Para salvar a Amazônia , não bastará conter o desmatamento para reverter o estrago causado no governo Bolsonaro

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Uma observação dos dias iniciais do governo Lula e das ações da sua ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, indica que, ao menos no discurso, o governo federal voltará a agir para conter o desmatamento e a ação desenfreada de uma ampla gama de saqueadores que agiu livremente desde janeiro de 2019.  Um dos problemas a ser tratado inicialmente tem a ver com a retomada das estruturas de comando e controle que permitiram o controle das taxas de desmatamento entre 2003 2016, as quais foram explicitamente desmontadas por Jair Bolsonaro e seu anti-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Mas essa é apenas uma das muitas questões que terão de ser atacadas sob pena dos discursos iniciais não terem como consequência as ações que os mesmos ensejam.

Para mim que tenho estudado as diferentes dimensões do problema amazônico, um passo que precisa ser tomado para que haja alguma chance de se alcançar um cenário mais positivo na Amazônia é reconhecer que o processo de desmatamento não é mais o único (e talvez nem o mais importante) a afetar a sustentação das florestas amazônicas, pois hoje a degradação florestal se tornou algo igualmente ou até mais preocupante, como já ficou demonstrado no artigo que foi publicado pela revista Science em setembro de 2020, dos quais sou m dos autores. Entender que há uma dinâmica que combina desmatamento e degradação implicará na necessidade de superar compromissos anteriores com o chamado “Desmatamento Zero”, pois de nada adiantará não desmatar mais, se for permitido que diferentes atores continuem degradando legal ou ilegalmente as florestas amazônicas.

A partir disso há que estabelecer metas sérias para não permitir a intrusão de usos da terra que hoje são legitimados a partir do chamado “desmatamento legal” ou de compromissos feitos com base em critérios de permitir determinados plantios em áreas de desmatamento antigo, como foi o caso da Moratória da soja“. Tais compromissos só escondem a condescendência com o avanço da fronteira agrícola, pois a comunidade científica já demonstrou que a pressão por mais produção só é resolvida pelo aumento da área desmatada, como é o caso das culturas de exportação como soja, milho e cana de açúcar.

Além disso, há que se superar a ideia de que os problemas da Amazônia só serão resolvidos com a doação de bilhões de dólares por parte de governos estrangeiros, como no caso do Fundo Amazônia. Uma análise mais detalhada das reservas brasileiras mostra que o Brasil possui muito dinheiro estocado na forma de reservas, mas que a ação preferencial no seu uso é pelo pagamento da impagável dívida pública que só faz mesma a alegria das grandes instituições financeiras globais. De certa forma, quando países como Noruega e Alemanha “doam” dinheiro em troca de preservação ambiental, seus governos estão agindo para proteger os interesses dos controladores de grandes fundos financeiros globais que lucram com a especulação em torno da dívida brasileira.

Há ainda que se citar a necessidade de, a partir da reconstrução das cadeias de comando e controle, agir para identificar e punir os que se beneficiam da pilhagem das riquezas amazônicas, incluindo as grandes corporações de tecnologia que hoje estão entre as principais consumidoras do ouro que é retirado ilegalmente de terras indígenas. Mas o mesmo pode ser dito da madeira, pois um dos méritos (ou seria deméritos?)  da gestão de Ricardo Salles foi mostrar que há um fulgurante mercado internacional para a madeira roubada de unidades de conservação, terras indígenas e áreas públicas.

Por último, mas não menos importante, o governo Lula deveria abandonar imediatamente projetos para pavimentar estradas ( a polêmica BR-319 é um perfeito exemplo disso) e construir novas hidrelétricas. É que essa fórmula que mistura pavimentar e represar está na base dos usos insustentáveis da terra na Amazônia, e não será adicionando mais dessas estruturas que vamos chegar a um novo cenário. Achar que se poderá conter a destruição oferecendo as ferramentas que as possibilitam beira um exercício de auto enganação ou de um desejo  subliminar de deixar que a boiada continue passando.

Por todos os elementos que apontei acima, entendo que não será suficiente se apostar em um cenário pré-2016 para que se garanta as mudanças que a situação amazônica requer neste momento.  É que o avanço da franja de desmatamento e da degradação já coloca a Amazônia diante daquilo que diversos cientistas já definiram como um “ponto de não retorno“.  Isso implica que há que se avançar não apenas no entendimento do tamanho do problema, mas também de um compromisso com a criação de um modelo de desenvolvimento que além da dependência de se desmatar e degradar para gerar algum nível de atividade econômica.

Um terço da perda de vegetação nativa do Brasil desde o descobrimento aconteceu nos últimos 37 anos

Perfil da cobertura e uso da terra no Brasil alterou-se muito nos últimos 37 anos, agravando os desafios de preservação da segurança hídrica, alimentar e energética. Área ocupada pela agricultura cresceu 228% entre 1985 e 2021

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Entre 1985 e 2021, o Brasil perdeu 13,1% de vegetação nativa, entre florestas, savanas e outras formações não florestais. Esse território foi ocupado pela agropecuária, que agora responde por um terço do uso da terra no Brasil. Tais mudanças se revertem em uma série de desafios enfrentados pelo Brasil na gestão do uso da terra e que o MapBiomas debaterá em evento nesta sexta, 26/08, quando lançará a Coleção 7 dos mapas anuais de cobertura e uso da terra do Brasil feita a partir de imagens de satélite e que passa a incorporar dados de 2021.

Entre as principais constatações está o fato de que as alterações causadas pela ação do homem entre 1985 e 2021 foram muito intensas: elas correspondem a um terço (33%) de toda a área antropizada do país. Nesse período, o Brasil passou de 76% de cobertura da terra de vegetação nativa (florestas, savanas e outras formações não florestais), para 66%. Por outro lado, a área ocupada por agropecuária cresceu de 21% para 31% do país, com destaque para o crescimento de 228% das áreas de agricultura e que agora representam 7,4% do território nacional.

Outra tendência constatada foi a redução da superfície de água: nos últimos 30 anos (1991 a 2021), houve uma perda de 17,1%. O fenômeno ocorre especialmente no Pantanal, que é fortemente influenciado, por exemplo, pela variação da umidade gerada na evapotranspiração das árvores da Amazônia.

“Esta tendência de rápidas transformações representa grandes desafios para que o país possa se desenvolver e ocupar o território com sustentabilidade e prosperidade ”, explica Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas. “A ocupação do solo e a produção rural precisam ser compatibilizadas com a conservação dos biomas ”, completa.

A Coleção 7 do MapBiomas mostra que o processo de conversão de vegetação nativa em áreas de lavoura e pastagens foi mais intenso em algumas regiões, com destaque nos anos recentes para o Matopiba — área com predominância de Cerrado entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia — e a Amacro, na Amazônia Legal, entre os estados do Acre, Amazonas e Rondônia, e no Pampa no Rio Grande do Sul. No Matopiba se concentram 56,2% da perda de vegetação nativa no Cerrado nos últimos 20 anos. Já na AMACRO a perda de florestas aumentou fortemente na última década, representando 22% da perda de cobertura florestal na Amazônia contra 11% no período de 2000-2010. E o Pampa é o bioma de maior transformação proporcional tendo sua área de vegetação nativa reduzida de 61,3% para 46,3% em 37 anos. “Mesmo tendo como vegetação predominante os campos nativos que são plenamente compatíveis com a atividade pecuária, o Pampa vem sendo convertido para o cultivo agrícola, especialmente de soja e os plantios de eucalipto e pinus.”

Em todo o Brasil, entre 1985 e 2021 houve um acréscimo de 42,2 milhões de hectares de pastagem e 43,6 milhões de hectares de agricultura, o que representou um aumento de 39% da área de pastagem e 228% na agricultura. “Apesar de 72% da área de expansão da agricultura ter ocorrido sobre terras já antropizadas, principalmente pastagens, é importante ressaltar que 28% da mudança para lavoura temporária se deu sobre desmatamento e conversão direta de vegetação nativa”, afirma Laerte Ferreira, professor da Universidade Federal de Goiás e coordenador da Equipe de Mapeamento de Pastagem e do GT Solos do MapBiomas.

No caso da floresta amazônica, a importância das Terras Indígenas para sua preservação é destaque: a imagem da ocupação da terra deste bioma já permite ver contornos de algumas delas, como o mosaico de TIs que forma um corredor entre o sul do Pará e o norte de Mato Grosso. A nova coleção de dados do MapBiomas indica que a perda de vegetação nativa em territórios indígenas foi de apenas 0,8% entre 1985 e 2021, contra 21,5% fora de áreas protegidas na Amazônia.

 

Apesar de 66% do território ser coberto por vegetação nativa, isso não significa que essas áreas sejam na totalidade conservadas. A análise da evolução das mudanças de uso da terra ao longo dos anos aponta que pelo menos 8,2% de toda vegetação nativa existente é vegetação secundária, ou seja, são áreas que já foram desmatadas pelo menos uma vez nos últimos 37 anos ou já estavam desmatadas em 1985. Na Mata Atlântica, a proporção de vegetação secundária sobe para 27%. Por outro lado, foi constatado que a interrupção do processo de recuperação da vegetação nativa com novos desmatamentos também já é bem significativa, representando 32,9% do desmatamento na última década.

