Temos que ouvir quase todos os dias uma cantilena que tenta nos convencer que após a chegada do PT à chefia do executivo federal, seja com Luís Inácio ou Dilma Rousseff, o Brasil repentinamente se tornou menos desigual, e que temos de seguir nessa toada sob risco de vermos a extrema-direita desfazer todos os ganhos.
Pois bem, o problema é que a propaganda ainda pode ser checada com dados frios da realidade. E estamos tendo uma janela de oportunidade para avaliar essa discrepância óbvia com o lançamento da última edição do chamado o Relatório da Desigualdade Global divulgado que foi lançado na semana passada pelo World Inequality Lab (WIL), grupo de pesquisadores liderado pelo economista francês Thomas Piketty.
A partir dos dados coletados globalmente, o relatório revela que os 10% mais ricos do Brasil concentram 59,1% da renda nacional, e que, enquanto isso, os 50% mais pobres ficam com apenas 9,3% da renda (ver gráfico abaixo).
Com isso, o Brasil perde em desigualdade apenas para 4 países: África do Sul, seguido por Colômbia, México e Chile!
Além disso, se olharmos para o período entre 2003 e 2024, o que se vê é que com todas as políticas sociais executadas pelos governos liderados por Lula e Dilma Rousseff, a desigualdade permaneceu praticamente inalterada com os 10% mais ricos mantendo-se com o controle de pelo menos 60% da renda, e insisto, apesar de toda a propaganda em contrário (ver figura abaixo).
A verdade é que os padrões históricos de concentração da riqueza não serão abalados por políticas minimalistas que não realizam as transformações sistêmicas que o Brasil precisaria ter para que houvesse um mínimo de justiça social e, mais, de distribuição da riqueza.
Assim, sem a adoção de reformas como a da terra urbana e rural, o que teremos é a manutenção de um padrão de iniquidade profunda, mesmo com todas as riquezas existentes no território brasileiro.
Quem desejar ler o relatório na íntegra, basta clicar [Aqui!].
Pareciam 58,5ºC no Rio na terça-feira – e as temperaturas elevadas, na verdade perigosas, estão atingindo os mais pobres com mais força
Um homem se refresca na favela Parque Arara, no Rio de Janeiro. Fotografia: Silvia Izquierdo/AP
Por Constance Malleret, no Rio de Janeiro, para o “The Guardian”
Ainda falta um mês para o início do verão no hemisfério sul, mas o Brasiljá experimentou a oitava onda de calor do ano até agora, à medida que as temperaturas sobem para níveis perigosamente elevados.
Grandes áreas do país foram colocadas sob alerta vermelho esta semana pelo Inmet, o instituto meteorológico nacional, que alertou para os riscos para a saúde “e até para a vida”, uma vez que as temperaturas permaneceram pelo menos cinco graus Celsius acima da média durante mais de cinco dias.
Os perigos ficaram ainda mais evidentes com a morte de um fã em um show de Taylor Swiftna noite de sábado no Rio de Janeiro, no qual milhares de outros espectadores tiveram que ser tratados por desidratação.
Ana Clara Benevides Machado, 23 anos, desmaiou no Estádio Olímpico Nilton Santos e morreu pouco depois, supostamente de parada cardíaca, após relatos de condições sufocantes no local, onde a temperatura externa era muito superior aos 39,1ºC oficiais.
A cantora juntou-se a fãs e políticos para expressar seu choque com a morte. Swift escreveu nas redes sociais que ficou “arrasada” com a notícia e “oprimida pela dor”.
No início do concerto, os adeptos teriam gritado repetidamente em direção ao palco por “água, água, água”, depois de terem sido alegadamente impedidos de levar consigo mantimentos para o estádio.
O ministro da Justiça do Brasil, Flávio Dino, postou no X que seriam implementadas regras de emergência exigindo que os locais de lazer permitissem o acesso dos torcedores à água. Esperava-se que outros políticos da região seguissem o exemplo.
