Em 2024, o agronegócio revela de vez sua face piromaníaca, antiambiental e antissocial

fogo rb

Em Ribeirão Preto (SP), a fumaça das queimadas da monocultura da cana fez o dia ser trocado pela noite

O estado de São Paulo que é vendido como o exemplo de modernidade e avanço tecnológico do agronegócio nacional enfrenta nos últimos dias um número recorde de focos de incêndio, formando o que alguns já estão chamando de “paisagem marciana“.  Para além de São Paulo, a paisagem não é muito diferente, fazendo com que as emissões brasileiras de CO2 associadas apenas ao uso da terra coloquem o Brasil como um dos maiores emissores globais de gases estufa.

Imagem de satélite da Nasa mostra concentração de focos de incêndios em São  Paulo

Focos de incêndios ativo derectados no dia 24 de agosto pelo sistema de monitaramento da Nasa — Foto: Nasa

Com essa verdadeira orgia de queimadas, o agronegócio brasileira rasga de vez a máscara de modernidade e revela sua faceta mais anti-ambiental e também anti-social em sua faceta piromaníaca, na medida em que os prejuízos que a opção pelo uso do fogo traz danos não apenas para o ambiente, mas também para a saúde humana.

Enquanto tudo isso acontece, vemos um mutismo explícito por parte das diferentes esferas de governo, a começar pelo governo federal de onde não parte nenhuma condenação mínima do que está sendo realizado nos territórios dominados pela grandes monoculturas de exportação.  Se olharmos para o governo de São Paulo, a coisa também não está sendo diferente, em que pese o risco real de se ter cidades inteiras dizimadas pelo fogo.  Ao nível dos municípios, a coisa não vai muito diferente,  nem poderia ser, pois a maioria dos prefeitos ou pertence ao agronegócio ou foi eleito por ele.  Um dos municípios paulistas mais afetados é Ribeiro Preto, que se encontra rodeado por grandes plantios de cana, mas de onde não se ouve nada do prefeito Duarte Nogueira (PSDB).  Parece até que a cidade não está trocando o dia pela noite por causa da fumaça vindo das queimadas de cana. Aliás, a única declaração dele até agora foi que a atual estação de queimadas é “fora do comum“.

Com as queimadas se espalhando por todo o país em um ritmo alucinante, muito em função de uma combinação entre mudanças climáticas e o aprofundamento de um modelo agrícola que aprofunda seus impactos, a verdade é que ficará difícil o Brasil continuar jogando o papel de vítima nos debates sobre controle das emissões de gases estufa. A verdade é que por causa das tendências piromaníacas do agronegócio nacional, o Brasil terá que cedo ou tarde assumir o papel que lhe cabe como vilão e não mocinho nas mudanças climáticas. E isso certamente será cobrado durante a realização da chamada COP30 em Belém no ano que vem.

O problema é que não há hoje força política que esteja disposta a colocar as responsabilidades devidas nos ombros do agronegócio brasileiro. Com isso, os recordes de 2024 serão provavelmente quebrados em 2025. A conta não resta dúvidas recairá sobre a maioria pobre da população brasileira que nada lucra com um modelo agrícola ancorado na destruição da natureza com um clara tendência piromaníaca.

Desigualdade e crise climática: os 1% mais ricos emitem tanta poluição quanto 2/3 da Humanidade, revela relatório da Oxfam

As emissões de carbono do 1% mais rico aumentaram para 16% do total das emissões mundiais de CO2 em 2019. As emissões de carbono  deste segmento são suficientes para causar 1,3 milhões de mortes em excesso devido ao aquecimento da Terra

climate inequality

O 1% mais rico da população mundial produziu tanta poluição de carbono em 2019 quanto os cinco mil milhões de pessoas que constituíam os dois terços mais pobres da humanidade, revela hoje um novo relatório da Oxfam.  Este relatório surge antes da Conferência da ONU sobre o clima no Dubai, num contexto de receios crescentes de que a meta de 1,5°C para reduzir o aumento das temperaturas pareça cada vez mais inatingível.

Climate Equality: A planet for the 99% [EN/AR] - World | ReliefWeb

Estas emissões descomunais dos 1% mais ricos causarão 1,3 milhões de mortes excessivas relacionadas com o calor, aproximadamente o equivalente à população de Dublin, na Irlanda. A maioria dessas mortes ocorrerá entre 2020 e 2030.

“Os super-ricos estão saqueando e poluindo o planeta até o ponto da destruição, deixando a humanidade sufocada pelo calor extremo, inundações e secas”, disse o Diretor Executivo interino da Oxfam International, Amitabh Behar.

“Durante anos lutamos para acabar com a era dos combustíveis fósseis para salvar milhões de vidas e o nosso planeta. Está mais claro do que nunca que isso será impossível até que nós também acabemos com a era da riqueza extrema”, disse Behar.

Os dados mostrados no relatório “ Igualdade Climática: Um Planeta para os 99% ” baseia-se na investigação do Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI) e avalia as emissões de consumo de diferentes grupos de rendimento em 2019, o ano mais recente para o qual existem dados disponíveis. O relatório mostra a enorme disparidade entre as pegadas de carbono dos super-ricos — cujos estilos de vida famintos de carbono e investimentos em indústrias poluentes, como os combustíveis fósseis, estão a impulsionar o aquecimento global — e a maior parte da população em todo o mundo. 