A Coleção 7 do MapBiomas traz mapas e dados anuais sobre a evolução de 27 classes de cobertura e uso da terra no Brasil desde 1985 a 2021 e inclui também módulo contendo dados sobre a evolução anual do desmatamento, vegetação secundária, irrigação, mineração e qualidade das pastagens. Entre as novidades da plataforma neste ano estão o módulo de visualização em 3D projetado sobre o relevo e ferramentas de análise temporal dos dados que permitem explorar com mais detalhes e profundidade as transformações que acontecem no território brasileiro.

“Os satélites nos ajudam a revelar os desafios de como expandir a agropecuária sem desmatamento, como proteger os recursos hídricos e como ocupações urbanas podem ser mais seguras e menos desiguais ”, explica Julia Shimbo, Coordenadora Científica do MapBiomas e Pesquisadora do IPAM.

Você pode encontrar mapas e gráficos aqui.

Sobre MapBiomas

Iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil, para buscar a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais, como forma de combate às mudanças climáticas. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa.

Desmatamento e degradação florestal estão fora de controle na Amazônia, mostram dados do DETER

Desmatamento nos primeiros quatro meses do ano é 70% maior do que em 2021.  É o pior resultado para o mês de abril desde 2016: o DETER registrou uma área de 1.012 km² sob alerta na Amazônia

desmatamento 2021

Em abril de 2022, o sistema de alertas de desmatamento em tempo real do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o DETER, registrou uma área de 1.012 km² sob alerta na Amazônia — um aumento de 75% em relação ao mesmo mês de 2021 (580 km²). É o pior resultado para o mês de abril desde 2016. Valor como este costuma ser atingido somente em maio e junho, quando chegamos próximo do pico sazonal de desmatamento. Os Estados em pior situação foram Amazonas (347 km²), Pará (287 km²) e Mato Grosso (242 km²). 

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“O contexto forma uma tempestade perfeita”, explica Raul Valle, diretor de Justiça Socioambiental do WWF-Brasil. “Internamente, temos três anos de impunidade, com redução das ações de controle, fiscalização e autuação, agravados em 2021 por um discurso ainda mais permissivo por causa da temporada eleitoral. E, com a guerra, a escassez de produtos aumenta o valor das commodities e vigora a falsa ideia de que é necessário desmatar mais para produzir mais, o que é um equívoco. A floresta não suportará mais quatro anos com essa pressão.”

É apenas o começo

Entre janeiro e abril, acumulam-se 1.954 km², valor 69% acima do mesmo período em 2021, que registrou 1.153 km². 

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“Esse valor é extremamente alto para esse período, que marca o início do período da seca na Amazônia quando o desmatamento costuma aumentar”, afirma Mariana Napolitano, gerente do WWF-Brasil para Ciências. “É um alerta da imensa pressão que a floresta está sofrendo nesse ano.”

Napolitano explica que, nesse ritmo, os recordes de destruição serão quebrados neste ano: “Esse desmatamento é majoritariamente ilegal, causado principalmente pelo aumento no roubo de terra pública (grilagem), do garimpo ilegal e conflitos cada vez mais intensos na região”.

“Os desmatadores dobraram a aposta em 2022 após três anos de impunidade e em clima eleitoreiro”, diz Raul Valle. “Há redução das ações de controle, fiscalização e autuação nessa gestão federal e, no Congresso, há um pacote de projetos de lei que promovem a destruição. A floresta fica cada vez mais perto de um ponto em que ela não vai conseguir se recuperar.”

Degradação

The most important drivers of forest degradation and deforestation in... |  Download Scientific Diagram

O aumento significativo na área sob alertas de degradação também é um sinal importante de outras formas de pressão sobre a floresta. “A degradação leva em conta áreas que sofreram corte seletivo, por exemplo. O corte seletivo pode alterar a estrutura florestal, mas não é considerado desmatamento. Porém, ele pode ser o primeiro estágio de um processo de remoção completa das árvores de uma floresta”, explica, Napolitano. Em abril, foram mais de 240km² de alertas nessa categoria, somando 506 km² nos primeiros quatro meses desse ano — praticamente o dobro da área observada no mesmo período de 2021 (256 km²).

Congresso Nacional e STF

Em Brasília, deputado federal do AM participa de manifestação contra 'Pacote  da Destruição'

A divulgação dos dados de desmatamento ocorre em meio à votação do “Pacote Verde” no STF (Supremo Tribunal Federal), que ações podem barrar a destruição. Entre os textos analisados pela Corte estão as ADPF 760, que pede a retomada do PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia) e o cumprimento das metas climáticas do Brasil; e da ADO (Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão) 54, que negligência a administração federal no combate ao desmatamento.

No dia 6 de abril, o julgamento foi interrompido a pedido do ministro André Mendonça, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro ao cargo, que solicitou mais tempo para analisar os processos. Segundo o regimento da Casa, o prazo é de 30 dias, mas ainda não há previsão para a análise no plenário.

Na contramão, o Congresso Nacional analisa os projetos do chamado “Pacote da Destruição”, que, se aprovados, vão piorar o desmatamento da Amazônia e ameaçam as populações indígenas e comunidades tradicionais, a exemplo da grave denúncia na Terra Indígena Yanomami. No último dia 25, o caso de uma menina ianomâmi de 12 anos que morreu após ser estuprada por garimpeiros chocou o país. Durante as buscas, a comunidade foi encontrada queimada e não havia mais ninguém.

COP26: Mais de 100 líderes fazem promessa histórica para acabar com o desmatamento

  • Líderes que representam mais de 85% das florestas do mundo se comprometerão a deter e reverter o desmatamento e a degradação da terra até 2030 na COP26 de hoje [terça]
  • £ 8,75 bilhões (US $ 12 bilhões) de fundos públicos serão comprometidos para proteger e restaurar as florestas, ao lado de £ 5,3 bilhões (US $ 7,2 bilhões) de investimento privado.
  • Os anúncios são parte de um pacote sem precedentes de compromissos econômicos e políticos para acabar com o desmatamento em todo o mundo.
  • O Primeiro Ministro, Sua Alteza Real o Príncipe de Gales e os líderes da Colômbia, Indonésia e Estados Unidos entre os que devem se dirigir ao evento COP26 Florestas e Uso da Terra hoje.

DEFORESTATION

 No maior passo adiante na proteção das florestas do mundo em uma geração, mais de 100 líderes se comprometerão a deter e reverter a perda florestal e a degradação da terra até 2030 em um evento convocado pelo primeiro-ministro britânico na COP26 hoje [terça-feira]. A promessa é apoiada por quase £ 14 bilhões (US $ 19,2 bilhões) em financiamento público e privado.

Países que vão desde as florestas do norte do Canadá e Rússia até as florestas tropicais do Brasil, Colômbia, Indonésia e República Democrática do Congo endossarão a Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso do Solo. Juntos, eles contêm 85% das florestas do mundo, uma área de mais de 13 milhões de milhas quadradas.

 As florestas são o pulmão de nosso planeta, absorvendo cerca de um terço do CO2 global liberado pela queima de combustíveis fósseis todos os anos, mas as estamos perdendo em uma taxa alarmante. Uma área de floresta do tamanho de 27 campos de futebol é perdida a cada minuto.

 O compromisso será apoiado por uma promessa de fornecer £ 8,75 bilhões (US $ 12 bilhões) de financiamento público de 12 países, incluindo o Reino Unido, de 2021 a 2025. Isso apoiará atividades em países em desenvolvimento, incluindo a restauração de terras degradadas, combate a incêndios florestais e apoio os direitos das comunidades indígenas.

Isso vai acompanhar pelo menos £ 5,3 bilhões (US $ 7,2 bilhões) de financiamento do setor privado recém-mobilizado. CEOs de mais de 30 instituições financeiras com mais de US $ 8,7 trilhões em ativos globais – incluindo Aviva, Schroders e Axa – também se comprometerão a eliminar o investimento em atividades ligadas ao desmatamento.

O primeiro-ministro Boris Johnson deve dizer no evento Forest & Land Use na COP26 hoje:

“Hoje, na COP26, os líderes assinaram um acordo histórico para proteger e restaurar as florestas da Terra. Esses grandes ecossistemas abundantes – essas catedrais da natureza – são os pulmões de nosso planeta. As florestas apoiam comunidades, meios de subsistência e abastecimento de alimentos, e absorvem o carbono que bombeamos para a atmosfera. Eles são essenciais para nossa própria sobrevivência. Com as promessas sem precedentes de hoje, teremos a chance de encerrar a longa história da humanidade como conquistador da natureza e, em vez disso, nos tornar sua guardiã.”