Após os meses de julho, agosto , setembro e outubro mais quentesjá registrados no Brasil , espera-se que as temperaturas desta semana “reescrevam a história do clima” no país, disse a empresa meteorológica MetSul . Os especialistas atribuem, em parte, o calor excessivo a um forte El Niño, sendo que a crise climática torna mais provável a intensidade e a frequência de tais eventos.
Os termômetros do Inmet registraram repetidamente temperaturas acima de 40ºC no Centro-Oeste e Sudeste, com pico de 43,3ºC em Corumbá, na fronteira com a Bolívia, na quarta-feira. Com temperaturas atingindo 37,7ºC e 42,6ºC, respectivamente, São Paulo e Rio de Janeiro bateram recordes para o ano. No Rio, carinhosamente apelidado de “Inferno de Janeiro” pelos moradores locais, as temperaturas parecem ter atingido impressionantes 59,7ºC no sábado.
Um termômetro de rua em São Paulo. Fotografia: Miguel Schincariol/AFP/Getty Images
Os trabalhadores administrativos que normalmente trabalham em casa voltavam para os escritórios com ar-condicionado para escapar do calor implacável e das contas de luz astronômicas, mas essa não era uma opção para pessoas como Flávio Figueiredo, um mototaxista da favela.
O calor “torna o trabalho mais estressante”, disse o homem de 42 anos, abrigando-se à sombra de uma árvore na entrada do Parque Arará, favela localizada na Avenida Brasil – uma das vias mais movimentadas e poluídas do Rio – e voltando para uma refinaria de petróleo.
“Se a temperatura for, digamos, 30ºC, quando você para na pista parece 40, 50”, acrescentou.
Como em outros lugares, as flagrantes desigualdades sociais no Brasil são agravadas por eventos climáticos extremos.
“A realidade de uma onda de calor durante a semana não são as imagens de praias lotadas. … A realidade de uma onda de calor são ônibus lotados com ar condicionado quebrado, escolas públicas sem ar condicionado ou ventilador funcionando. Essa é a realidade da injustiça climática”, disse Marina Marçal, especialista em política climática que tem aconselhado o governo brasileiro sobre como abordar esta desigualdade nas suas agendas climáticas e urbanas.
Calor escaldante esta semana no Rio. Fotografia: Pilar Olivares/Reuters
“As áreas mais pobres, como as favelas, são as mais quentes”, disse Andrews Lucena, geógrafo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro que estuda o calor urbano extremo. “As favelas são focos de calor porque apresentam as piores condições materiais de construção, ausência de espaços verdes e, muitas vezes, const
Muitas vezes dependentes de ligações clandestinas à rede, os moradores das favelas também são mais propensos a sofrer cortes frequentes de energia e água.
“As autoridades públicas não olham [para nós], não há nenhum esforço para melhorar as coisas”, disse Luis Cassiano Silva, morador de Arará, atribuindo isso ao racismo estrutural. Assim como 56% dos brasileiros – e 67% dos moradores de favelas – Silva é negro.
O calor opressivo da favela sempre incomodou o homem de 54 anos, que antes morava em áreas mais arborizadas e tem tendência a suar excessivamente. Há 12 anos, ele resolveu resolver o problema sozinho e criou um telhado verde em sua casa, trabalhando com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro para projetar um protótipo que funcionasse em construções mais precárias.
Hoje, o florescente jardim na cobertura mantém o terraço visivelmente mais fresco. “É lindo”, disse o ativista ambiental, antes de acrescentar “mas, falando sério, está muito quente… e está cada vez pior”.
Luis Cassiano Silva no telhado verde de sua casa no Parque Arará. Fotografia: Silvia Izquierdo/AP
A onda de calor deveria atingir o pico no fim de semana, segundo a meteorologista do Inmet Dayse Moraes, mas um verão particularmente quente pode estar por vir.
“Se ficar muito mais quente, não sei como vamos aguentar”, disse Marileidi Francisco, 42 anos, lojista em Arará.
Silva tentou replicar seu telhado de resfriamento, mas embora seu projeto Favela Teto Verde tenha ajudado a esverdear a praça onde Figueiredo se protegia do sol, os telhados com jardins não decolaram realmente no Parque Arará, que continua sendo uma mistura vermelha e cinza de bolhas formado por tijolos e ferro corrugado.