  • Os 1% mais ricos (77 milhões de pessoas) foram responsáveis ​​por 16% das emissões do consumo global em 2019 – mais do que todas as emissões dos automóveis e dos transportes rodoviários. Os 10 por cento mais ricos foram responsáveis ​​por metade (50 por cento) das emissões. 
     
  • Levaria cerca de 1.500 anos para que alguém entre os 99% mais pobres produzisse tanto carbono quanto os bilionários mais ricos produzem em um ano.  
     
  • Todos os anos, as emissões do 1% mais rico anulam as poupanças de carbono provenientes de quase um milhão de turbinas eólicas.
     
  • Desde a década de 1990, o 1% mais rico consumiu o dobro do carbono que nos resta para queimar, sem aumentar as temperaturas globais acima do limite seguro de 1,5°C, do que a metade mais pobre da humanidade. 
     
  • As emissões de carbono do 1% mais rico deverão ser 22 vezes superiores ao nível compatível com a meta de 1,5°C do Acordo de Paris em 2030.

O colapso climático e a desigualdade estão fechados em um ciclo vicioso — a Oxfam viu em primeira mão como as pessoas que vivem na pobreza, as mulheres e as raparigas, as comunidades indígenas e os países do Sul Global estão sentindo o impacto desigual dos impactos climáticos, que por sua vez aumentam a divisão. O relatório conclui que sete vezes mais pessoas morrem devido a inundações em países socialmente mais desiguais. Além disso, as alterações climáticas já estão agravando a desigualdade entre países e dentro deles.

Os governos podem enfrentar as crises gêmeas da desigualdade e das alterações climáticas, visando as emissões excessivas dos super-ricos e investindo em serviços públicos e cumprindo as metas climáticas. A Oxfam calcula que um imposto de 60%  sobre os rendimentos dos 1% mais ricos reduziria as emissões em mais do que as emissões totais do Reino Unido e angariaria 6,4 biliões de dólares por ano para pagar a transição dos combustíveis fósseis para as energias renováveis.

“Devemos fazer a conexão explicitamente. Não tributar a riqueza permite que os mais ricos nos roubem, arruínem o nosso planeta e reneguem a democracia. A tributação da riqueza extrema transforma as nossas possibilidades de enfrentar tanto a desigualdade como a crise climática. São triliões de dólares em jogo para investir em governos verdes dinâmicos do século XXI, mas também para reinjetar nas nossas democracias”, disse Behar.

A Oxfam apela aos governos para:

  • Reduzir drasticamente a desigualdade. A Oxfam calcula que seria possível, através de uma redistribuição global de rendimentos, proporcionar a todas as pessoas que vivem na pobreza um rendimento diário mínimo de 25 dólares, reduzindo ao mesmo tempo as emissões globais em 10 por cento (aproximadamente o equivalente às emissões totais da União Europeia). 
  • Abandonar os combustíveis fósseis de forma rápida e justa. Os países ricos são desproporcionalmente responsáveis ​​pelo aquecimento global e devem acabar com a produção de petróleo e gás de forma correspondentemente mais rápida. Novos impostos sobre empresas e multimilionários poderiam ajudar a pagar a transição para as energias renováveis.
  • Priorizar o bem-estar humano e planetário em detrimento do lucro, extração e consumo infinitos. É preciso parar de usar o crescimento do PIB como medida do progresso humano. 

color compass

Este texto escrito originalmente em inglês foi publicado pela Oxfam International [   ].

Luciana Gatti: ‘A Amazônia não está mais compensando o estrago humano’

A cientista, que apontou a perda da capacidade da floresta de absorver o gás carbônico emitido por ação humana, mostra em novo estudo que os efeitos do desmatamento sob Bolsonaro foram equivalentes, para o clima, aos do pior El Niño já registrado

gatti

Por Cláudia Antunes, do Rio de Janeiro para o “Sumaúma”

Luciana Vanni Gatti é uma cientista indignada com a destruição da Amazônia e com os que se negam a enxergar as consequências da derrubada da floresta para o Brasil e o mundo. “Meu motor número 1 é tentar abrir a cabeça das pessoas para isso”, diz a coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Gatti lidera um grupo de pesquisadores que foram os primeiros a demonstrar que a maior floresta tropical do planeta já não consegue mais remover da atmosfera todo o gás carbônico – o principal causador do efeito estufa – lançado no ar da Amazônia por atividades humanas como o desmatamento e as queimadas. Agora, ela acaba de publicar na revista Nature o resultado do estudo mais recente que dirigiu e que mapeia o “efeito Bolsonaro” sobre a destruição da mata na região. Apesar dos dados desanimadores que encontrou, a cientista afirma que ainda há tempo de reverter esse processo. “Se hoje fizermos queimada zero, desmatamento zero, a Amazônia passará a ser um sumidouro de carbono”, afirma, em referência à capacidade da floresta de voltar a absorver mais gás do efeito estufa do que é emitido.

