas imperialistas, colonialistas e racistas, pela apropriação de bens comuns e pela violência imposto a milhões de pessoas mortas e escravizadas.
  14. Denunciamos a contínua criminalização dos movimentos, a perseguição, o assassinato e desaparecimento de nossas lideranças que lutam em defesa de seus territórios, bem como aos presos políticos e presos palestinos que lutam por libertação Reivindicamos a ampliação da proteção de defensores e defensoras de direitos humanos e socioambientais na agenda climática global, no marco do Acordo de Escazú e outras normativas regionais. Quando um defensor protege o território e a natureza, ele não protege apenas um indivíduo, mas todo um povo e beneficia toda a comunidade global.
  15. Reivindicamos o fortalecimento de instrumentos internacionais que defendam os direitos dos povos, seus direitos consuetudinários e a integridade dos Precisamos de um instrumento internacional juridicamente vinculante em matéria de direitos humanos e empresas transnacionais, que seja construído desde a realidade concreta das lutas das comunidades atingidas pelas violações cometidas, exigindo direitos para os povos e regras para as empresas. Afirmamos ainda que a Declaração dos Direitos Campesinos e de Outras Pessoas que Trabalham nas Áreas Rurais (UNDROP) deve ser um dos pilares da governança climática. A plena implementação dos direitos camponeses devolve o povo aos territórios, contribui diretamente para a sua alimentação, para o cuidado do solo e o esfriamento do planeta.

Por fim, consideramos que é tempo de unificar nossas forças e enfrentar o inimigo comum. Se a organização é forte, a luta é forte. Por esta razão, a nossa tarefa política principal é o trabalho de organização dos povos em todos os países e continentes. Vamos enraizar nosso internacionalismo em cada território e fazer de cada território uma trincheira da luta internacional. É tempo de avançar de modo mais organizado, independente e unificado, para aumentar nossa consciência, força e combatividade. Este é o caminho para resistir e vencer.

Povos do mundo: Uni-vos”

As metas climáticas estão desaparecendo e emissões estagnam em níveis altos

A primeira semana da COP 30 em Belém está chegando ao fim. Poucos resultados tangíveis são visíveis, mas um grande número de lobistas está presente

8.JPG

O planeta está em chamas, e os países ricos têm uma parcela desproporcional da culpa (grandes incêndios na Espanha em agosto). 

Por Wolfgang Pomrehn para “JungeWelt”

A primeira semana da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) está chegando ao fim em Belém, Brasil . Os resultados não são esperados antes da próxima sexta-feira e provavelmente não serão muito melhores do que os dos últimos 30 anos. Isso se deve, em grande parte, aos cerca de 1.600 lobistas registrados da indústria de petróleo e gás – o maior contingente desse tipo em tempos recentes. Quase 600 deles são membros de delegações nacionais e, portanto, têm acesso às negociações a portas fechadas. Essa é a conclusão de uma análise publicada na sexta-feira pela aliança “Kick Big Polluters Out”, que reúne mais de 450 organizações ambientais e de justiça climática de todo o mundo.

Entretanto, as emissões de gases de efeito estufa estagnaram em níveis recordes. De acordo com o Global Carbon Project (GCP), as emissões de CO2 na América do Norte e na Europa voltaram a aumentar recentemente, enquanto o aumento na Índia e na China diminuiu significativamente. Além disso, houve uma ligeira redução na liberação de gases de efeito estufa devido ao desmatamento e outras mudanças no uso da terra. No total, as emissões somaram aproximadamente 42,2 bilhões de toneladas de CO2. Consequentemente, a concentração de CO2 na atmosfera também está aumentando, intensificando ainda mais o efeito estufa. Nos últimos anos, o aumento foi o mais expressivo em pelo menos 70 anos, período que se iniciou desde as primeiras medições representativas de CO2. Os cientistas do GCP estimam que 8% do aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera durante esse período foi consequência dos efeitos já em curso das mudanças climáticas. Em outras palavras, um ciclo de retroalimentação foi iniciado, exacerbando os problemas.