Para se refrescarem, os moradores simplesmente recorrem a “um banho ao ar livre ou uma cerveja no bar”, disse Silva, enxugando a testa pingando, enquanto na esquina os bandidos que controlam a área buscavam alívio em uma piscina que montaram na rua.
Este texto escrito originalmente em inglês foi publicado pelo jornal “The Guardian” [Aqui!].
Mortalidade por diabetes está fortemente associada à desigualdade social
A mortalidade por diabetes está fortemente associada à desigualdade social, com o impacto de fatores como concentração de renda e baixa escolaridade no número de mortes pela doença. De 2010 a 2020 a taxa de mortalidade por diabetes de brasileiros com até três anos de estudo foi duas vezes maior do que a taxa de mortalidade geral, com 59,53 mortes a cada 100 mil habitantes. A constatação é de é de pesquisa da Universidade Estadual do Ceará (Uece) publicado na sexta (11) na “Revista Latino-Americana de Enfermagem”.
Segundo os autores, este é o primeiro estudo a associar diretamente taxas e indicadores de desigualdade social à mortalidade pela doença no país considerando todos os seus municípios. Foram analisados dados de 601 mil óbitos relacionados com diabetes mellitus, doença crônica que afeta a forma como o corpo processa o açúcar do sangue – de 2010 a 2020, conforme registros do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).
“É um olhar diferenciado para o quanto a desigualdade social tem afetado o brasileiro em todos os aspectos, até mesmo em relação à mortalidade por doenças crônicas”, analisa o pesquisador Thiago Santos Garces, autor do estudo.
O Diabetes Mellitus (DM) e suas complicações estão entre os problemas de saúde pública mundial, representando uma das principais causas de óbitos precoces em pessoas com idade superior a 60 anos. Dados da Federação Internacional de Diabetes exibem um contingente equivalente a 6,7 milhões de mortes causadas pela doença no ano de 2021, atingindo a marca de uma morte a cada cinco segundos. O Brasil é o país que abriga o maior número de pessoas com a doença na América Latina e o quinto no mundo.
O estudo mostra que pessoas pardas também estão entre as mais afetadas, com 36,16 mortes a cada 100 mil habitantes. Entre as regiões com as maiores taxas de mortalidade, se destacam o Nordeste (34,4/100.000 hab.) e o Sul (31,4/100.000 hab.), com índices crescentes em todas as regiões e grande subnotificação estimada na região Norte (23/100.000 hab.).
Foram registradas mais mortes em mulheres do que em homens – 32 contra 27 mortes por 100 mil habitantes. Além disso, locais com cobertura da Estratégia Saúde da Família (ESF) apresentaram taxas de mortalidade mais altas.
Para Garces, o cenário é resultado de uma sequência de fatos ligados à vulnerabilidade social. “É difícil que a pessoa procure o médico se não teve acesso a uma educação para compreender que precisa buscar atendimento, ou para seguir dieta específica para sua doença”. O estudo, segundo o pesquisador, evidencia a necessidade de ampliação de políticas de distribuição de renda e de educação e saúde: “Para diminuir a vulnerabilidade social e a desigualdade, é necessário dar mais acesso a saúde e educação às populações mais vulneráveis”, declara.
Os próximos passos da pesquisa envolvem investigar mais a fundo a relação dos indicadores sociodemográficos com a mortalidade por diabetes, considerando também os dados do censo demográfico mais recente: “Queremos um novo olhar sobre os indicadores que vierem em relação a diabetes mellitus e a outras doenças crônicas”, conclui Garces.
Este texto foi originalmente publicado pela Agência Bori [Aqui!].
