Chomsky, Galeano e Žižek associam-se ao manifesto “Apoio Internacional ao Podemos”  

Noam Chomsky, Eduardo Galeano, Naomi Klein, Antonio Negri e Slavoj Žižek figuram entre os 36 intelectuais que subscrevem o manifesto “Apoio Internacional ao Podemos”. Os subscritores do documento frisam que “ante a paisagem desoladora que as políticas de austeridade desenharam para o sul da Europa, é acalentador que surjam novas alternativas dispostas a batalhar pela democracia, direitos sociais e soberania popular”.

No manifesto “Apoio Internacional ao Podemos”, datado de 12 de junho, os 36 intelectuais celebram “a irrupção em Espanha da iniciativa política ‘Podemos’, que obteve em escassos meses de existência um impressionante apoio popular ao conseguir 8% dos votos, convertendo-se na terceira força política em 23 das 40 cidades principais do país”.

“Ante a paisagem desoladora que as políticas de austeridade desenharam para o sul da Europa, é acalentador que surjam novas alternativas dispostas a batalhar pela democracia, direitos sociais e soberania popular”, avançam, sublinhando que “estas alternativas tentam, ao mesmo tempo, fazer política de uma forma nova, para além da chantagem que condena estes países a dependerem das políticas ditadas pelas elites políticas e financeiras da União Europeia”.

O Podemos “soube recolher a herança do ciclo de mobilizações populares” que, desde 2011, surgiu para “reivindicar uma democracia realmente digna desse nome”.

Segundo os subscritores do documento, o Podemos “soube recolher a herança do ciclo de mobilizações populares” que, desde 2011, surgiu para “reivindicar uma democracia realmente digna desse nome”. “Fê-lo ao fomentar a participação política da cidadania através de umas eleições primárias abertas e a redação de um programa colaborativo, graças à constituição de círculos de apoio e assembleias populares e, por outro lado, fá-lo renunciando financiar-se mediante empréstimos bancários, publicando no site (podemos.info) a sua contabilidade completa, e adotando um compromisso firme com a revogabilidade dos cargos e a limitação de mandatos, privilégios e salários”, referem.

No manifesto é também enfatizado que “o programa político de Podemos, elaborado de maneira participativa por milhares de cidadãos, foi capaz de materializar o anseio compartilhado por milhões de pessoas de todo mundo num projeto político concreto: uma rutura com a lógica neoliberal do austericídio e a ditadura da dívida; uma partilha equitativa do trabalho e da riqueza; uma democratização de todas as instâncias da vida pública; a defesa dos direitos sociais e os serviços públicos, e o fim da corrupção e da impunidade com as quais o sonho europeu de igualdade, liberdade e fraternidade degenerou no pesadelo de uma sociedade injusta, desigual, oligárquica e cínica”.

Perante o avanço da xenofobia e do fascismo, os intelectuais esperam que “a esperança que germinou com o Podemos se estenda a todos os países.

Perante o avanço da xenofobia e do fascismo, os intelectuais esperam que “a esperança que germinou com o Podemos se estenda a todos os países: a resistência de um povo que se nega a aceitar a sua submissão passiva e reclama para si esse poder que, em essência, é somente seu: a democracia, a capacidade de decidir tudo sobre o que é de todos”.

O documento é subscrito por Gilbert Achcar; Jorge Alemán; Cinzia Arruzza; Étienne Balibar; Brenna Bhandar; Paula Biglieri; Bruno Bosteels; Wendy Brown; Hisham Bustani; Judith Butler; Fathi Chamkhi; Noam Chomsky; Giuseppe Cocco; Mike Davis; Erri De Luca; Pierre Dardot; Costas Douzinas; Eduardo Galeano; Michael Hardt; Srećko Horvat; Robert Hullot-Kentor; Sadri Khiari; Naomi Klein; Christian Laval; Chantal Mouffe; Aristeidis Mpaltas; Yasser Munif; Antonio Negri; Simon Pinet; Jacques Rancière; Leticia Sabsay; Mixalis Spourdalakis; Nicos Theotocas; Alberto Toscano; Raul Zelik; Slavoj Žižek.

