Em Portugal é assim: mostra sobre contribuição da Revolução Russa na cultura científica não causa protestos nem pedidos de fechamento

Estive hoje no Museu Nacional da História Natural e da Ciência para assistir a uma peça de teatro que ocorria em um pátio interno, e ao passar por um dos corredores entrei por pouco tempo no interior da mostra “MARGEM ESQUERDA: A Revolução Russa e a Cultura Científica em Portugal no século XX.”  Lá pude ver alguns materiais relacionando a importância da Revolução Russa no desenvolvimento do pensamento científico, inclusive em Portugal.

pedlowski museu

Chegando em casa descobri que a mostra está sendo exposta desde o dia 07 de Novembro e foi aberta para marcar as celebrações dos 100 anos da Revolução Russa.  Segundo os organizadores da mostra, um fato que foi marcante na realização da revolução foi o seu impacto teórico na área das ciências a partir do uso do materialismo histórico dialético incluindo a História, a Filosofia e o conhecimento da Natureza.

Uma lembrança a mais sobre o impacto da Revolução Russa na cultura científica foi que “apesar de sujeito a uma ditadura de direita durante a maior parte da existência da URSS, Portugal não ficou alheio a este movimento.” [1].

Um detalhe a mais nessa visita: não vi sinais de protestos contra a realização da mostra , nem tive notícias de que houve qualquer protesto pedindo o seu fechamento. Coisa bem diferente do que aconteceria no Brasil se essa mostra tivesse sido organizada por algum museu que funcione com recursos públicos.  Esta diferença de comportamento apenas mostra como conseguimos regredir uma cultura política que já não era lá tão elevada. E deu no que deu, e estamos vendo os resultados disso na atual campanha eleitoral.


[1] https://www.museus.ulisboa.pt/pt-pt/margem-esquerda

Cientistas e a necessidade de transmitir conhecimento científico

A criação deste blog decorreu da minha insatisfação pessoal com os limites das formas tradicionais de comunicação da ciência, especialmente no tocante à necessidade de informar a sociedade sobre o que pode ser considerado “conhecimento científico”. Como parte do que faço sofre implicações diretas das ações das políticas do Estado e, por isso, forçosamente me vejo obrigado a transmitir fatos e opiniões que aparecem como politizadas, e não necessariamente decorrentes daquilo que eu e meu grupo de pesquisa desenvolvemos enquanto prática de investigação científica.

Interessante notar que a oposição e os primeiros ataques ao que é veiculado neste blog surgiram dentro da instituição onde trabalho, já que muitos colegas viram a construção deste blog como uma ação menor e sem valor científico. Alguns chegaram a me rotular de “blogueiro”, como se isto fosse algo menor e sem qualquer valor acadêmico.

Pois bem, hoje é celebrado em Portugal o “Dia Internacional do Microorganismo” e, em consequência disso, um evento internacional está sendo realizado no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa. Uma das palestras a que assisti versou exatamente sobre a importância dos cientistas fazerem um esforço explícito para comunicar o resultado de suas pesquisas à população, de forma ampliar a cultura científica, servindo assim para diminuir as possibilidades de que a desinformação (ou as “fake news”) sejam usadas para moldar a opinião pública.

Uma das experiências nesta palestra foi o uso da rede social “Twitter” como uma sala de aula virtual para disseminar conhecimentos sobre microbiologia, adotando-se os limites de palavras de cada tweet para se estruturas aulas de 30 a 40 minutos, nas quais são distribuídos links para vídeos, imagens e conteúdos.

Entender esse papel da disseminação da cultura científica será fundamental para o futuro da própria ciência, na medida em que estamos enfiados num contexto histórico onde a negação do papel do conhecimento e da cultura científica estão sendo utilizados para abrir caminho para políticas que implicam, no caso de países como o Brasil, numa profunda regressão nos já precários índices de desenvolvimento humano.  

O problema, no caso do Brasil, parece ser a extrema dificuldade que ainda estamos enfrentando dentro da própria comunidade científica para que se saia do conforto aparente do interior dos muros universitários (metafóricos ou reais) para se disseminar conhecimento numa sociedade onde esta é mais uma “commodity” que é negada à maioria da nossa população.