Moradia precária na Estrada do Jacu, no Parque Aldeia, em Guarus (Foto: Carlos Grevi)
Por Carlos E de Rezende e Marcos A Pedlowski
No ano de 2020, o Brasil respira com intensidade as eleições municipais e, na maioria das cidades brasileiras, vivemos a expectativa de que haja uma mudança de fato na forma em que nossos destinos são geridos pelos governantes de plantão. Em Campos dos Goytacazes, presenciamos – mais uma vez – a disputa entre nomes que nos remetem à dinastias políticas que há décadas se alternam no poder, seja no executivo e/ou no legislativo. É importante também ressaltar a expectativa de alguns atores locais tentando influenciar direta ou indiretamente no jogo de escolhas. Sim, jogo de escolhas, pois nas inúmeras considerações que certos arautos de uma democracia amordaça não entram, por exemplo, a qualificação das candidaturas e da possibilidade real de mudança, pois se opta por ressaltar a idade das candidatas, sem que se faça o mesmo com os candidatos, evidenciando uma evidente questão de intolerância de gênero que beira a misoginia explícita.
Por outro lado, a tentativa recorrente de enfraquecer e desacreditar as pautas identitárias é no mínimo uma bofetada no rosto de todos os cidadãos campistas que, em algum momento na sua vida, sofreram algum tipo de discriminação, seja por causa da cor da sua pele ou da sua orientação sexual. Portanto, aos teóricos reacionários informamos que estas pautas podem e devem ser defendidas por todas as candidaturas como forma de corrigir erros do passado, e também incluir toda a população de forma simétrica, sem que seja preciso abandonar a questão da classe social como elemento fundante das análises sobre a realidade social.
Desta forma, os componentes dentro do jogo de escolha nas candidaturas possíveis para sentar na cadeira de prefeito de Campos dos Goytacazes deveriam trazer a luta pela justiça e vulnerabilidade social, pois somos um dos países com a maior desigualdade e o nosso município não é diferente, muito pelo contrário, pois os últimos quatro anos foram marcados por um profundo ataque às políticas sociais que precariamente serviam como formas de mitigação da miséria extrema que se mostra ainda abundante. Outro ponto que chama nossa atenção é que a alternância de determinados grupos da política local não representou uma transformação na forma de gerir o município, e mantendo como prioridade as demandas das elites locais.
Ao se governar para quem sempre ganhou com os diferentes ciclos de riqueza que marcaram a história do nosso município, as demandas sociais da população mais pobre sempre foram ignoradas. Desta forma, entendemos que a mudança de fato só ocorrerá quando se levar em conta as demandas de toda a população, olhando em detalhe as necessidades dos que foram alijados das benesses trazidas por quase duas décadas de rendas do petróleo. A priorização das ações do governo municipal impõe como meta a garantia de serviços públicos de qualidade na saúde e assistência social, educação e na agricultura familiar. Do contrário, veremos o número lamentável de 45 mil famílias vivendo em miséria extrema em Campos dos Goytacazes aumentar exponencialmente.
Agora, quanto à continuidade no jogo de escolha das candidaturas gostaríamos de destacar o papel do legislativo local, ou seja, a da escolha dos futuros vereadores. A função dos vereadores é criar leis, representar os interesses da população, defender os interesses da sociedade com independência entre os poderes, e o mais importante, fiscalizar as contas públicas e o cumprimento das ações do poder executivo. Portanto, quando se responsabiliza apenas o prefeito sobre a não execução das suas propostas enquanto candidatos, não se pode deixar de levar em conta que os vereadores também possuem uma grande responsabilidade. E mais, um prefeito que responsabiliza gestões anteriores pela situação encontrada, tendo ele sido vereador, como é o caso de Rafael Diniz, é no mínimo uma expressão leviana, pois deveria ter atuado com responsabilidade no controle das contas públicas e, pelo menos, conhecer minimamente a situação que iria encontrar a frente da Prefeitura.
Concluindo, esta também é a hora de conhecer os projetos daqueles que se apresentam para os próximos 4 anos na nossa Câmara Municipal. E temos alguns fatores a serem considerados, a saber: 1) os que pensam na reeleição devem mostrar os serviços que prestaram a população campista; 2) os que se apresentam como oposição ao atual governo, mas na realidade estiveram presentes no governo, se saíram por questões eleitorais simulando um novo que na realidade e o mesmo de sempre, e poucos foram os serviços prestados à população e ao nosso município; e 3) as candidaturas que vem com as propostas sociais e que tentam definitivamente incluir as populações vulneráveis e os pobres dentro do orçamento municipal.
