Folha de São Paulo adota discurso privatista e depreciativo sobre educação pública

Pesquisadora analisou mais de mil textos sobre ensino básico publicados em jornal paulistano

Escola-Estadual-Dom-Joao-NeryAlunos em pátio da Escola Estadual Dom João Nery, em Campinas: de acordo com o estudo, desqualificação do ensino público foi recorrente nos texto analisado 

Por Adriana Vilar de Menezes, e fotos por Antoninho Perri | Antonio Scarpinetti para o Jornal da UNICAMP

Ao analisar 1.197 artigos de opinião e 145 editoriais publicados pelo jornal Folha de S.Paulo entre 2005 e 2020, a pesquisadora Thais Rodrigues Marin se surpreendeu: encontrou nos textos uma postura reiterada de desqualificação do sistema brasileiro de educação pública, em ataques que atingiram também os professores dessa rede. A pesquisadora já esperava, por conta do recorte que fez para realizar seu doutorado, na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, deparar-se com essa insistente narrativa privatista. Marin, contudo, não previu o tom dos textos, um dos elementos a confirmar sua conclusão sobre o papel da grande imprensa brasileira na disseminação desse discurso em relação à educação básica no país.

A pesquisadora Thais Rodrigues Marin: localizando o “discurso da privatização da educação básica”

Grupo mapeia atores privados

“No âmbito da produção científica, a contraposição às narrativas privatistas da educação pode e deve ser feita por meio da realização de pesquisas com densidade teórica e empírica, como a de Thaís Marin”, afirma Adrião. A pesquisa indicou haver um discurso hegemônico sobre a privatização, diz a professora. E esse é o tema central dos trabalhos realizados pelo Greppe, grupo que inclui docentes, pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação e educadores de três universidades públicas: Unicamp, Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Foto da professora Theresa Maria de Freitas Adrião
A professora Theresa Maria de Freitas Adrião, coordenadora do Greppe: por um “jornalismo mais informado e menos ideológico”

O Greppe dispõe de levantamentos e mapeamentos de todo o Brasil sobre as políticas estaduais de educação e a ingerência de atores privados nessas políticas, especialmente a partir de 2005, depois da Lei de Responsabilidade Fiscal de 2000 – 2001. A partir dessa lei, ficou estabelecido um limite de até 60% dos gastos dos governos estaduais com as folhas salariais, o que comprometeu políticas para a educação pública, favoreceu a transferência de atividades estatais para o setor privado e limitou os investimentos na valorização de profissionais da educação. As pesquisas do Greppe indicam que organizações privadas responsáveis por disseminar o discurso de desqualificação da escola pública influenciam as políticas educacionais das redes estaduais e municipais de ensino, dificultando a construção de uma política educacional focada no ensino público de qualidade.

Segundo a análise de Adrião, nos últimos anos houve um acirramento do reacionarismo. “O que é estatal e tem caráter universal, ou seja, o que é democrático e não discriminatório, como é a concepção de educação pública no Brasil, passou a ser desqualificado.” A docente também acredita ser importante que as universidades e as instituições científicas divulguem suas pesquisas e disputem pautas junto aos meios de comunicação de massa. “É preciso que haja uma ampliação da presença de pesquisadores como fontes para um jornalismo mais informado e menos ideológico”, defende a professora.

Além da formação de pesquisadores, o Greppe também atua junto a entidades da sociedade civil vinculadas à defesa da educação pública e à difusão do conhecimento científico construído com base em pesquisas. Em 2019, o grupo criou a Rede Latino-Americana e Africana de Pesquisadores em Privatização da Educação (Relaappe), entidade que hoje coordena.


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Fonte: Jornal da UNICAMP

A extinção da Antonio Sarlo avança mascarada sob o eufemismo de “incorporação”

Já abordei de forma repetida neste blog os esforços que estão sendo realizados pelo (des) governo Pezão para encerrar as atividades da tradicional Escola Técnica Agrícola Antonio Sarlo como parte do projeto de avanço do projeto de privatização do ensino público no estado do Rio de Janeiro, especialmente das escolas técnicas por onde hoje avançam grupos privados como a Kroton.

Esse esforço teve um capítulo a mais no dia de ontem quando o Conselho Universitário da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) decidiu aprovar a “incorporação” da Antonio Sarlo, no que consiste em um eufemismo para sua extinção enquanto unidade de ensino autônoma e com projeto político pedagógico próprio e voltado para os interesses da população do Norte Fluminense, especialmente das crianças e jovens que ainda vivem em nossas áreas rurais.

Essa aprovação ocorreu em meio a um debate paupérrimo sobre as consequências que essa “incorporação” trará para duas instituições que se encontram muito mal financeiramente. O fato é que o quadro da Uenf ser um pouco melhor não impede a caracterização de que o que temos diante de nós é um típico abraço de afogados.
É que a Uenf não possui recursos nem para si mesma, oxalá para iniciar o necessário processo de recuperação da estrutura física da Antonio Sarlo, que se encontra em estado de colapso após mais de uma década de completo abandono.

Esse abraço de afogados está sendo celebrado pela mídia corporativa local como sendo a salvação da Antonio Sarlo (ver imagens abaixo), sem que os proprietários dos veículos que propalam essa versão insustentável que a realidade tratará de desmontar se deem ao trabalho de fazer matérias com um mínimo de profundidade sobre não apenas a realidade estrutural da Antonio Sarlo, mas também da inviabilidade completa das promessas que estão sendo feitas em termos da manutenção das atividades pedagógicas que a escola ainda consegue desenvolver graças aos esforços dos seus servidores.