Uma primeira versão do artigo já havia sido divulgada em setembro do ano passado em preprint – um texto que ainda não passou pela avaliação de outros cientistas. Agora, ganha o endosso de uma das publicações científicas de maior prestígio no mundo. O estudo analisa as emissões de gases causadores do efeito estufa na Amazônia em 2019 e 2020, os dois primeiros anos do governo do extremista de direita Jair Bolsonaro. Nesse período, as emissões chegaram muito perto das registradas durante o pior El Niño de que se tem notícia, entre 2015 e 2016. Esse fenômeno de aquecimento das águas do oceano Pacífico causa seca e redução das chuvas no norte do Brasil, favorecendo a propagação dos incêndios na mata. E a queima das árvores libera carbono na atmosfera. “Bolsonaro e Ricardo Salles merecem o apelido de ‘El Niño brasileiro’”, diz Gatti, referindo-se também ao ministro do Meio Ambiente de janeiro de 2019 a junho de 2021.

Os dados colhidos pelo Laboratório de Gases de Efeito Estufa mostraram que as emissões de gás carbônico (CO2) e de monóxido de carbono (CO) – gases causadores do efeito estufa que possuem o carbono em sua composição – aumentaram 89% em 2019, em relação à média registrada entre 2010 e 2018, e 122% em 2020, na comparação com os mesmos nove anos. De maneira geral, isso significa que durante os dois primeiros anos do governo Bolsonaro a floresta teve mais dificuldade de absorver o carbono lançado no ar pelas ações dos humanos, como o desmatamento e a degradação da mata – quando apenas parte das árvores é cortada para a venda ou quando o fogo atinge a floresta em pé, queimando apenas parte dela.

As plantas da floresta estocam carbono na fotossíntese, processo pelo qual se alimentam. Elas absorvem o gás carbônico e o armazenam em suas folhas, troncos e raízes. Quando elas são arrancadas, queimadas ou morrem, esse carbono volta para a atmosfera. “A floresta não está compensando o estrago humano”, afirma a cientista.

Infográfico: Rodolfo Almeida/Sumaúma

Na ausência de uma seca extrema que pudesse explicar o aumento das queimadas e, em consequência, das emissões em 2019 e 2020, Gatti buscou no estudo relacionar esse incremento às políticas bolsonaristas. Para isso, contou com a colaboração de colegas do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) e do Programa Queimadas (BDQueimadas), ambos do Inpe; do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden); e da equipe da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que acompanha políticas públicas de controle do desmatamento. No total, 30 pesquisadores assinam o estudo, intitulado Aumento das Emissões de Carbono na Amazônia Devido Principalmente ao Declínio da Aplicação da Lei.

A pesquisa destaca a queda na aplicação e cobrança de multas aos desmatadores pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Sob Bolsonaro, um decreto presidencial – o 9.760, de abril de 2019 – e vários despachos do Ibama dificultaram a autuação por crimes ambientais e facilitaram a prescrição de penalidades. O resultado é que as multas aplicadas na Amazônia diminuíram 30% em 2019 e 54% em 2020, na comparação com a média dos anos de 2010 a 2018. A redução das multas pagas foi de 74% em 2019 e 89% em 2020. Em contrapartida, nos mesmos dois anos o desmatamento aumentou 82% e 77%, respectivamente, e as áreas queimadas cresceram 14% e 42%.

Um marco simbólico da destruição foi o chamado “Dia do Fogo”, em 2019. Entre 10 e 11 de agosto daquele ano, o Inpe constatou 1.457 focos de calor no Pará, com epicentro na cidade de Novo Progresso, no sudoeste do estado. Isso representou um aumento de 1.923% em comparação com os mesmos dias do ano anterior, segundo levantamento do Greenpeace. Somente no dia 10, houve 715 focos de incêndio, 707% mais do que no dia anterior, 9 de agosto, quando ocorreram 101 focos. Investigações da polícia mostraram que fazendeiros de Novo Progresso tinham feito uma vaquinha para comprar combustível e incendiar a mata. O levantamento do Greenpeace, porém, revela que só 5% das 207 propriedades em que houve queimadas foram multadas.

 Imagem aérea de queimadas na região de altamira, município no estado do pará, em 2019, durante o mandato de jair bolsonaro. Foto: victor moriyama/greenpeace imagem aérea de queimadas na região de Altamira, município no estado do Pará, em 2019, durante o mandato de Jair Bolsonaro. Foto: Victor Moriyama/Greenpeace

Quando ocorreu o Dia do Fogo, Bolsonaro enfrentava críticas internacionais por causa do aumento do desmatamento. Ele havia travado uma discussão pública com o presidente da França, Emmanuel Macron, e a Alemanha suspendera doações para o setor ambiental brasileiro. As queimadas seriam uma manifestação dos ruralistas de apoio ao presidente. Em janeiro de 2022, num evento de lançamento de crédito agrícola do Banco do Brasil, Bolsonaro comemorou a queda na autuação durante seu governo. “Paramos de ter grandes problemas com a questão ambiental, especialmente no tocante à multa. Tem que existir? Tem. Mas conversamos e nós reduzimos em mais de 80% as multagens [sic] no campo”, disse. Sete meses depois do discurso de Bolsonaro, em 22 de agosto, os focos de queimadas superaram os do Dia do Fogo: foram 3.358 em toda a Amazônia, dos quais 1.126 no Pará.