No entanto, os compromissos voluntários apresentados pelos Estados para as negociações estão muito aquém dessa realidade: de acordo com diversas análises do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do recém-publicado Relatório de Ação Climática, eles são insuficientes para limitar o aquecimento global a 2,3 ou 2,5 graus Celsius, talvez até mesmo a apenas 2,6 graus Celsius, acima dos níveis pré-industriais. Além disso, não há nenhuma garantia de que todas as metas estabelecidas serão de fato atingidas. O plano do governo alemão, adotado na noite de quinta-feira, de construir novas usinas termelétricas a gás subsidiadas, por exemplo, contradiz diretamente essa situação.

Talvez devêssemos falar com mais precisão em aquecimento global, visto que o Acordo de Paris, firmado há dez anos, estipulou que o aquecimento deveria ser mantido “bem abaixo de dois graus” e, se possível, não ultrapassar 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais. Ultrapassando esse limite de 1,5 grau — e a ciência climática concorda amplamente com isso —, cada vez mais subsistemas do clima planetário sofrerão alterações e entrarão em um modo diferente por um período muito, muito longo. Por exemplo, já existem sinais crescentes de que a Corrente do Golfo está enfraquecendo e, para os recifes de coral, qualquer ajuda parece tardia; eles estão começando a morrer em todo o mundo. Assim, nações insulares estão perdendo a proteção vital contra as ondas, milhões de pessoas perdem sua renda da pesca e do turismo, e a humanidade, uma importante fonte de proteína.

Este é, na verdade, um ponto que levanta a questão da compensação. De fato, essa questão é levantada repetidamente por muitos representantes do Sul Global, tanto governos quanto organizações da sociedade civil. No entanto, os países ricos, responsáveis ​​pela grande maioria dos gases de efeito estufa acumulados na atmosfera, resistem veementemente a isso. Aliás, a Alemanha ocupa o sexto lugar entre os países com as maiores emissões acumuladas, atrás de países que têm populações consideravelmente maiores. Pelo menos os países ricos agora se comprometeram contratualmente a fornecer assistência financeira aos países mais pobres para adaptação às mudanças climáticas e desenvolvimento de tecnologias amigas do clima. Como e em que medida essa assistência deve ser fornecida é, como nos anos anteriores, objeto de intenso debate em Belém.


Fonte: JungeWelt

Lideranças sociais e participantes da Cúpula dos Povos na COP 30 discutem futuro climático e unificam lutas globais

Fotos: Samara Silva/Ag.EficazPress 

BELÉM (PA) – A discussão sobre o futuro climático e social ganhou destaque no Eixo 3 da Plenária da Cúpula dos Povos, com a participação de importantes líderes que defendem uma transformação radical nos modelos econômicos vigentes. O debate reuniu perspectivas globais e de base, focadas na desconstrução do sistema de exploração e comercialização de recursos naturais e na garantia de direitos para os povos do Sul Global.

Exigência de transformação sistêmica e democrática

Fernando Tormos-Aponte, sociólogo político, pesquisador e membro da Just Transition Alliance (Aliança para a Transição Justa), nos Estados Unidos. articulou a necessidade de uma mudança que vá além das soluções de mercado. Sua fala apontou diretamente para a raiz estrutural das crises:

“Nós estamos exigindo ir contra o sistema capitalista, racista e patriarcal que consistentemente prioriza o lucro e a acumulação em detrimento da vida e da natureza. Vemos o impacto desse sistema na privatização de todos os serviços sociais, onde aquilo que não gera lucro não merece atenção. Propomos, portanto, um sistema diferente que não coloque o lucro antes da vida. E para isso temos que ter uma transformação sistêmica. Nós sabemos que essa transformação é um processo que leva a outras pessoas afetadas por essas transições. E essa é uma aposta na democracia.”