O presidente da Colômbia, Iván Duque, disse:

“A Colômbia tem o orgulho de endossar a Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra. A Declaração é um compromisso histórico dos países de trabalharem juntos para acabar com o desmatamento e toda degradação da terra na próxima década. Nunca antes tantos líderes, de todas as regiões, representando todos os tipos de florestas, uniram forças desta forma e a Colômbia está empenhada em fazer a sua parte. Vamos consagrar por lei o compromisso de desmatamento líquido zero até 2030 – um dos compromissos mais ambiciosos da América Latina – e de proteger 30% de nossos recursos terrestres e oceânicos até 2030.

“Agora devemos todos trabalhar em parceria com empresas, o setor financeiro, pequenos agricultores, povos indígenas e comunidades locais para criar as condições para que as economias positivas para a floresta cresçam e prosperem.”

 O presidente da Indonésia, Joko Widodo disse:

“A Indonésia é abençoada como o país mais rico em carbono do mundo em vastas florestas tropicais, manguezais, oceanos e turfeiras. Estamos comprometidos em proteger esses sumidouros de carbono críticos e nosso capital natural para as gerações futuras. Apelamos a todos os países para apoiar caminhos de desenvolvimento sustentável que fortaleçam os meios de subsistência das comunidades – especialmente indígenas, mulheres e pequenos proprietários.”

 O Reino Unido comprometerá £ 1,5 bilhão em cinco anos para apoiar a promessa das florestas, incluindo £ 350 milhões para as florestas tropicais na Indonésia e £ 200 milhões para a Coalizão LEAF.

 O Reino Unido também contribuirá com £ 200 milhões, juntamente com outros 11 doadores, como parte de um novo fundo de £ 1,1 bilhão (US $ 1,5 bilhão) para proteger a Bacia do Congo. A área abriga a segunda maior floresta tropical do mundo, ameaçada pela extração industrial de madeira, mineração e agricultura.

 Os governos que representam 75% do comércio global de commodities essenciais que podem ameaçar as florestas – como óleo de palma, cacau e soja – também assinarão uma nova Declaração de Florestas, Agricultura e Comércio de Commodities (FACT). Os 28 governos estão se comprometendo com um conjunto comum de ações para oferecer comércio sustentável e reduzir a pressão sobre as florestas, incluindo apoio aos pequenos agricultores e melhoria da transparência das cadeias de abastecimento.

 Atualmente quase um quarto (23%) das emissões globais vêm de atividades de uso da terra, como extração de madeira, desmatamento e agricultura. Proteger as florestas e acabar com o uso prejudicial da terra é uma das coisas mais importantes que o mundo pode fazer para limitar o aquecimento global catastrófico, ao mesmo tempo que protege as vidas e o futuro de 1,6 bilhão de pessoas em todo o mundo – quase 25% da população mundial – que dependem das florestas para seus meios de subsistência.

 O primeiro-ministro da Noruega, Jonas Gahr Store, disse:

“Devemos trabalhar por uma estrutura global aprimorada para os investimentos climáticos. Para “manter 1,5 grau vivo”, temos que interromper a perda de florestas nesta década. Os países com florestas tropicais precisam de mais apoio e incentivos internacionais para transformar suas políticas de uso da terra. A Noruega continuará e desenvolverá ainda mais sua Iniciativa Internacional de Clima e Florestas em altos níveis até 2030, e estamos entusiasmados por fazer parte de uma coalizão crescente de doadores e empresas que se mobilizam para reduzir o desmatamento e permitir uma transição rural justa. Estou particularmente satisfeito por estarmos unindo forças para garantir os direitos dos Povos Indígenas e aumentar o reconhecimento de seu papel como guardiões da floresta.”

 Amanda Blanc, CEO do Grupo Aviva plc, disse:

“Proteger nossas florestas e sua biodiversidade é fundamental para o combate às mudanças climáticas. As instituições financeiras têm um papel central, usando nossa influência nas empresas em que investimos para incentivar e garantir as melhores práticas. A Aviva tem o orgulho de assinar o compromisso para o fim do desmatamento, ajudando a construir uma massa crítica para a mudança. Juntos, podemos reduzir o risco para o planeta e os mercados financeiros e aproveitar as oportunidades que vêm de um investimento mais sustentável.”

 Tuntiak Katan, Coordenador da Aliança Global de Comunidades Territoriais, representando as comunidades das florestas tropicais da África, América Latina e Indonésia, disse:

“Saudamos o anúncio na COP da Declaração Conjunta sobre o Avanço do Apoio aos Povos Indígenas e comunidades locais, que elevou a um nível sem precedentes sua visibilidade como uma solução climática. Ao mesmo tempo, buscaremos evidências concretas de uma transformação na forma de aplicação dos recursos. Se 80% do que é proposto for direcionado para apoiar os direitos à terra e as propostas das comunidades indígenas e locais, veremos uma reversão dramática na tendência atual que está destruindo nossos recursos naturais.”

 O evento de hoje verá líderes mundiais se juntarem a representantes de povos indígenas e comunidades locais, sociedade civil, filantropos, empresas e o sistema financeiro.

Entre aqueles que falaram ao lado do primeiro-ministro Boris Johnson estão Sua Alteza Real Príncipe de Gales, Presidente Joko Widodo da Indonésia, Presidente Ivan Duque da Colômbia, Presidente Joseph R. Biden Jr. dos Estados Unidos, Presidente Felix Tshisekedi da República Democrática do Congo e a Presidente da Comissão da UE, Ursula von der Leyen.

(Crédito: Produzido por Studio Silverback. Imagens cortesia da Netflix, Inc. Imagens adicionais fornecidas pela WWF, BBC / Discovery Access, Will Goldenberg e Jim Campbell-Spickler, If Not Us Then Who ?, Makes Waves, Gene Cornelius e Shutterstock)

 A lista completa de signatários da Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra (em 1030 GMT, 1 de novembro de 2021) é: Albânia, Andorra, Angola, Armênia, Austrália, Áustria, Bélgica, Belize, Butão, Bósnia e Herzegovina, Botswana, Brasil, Bulgária, Camarões, Canadá, Chile, China, Colômbia, Costa Rica, Costa do Marfim, Chipre, Dinamarca, República Dominicana, República Democrática do Congo, União Europeia, Equador, Estônia, Fiji, Finlândia, França, Gabão, Alemanha, Gana, Guatemala, Guiné Bissau, Guiana, Honduras, Islândia, Indonésia, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Cazaquistão, Quênia, Quirguistão, Letônia, Libéria, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Madagascar, Malaui, Mali, Malta , Maurício, Mônaco, Mongólia, Montenegro, Marrocos, Moçambique, Nepal, Holanda, Nova Zelândia, Níger, Nigéria, Macedônia do Norte, Noruega, Paquistão, Panamá, Papua Nova Guiné,Peru, Polônia, Portugal, República do Congo, Romênia, Rússia, Santa Lúcia, Samoa, San Marino, Seychelles, Serra Leoa, Eslováquia, Eslovênia, Coreia do Sul, Espanha, Sri Lanka, Suriname, Suécia, Tanzânia, Togo, Turquia, Unidos Emirados Árabes, Ucrânia, Uruguai, Reino Unido, Estados Unidos da América, Vanuatu, Vietnã, Zâmbia, Zimbábue.

  • Em janeiro, o Primeiro Ministro do Reino Unido anunciou que o Reino Unido gastará £ 3 bilhões em financiamento climático internacional durante 5 anos para apoiar a natureza e a biodiversidade. Hoje ele vai anunciar que pelo menos metade disso (£ 1,5 bilhão) ajudará nos esforços para conter e reverter o desmatamento nos países em desenvolvimento

O Global Forest Finance Pledge é uma promessa coletiva de 12 países para fornecer

US $ 12 bilhões de financiamento climático para 2021-2025 para países elegíveis para a Assistência ao Desenvolvimento Ultramarino (ODA) para apoiar o trabalho de proteção, restauração e manejo sustentável de florestas. Os países são Reino Unido, Noruega, República da Coreia, Holanda, Bélgica, Dinamarca, Japão, França, Estados Unidos, Canadá, UE e Alemanha.

  • O investimento privado total de US $ 7,2 bilhões inclui uma série de novos fundos corporativos e filantrópicos mobilizados para florestas e natureza. Isso inclui: US $ 3 bilhões comprometidos por meio da iniciativa de Financiamento Inovador para a Amazônia, Cerrado e Chaco (IFACC) para acelerar a produção de soja e gado sem desmatamento na América Latina; $ 1,1 bilhão levantado pela Natural Capital Investment Alliance para dimensionar o investimento em soluções baseadas na natureza e na bioeconomia, com planos de aumentar para $ 10 bilhões até o final de 2022; US $ 0,5 bilhão de contribuições corporativas por meio da coalizão Redução de Emissões por Aceleração do Financiamento Florestal (LEAF); $ 2 bilhões do Fundo Bezos Earth (adicional ao $ 1 bilhão prometido em 21 de setembro de 2021); e US $ 0,6 bilhão de outras organizações filantrópicas.
  • Mais de 30 instituições financeiras cobrindo mais de $ 8,7 trilhões de ativos globais se inscreveram para eliminar o investimento no desmatamento impulsionado por commodities agrícolas. São eles: AP2, East Capital Group, Church of England Pensions Board, Aviva plc, CPEG, JGP Asset Management, International Business of Federated Hermes, ACTIAM, AXA Group, Storebrand Asset Management, Australian Ethical Investment, Boston Common Asset Management, Church Commissioners for Inglaterra, Comgest, Lombard Odier, SCOR SE, Sumitomo Mitsui Trust Asset Management, Generation Investment Management, NEI Investments, Impax Asset Management PLC, Sparebank 1 Forsikring, Fidelity Internationala, Skandia, Grupo Bancolombia, The Local Authority Pension Fund Forum, NN Investment Partners , Legal & General Investment Management, Robeco, TCI Fund Management Ltd, Schroders, LGPS Central Limited e Menhaden PLC.