Finalmente, acreditamos que chegou a hora da população campista votar em candidaturas para a Prefeitura e a Câmara de Vereadores que defendam uma nova pauta política que permita a inclusão social da população mais vulnerável, bem como a defesa intransigente da redução da desigualdade social em nosso município. Sem isso, corremos o risco de ficarmos em um eterno ciclo vicioso onde o novo já nasce sempre velho, e a chuva cai sempre onde inunda mais rápido.
*Carlos Eduardo de Rezende é professor titular do Laboratório de Ciências Ambientais do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), e Marcos Pedlowski é professor associado do Laboratório de Estudos do Espaço Antrópico do Centro de Ciências do Homem (CCH) da Uenf.
A Frente Antifascista promove uma série de encontros em várias instituições de ensino da cidade de Campos. Chama-se Diálogos com a Democracia, a intenção é nobre: a promoção da cidadania e defesa dos Direitos Humanos.
O primeiro encontro será na Universidade Estadual do Norte Fluminesne (Uenf).
Vivemos tempos sombrios onde um neo-fascismo ascendeu dos escombros da sociedade, nos últimos anos, promovendo a violência como forma de desestruturação de nossa sociedade, o fim das políticas sociais, a criminalização dos movimentos populares, a privatização dos bens públicos como a Embraer e Eletrobrás, a entrega de nossas riquezas naturais como petróleo e água, o enfraquecimento das instituições públicas de ensino superior e o desmonte da política de ciência e tecnologia e de nossa engenharia nacional.
Nos últimos meses vimos o aumento do desemprego, do subemprego, a volta da mortalidade infantil, o cozimento de alimentos a lenha pelos mais pobres, insegurança alimentar (fome), o estrangulamento dos investimentos públicos em saúde, educação, moradia e transferência de renda.
Nós, cidadãos e cidadãs, temos a obrigação de nos posicionar contra o aprofundamento das mazelas em nossa já extrema desigualdade social. Lutar contra o retrocesso promovido por setores ultraconservadores de nossa sociedade.
Não é justo que os bens sociais sejam repartidos apenas ao 0,5% da população, os super-ricos.
Não é justo flagrarmos crianças e adultos remoendo o lixo em busca de algo para se alimentarem.
Não é justo as pessoas estarem em situação de rua por perderem seus empregos e não terem suas casas.
Não é justo vermos neo-fascistas defenderem a pena-de-morte como solução para a ineficiente segurança pública, num país onde mais de 318 mil jovens, maioria negros, foram brutalmente assassinados por arma de fogo, entre 2005 e 2015, dados do Atlas da Violência.
Não é justo jovens mães não trabalharem e estudarem por falta de creches públicas, para suas crianças, e serem vítimas da violência doméstica e sexual.
Não é justo vermos crianças perambulando pelas ruas em busca do mínimo de dignidade e esperança, sem escolas e parques para brincarem.
Como bem lembra o mestre Gonzaguinha: GUERREIRO MENINO
Um homem se humilha Se castram seus sonhos Seu sonho é sua vida E vida é trabalho E sem o seu trabalho O homem não tem honra E sem a sua honra Se morre, se mata Não dá pra ser feliz Não dá pra ser feliz.
A FRENTE ANTIFASCISTA conclama todos e todas que defendem uma Democracia que construa uma sociedade mais justa e solidária, que garanta a todos e todas os mesmos direitos, o direito a máxima felicidade possível.
O jornal espanhol El País publicou hoje um artigo assinada pela jornalista Marina Rossi sobre um estudo realizado pela OXFAM Brasil sobre o nível de desigualdade de renda entre os brasileiros que contém uma informação que escancara a abissal diferença que existe entre os brasileiros: seis ultrarricos [ Jorge Paulo Lemann (AB Inbev), Joseph Safra (Banco Safra), Marcel Hermmann Telles (AB Inbev), Carlos Alberto Sicupira (AB Inbev), Eduardo Saverin (Facebook) e Ermirio Pereira de Moraes (Grupo Votorantim)] detém mais riqueza que os 100 milhões mais pobres da nossa população [1]
Ao buscar mais informações na página oficial da própria OXFAM Brasil encontrei o documento na qual a matéria do El País foi baseado sob o título de “A distância que nos une: um retrato das desigualdades brasileiras” e que também foi publicado nesta 2a. feira (25/09).