A perspectiva da classe trabalhadora brasileira foi trazida por Rosalina Amorim, secretária Nacional de Meio Ambiente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que destacou a urgência de democratizar a energia. Rosalina criticou veementemente a forma como a transição energética tem sido implementada, sem garantir o acesso das comunidades mais distantes e penalizando a classe trabalhadora. Ela reforçou que é preciso estar na linha de frente da discussão para garantir que a energia não se torne mais um fator de exclusão e que a classe trabalhadora não seja a principal vítima desse processo.

O ativista Farai Maguwu, diretor Fundador do CNRG (Centre for Natural Resource Governance), no Zimbábue somou-se à discussão, trazendo a perspectiva africana da luta contra a exploração e comercialização de recursos naturais e os abusos de direitos humanos ligados a esse comércio. Sua atuação, especialmente na denúncia de crimes relacionados a diamantes no Zimbábue, reforça a necessidade de controlar o capital transnacional e garantir a soberania sobre os recursos naturais.

O consenso na Plenária Eixo 3 é que a Transição Justa e Popular deve ser um processo guiado pela democracia, justiça social e pelo abandono de um sistema que coloca o lucro acima da vida.

Em comum: a dor une lutas globais na Cúpula dos Povos

A Plenária do Eixo 3 da Cúpula dos Povos abriu espaço para um momento de fundamental importância: o compartilhamento direto das dores e injustiças sentidas em diferentes partes do mundo. A força desse momento reside na constatação de que, embora atuem em países e organizações distintas, os ativistas são movidos por um impulso comum: o enfrentamento às mazelas geradas pelo mesmo sistema capitalista e exploratório.

As narrativas convergiram para uma única direção, provando que a crise é sistêmica. Maria das Graças Lima Bento, atingida pelo crime da Samarco, VALE e BHP, barragem de Fundão em 2015, em Mariana, trouxe o drama vivido em Barra Longa, Minas Gerais. Ao descrever a devastação da lama que comprometeu os terrenos de plantio e a renda familiar, ela ressaltou que a luta pelos direitos conquistados — como o Programa de Transferência de Renda (PTR) — já dura dez anos, e que sua participação é em solidariedade a todos os atingidos, seja por barragens ou outras formas de exploração.

Essa luta contra a negação de direitos encontra eco nas críticas diretas às estruturas de poder. Moira, ativista Mapuche da Patagônia, fez grande apelo pela mudança de paradigma político, defendendo que a terra seja reconhecida como sujeito histórico e social nas discussões democráticas, e não apenas as pessoas. Ela criticou duramente os atuais “modelos de países que negam o direito dos povos indígenas e, sobretudo, que negam a terra”, classificando as nações sul-americanas como “repúblicas coloniais”.

A responsabilidade global por essa estrutura foi destacada por Tyrone Scott, da organização britânica War on Want. Scott definiu a Cúpula como um processo coletivo de imaginação e organização dos movimentos da América Latina, África, Ásia e Europa que se recusam a ver a ideia de transição ser “capturada” pelo status quo. Scott chamou a atenção para a responsabilidade histórica e contínua do Norte Global sobre o caos climático e a morte ecológica, defendendo que não pode haver transição justa no Sul sem que as nações e corporações ricas se contabilizem por terem causado a crise.

Em essência, as falas, unidas pela mesma motivação, ecoam a crítica feita por Rosalina Amorim (CUT Brasil) em outro momento da plenária: a rejeição a qualquer transformação energética que seja implementada sem garantir o acesso às comunidades mais distantes ou que penalize a classe trabalhadora, reforçando a urgência da democratização da energia e dos recursos. O clamor coletivo é claro: a dor da exploração capitalista é o motor para a construção de uma frente unificada por um futuro justo.

Encerramento

Com a conclusão das contribuições, o Eixo da Transição Justa, Inclusiva e Popular se encerra, celebrando a Unidade e a Esperança que marcam os espaços da Cúpula dos Povos. O documento de síntese, enriquecido pelos aportes de quase 30 ativistas, seguirá agora para a Declaração Final, e todos os participantes são convidados a se dirigirem à Tenda Solidariedade, onde se encontrarão com os demais eixos em um passo crucial para a consolidação de uma frente unificada de luta.


Fonte: Ascom Operativo Nacional da Cúpula