Infográfico: Rodolfo Almeida/Sumaúma

O estudo publicado na Nature constatou que, em 2019 e 2020, a maior parte do aumento das emissões se deveu à queima de florestas ainda em pé, que tem um efeito prolongado de degradação da vegetação – o mais comum é que as árvores primeiro sejam derrubadas e em seguida incendiadas. “A degradação em 2019 e 2020 foi gigantesca”, comenta Gatti. “[Os criminosos] entraram em terras protegidas, em terras indígenas, para pegar terra pública e queimaram floresta viva”, diz. “Como o fogo entra por baixo da mata, o satélite não pega bem. Quando o fogo apaga, continua havendo emissão de carbono porque a árvore está morrendo, está se decompondo. As emissões de decomposição superaram as emissões de queimadas”, explica ela. A dificuldade de captar em tempo real esse tipo de destruição ajuda a entender por que o crescimento dos focos de incêndio detectados nos dois primeiros anos de Bolsonaro foi menor que o das áreas queimadas: 3% em 2019 e 22% em 2020.

Infográfico: Rodolfo Almeida/Sumaúma

O artigo traz ainda dados que indicam para que foram usadas as áreas de floresta destruídas naqueles dois anos. O número de cabeças de boi na Amazônia aumentou 13% no biênio, enquanto diminuiu 4% no resto do país. A área plantada de soja cresceu 68%, e a de milho, 58%. A exportação de madeira bruta explodiu, aumentando 683%. Em fevereiro de 2020, um despacho do então presidente do Ibama, Eduardo Bim, acabou com a exigência de que essa exportação fosse autorizada pelo órgão, com exceção de espécies de árvore sob risco de extinção. Para as demais, bastava uma autodeclaração de que a madeira tinha origem legal.

Em 2021, Bim e Ricardo Salles passaram a ser investigados pela Polícia Federal por suposto envolvimento na exportação ilegal de madeira para os Estados Unidos e a Europa. Por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente do Ibama foi afastado do cargo por 90 dias. Salles acabou caindo do ministério, mas no ano passado foi eleito deputado federal por São Paulo, pelo PL, com 640 mil votos, a quarta maior votação para a Câmara no estado. O inquérito ainda não foi concluído.

O dominó da destruição

É a terceira vez que Luciana Gatti aparece como primeira autora em um artigo na Nature – os outros foram publicados em 2014 e 2021. Todos estão relacionados a suas pesquisas sobre os impactos da floresta amazônica no clima regional e global e vice-versa, porque, assim como a destruição da Amazônia influencia o clima do planeta, as mudanças climáticatambém prejudicam a floresta brasileira. Essa investigação começou nos anos 1990, quando o cientista Carlos Nobre buscou recursos e parcerias no exterior para criar, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia, conhecido pela sigla em inglês LBA. O LBA ajudou a formar uma geração de cientistas brasileiros especializados em mudanças climáticas e ambientais, entre os quais Luciana Gatti. Química de formação, especialista na medição de gases do efeito estufa, ela foi estudar outras áreas, como meteorologia, para entender os resultados que obtinha.

Luciana Gatti confere equipamento usado para coletar amostras de ar na amazônia. as análises são feitas no laboratório do INPE, em São José dos Campos, estado de São Paulo. Foto: Maíra Erlich/Sumaúma

Na época, as primeiras medições do balanço de carbono na Amazônia – isto é, se a região mais emite ou absorve – foram feitas com o uso de torres de 80 metros para a coleta de amostras de ar. Logo se descobriu, porém, que os dados obtidos dessa forma eram insuficientes para representar toda a região, pois só mediam a quantidade de carbono naquele local específico.

Foi então que veio o projeto de usar aviões para recolher amostras de ar da Amazônia a diferentes distâncias do solo, em altitudes que vão de 300 metros a 4,4 quilômetros, inspirado no que já era feito em outros lugares pela Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA (NOAA, na sigla em inglês). Isso permite a representação de áreas mais amplas. O projeto foi concretizado com a criação do Laboratório de Gases de Efeito Estufa, que fez suas primeiras medições em 2010 e hoje recolhe amostras em quatro áreas, que representam as regiões nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste da Amazônia. “Se você vai descendo e a concentração de CO2 vai diminuindo, significa que a superfície está removendo CO2 da atmosfera. Se ela vai aumentando, significa que a superfície é uma fonte, está emitindo CO2”, explica Gatti. “Isso consegue te contar se a Amazônia é uma fonte ou um sumidouro de carbono [absorve mais gás do que é emitido].”