A extração madeireira penetra no núcleo intocado da região amazônica brasileira

Entre agosto de 2019 e julho de 2020, 464.000 hectares foram desmatados. A degradação progressiva da floresta é outro problema que até agora tem sido negligenciado

madeira mtO estado de Mato Grosso respondeu por mais da metade da extração de madeira amazônica. FONTE: ICV

Por Ulrike Bickel para o Amerika21

De acordo com um novo estudo baseado em satélite da rede Simex , a extração ilegal de madeira nas áreas periféricas está penetrando cada vez mais fundo na zona central da floresta amazônica. Uma aliança das quatro organizações ambientais brasileiras sem fins lucrativos Imazon, Imaflora, Idesam e Instituto Centro de Vida (ICV) documentou a extração de madeira em quase todas as partes da Amazônia pela primeira vez. Para tanto, foram mapeados sete dos nove estados brasileiros (Acre, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima) , dos quais, juntos, vem quase 100% da produção de madeira da floresta tropical.

O mapeamento baseado no rastreamento das árvores derrubadas mostra a extensão da destruição da floresta: entre agosto de 2019 e julho de 2020, 464 mil hectares foram desmatados, uma área três vezes maior que a da metrópole de 21 milhões de habitantes de São Paulo. Mais da metade (50,8%) da exploração madeireira estava no estado de Mato Grosso, seguido por Amazonas (15,3%) e Rondônia (15%), dos quais a maior parte (78%) era de propriedade privada.

A extração de madeira em reservas indígenas (24.866 hectares) e reservas naturais (28.112 hectares) é, de acordo com o estudo do Simex, totalmente ilegal porque é proibida.

Segundo Vinicius Silgueiro, coordenador de monitoramento territorial do ICV de Mato Grosso, quase não existem controles e sanções estaduais para as inúmeras violações. As licenças legais são freqüentemente usadas para disfarçar a extração de madeira em áreas restritas, também conhecidas como “lavagem de árvores”. Segundo Marco Lentini, coordenador-chefe do projeto do Imaflora, o avanço da agricultura industrial do chamado ‘arco do desmatamento’ para o seio da Amazônia deve ser interrompido com urgência. Quanto mais licenças as autoridades emitem para o desenvolvimento da floresta, mais madeira ilegal existe.

O cartão Simex também inclui áreas onde, em março de 2021, a Polícia Federal apreendeu 226 mil metros cúbicos de madeira na fronteira entre os estados do Amazonas e Pará, a maior apreensão de madeira ilegal da história do Brasil. Esta ação foi o gatilho para a demissão do controverso ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles em junho, depois que ele havia exigido uma liberação impune da madeira confiscada.

Já em 2018, o estudo do Greenpeace “Árvores imaginárias, destruição real” destacou a falta de confiabilidade dos sistemas de licença e controle florestal brasileiro, que são suscetíveis a fraudes. Como resultado, há uma deficiência crucial na fraqueza do processo de aprovação de planos de manejo florestal sustentável, antes do qual nenhuma inspeção de campo ou apenas inspeções de campo de baixa qualidade são normalmente realizadas. Os estoques de madeira seriam superestimados ou árvores inexistentes com alto valor comercial seriam incluídas no inventário florestal da área.

De acordo com o Greenpeace, as autoridades estaduais emitiram licenças para a colheita e transporte dessa madeira valiosa inexistente, que na verdade é derrubada ilegalmente em outras áreas em terras indígenas, em áreas protegidas ou em terras públicas.

De acordo com um estudo mais detalhado do Imazon , mais da metade da exploração madeireira no estado do Pará não tinha licença das autoridades ambientais – 20% a mais que no ano anterior. Na maioria dos estados, é quase impossível verificar se é ilegal devido à falta de transparência ou barreiras tecnológicas. Em muitos casos, segundo o ICV, os certificados das atividades florestais legais são apresentados em papel, o que dificulta a correspondência dos dados com as imagens de satélite. Apenas Pará e Mato Grosso já digitalizaram bancos de dados.

Além do desmatamento bem documentado da Amazônia, a degradação contínua das florestas é um grande problema que até agora foi negligenciado e tem efeitos de longo alcance sobre a biodiversidade e o sequestro de carbono. Por exemplo, um estudo científico publicado recentemente na Science pela primeira vez mapeou a degradação de longo prazo para toda a região amazônica brasileira e registrou as causas. Como resultado, no período de 1992 a 2014, a área total afetada foi de 337.427 Km2, em comparação com 308.311 Kmdo desmatamento total. Isso significa que a área destruída pela degradação florestal agora é maior do que pelo desmatamento.

Segundo Silgueiro, a extração legal e ilegal persiste em uma proporção em torno de 60:40. Quanto mais licenças as autoridades emitem para o desenvolvimento da floresta, mais madeira ilegal existe. A fraude de registro só vai parar quando o volume de registro real for estimado e cada árvore for rastreada. Segundo o coordenador do ICV, as tecnologias disponíveis só estão sendo implantadas aos poucos pelos países produtores.

A floresta amazônica é um fator estabilizador decisivo para o clima global e armazena grandes quantidades de gases de efeito estufa. Preservá-lo é fundamental para o combate ao aquecimento global.

Há muito tempo, especialistas e organizações ambientais vêm alertando que a destruição da Amazônia terá consequências catastróficas para o clima global: vários estudos recentes de cientistas brasileiros publicados pelo Projeto de Monitoramento da Amazônia (MAAP) e um publicado na revista Nature mostra que, como resultado do corte e queima, desmatamento e mudança climática, a área passou de um sumidouro de carbono a uma fonte líquida de dióxido de carbono. Uma grande parte da floresta tropical já está emitindo mais gases de efeito estufa na atmosfera terrestre do que absorve novamente.

Os pesquisadores suspeitam que esse desenvolvimento ainda pode ser interrompido no momento se a destruição da floresta tropical for interrompida imediatamente e tudo for feito globalmente para deter o aquecimento global.

Como parceira comercial do Brasil, a Alemanha também é responsável pela compra de grandes quantidades de produtos da destruição da selva, especialmente soja como ração animal para a pecuária local. Mais de 450 organizações da sociedade civil pedem um protesto contra o acordo de livre comércio entre a UE e a aliança econômica Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai), que o governo alemão está promovendo fortemente e que agravaria ainda mais a sobreexploração da Amazonas.

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Este texto foi originalmente escrito em alemão e publicado pelo Amerika21 [Aqui!].

Para proteger florestas na Amazônia é preciso foco em áreas prioritárias e incentivo à regeneração florestal, mostra estudo

Trabalho traz recomendações concretas para o Brasil conter a perda de floresta nativa. Pesquisa é parte do projeto Amazônia 2030

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Nos últimos dez anos, o desmatamento na Amazônia brasileira cresceu – em especial a partir de 2019, quando a perda de floresta acelerou. Reverter esse quadro vai exigir que o Brasil fortaleça políticas públicas já existentes, como a expansão de áreas protegidas e a punição ao desmatamento ilegal. Mas é preciso ir além, de modo a incorporar à agenda pública incentivos à regeneração de florestas e o combate à degradação florestal.

As recomendações constam no estudo Políticas Públicas para Proteção Florestal – o que funciona e como melhorar, da economista Clarissa Gandour. No trabalho, parte do projeto Amazônia 2030, a pesquisadora passa em revista as políticas públicas de combate ao desmatamento adotadas pelo Brasil a partir de 2004. A partir daquele ano, e até 2014, mudanças tecnológicas, ações de fiscalização e a atuação integrada de diversos ministérios contribuíram para que a taxa de desmatamento na Amazônia regredisse. Depois disso, a situação se deteriorou.

A análise demonstra que o Brasil conseguiu, ao longo daqueles anos, implementar instrumentos eficientes para conter a perda de floresta nativa. Eles foram enfraquecidos e, hoje, não bastam mais. “Para além de aprimorar seus esforços de combate ao desmatamento, o Brasil deve incorporar novas dimensões de proteção da vegetação nativa à sua agenda de políticas públicas para a conservação tropical”, diz o estudo.

