
Por Douglas Barreto da Mata
O ciclo de poder instalado em 1989, no movimento político denominado Muda Campos parece ter reciclado suas forças e seu apetite por hegemonia, certo? Mais ou menos.Na verdade, aquele grupo político amplo, um arco de alianças de forças anti oligárquicas, naquele momento representado pelo usurpador Zezé Barbosa, não é o mesmo que hoje ocupa a prefeitura da cidade e se candidata a novo mandato.
Primeiro uma explicação para o adjetivo a Zezé Barbosa. Sua chegada ao comando do executivo local se deu como um golpe, uma usurpação promovida graças às mudanças antidemocráticas promulgadas pelos gorilas de 1964, quando o mais votado, José Alves de Azevedo, PTB, não foi empossado.
O resto é história, banquinhos de praça, Jaqueira, triturador e ruas calçadas apenas onde só moravam aliados.
Pois bem, voltando ao tema, parece que desde a criação do grupo Muda Campos, depois convertido no garotismo, personificado naquele que foi seu expoente máximo até aqui, não houve na planície grupo político que enfrentasse ou ameaçasse a hegemonia do time da Lapa.
Mesmo os opositores que chegaram a ocupar a prefeitura, por eleição e/ou impedimento dos mandatários, sejam Carlos Alberto Campista, Mocaiber, Arnaldo, Roberto Henriques, etc, todos eles derivam da matriz garotista. Isso é fato.
Não houve movimento político original de enfrentamento, salvo a tragédia Rafael Diniz, por ironia, neto de Zezé Barbosa, ele mesmo, o oligarca usurpador.
No entanto, o quadriênio de Rafael é um momento único da conjuntura: Lava jato reproduzida na planície, turbinada pelos impulsionamentos de redes sociais, até então uma novidade, e a coesão de sempre da mídia comercial anti garotista.Tudo isso junto para criminalizar e explorar ao máximo as intempéries do ex-governador e seus correligionários.
A devassa patrocinada pela inquisição goytacá parecia ter sepultado o grupo garotista, e aberto uma janela histórica para todos os setores do anti garotismo, desde os nanicos do PT até os setores ultra conservadores de sempre, que apesar de terem sido sempre contemplados pelo garotismo, sempre odiaram seu viés popular.
A administração Rafael Diniz foi um desastre, que somado à pandemia, colocou a cidade de joelhos. O desmonte da rede social de apoio aos mais pobres, destruição dos equipamentos públicos de serviços, em meio ao caos humanitário, e enfim, a diminuição de receitas, criaram a tempestade perfeita.
Resultado? vO segundo turno da eleição de 2020 teve o embate entre os dois herdeiros do garotismo, mesmo que separados, na época (hoje novamente juntos), por circunstâncias pessoais dos seus líderes.
Rafael e o movimento que ele representava foram colocados no lixo da história, apesar de que o conservadorismo embutido tanto no time de Rafael, quanto de Caio ou Wladimir seja quase comum a todos eles.
A desastrosa administração de Rafael foi a principal força para eleição do atual prefeito. Mas não é só isso. A oposição, ou pelo menos, aqueles que reivindicam essa condição, não se desvencilhou dos efeitos desse péssimo governo, e seguem agindo como se estivessem em 2016. Nenhum deles entendeu o momento histórico e a capacidade de renovação proporcionada pelo atual prefeito, quando estabeleceu uma forma de interlocução diferente de seu pai, o ex governador.
Rafael foi abatido porque governou olhando para o retrovisor, com o objetivo de apagar as marcas do garotismo, sem, no entanto, oferecer algo mais promissor que o arrocho fiscal dedicado a retirar, ainda mais, dos pobres para dar aos ricos. Austericídio é o que Rafael Diniz cometeu.
A oposição de hoje não sugere que tenha aprendido nada como 2016 e 2020. Tudo indica que o prefeito Wladimir Garotinho se reeleja com mais de 70 % dos votos válidos e consiga ganhar em todas as seções eleitorais. E isso não só porque ele tem qualidades, ele tem. É porque a oposição é muito ruim, e não disse até agora a que veio.