Infográfico: Rodolfo Almeida/Sumaúma

No artigo publicado na Nature em 2021, com base nos dados de 2010 a 2018, a cientista já afirmava que a capacidade da floresta amazônica de absorver todo o carbono lançado na atmosfera da região estava em declínio. Naquele texto, ela mostrava que as emissões eram maiores do que a absorção no entorno de Santarém, no Pará, e de Alta Floresta, em Mato Grosso, que ficam no lado leste da Amazônia, historicamente mais desmatado. Na época, as regiões no entorno de Tefé, no Amazonas, e Rio Branco, no Acre, ambas no oeste amazônico, ainda absorviam mais carbono do que emitiam. Em 2019, porém, a área nas proximidades de Tefé já virou emissora. Em 2020, isso ficou patente também nas medições feitas próximo a Rio Branco. “O desmatamento aumentou absurdamente em Mato Grosso, Rondônia, Roraima, sul do Amazonas e Acre”, diz Gatti.

De acordo com as informações do Laboratório de Gases de Efeito Estufa, em apenas três dos 11 anos entre 2010 e 2020 – 2011, 2017 e 2018 – o balanço das emissões de carbono na região amazônica como um todo foi neutro ou negativo, isto é, houve, em média, mais absorção do que emissões. Em 2010, as emissões aumentaram, apesar de o desmatamento ter caído em relação ao ano anterior, mas houve outro El Niño. Em 2011 e 2018, ocorreu o fenômeno La Niña, que tem efeito oposto – as águas do Pacífico ficam mais frias, e isso provoca mais chuvas na Amazônia.

Luciana Gatti, porém, não estava plenamente satisfeita com as explicações de que dispunha para o balanço das emissões na Amazônia. Embora o desmatamento seja uma causa direta do aumento das emissões de carbono, ela ficou intrigada com o fato de não haver uma relação proporcional entre o desmate acumulado e essas emissões. Por exemplo, uma região que já tinha perdido 27% da mata nativa emitia oito vezes mais do que outra que estava 11% desmatada – e não quase três vezes mais, como uma conta matemática simples permitiria deduzir. Aí veio a pesquisa que lhe proporcionou seu “maior aprendizado”, no sentido de entender que a floresta que resta está sendo modificada pelo desmatamento.

Analisando os dados mensais de chuvas e temperaturas durante 40 anos para cada uma das quatro regiões cobertas pelas coletas do laboratório, ela verificou que nas áreas mais desmatadas tinha havido maior redução de chuvas e aumento da temperatura, especialmente na estação seca. Na Amazônia, essa estação ocorre quando a floresta recebe menos vapor de água do oceano e a formação de chuva depende mais do processo de transpiração das árvores ou da evaporação dos rios. Nas áreas mais desmatadas, existem menos árvores para compensar essa perda de chuva.

Uma estação seca mais quente e com menos precipitação “estressa” a floresta, define Gatti. Numa floresta estressada, mais árvores morrem e as que continuam de pé são mais inflamáveis. “A floresta amazônica é como um jogo de dominó, em que tudo está correlacionado”, afirma a cientista. “Quando você desmata, você não emite só carbono, você reduz a chuva e aumenta a temperatura, o que vai fazer a floresta ficar mais seca. Quando o ser humano desmatar e tacar fogo [em uma área que será usada para pasto ou plantação], a floresta que não foi desmatada vai estar seca, e o fogo vai entrar muito mais”, exemplifica ela. “É esse conjunto de cenários que explica as emissões na Amazônia.”

O estudo recém-publicado na Nature mediu o impacto do desmatamento nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro na temperatura e nas chuvas. Em 2019, não houve alteração significativa em relação à média registrada nos anos entre 2010 e 2018. Em 2020, porém, foi constatada queda de 12% na precipitação anual. Diferentemente do verificado nas medições anteriores, essa queda se concentrou na estação chuvosa – janeiro, fevereiro e março tiveram 26% menos chuva. Nos mesmos três meses, a temperatura subiu 0,6 ºC. Uma menor precipitação na estação chuvosa, por sua vez, tem impacto na estação seca, porque se traduz em menos umidade disponível e a floresta pega fogo mais facilmente. “Na pandemia, eu fiquei sozinha, estudando sem parar, e foi isso que foi vindo à tona, essa visão integrada da destruição de uma floresta pelos brasileiros estúpidos, involuídos, que só conhecem o modelo econômico de 50 anos atrás”, desabafa Gatti.

Os jalecos e os livros usados em estudos sobre mudanças climáticas, no escritório de luciana gatti, no inpe. Foto: Maíra Erlich/Sumaúma

A floresta e o mundo

A cientista ressalta que os dados desanimadores constatados em suas pesquisas precisam ser vistos num quadro mais amplo. Embora esteja sob uma pressão cada vez maior, a vegetação amazônica, que representa cerca de 50% das florestas tropicais do mundo, ainda atua como reguladora do clima. Ela faz isso tanto por absorver carbono, na fotossíntese, quanto pela chamada “evapotranspiração”, que lança água no ar em forma de vapor. Esse vapor é responsável por 50% da recirculação de água na própria Amazônia e ainda produz chuvas no Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, para onde é levado pelos ventos, fenômeno que ficou conhecido como “rios voadores”.

Se a atmosfera do planeta não tivesse sido alterada pelas atividades humanas, o balanço de carbono da floresta amazônica seria neutro, explica Luciana Gatti. “Ela é uma floresta madura, e numa floresta madura há um equilíbrio entre emissões e absorções”, diz, lembrando que a vegetação também emite CO2 por meio da respiração e quando está em decomposição. “Mas, como a atmosfera está superenriquecida de gás carbônico, a natureza está sendo estimulada a fazer mais fotossíntese. Essa absorção de carbono não é natural, ela é um desequilíbrio provocado por nós mesmos.”