O trabalho mostra que é preciso atuar em três frentes:

Combate à degradação florestal

Hoje, o desmatamento não é o único dano ambiental que assola a Amazônia brasileira. A perda gradativa de floresta – conhecida como degradação florestal – desponta como um problema cada vez mais grave, mas ainda negligenciado no âmbito das políticas públicas. Há indícios de que a degradação florestal representa um estágio inicial do processo de desmatamento. Geralmente, ela está associada à extração madeireira e a queimadas.

Segundo o estudo, é preciso atuar para deter a perda de florestas em estágio inicial, de modo a otimizar os esforços de políticas públicas de conservação.

Hoje, a degradação florestal afeta uma área da Amazônia maior que o desmatamento. Em média, são 11 mil km2 de floresta degradada por ano, o dobro da área desmatada anualmente. A maior parte dela – 75% – se concentra nos estados do Mato Grosso e do Pará.

Regeneração florestal

O restauro e a proteção de florestas tropicais captura carbono da atmosfera e são ações importantes para mitigar os efeitos do aquecimento global.

Com vasta quantidade de áreas degradadas e desmatadas em regiões tropicais, o Brasil está em posição única para contribuir para esse esforço. Contudo, suas políticas de conservação florestal tendem a focar no combate ao desmatamento primário e não enfatizam a promoção e a proteção de áreas regeneradas – aquelas que já foram desmatadas mas que, aos poucos, voltam a crescer. Atualmente, o país nem sequer monitora essas áreas de forma sistemática.

Segundo estudo, é imprescindível que o Brasil aja agora para incorporar o restauro de ecossistemas em sua agenda de políticas públicas de conservação. Ao assumir um firme compromisso com a promoção da regeneração tropical e sua conservação, o país simultaneamente avançaria no cumprimento de suas metas ambientais, promoveria melhorias no bem-estar humano em escalas local e global e ainda caminharia em direção à retomada da sua posição como pioneiro de ação climática global.

Há, na Amazônia brasileira, vastas áreas de vegetação secundária – aquela que cresce em regiões já desmatadas. Os formuladores de políticas públicas precisam compreender que essa vegetação deve ser protegida.

Foco em áreas prioritárias

O desmatamento na Amazônia não é homogêneo. Entre 2016 e 2019, ele esteve concentrado em 24 municípios. Parte significativa – um terço do total – ocorreu em terras públicas não designadas. Num cenário de recursos limitados, o Brasil deve focar seus esforços de combate ao desmatamento nessas áreas prioritárias, onde o problema é mais grave.

Além disso, afirma o estudo, é preciso fortalecer o ambiente institucional de modo a punir quem desmata. O Brasil dispõe de tecnologia capaz de monitorar a perda de floresta. Sem respaldo institucional, ela é insuficiente.

Sobre o Amazônia 2030

O projeto Amazônia 2030 é uma iniciativa conduzida por pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano de ações para a Amazônia. Seu objetivo é apontar caminhos para que a região dê um salto de desenvolvimento econômico e humano, mantendo a floresta em pé, nos próximos dez anos.

O projeto é uma iniciativa do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, ambos situados em Belém, com a Climate Policy Initiative (CPI) e o Departamento de Economia da PUC-Rio, localizados no Rio de Janeiro.

Começando em 2020, e seguindo até meados de 2022, os cientistas do projeto vão publicar relatórios e estudos baseados na melhor evidência sobre a Amazônia brasileira.

Conhecimento produzido na academia e aliado às experiências dos povos da floresta, empresários, empreendedores e agentes públicos. Esses documentos reunirão recomendações práticas, que poderão ser aplicadas por agentes privados e públicos.

Degradação florestal na Amazônia brasileira: Políticas Públicas devem visar fenômeno relacionado ao desmatamento

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Por Clarissa Gandour , Diego Menezes , João Pedro Vieira e Juliano J. Assunção para a Climate Policy Initiative 

CPI

Nas últimas décadas, o Brasil acumulou experiência significativa no uso de políticas de proteção às florestas tropicais. Mais notavelmente, o país projetou e implementou vários esforços eficazes para combater o desmatamento por corte raso na Amazônia brasileira. [1] Isso foi motivado pela necessidade urgente de conter a perda de floresta tropical no país, que estava entre as mais altas do mundo no início dos anos 2000. [2]    O desmatamento, entretanto, não é o único tipo de dano ambiental que afeta a Amazônia brasileira. A degradação florestal, fenômeno caracterizado pela perda gradativa da vegetação, surge como uma ameaça cada vez mais relevante para a região. [3] , [4]Embora a degradação possa parecer menos destrutiva do que o desmatamento, o combate à degradação deve ser uma prioridade da agenda da política de conservação do Brasil. Afinal, conter a perda de floresta em um estágio anterior aumenta a capacidade de conservar a vegetação nativa no longo prazo.

Hoje, em parte porque a degradação continua sendo um fenômeno relativamente desconhecido, raramente é priorizada em ações políticas destinadas a proteger a vegetação nativa. Um melhor entendimento da degradação na Amazônia, e particularmente de sua relação empírica com o desmatamento por corte raso, é um insumo fundamental no processo de tomada de decisão para alocar recursos escassos para a implementação de políticas públicas. Com ele, o Brasil poderia direcionar seus esforços de forma mais eficiente e fornecer uma resposta mais oportuna à degradação.

Para ampliar a compreensão desse fenômeno, pesquisadores da Climate Policy Initiative / Pontifícia Universidade Católica (CPI / PUC-Rio) caracterizaram empiricamente a dinâmica da degradação e sua relação com o desmatamento na Amazônia brasileira. Este Insight fornece uma breve introdução ao tópico da degradação tropical, um resumo dos principais resultados e orientações para pesquisas e políticas futuras. A análise reforça a relevância recente da degradação na Amazônia brasileira e constata que existe uma relação estreita entre degradação e desmatamento. Os resultados indicam que essa relação varia significativamente entre as categorias de posse da terra, enfatizando a necessidade de adaptar a política de conservação para abordar diferentes estruturas de governança com base na posse.

O que é degradação da floresta?

Este projeto define degradação florestal como a perda parcial da biomassa florestal. A Figura 1 fornece uma visão simplificada desse processo. Começando com uma floresta intacta, a degradação mina a integridade da cobertura florestal por meio da perda gradual de vegetação ao longo do tempo. Embora uma floresta degradada ainda retenha vegetação primária, ela não tem a mesma estrutura florestal, resiliência e funções como uma floresta intacta. [5] À medida que a degradação progride, a perda de biomassa florestal se aproxima do desmatamento por corte raso, no qual há remoção completa (ou quase completa) de toda a cobertura vegetal.

Figura 1. Degradação florestal e desmatamento por corte raso

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O processo representado na Figura 1, no qual uma floresta não perturbada passa por vários estágios de degradação culminando em desmatamento raso, é apenas um dos caminhos possíveis para uma área degradada. A degradação pode ocorrer mais ou menos gradualmente ao longo do tempo, dependendo do tipo de atividade que a causa. Além disso, a degradação não leva necessariamente ao desmatamento por corte raso – uma área degradada pode ser mantida intencionalmente com apenas um remanescente parcial de vegetação primária, ou pode sofrer regeneração e conter uma mistura de remanescentes primários e vegetação secundária.

Degradação da Amazônia brasileira  

Causas Primárias

As práticas mais comumente associadas à degradação tropical no Brasil são a extração seletiva de madeira e os incêndios florestais. A extração seletiva envolve o corte de espécies específicas de árvores, normalmente selecionadas com base no valor comercial de sua madeira. Além da perda de biomassa com a própria extração de árvores, a floresta ao redor das árvores derrubadas também é comprometida pela abertura de estradas de acesso e pátios de armazenamento e pelos danos causados ​​pela queda de árvores na vegetação próxima. Para minimizar esse efeito colateral, as atividades madeireiras legais devem obedecer a um plano de manejo.

Os incêndios, por outro lado, geralmente destroem primeiro as plantas mais frágeis e, após repetidos ciclos de queima no mesmo local, avançam para plantas mais resistentes. Devido à alta umidade, as florestas tropicais não queimam facilmente ou imediatamente. No primeiro contato, os incêndios consomem a vegetação mais frágil e comprometem a resiliência das plantas remanescentes, que se tornam mais vulneráveis ​​aos incêndios subsequentes.

A análise da CPI / PUC-Rio usa dados do DEGRAD, um sistema desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que usa imagens de satélite para compilar mapas anuais de áreas degradadas em toda a Amazônia brasileira de 2007 a 2016. O DEGRAD não categoriza de forma consistente o tipo ou estágio de degradação, portanto, a análise empírica atualmente não cobre tal classificação.

Características Gerais

A degradação florestal é um fenômeno em grande escala na Amazônia, normalmente afetando uma área muito maior do que o desmatamento por corte raso. Entre 2007 e 2016, uma média de 11.000 km 2 de floresta foram degradados a cada ano. Isso é o dobro da média anual de áreas desmatadas no mesmo período. Enquanto o desmatamento avançou em um ritmo relativamente estável durante o período de amostra, a degradação variou consideravelmente ao longo do tempo, especialmente de 2009 a 2016. A área degradada total por ano variou de um mínimo de 2.700 km² em 2014 a um pico de 23.700 km² em 2016.

