Como o beabá de Christopherson desvela as causas do processo de erosão em curso no Porto do Açu

Por força das minhas tarefas docentes na disciplina de Geografia I do curso de Ciências Sociais coloquei as mãos nesta semana no livro “Geosystems: An introduction to Physical Geography” do geógrafo estadunidense Robert Christopherson. O livro é uma espécie de pedra filosofal para iniciantes dos estudos de geografia física, e é um deleite para quem, como eu, precisa dar aulas de geografia física para alunos de Ciências Sociais.

Pois bem, ao examinar o que eu precisa para dar a minha próxima, eis que ei dei de cara com a figura abaixo que ilustra como determinadas construções costeiras alteram a trânsito de sedimentos em sistemas praiais (isto é, molhes, esporões e quebra-mares)

estruturas costeiras

Pois bem, fica demonstrado que na presença de um jetty (em português, molhe), o que ocorre é deposição de areia na área mais próxima e erosão na área mais afastada.  Na figura em questão, eu circulei a entrada de um canal para enfatizar que do seu lado esquerda, o que está acontecendo é deposição, seguido de erosão mais ao sul do molhe.

Agora, vejamos a figura abaixo que representa o que se tem observado ao sul do Terminal 2 do Porto do Açu

canal principal

A minha pergunta básica para meus estudantes será a seguinte: com Christopherson em mãos, o que pode ser dito sobre a causa mais provável da acumulação ao lado do molhe e erosão na Praia do Açu? 

Eu só espero sinceramente que as respostas que eu ouvirei sejam melhores do que as de alguns especialistas contratados a peso de ouro tem dito nos últimos anos.

Especialistas japoneses alertaram em 2005 sobre problemas causados em áreas costeiras pela construção de portos. Parece até que falavam do Porto do Açu!

Durante a XIV Biennal Coastal Zone Conference que foi realizada em 2005 na cidade de Nova Orleans, a pesquisadora japonesa Masumi Serizawa então associada ao Coastal Enginneering Laboratory Co apresentou com outros quatro colegas,  o artigo intitulado “Erosão de praias causados pela dragagem de canais de navegação e desembocaduras de rios”, onde foram relatadas pesquisas realizadas  para avaliar os impactos da construção de 2.927 portos pesqueiros e 1084 portos de outras naturezas sobre a região costeira do Japão.

Pois bem, o mote deste artigo científico foi a ocorrência de processos de erosão e acumulação de sedimentos em função da construção de estruturas portuárias. Pois bem, o que mais me chamou a atenção neste artigo foi a figura abaixo:

figura 1

Agora,  me digam, essa figura não parece descrever muito bem o que anda acontecendo na área do Porto do Açu? Notem inclusive os detalhes da figura onde se mostra a ação das ondas, o transporte horizontal de sedimentos, e as áreas de acumulação e perda de material. Isto sem falar no trabalho interminável de dragar e despejar o material dragado no oceano e em terra.

E como afirmei acima, este artigo sintetiza quase 40 anos de pesquisas sobre o impacto da construção de portos na dinâmica de deposição e erosão de sedimentos! E  o que mais me chama a atenção é a concordância com o que estava previsto no Relatório de Impactos da Unidade de Construção Naval da OSX. Assim, diferente da vida em que se pode atribuir certos fatos ao imponderável, o que se tem é conhecimento acumulado ao longo de grandes períodos de tempo que tornam determinados processos facilmente determináveis, sem que se atribua apenas ao funcionamento da natureza. Aliás, pobre natureza, sempre tão vitimizada e normalmente a primeira a ser culpada