Gatti cita os números do Projeto Global de Carbono, uma iniciativa científica internacional que calcula o Orçamento Global de Carbono. Segundo esse cálculo, a concentração de gás carbônico na atmosfera passou de 277 partes por milhão em meados do século 18, na era pré-industrial, para 417 partes por milhão em 2022. É isso que está provocando o aumento da temperatura média do planeta e os eventos climáticos extremos que esse aumento acarreta, como secas prolongadas e tempestades atípicas. Nessas circunstâncias, a floresta amazônica e outros ecossistemas brasileiros, como o Pantanal, atuam como um “tampão climático” para o país, diz Gatti. Quando evaporam água, resfriam a atmosfera.

Na última década, foram emitidos no mundo por ano, em média, 35 bilhões de toneladas de carbono pelo uso de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural) e 5 bilhões de toneladas por causa de mudanças no uso da terra, como o desmatamento. Do total de 40 bilhões, segundo o Orçamento Global de Carbono, 19 bilhões ficaram na atmosfera, outros 11 bilhões foram absorvidos pelas florestas e 10 bilhões pelos oceanos, por meio do fitoplâncton, formado por organismos como as algas, por exemplo, que também fazem fotossíntese. “Se a própria natureza não estivesse se alterando para compensar o estrago que a gente está fazendo, a nossa situação seria muito pior”, afirma a cientista. “Mas até quando a natureza vai conseguir fazer esse trabalho de limpar nossa sujeira?”

O estudo publicado na Nature busca uma conclusão que não seja pessimista sobre o futuro da floresta amazônica. Enumera políticas que levaram à redução contínua do desmate entre 2004 e 2012, como o primeiro Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDam), lançado em 2004, e a implementação no mesmo ano do Deter, sistema de monitoramento por satélite que permite detectar o desmatamento quase em tempo real. Lista também as iniciativas que foram minando a vigilância, como o Código Florestal de 2012, que anistiou 58% do desmatamento ilegal ocorrido até 2008 e deu 20 anos de prazo aos proprietários de terras para regularizarem sua situação. Ainda em 2018, no governo de Michel Temer, o Ibama retirou a autonomia dos agentes em campo para destruírem equipamentos usados para destruir a floresta.

Comparando os períodos de 2010 a 2014 e de 2016 a 2020, o estudo mostra que, no último deles, quando o ritmo do desmatamento voltou a aumentar, as emissões na Amazônia cresceram 50% e as emissões especificamente por queimadas subiram 16%. Já a absorção de carbono diminuiu 31%. Isso indica, afirma o artigo, que políticas públicas são importantes para prevenir o desmate, a degradação florestal e o fogo. Pelas contas de Luciana Gatti, o fim das queimadas e do desmatamento deixaria a floresta em condições de compensar, de novo, o gás carbônico jogado na atmosfera pelas atividades dos humanos.

A cientista já se dedica a uma nova pesquisa, que tem entre os parceiros o Carnegie Science, dos Estados Unidos. Joseph Berry, cientista veterano do instituto americano, descobriu que o composto conhecido como COS, o sulfeto de carbonila, formado por 1 átomo de carbono, 1 de oxigênio e 1 de enxofre, funciona como um “traçador de fotossíntese”. A planta não vê diferença entre o COS, que ocorre naturalmente na atmosfera, e o dióxido de carbono (CO2). Assim absorve os dois quando se alimenta. Quando ela respira, porém, produz apenas CO2 e, portanto, não devolve o COS à atmosfera. “A redução do COS nas amostras de ar é proporcional à fotossíntese”, explica Gatti. Dito de outra forma, a redução da presença de COS no ar pode dar uma medida mais exata da quantidade de CO2 que a vegetação absorveu ao se alimentar. “A gente vai finalmente poder dizer se a floresta estressada pelo desmatamento, pelo aumento da temperatura, está absorvendo menos carbono do que a floresta mais preservada”, antecipa-se, animada.


Checagem: Plínio Lopes
Revisão ortográfica (português): Elvira Gago
Tradução para o espanhol: Julieta Sueldo Boedo
Tradução para o inglês: Diane Whitty
Edição de fotografia: Lela Beltrão
Montagem da página: Érica Saboya

A cientista em seu local de trabalho: ‘a gente vai finalmente poder dizer se a floresta está estressada pelo desmatamento’. Foto: Maíra Erlich/Sumaúma


compass black

Este texto foi originalmente publicado pelo jornal Sumaúma [Aqui!].

Temperaturas nas copas das árvores nas florestas tropicais estão em um ponto crítico

amazonia meandroUma vista como um dossel sem fim, a floresta amazônica cobrindo cerca de 60% do Peru. Um estudo alertou que, à medida que as mudanças climáticas continuam, “copas inteiras poderão morrer”. Direitos autorais: Diego Perez / Serviço Florestal do USDA (Marca de Domínio Público 1.0)

A copa – muitas vezes a mais de 30 metros acima do solo – consiste em galhos e folhas sobrepostos de árvores florestais. Os cientistas estimam que entre 60 e 90% da vida florestal se encontra ali.