Espacialmente, a degradação florestal está geograficamente concentrada ao longo do Arco do Desmatamento , que historicamente também contém a maior parte das áreas desmatadas da Amazônia. [6] Em média, os estados de Mato Grosso e Pará somados respondem por 75% das áreas degradadas e 64% das áreas desmatadas por ano na Amazônia. Apesar da concentração regional do fenômeno, a degradação apresenta baixo índice de recorrência local ao longo dos anos . Uma determinada área é classificada como degradada, em média, apenas uma vez no período amostral.

Além disso, parece haver relativamente pouca conversão de degradação em desmatamento na Amazônia como um todo durante o período em avaliação. Em média, apenas 9% das áreas degradadas são desmatadas em até três anos, que é o tempo médio decorrido entre a ocorrência desses dois eventos. Isso, entretanto, não significa que não exista uma relação estreita entre degradação e desmatamento. Como esse número é uma média para toda a Amazônia, ele pode ocultar diferenças importantes em como as partes interessadas interagem com a floresta em regiões específicas.A posse da terra desempenha um papel potencialmente central nisso. No Brasil, a posse é um fator determinante das regras que regem o uso da terra local, incluindo a proteção e conversão da vegetação nativa. A estrutura de governança baseada na posse pode, portanto, afetar as decisões de uso da terra e, portanto, os padrões de conversão florestal local. Isso exige uma melhor compreensão da relação entre degradação e desmatamento nas diferentes categorias de posse da terra.

Degradação e desmatamento por categoria de terreno  

Observando como a degradação e o desmatamento se relacionam em diferentes categorias de posse da terra, o estudo visa explorar se a estrutura de governança influencia as interações dos atores locais com a floresta. A análise considera sete categorias: pequenas propriedades privadas, médias ou grandes propriedades privadas, territórios protegidos (áreas protegidas e terras indígenas), assentamentos rurais, terras públicas não designadas, terras não identificadas (para as quais não há informações de posse) e outros (restantes categorias).

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Figura 2a. Desmatamento, distribuição por categoria de posse de terra, 2007-2018 Fonte: CPI / PUC-Rio com dados do PRODES / INPE, Atlas Agropecuário / IMAFLORA e Cadastro Nacional de Florestas Públicas / Serviço Florestal Brasileiro, 2021

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Figura 2b. Degradação, distribuição por categoria de posse de terra, 2007-2016

Fonte: CPI / PUC-Rio com dados do DEGRAD / INPE, Atlas Agropecuário / IMAFLORA e Cadastro Nacional de Florestas Públicas / Serviço Florestal Brasileiro, 2021

A Figura 2 mostra a distribuição anual do desmatamento e degradação entre as categorias. Para o desmatamento, a distribuição permanece bastante estável ao longo do tempo, com participações semelhantes de perda florestal ocorrendo todos os anos em propriedades privadas (principalmente de médio ou grande porte), assentamentos rurais e terras públicas não designadas. A degradação, por outro lado, varia significativamente entre categorias e anos. Grande parte da degradação ocorre em propriedades privadas de médio ou grande porte e, em menor escala, em terras não identificadas. A menor participação de pequenas propriedades privadas e assentamentos rurais, bem como a maior participação de territórios protegidos contrastam com o padrão observado para o desmatamento.

Figura 3. Relação entre degradação e desmatamento por categoria de posse da terra, 2007-201

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Como ler o gráfico?

Nota: Para cada categoria de posse da terra, o gráfico mostra a parcela da área degradada em cada ano que foi seguido pelo desmatamento em três anos. A análise considera o desmatamento ocorrendo no mesmo local que a degradação (conversão da degradação em desmatamento) e em suas proximidades (desmatamento próximo à degradação).

Fonte: CPI / PUC-Rio com dados do DEGRAD / INPE, PRODES / INPE , Atlas Agropecuário / IMAFLORA e Cadastro Nacional de Florestas Públicas / Serviço Florestal Brasileiro, 2021

O desmatamento segue sistematicamente a degradação em alguma das categorias de posse da terra? A Figura 3 sugere que sim. Embora a conversão local da degradação em desmatamento permaneça baixa ou moderada em todas as categorias de posse, os dados apontam para um desmatamento significativo ocorrendo perto de áreas degradadas dentro de três anos do evento de degradação. Nesse sentido, a degradação em um determinado local pode nem sempre ser um precursor do desmatamento local, mas pode servir como um indicador de que o desmatamento ocorrerá em breve naquela região .

Como mostra a Figura 3, a relação entre degradação e desmatamento varia entre as categorias de posse da terra. Embora seja impossível determinar as razões para essas diferenças a partir dos dados usados ​​no estudo, a análise levanta algumas interpretações prováveis. Existem três padrões principais. Em primeiro lugar, a conversão da degradação em desmatamento é consistentemente baixa dentro dos territórios protegidos, mesmo quando se contabiliza o desmatamento que ocorre nas proximidades de áreas degradadas. Considerando que crimes ambientais cometidos em territórios protegidos estão sujeitos a penas mais severas, as baixas taxas de conversão podem ser explicadas pelo fato de que remover mais vegetação em áreas degradadas, o que acarreta maior risco de detecção pelas autoridades ambientais, simplesmente não vale a pena. .

Em segundo lugar, a degradação parece ser seguida pelo desmatamento nas proximidades em pequenas propriedades privadas e assentamentos rurais. Nessas categorias, mesmo a conversão local de degradação para desmatamento é relativamente alta. Esse padrão provavelmente está relacionado ao alto custo de derrubar a vegetação em uma floresta tropical. Para pequenos proprietários e assentados, que normalmente têm acesso limitado a financiamento, a degradação pode ser uma maneira de remover a cobertura florestal aos poucos e a um custo menor.

Terceiro, propriedades privadas de médio e grande porte, áreas públicas não designadas e áreas não identificadas parecem estar em algum lugar entre os dois padrões anteriores. A conversão local da degradação em desmatamento é baixa, mas parece haver uma porção moderada de áreas degradadas que são seguidas por desmatamento nas proximidades. Essas categorias são menos homogêneas do que as anteriores, portanto, esse padrão provavelmente abrange uma variedade de perfis de degradação e desmatamento.

Finalmente, a evidência sugere que a parcela da degradação seguida pelo desmatamento local ou próximo cresceu nos anos finais da amostra em todas as categorias de posse da terra. Isso pode apontar para a degradação como um precursor cada vez mais relevante para – e, portanto, um importante indicador antecedente do – desmatamento.

Próximas Etapas para Pesquisa e Política Pública  

A degradação florestal parece estar intimamente relacionada ao desmatamento na Amazônia brasileira e, para determinadas categorias de posse da terra, parece ser um precursor do desmatamento. A degradação pode, portanto, ser usada como um indicador de dano ambiental iminente e ajudar a direcionar os esforços da política de conservação. Por outro lado, para os casos em que a degradação não se transforma em desmatamento, é importante entender por que a degradação dos ativos ambientais está acontecendo se a terra não está sendo posteriormente utilizada para a produção.

Nesse cenário, as políticas públicas devem adaptar as abordagens para abordar as várias práticas de conversão florestal encontradas nas diferentes categorias de posse da terra. A pesquisa, por sua vez, deve apoiar o desenho e a implementação de políticas públicas, avançando no entendimento de como as estruturas de governança baseadas na posse influenciam os padrões de degradação e subseqüente desmatamento. Este estudo oferece uma primeira visão de como os formuladores de políticas podem compreender a degradação e usar esse conhecimento para aprimorar sua capacidade de combater a perda florestal em suas várias formas.

Dados

A análise explora um conjunto de dados rico e espacialmente explícito (raster) criado a partir de uma variedade de fontes disponíveis publicamente. As variáveis-chave e suas fontes são: áreas degradadas do DEGRAD / INPE; áreas desmatadas do PRODES / INPE; e categorias fundiárias do Atlas Agropecuário / IMAFLORA e Cadastro Nacional de Florestas Públicas / Serviço Florestal Brasileiro.

Nota Metodológica

A análise visa caracterizar empiricamente a degradação florestal na Amazônia brasileira e investigar sua relação com o desmatamento por corte raso entre 2007 e 2018. A amostra espacial inclui áreas de floresta tropical no bioma Amazônia brasileira que foram degradadas e / ou desmatadas durante o período da amostra. Um banco de dados raster foi compilado com resolução de 30 metros para incluir dados georreferenciados sobre degradação e desmatamento ao longo do tempo, bem como sobre categorias de posse de terra para todo o bioma Amazônia. O estudo relaciona eventos de degradação e desmatamento ocorridos no mesmo local ou nas proximidades e estratifica os resultados por categoria de posse da terra. Devido ao grande número de observações no banco de dados (quase 2 bilhões), a amostragem aleatória foi usada para construir o conjunto de dados para análise (contendo 2.