O principal elemento que salta das diversas variáveis incluídas neste documento é que persistem profundas desiguldades na divisão da riqueza entre os brasileiros. Além disso, há uma série de barreiras para que essa desigualdade seja significativamente diminuída.
E aquela conversa de que o problema do Brasil é que não prezamos a meritocracia no funcionamento na nossa sociedade? Só conversa mesmo, pois não há como sequer mencionar a aplicação de critérios de meritocracia onde tão poucos têm tanto e tantos têm tão pouco.
Quem desejar acessar e baixar o documento da OXFAM Brasil basta clicar [Aqui!].
Desigualdade brutal e ataque aos direitos sociais levam até os liberais ilustrados a reconhecer certas teses do filósofo. Mas como atualizá-las, para transformar o mundo de hoje?
Por Vicenç Navarro | Tradução: Inês Castilho
Uma das colunas mais conhecidas da revista semanal The Economist, a Bagehot (que tem como responsável Adrian Wooldridge) publicou, na edição de 13 de maio, um artigo que seria impensável encontrar nas páginas de qualquer revista econômica de orientação igualmente liberal, na Espanha [ou no Brasil].
Sob o título “O momento marxista” e o subtítulo “Os trabalhistas têm razão: Karl Marx tem muito a ensinar aos políticos de hoje”, Bagehot analisao debate entre o dirigente do Partido Trabalhista do Reino Unido, Jeremy Corbyn, e seu ministro sombra da Economia e Fazenda, o John McDonnell, por um lado, e os dirigentes do Partido Conservador e os jornais conservadores Daily Telegraph e Daily Mail, por outro. Definir esse diálogo como debate é, sem dúvida, excessivamente generoso por parte da coluna Bagehot, pois a resposta dos jornais conservadores e dos dirigentes conservadores aos dirigentes trabalhistas é uma demonização tosca, grosseira e ignorante de Marx e do marxismo, confundindo marxismo com stalinismo, coisa que também acontece constantemente nos maiores meios de comunicação, em sua maioria de orientação conservadora ou neoliberal.
Uma vez descartados os argumentos da direita britânica, a coluna Bagehot passa a discutir o que considera as grandes profecias de Karl Marx (assim as define), para entender o que está acontecendo hoje no mundo capitalista desenvolvido. Conclui que muitas das previsões do velho economista resultaram corretas. Entre elas destaca que:
1. A classe capitalista (que a coluna Bagehot insiste que continua a existir, ainda que não use esse termo para defini-la), a dos proprietários e gestores do grande capital produtivo, está sendo substituída – como anunciou Marx – cada vez mais pelos proprietários e gestores do capital especulativo e financeiro, que Marx (e a coluna Bagehot) consideram parasitários da riqueza criada pelo capital produtivo. Essa classe parasitária é a que, segundo a coluna, domina o mundo do capital, sendo tal situação a maior responsável pelo “abusivo” e “escandaloso” (termo utilizado por Bagehot) crescimento das desigualdades.
2. Marx e Bagehot questionam a legitimidade dos Estados, instrumentalizados pelos poderes financeiros e econômicos. As evidências acumuladas mostram que o casamento do poder econômico com o poder político caracterizou a natureza dos Estados. A coluna Bagehot faz referência, por exemplo, ao caso de Tony Blair, que de dirigente do Partido Trabalhista britânico, passou a ser assessor de entidades financeiras e de governos indignos. Em qualquer outro país, poderíamos incluir uma longa lista de ex-políticos que hoje trabalham para as grandes empresas, colocando a seu serviço todo o conhecimento e contatos adquiridos no exercício do seu cargo político.Os capitalistas conseguiram cada vez mais benefícios, à custa de todos os demais. Para demonstrá-lo, o colunista do The Economist assinala que, enquanto em 1980 os executivos-chefes das cem mais importantes empresas britânicas tinham rendimento 25 vezes maior que o do empregado típico de suas empresas, hoje, ganham 130 vezes mais. As equipes dirigentes dessas corporações inflaram sua remuneração às custas de seus empregados, ao receber das empresas pagamentos (além do salário) por meio de ações, aposentadorias especiais e outros privilégios e benefícios. Mais uma vez, Bagehot ressalta que Marx havia previsto o que ocorreu. E mais: a coluna descarta o argumento segundo o qul essas remunerações devam-se às exigências do mercado de talentos, pois a maioria desses salários escandalosos dos executivos foi atribuída por eles mesmos, através de seus contatos nos Comitês Executivos das empresas.