Esta densa camada florestal também captura dióxido de carbono da atmosfera, actuando como um chamado “sumidouro de carbono”, ajudando a conter o aquecimento global e os seus efeitos nas comunidades vulneráveis , particularmente no Sul global.

O estudo internacional, publicado hoje (23 de agosto) na Nature, analisou dados de todas as florestas tropicais do mundo.

“Nosso modelo não é o destino. Sugere que, com alguma mitigação climática básica, podemos resolver esta questão.”

Christopher Doughty, professor associado de ecoinformática, Northern Arizona University

Pesquisadores liderados por Christopher Doughty, professor associado de ecoinformática na Northern Arizona University, EUA, analisaram a variação das temperaturas das folhas nas copas das florestas e como elas poderiam ser afetadas pelas mudanças climáticas .

Eles calcularam que as florestas tropicais poderiam atingir um “ponto de inflexão” crítico se a temperatura do ar subisse 4 graus Celsius.

As florestas tropicais, que abrigam dois terços da biodiversidade mundial, estão a aquecer, diz Doughty.

“Em nossa pesquisa, detalhamos quanto aquecimento eles podem suportar”, disse ele ao SciDev.Net .

“Isto é importante porque quantifica quanto menos carbono a sociedade deveria colocar na atmosfera para evitar este potencial colapso das florestas tropicais.”

Os pesquisadores descobriram que algumas folhas individuais de uma copa podem ser muito mais quentes do que a temperatura média da copa.

“Uma pequena percentagem de folhas tropicais já está a atingir, e ocasionalmente a ultrapassar, as temperaturas às quais já não conseguem funcionar – sugerindo que, à medida que as alterações climáticas continuam, copas inteiras podem morrer”, alerta o estudo.

No passado, medir com precisão as temperaturas das folhas e das copas das florestas tropicais era difícil e demorado.

Estação Espacial Internacional

Mas, ao combinar medições terrestres de temperaturas individuais de folhas tropicais, experimentos de aquecimento de folhas de três continentes e dados de alta resolução de um novo instrumento de imagem térmica da NASA a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS), os pesquisadores construíram uma compreensão abrangente de temperaturas atuais das folhas das florestas tropicais.

Esta visualização mostra uma visão global dos dados de altura da floresta coletados pelo instrumento GEDI a bordo da Estação Espacial Internacional. Marrom e verde escuro representam vegetação mais curta. Verde brilhante e branco representam vegetação mais alta. Esta visualização utiliza dados coletados entre abril de 2019 e abril de 2020. A altura é exagerada para representar a variação nesta escala.
Adaptado do Estúdio de Visualização Científica da NASA

A equipe foi então capaz de modelar como se pode esperar que essas temperaturas mudem diante do contínuo aquecimento global induzido pelo homem.

“Pela primeira vez, este trabalho combina todos os conjuntos de dados de experimentos de temperatura e aquecimento foliar de florestas tropicais de todo o planeta, usa um novo satélite térmico da NASA e combina esses dados em um modelo para simular possíveis situações climáticas futuras”, diz Doughty.

“Em essência, medimos exclusivamente as temperaturas de folhas individuais em todas as florestas tropicais e usamos isso para prever o destino das florestas tropicais.”

Os investigadores usaram os dados para estimar a proporção de folhas que podem aproximar-se de temperaturas críticas sob futuros aumentos nas temperaturas do ar de 2 graus Celsius, 3 graus Celsius e 4 graus Celsius, que são vários cenários de aquecimento sob as alterações climáticas.

Para fazer isso, eles agregaram dados de experimentos de aquecimento das folhas superiores do dossel do Brasil, Porto Rico e Austrália.

“Ficámos realmente surpreendidos porque, quando aquecemos as folhas apenas alguns graus, as temperaturas mais elevadas das folhas aumentaram 8 graus Celsius”, diz Doughty.

Uma copa de floresta enevoada em Uganda.  Foto de Douglas Sheil/CIFOR

Uma floresta enevoada e ondulada em Uganda. Pesquisas anteriores mostraram que as árvores estão morrendo em ritmo acelerado. Foto de Douglas Sheil/CIFOR

O estudo mostrou que mais de um por cento das folhas nos experimentos de aquecimento da copa excederam os limites críticos de temperatura, estimados em 46,7 graus Celsius, pelo menos uma vez por ano, aumentando a porcentagem de folhas que atualmente ultrapassam esse limite em duas ordens de grandeza. Doughty explica.

Os autores também mediram as temperaturas máximas do dossel em todas as florestas tropicais da América do Sul, África e Sudeste Asiático usando o ECOSTRESS da NASA, um instrumento térmico na ISS que mede a temperatura das plantas. Eles descobriram que durante os períodos secos e quentes, as copas inteiras podem exceder 40 graus Celsius.

Amazônia corre o maior risco

“Nosso modelo não é o destino”, enfatiza Doughty, no entanto.

“Isso sugere que, com alguma mitigação climática básica, podemos resolver esta questão.