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Interessante notar que conversando com uns poucos conselheiros que deram o seu voto positivo para a incorporação da Antonio Sarlo, os mesmos mostraram estar cientes de que nada do que está sendo publicizado deverá acontecer, em vista das prementes dificuldades que cercam a Uenf desde 2015. Mas mesmo assim votaram pela incorporação/extinção do Antonio Sarlo, pois há quem diga dentro da Uenf que não apenas irá parir Mateus, como também vai embalá-lo. E o pior é que se sabe que quem afirma que irá embalar Mateus, não vem mostrando a mínima disposição de atacar os problemas próprios da Uenf.

Há ainda o detalhe importante de que a administração municipal sob o comando do jovem prefeito Rafael Diniz (PPS) estaria se comprometendo a manter o funcionamento do ensino fundamental nas dependências do Antonio Sarlo. Entretanto, tenho informações de que a expectativa é de que o oferecimento das aulas fique a cargo da Uenf, algo que em princípio não possui a menor viabilidade.
Por essas e outras é que precisamos ouvir com incredulidade as declarações contidas no depoimento mostrado abaixo onde o presidente da Comissão da Educação, deputado Comte Bittencourt que é do mesmo partido do jovem prefeito Rafael Diniz, o PPS, tece loas ao fechamento de fato da Antonio Sarlo.

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Este vídeo não existe

Mas pelo menos esse vídeo tem o mérito de nos informar quem foram os executores da morte da Antonio Sarlo, pois que quem é mandante desde o princípio, qual seja, o (des) governo Pezão.

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Aos que entendem a gravidade que o fechamento da Antonio Sarlo  representa para o futuro de todo o norte e noroeste fluminense, é preciso não esquecer em outubro que Rafael é Comte e Pezão lá, e Comte Bittencourt e Pezão são Rafael aqui!

Universidade pública e as cotas

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Por ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE

Aproveitando-se da corajosa, porém controversa, iniciativa da USP de estabelecer cotas de ingresso a estudantes socialmente carentes, as mesmas carpideiras de sempre do defunto “ensino pago” retomam sua irracional e obsoleta cantilena demagógica pelo pagamento de mensalidades à universidade pública.

Aqueles que vociferam contra a gratuidade da universidade são exatamente os mesmos que praguejam contra as cotas, o que torna óbvia a natureza de sua intolerância de elitistas sociais.

Para os cotistas, a universidade será uma ferramenta de ascensão social, e é isso o que incomoda a muita gente.

Pois bem, vejamos para que serve uma universidade. Escolas públicas de medicina são criadas por governos porque as suas comunidades precisam de médicos e não porque os futuros médicos precisem de empregos. Para estes últimos são criadas as faculdades privadas.

Universidades públicas são criadas porque a sociedade precisa gerar e difundir conhecimento. Ora, se essas instituições têm como objetivo satisfazer necessidades específicas e incontornáveis da população, é indevido, para não dizer imoral, cobrar do indivíduo que aceite realizar tais serviços.

Ao impor pagamentos para a formação de profissionais, não iremos criar cidadãos, ou melhor, indivíduos mercantilistas, sem qualquer preocupação social? Pois como pagaram para a própria formação sentem-se dispensados de qualquer obrigação humanística.

Isso, por outro lado, não quer dizer que não se deva procurar doações e outras contribuições voluntárias.

Se a universidade é uma instituição criada para produzir e difundir conhecimento, seria uma transgressão dar a ela outras missões, tais como a inclusão social, por decisão da corporação interna, que não representa a sociedade. Apenas governos têm, pois, a legitimidade para tal.

Todavia, por vezes “Deus escreve certo por linhas tortas”. É verdade que o Congresso Nacional deu uma relativa lidimidade à decisão da USP. Absoluta validade ocorreria apenas se a Assembleia paulista a confirmasse, pois sob tais aspectos a autonomia da universidade pública não é, nem deveria ser, estendida.

Se no passado havia argumentos, embora pífios, para condenar as “cotas” devido ao risco de prejuízo para a “qualidade” do ensino e da pesquisa, hoje essa possibilidade já não existe. Nestes últimos 10 ou 12 anos, acumularam-se evidências de que os alunos de ensino médio público beneficiados por cotas não são inferiores aos demais quanto a resultados acadêmicos.

E é de se esperar que o mesmo ocorra com negros, pardos e indígenas, que são, certamente, mais agudamente motivados pela necessidade imperativa de ascensão social do que aqueles que lá já chegaram por herança fortuita.

É óbvio que mais justo seriam políticas inclusivas voltadas aos mais necessitados em geral. Mas condenar o melhor porque não é perfeito é no mínimo estreiteza intelectual.

Os argumentos baseados em reparações históricas, frequentemente oferecidos pelos defensores das cotas, são frágeis e por vezes piegas.

O que realmente se busca é uma sociedade mais civilizada e com menor injustiça social e, consequentemente, com menores disparidades de renda e de qualidade de vida.

ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE, físico, é professor emérito da Unicamp e membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e do Conselho Editorial da Folha

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2017/08/1907442-universidade-publica-e-as-cotas.shtml