VEJA A VERSÃO EM PDF AQUI

[1] Para um resumo das avaliações das políticas de conservação, consulte: Gandour, Clarissa. Por que proteger a Amazônia é importante? Climate Policy Initiative, 2019. bit.ly/3v0ow7N

[2] Hansen, Matthew C. et al. “Desmatamento de floresta tropical úmida de 2000 a 2005 quantificado por meio de dados multitemporais e multirresolução de sensoriamento remoto”. Proceedings of the National Academy of Sciences 105, nº 27 (2008): 9439–9444.

[3] Rappaport, Danielle I. et al. “Quantificando mudanças de longo prazo nos estoques de carbono e estrutura florestal da degradação da floresta amazônica”. Cartas de Pesquisa Ambiental 13, nº 6 (2018): 065013.

[4] Matricardi, Eraldo AT et al. “A degradação florestal de longo prazo supera o desmatamento na Amazônia brasileira”. Science 369, nº 6509 (2020): 1378-1382.

[5] Longo, Marcos et al. “Variabilidade da biomassa acima do solo em florestas intactas e degradadas na Amazônia brasileira”. Global Biogeochemical Cycles 30, nº 11 (2016): 1639-1660.

[6] O Arco do Desmatamento se refere a uma ampla região do Bioma Amazônia que se estende do oeste do Maranhão e sul do Pará em direção ao oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre.

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Este texto foi escrito originalmente em inglês e publicado pela Climate Policy Initiative [Aqui! ].

Degradação, uma ameaça contínua para a Mata Atlântica

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A Mata Atlântica é uma das florestas tropicais mais importantes do mundo, mas suas florestas são altamente fragmentadas. Crédito da imagem: Angeloleithold / Wikimedia Commons , licenciado sob Creative Commons 3.0

Dê uma olhada

  • Mata Atlântica já perdeu mais de 80 por cento de suas florestas
  • Monitorar a degradação florestal é tão importante quanto considerar o desmatamento, dizem os cientistas
  • Combate à degradação da Mata Atlântica atrairia grandes investimentos em créditos de carbono

Por:Washington Castilhos para a SciDev

Os impactos humanos sobre os remanescentes da Mata Atlântica causaram perdas de até 42% de sua biodiversidade e reservas de carbono, elementos essenciais para a conservação da vida e a regulação do clima, concluiu um novo estudo.

Com uma variedade de florestas tropicais de vários tipos e vegetação única – como o pau-brasil, a espécie de planta que deu o nome ao Brasil – a Mata Atlântica já cobriu toda a costa do Brasil e partes da Argentina, Paraguai e Uruguai. Hoje, apenas fragmentos sobrevivem.

Por meio da análise de 1.819 levantamentos, que levaram em consideração o clima, o solo, o nível de degradação florestal e o tamanho do que resta, uma equipe científica determinou que, em média, os fragmentos florestais apresentam um índice de 25-32. porcentagem menos biomassa (elementos da floresta, como raízes, tronco, folhas e galhos); 23-31 por cento menos espécies e 33, 36 e 42 por cento menos indivíduos de espécies endêmicas, de sucessão tardia e de sementes grandes, respectivamente.

Juntos, isso equivale à perda de 55.000-70.000 km 2 de florestas ou US $ 2,3-2,6 bilhões em créditos de carbono , destaca o estudo publicadona Nature Communications .

“É preciso destacar que a Mata Atlântica tem nível endêmico igual ou superior ao da Amazônia, mas pouco se fala sobre sua riqueza em biodiversidade”.  Marcos Pedlowski, geógrafo da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Rio de Janeiro

Esses números têm implicações diretas para a mitigação das mudanças climáticas, já que um dos mecanismos para enfrentá-las é o combate à degradação florestal, explica à SciDev.Net o principal autor do estudo, Renato Lima, pesquisador do Instituto de Biociências do Universidade de São Paulo.

A pesquisa reconhece que “quantificar os impactos da degradação florestal é difícil e, portanto, tem recebido menos atenção do que o desmatamento nas mudanças climáticas e nas agendas de conservação , como o Acordo de Paris”.

A degradação ocorre quando o acúmulo de distúrbios dentro da floresta (como queimadas, extração de madeira e proliferação de espécies invasoras) altera todo o ecossistema e o funcionamento da floresta, afetando sua capacidade de armazenar carbono e água e prejudicando a biodiversidade.

Embora o desmatamento tenha recebido muita atenção nas últimas décadas, os cientistas alertam que o destino das florestas tropicais depende não só de promover o reflorestamento de áreas desmatadas, mas também de mitigar a degradação florestal nos fragmentos remanescentes de floresta.

As projeções do Centro Comum de Pesquisa – o serviço de ciência e conhecimento da Comissão Europeia – mostram que, se as taxas atuais de perturbação forem mantidas, as florestas tropicais virgens desaparecerão em 2050.

De acordo com essas projeções, algumas das florestas virgens da África Subsaariana desaparecerão entre 2024 e 2090; 2034 seria o ano do desaparecimento das pessoas localizadas na Tailândia ou no Vietnã; em 2040, os de Madagascar e da Índia desaparecerão, e em 2129 os da Amazônia brasileira.

Um mapa do Centro Comum de Pesquisa da UE mostra o ano esperado de desaparecimento das florestas em todo o mundo, com base nas perturbações observadas na última década

Antes da próxima COP15 – a Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB), a ser realizada em maio de 2021 em Kunming, China – pesquisadores de doze países mapearam 2,9 bilhões de hectares de diferentes tipos de ecossistemas degradados e Eles foram divididos em uma escala de prioridades, da mais alta à mais baixa.

Nessa escala, a Mata Atlântica está entre as áreas de maior prioridade global e, em outros trabalhos , aparece como uma das áreas críticas de conservação com maior área de restauração.

Para Marcos Pedlowski, geógrafo da Universidade Estadual do Norte Fluminense, no Rio de Janeiro, a importância do novo estudo reside no fato de ter como foco a degradação da Mata Atlântica.

“Os esforços mais recentes levam em conta o desmatamento da Amazônia , sem levar em conta todos os outros biomas ou o problema da degradação. É importante ressaltar que a Mata Atlântica tem nível endêmico igual ou superior ao da Amazônia, mas pouco se fala sobre sua riqueza em biodiversidade ”, afirma Pedlowski, que não participou do estudo.

Esta vista aérea mostra o desmatamento da Mata Atlântica, porém medir a degradação florestal é muito mais difícil. Crédito da imagem: Cnes – Spot Image / Wikimedia Commons , licenciado sob Creative Commons 3.0

O geógrafo, cujo estudo recente chama a atenção para o índice de degradação da Amazônia, acrescenta que quanto menos perturbado o fragmento, mais serviços ambientais ele pode oferecer.

“Além de ser um ecossistema diversificado, a Mata Atlântica está localizada no entorno das maiores concentrações urbanas do Brasil e a água é um elemento importante para esses centros urbanos. Passamos por graves crises de água; entretanto, a geração de água é um dos serviços ambientais que as florestas preservadas podem oferecer ”, explica Pedlowski.

Segundo o estudo, o combate à degradação florestal no que resta da Mata Atlântica pode atrair bilhões de dólares em investimentos relacionados aos créditos de carbono.

Renato Lima acrescenta que como a maioria dos fragmentos está localizada em propriedades privadas, é fundamental criar alternativas atraentes para os proprietários.

“ A restauração florestal tem seus custos, mas pode gerar ganhos no mercado de créditos de carbono. A formulação de políticas pode ser a chave para a captação de recursos para a Mata Atlântica ”, afirma.

No Brasil, os recursos para reduzir as emissões de carbono por desmatamento e degradação florestal estão concentrados principalmente na Amazônia. Atualmente, apenas o estado do Rio de Janeiro possui um fundo voltado para a proteção da Mata Atlântica.

O estudo é financiado pela FAPESP, doadora da SciDev.Net

Link para o estudo na Nature Communication

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Este artigo foi escrito originalmente em espanhol e publicado pela SciDev [Aqui!].

Bioma da Caatinga está cronicamente degradado mesmo em áreas não desmatadas

Um novo estudo publicado no Journal of Applied Ecology mostra que a Caatinga, um bioma de matagais e matas secas no Nordeste do Brasil, é severamente ameaçada pela atividade humana mesmo em áreas não desmatadas

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Por Meghie Rodrigues para a série Série Mongabay: Florestas Globais

  • Os autores chamam o efeito de distúrbio antropogênico crônico e o modelaram para áreas com assentamentos humanos, construção de infraestrutura, pastagem, extração de madeira e fogo em 47.100 fragmentos remanescentes do bioma.
  • A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, e abriga mais de 900 espécies de animais e plantas.
  • Mas, com mais de 27 milhões de habitantes, é também um dos biomas mais degradados do país, embora o estudo destaque áreas que ainda podem ser conservadas, incluindo corredores de vida selvagem.

Localizada no Nordeste do Brasil, a Caatinga, com seus matos e matas secas, é vista por muitos como pobre em biodiversidade. Como consequência, a região recebe poucos investimentos para ações de conservação. Especialistas dizem, porém, que com mais de 900 espécies de plantas e animais, o bioma é o maior e mais diverso entre as florestas tropicais sazonalmente secas do mundo. É também o único bioma totalmente brasileiro e uma das regiões menos estudadas do globo.