“Além disso, ajuda a identificar algumas áreas-chave que necessitam de mais investigação, como se as árvores tropicais podem alterar os seus limites de temperatura superior.”

A investigação concluiu que, como a Amazónia já regista temperaturas ligeiramente mais elevadas do que a Bacia do Congo, corre maior risco.

Pesquisas anteriores demonstraram que as árvores estão a morrer a um ritmo acelerado na Amazónia, em comparação com a África Central, sugerindo que as altas temperaturas podem ser parcialmente responsáveis ​​por este aumento da mortalidade.

“Ao evitar caminhos de altas emissões e desmatamento, podemos proteger o destino desses domínios críticos de carbono, água e biodiversidade”, diz Doughty, acrescentando: “Este estudo deve funcionar como [um] alerta de que se as pessoas não abordarem alterações climáticas, as florestas tropicais podem estar em risco.”

David Schimel, cientista pesquisador sênior do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA em Caltech, na Califórnia, EUA, disse ao SciDev.Net que a pesquisa identifica uma relação entre macroclima e microclima.

“Muitas vezes, os ecologistas fazem inferências sobre as prováveis ​​consequências das mudanças climáticas usando tendências regionais de temperatura e referenciando a biologia aos dados meteorológicos mais prontamente disponíveis”, diz ele.

“[Eles] usam dados ‘reduzidos’ considerando a topografia e a elevação, encostas mais ensolaradas e mais sombreadas, mas raramente consideram o detalhe das variações na vertical dentro de uma copa, em parte porque, como este artigo mostra, este é um esforço de pesquisa significativo. ”

Em contraste, diz Schimel, os pesquisadores deste estudo aproveitaram um instrumento de sensoriamento remoto de última geração que possui “resolução e precisão espacial sem precedentes” para estudar o balanço de energia dentro de uma copa alta.

Ele diz que a pesquisa fornece “alguma precisão à nossa compreensão de como as copas respondem às ondas de calor e demonstra o valor das observações térmicas de alta resolução”.

Schimel duvida que a investigação aumente a motivação do mundo para evitar os cenários de elevadas emissões que já está empenhado em evitar.

“Na minha opinião, o principal valor deste estudo é destacar o quão complicado será capturar os extremos, em oposição às tendências globais lentas, e os seus impactos”, acrescenta.

“Esta é, sem dúvida, apenas uma das muitas maneiras pelas quais as respostas diferem entre extremos e mudanças graduais.”


compass black

Este texto escrito originalmente em inglês foi produzida pela mesa global do SciDev.Net e publicada [Aqui!].

Notas de membros do CCAG sobre a perda de capacidade da Amazônia de absorver carbono

amazonia

Foto: USP Imagens

bori conteudo

Por David King

Nota de Sir David King, presidente do Grupo Consultivo para a Crise Climática, sobre o artigo publicado ontem (14) na Nature:

“Este é um artigo de pesquisa criticamente importante publicado na Nature que descreve como a floresta amazônica passou a ser uma fonte líquida de emissões de CO2, em vez de um grande sumidouro de CO2. É o estudo mais completo e extenso já realizado. Essas descobertas são resultado direto de uma crescente classe média em todo o mundo que pressiona a produção de carne bovina e soja, bem como da mudança catastrófica na direção das políticas do atual governo brasileiro. Trata-se de uma acusação devastadora de sua trajetória atual, já que o país passou de um dos mais progressistas em termos de gestão de emissões para um dos piores. Devemos continuar a pressionar quem está no poder a reconsiderar, a garantir um futuro melhor não apenas para o povo do Brasil, mas para a saúde do planeta. ”

Nota da Mercedes Bustamante (UnB), representante do CCAG no Brasil:

“O destino da Amazônia é central para a solução das crises climática e de biodiversidade. Os ecossistemas amazônicos são um dos elementos mais críticos do ciclo global do carbono e do sistema climático. Atualmente, 18% da Amazônia já foi desmatada, e 17% está em processo de degradação. As perturbações também colocam a biodiversidade em risco, afetando o funcionamento e a produtividade dos ecossistemas.

Os impactos simultâneos das mudanças climáticas, eventos extremos, mudanças no uso do solo, stress hídrico e mortalidade de árvores conduzem a feedbacks positivos que reduzem a resiliência da floresta e impulsionam a inversão de sumidouro para fonte de carbono em partes da região. A estação seca está começando na região, e dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial mostraram que a Amazônia tinha 2.308 focos de queimadas em junho, o maior número desde 2007 para este mês. Parar o desmatamento e as queimadas associadas e investir na restauração de ecossistemas degradados na região são pontos críticos para travar a espiral de degradação.”

Sobre o CCAG

Climate Crisis Advisory Group (em português, Grupo Consultivo de Crise Climática) é um grupo independente de 14 especialistas em mudanças climáticas de 10 nações de todos os continentes. Ele inclui experts em ciência climática, emissão de carbono, energia, meio ambiente e fontes naturais. O grupo quer se tornar referência nas tomadas de decisão dos diferentes países com relação à crise climática. Seus relatórios mensais estão sendo antecipados pela Bori desde junho de 2021.

fecho

Este texto foi produzido originalmente e publicado pela Agência Bori [Aqui!].