3. Outra característica do capitalismo prevista por Marx – segundo a coluna Bagehot – é a crescente monopolização do capital, tanto produtivo como especulativo, que está ocorrendo nos países capitalistas mais desenvolvidos. Bagehot aponta como essa monopolização foi ocorrendo.
4. E, como se não bastasse, Bagehot assinala que Marx também tinha razão quando observou que o capitalismo cria pobreza por si só, através da redução salarial. Na realidade, Bagehot esclarece que Marx falava de “pauperização”, que é – segundo o colunista – um termo exagerado mas correto na essência, pois os salários foram baixando desde que a atual crise teve início, em 2008, de tal maneira que, no ritmo atual, a tão proclamada “recuperação” econômica não permitirá que se alcancem, por muitos anos, os níveis de emprego e de salário anteriores à Grande Recessão. Além dessas grandes previsões, a coluna Bagehot ainda afirma que a crise atual não pode ser entendida, como observou Marx, sem compreender as mudanças dentro do capital, por um lado, e o crescimento da exploração da classe trabalhadora, por outro.
Pode o leitor imaginar algum grande jornal espanhol [ou brasileiro], seja de economia ou não, que permita a publicação de um artigo como esse? The Economist é o semanário liberal mais importante do mundo. Promove constantemente essa ideologia. Mas alguns de seus principais colunistas são capazes de aceitar que, depois de tudo, Marx, o maior crítico do capitalismo, tinha muita razão. Seria, repito, impensável que, em outros países, qualquer grande jornal publicasse tal artigo, com o tom e a análise que tornam a coluna uma das maiores da revista, assinada por um dos liberais mais ativos e conhecidos. A coluna e seu responsável não se converteram ao marxismo, com certeza. Mas reconhecem que o marxismo é uma ferramenta essencial para entender a crise atual. Na realidade, não são os primeiros que o fizeram. Outros economistas reconheceram essa verdade ainda que, em geral, não se enquadrem na sensibilidade liberal. Paul Krugman, um dos economias keynesianos mais conhecidos hoje, disse recentemente que o economista que melhor havia previsto e analisado as crises cíclicas do capitalismo, como a atual, havia sido Michal Kalecki, que pertenceu à tradição marxista.
Onde a coluna Bagehot se engana, por certo, é no final do artigo, quando atribui a Marx políticas levadas a cabo por alguns de seus seguidores. Confundindo marxismo com leninismo, a coluna conclui que a resposta histórica e a solução que Marx propõe seriam um desastre. O fato de o leninismo ter uma base no marxismo não quer dizer que todo marxismo tenha sido leninista, erro frequentemente cometido por autores pouco familiarizados com a literatura científica dessa tradição. Na verdade, Marx deixou para o final o terceiro volume de O Capital, que deveria dedicar-se precisamente na análise do Estado. Por desgraça, nunca pude iniciá-lo. Mas o que ele escreveu sobre a natureza do capitalismo foi bastante acertado, de modo que não se pode entender a crise sem recorrer a suas categorias analíticas. A evidência disso é claramente contundente, e o grande interesse que surgiu no mundo acadêmico e intelectual anglo-saxão, sobretudo nos EUA e no Reino Unido (onde The Economist é publicado) é um indicador disso. Mas temo que o que está ocorrendo la não se repetirá neste país, onde os maiores meios de informação são predominantemente de desinformação e persuasão.