Distribuídos em 47,1 mil fragmentos, cerca de metade da vegetação da Caatinga permanece – e o constante estresse hídrico a torna profundamente vulnerável às mudanças climáticas. Agora, um estudo recente aponta que mesmo essas áreas remanescentes não desmatadas estão severamente ameaçadas pela ação humana acumulada ao longo de décadas e séculos. Os autores chamam o efeito de distúrbio antrópico crônico, e observam que é altamente dependente da localização: manchas de floresta ao norte e oeste são mais perturbadas do que aquelas no leste e sul da Caatinga.

Na imagem, os vetores de perturbação estão distribuídos geograficamente na Caatinga. (A) representa a população humana (CDI de 0,64), (B) mostra a infraestrutura (CDI de 0,86), (C) mapeia a pastagem (CDI de 0,49), (D) mostra a extração de madeira (CDI de 0,50) e (E) representa fogo (CDI de 0,04). Créditos: Journal of Applied Ecology, publicado pela primeira vez: 05 de julho de 2020, DOI: (10.1111 / 1365-2664.13686)

Os pesquisadores, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e do World Resources Institute Brasil, queriam entender como a intensidade dessa perturbação varia entre as diferentes regiões geográficas, tamanhos de fragmentos florestais e em função da distância às bordas dos áreas florestadas. Eles então contabilizaram os níveis de degradação que encontraram usando um índice, o índice de perturbação antropogênica crônica (CDI).

Cinco elementos, ou vetores, compõem o CDI: população humana, infraestrutura, pastagem, exploração madeireira e fogo. Cada um tem um impacto diferente em várias regiões da Caatinga e, juntos, eles respondem pelos índices de perturbação encontrados pela equipe. O CDI vai de 0 a 1, e quanto maior o índice em uma determinada área, mais degradada ela fica. As áreas menos perturbadas foram encontradas nas regiões leste e centro do bioma (com manchas de floresta onde o CDI foi de 0,12) e as áreas mais degradadas no norte da Caatinga (com CDI de 0,80).

Localizada no município de Lajes, no estado do Rio Grande do Norte, a Serra do Feiticeiro possui forte potencial de conservação. Imagem cortesia de Juan Carlos Vargas Mena.

A Caatinga sozinha tem uma área total de 844.453 quilômetros quadrados (524.700 milhas quadradas), estendendo-se aproximadamente por 11% do território brasileiro. “Medir a degradação por meio de observação de campo em uma área tão vasta é extremamente difícil de fazer”, disse Carlos Roberto Fonseca, coautor e pesquisador do departamento de ecologia da UFRN, ao Mongabay em entrevista por telefone. “Queríamos extrapolar os resultados para a Caatinga como um todo, não apenas observar alguns pontos selecionados”, acrescentou.

Fonseca e seus colegas usaram dados existentes em diversos bancos de dados – como o censo populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o censo bovino brasileiro e mapas oficiais de rodovias, ferrovias, barragens e linhas de transmissão – para estimar os impactos. Em seguida, cruzaram esses dados com o mapa censitário do IBGE, que possui uma grade de pixels. O objetivo era medir o impacto da degradação de cada pixel do mapa da Caatinga medindo os diferentes pesos de cada vetor calculado.

A degradação está distribuída de forma desigual pela Caatinga, uma vez que diferentes regiões estão sob diferentes tipos de pressão.

“A urbanização e a pecuária degradaram profundamente o litoral leste ao longo dos anos, enquanto na parte norte há muita extração de madeira e assentamentos humanos, e nem todos são sustentáveis ​​por causa da caça furtiva. Algumas outras regiões ainda estão preservadas e podem vir a ser áreas de conservação ”, disse Fonseca.

Cactos, arbustos espinhosos e plantas de caule grosso constituem a maior parte da vegetação da Caatinga, que significa “floresta branca” na língua tupi (caa = vegetação, tinga = branca). Imagem cortesia de Juan Carlos Vargas Mena.

O estudo, publicado em julho de 2020 no Journal of Applied Ecology , mostra que fragmentos menores da Caatinga eram muito heterogêneos, variando de pouco a altamente degradados. Manchas maiores de vegetação apresentam níveis médios de perturbação. Infraestrutura foi o vetor encontrado para causar a maior perturbação (com um CDI de 0,86) e o fogo para causar a menor (com um CDI de 0,04). O impacto de todos os vetores – população humana, infraestrutura, pastagem, extração de madeira e fogo – foi maior nas bordas dos fragmentos de floresta.

Grandes obras de infraestrutura causam impactos imediatos e grandes ao meio ambiente. Por outro lado, o pastoreio, a extração de madeira e o fogo estão diretamente ligados à presença humana nos remanescentes de vegetação e são responsáveis ​​por uma parte significativa de sua degradação crônica.

Em entrevista por telefone ao Mongabay, Marcelo Tabarelli, professor do Departamento de Botânica do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Pernambuco, disse que muitas famílias que vivem na região são altamente dependentes dos recursos naturais da Caatinga – e isso tem foi um longo processo histórico que se estende até o presente. “Eles extraem madeira para cozinhar, por exemplo, e também vendem para pequenas empresas vizinhas que dependem do carvão para combustível. Seus caprinos e bovinos se alimentam de pequenas porções de vegetação, e essa extração de biomassa é pequena, mas contínua ”, disse Tabarelli, que não participou do estudo.

Tabarelli disse que esses padrões em tal cultura de extração doméstica foram amplamente negligenciados pela pesquisa ecológica. Ele disse que o estudo é importante porque lança luz sobre um aspecto esquecido de um bioma amplamente não estudado. “Mostra que os remanescentes florestais da Caatinga estão expostos à extração de madeira e frutas e à agricultura de corte e queima. Este tipo de extração de nutrientes e biomassa faz parte da cultura sertanejo local de comunidades tradicionais aqui no Brasil e em muitas partes do mundo. ”

Cactos, arbustos espinhosos e plantas de caule grosso constituem a maior parte da vegetação da Caatinga, que significa “floresta branca” na língua tupi (caa = vegetação, tinga = branca). Imagem cortesia de Juan Carlos Vargas Mena.

Esses efeitos crônicos de distúrbios também ocorrem em outras regiões onde grupos menores dependem exclusivamente da extração de recursos naturais para viver, como as florestas secas em partes da África e nas regiões rurais da Índia, acrescentou Tabarelli. “À medida que as comunidades humanas se reorganizam nesses espaços e outras espécies proliferam e se adaptam a essas áreas degradadas, ocorre um processo de homogeneização biológica. Na Índia, por exemplo, esse processo é mais radical e está relacionado a processos de invasões biológicas e colapso de estruturas florestais sobre a vegetação remanescente ”.

Tabarelli disse que vê um vazio no planejamento do desenvolvimento sustentável da Caatinga. “A degradação ambiental não é um subproduto da mudança climática, mas aumentará à medida que a seca aumentar. Há uma carência histórica de medidas legais para enfrentar com eficácia os problemas da Caatinga e os dados sobre a desertificação são uma prova disso ”, afirmou.

A pressão sobre biomas como a Caatinga aumentará com as mudanças climáticas, à medida que secas e outros eventos extremos se tornam mais frequentes e fazem com que as florestas percam produtividade, disse Tabarelli.

Nesse sentido, tanto ele quanto Fonseca destacam a necessidade de criação de áreas de conservação entre os remanescentes florestais. “Apesar de metade da Caatinga [estar] perdida, a conectividade entre as manchas de vegetação remanescentes ainda é alta, e isso é fundamental para que os animais se desloquem de um lugar para outro”, disse Fonseca. Ele acrescentou que na primeira década dos anos 2000, “o Brasil caminhava em uma espiral ascendente – foi quando o país criou cerca de 80% das áreas de conservação do mundo. O cenário desacelerou nos anos Dilma Rousseff [2011-2016] e agora vivemos com uma perspectiva de retrocesso, arriscando sérios retrocessos em termos ambientais ”.

Imagem do banner: Algumas áreas da Caatinga, como este fragmento florestal nas Lajes, no Rio Grande do Norte, estão bem preservadas e têm potencial para se tornarem áreas protegidas. Imagem cortesia de Juan Carlos Vargas Mena.

Citações:

Antongiovanni, M., Venticinque EM, Matsumoto, M., & Fonseca, CR (2020). Perturbação antrópica crônica em fragmentos de floresta seca da Caatinga. Journal of Applied Ecology, 57 (10), 2064-2074. doi: 10.1111 / 1365-2664.13686

Silva, J. M., Leal, I. R., & Tabarelli, M. (2017). O futuro da Caatinga. Na  Caatinga: A maior região de floresta tropical seca da América do Sul  (pp. 461-474). Springer. doi: 10.1007 / 978-3-319-68339-3_19

fecho

Este texto foi escrito originalmente em inglês e publicado pela Mangabay [Aqui!].