FONTE: http://www.esquerda.net/artigo/chomsky-galeano-e-zizek-associam-se-ao-manifesto-apoio-internacional-ao-podemos/33071

Um professor protagoniza a surpresa eleitoral na Espanha

Pablo Iglesias aplicou seus estudos de comunicação à ação política

LUIS GÓMEZ 

O professor universitário Pablo Iglesias. / SAMUEL SÁNCHEZ

Poderia ser dito que Pablo Iglesias Turrión (35 anos) é de esquerda antes mesmo de nascer se você escutar a sua mãe María Luisa: “Meu filho foi criado da melhor maneira possível de frente à sua classe, seu povo, sua gente e sua pátria”. Dito isto, a conjunção de nome e sobrenome também não é casual: chama-se Pablo Iglesias, em homenagem ao fundador do socialismo espanhol. “Exatamente”, diz María Luisa, “como se alguém se chamasse Manuel e levasse o sobrenome Rodríguez, simplesmente por uma homenagem ao revolucionário chileno da letra de Mercedes Sosa”. E, se ainda restar alguma dúvida, María Luisa é capaz de destrinchar a árvore genealógica familiar “onde há lutadores em pró da classe operária desde o século XIX”, e menciona deputados, condenados a morte por ideias políticas, juízes e militares republicanos. Nesse ambiente de alta voltagem política nasceu, cresceu e foi criado Pablo.

“E além disso, em Vallecas” (um bairro proletário de Madri), sentencia sua mãe, advogada trabalhista.

Seu currículo desenha uma biografia clara em uma só direção, para a esquerda: filho único, bom estudante, iniciou a militância aos 14 anos na Juventude Comunista, que depois compartilhou com seus estudos universitários em Ciências Políticas, onde obteve licenciaturas e doutorados com um trajeto pela Itália, Suíça, México e Estados Unidos que o levou a participar de movimentos antiglobalização e de resistência civil. Uma versão reduzida de sua tese de doutorado se intitula Desobedientes, ele estuda o fenômeno zapatista, escreve sobre cinema e política, participa e funda associações como a Juventude sem Futuro, Promotora do Pensamento Crítico, Asociação contra o poder… Com esses antecedentes e essa trajetória (sua parceira é uma deputada da IU  – Esquerda Unida –  na assembleia de Madri), Pablo Iglesias poderia ter sido um teórico da esquerda, um professor de barba e traje de veludo cotelê, destinado a se mover em círculos acadêmicos. Definitivamente um homem afastado da rua.

No entanto, terminou por ser um especialista em comunicação política, um personagem midiático e, desde o domingo, um político com sucesso (1.240.000 votos e cinco deputados em um partido de quatro meses de idade). Sem ser um homem de simpatia arrojada, conseguiu se ligar a um público numeroso. Mas quem pensar que Iglesias é um produto convencional da televisão, pode estar equivocado.

Porque a sua relação com a TV não é um fato casual. É intencionado e estratégico. “Trabalhamos para experimentar na comunicação política a partir do principal espaço de socialização política que é a televisão”, explica. “Tudo o que aprendia na La Tuerka (programa que ele apresenta em um canal espanhol) aplicamos na televisão”. La Tuerka é um programa de televisão, assim como o Fort Apache, programas que Pablo Iglesias e seus colaboradores (professores e alunos de Política na Universidade Complutense) divulgam pela internet ou de canais de TDT como o Canal K e o Canal 33. Nesses espaços de audiências aparentemente marginais, Iglesias se formou como apresentador, como entrevistador e como homem da televisão. Um homem que denuncia, é verdade, mas treinado para falar cara a cara com a audiência. E com uma mensagem sem fissuras. Seu salto para a televisão generalista foi um sucesso desde o princípio: podia se envolver, podia debater, funcionava diante à câmera, podia se meter em programas de ideologia oposta, mas jamais perdia a compostura: um homem de ideias radicais com luvas de seda.

A televisão e as redes sociais fizeram o resto, deu rosto e olhos a uma voz da esquerda, a um homem tranquilo com uma mensagem dura, dirigido aos deserdados, às vítimas da crise econômica e às classes médias que têm empobrecido. Iglesias se expressa sem rodeios, chama de casta os políticos dos grandes partidos, denomina de “regime do 78” a transição, lembra aos avós que defenderam a República há 80 anos e critica aos “milionários com pulseiras com cores da bandeira da Espanha” (usadas pelos conservadores). E quando fala para a sua militância na rua, pede um aplauso para os membros das forças de segurança “que estão desejando receber a ordem de algemar um banqueiro corrupto”. Em seus comícios entoa o “Não passarão” e velhas canções da guerra civil. Há um aroma de esquerda profunda, de comunismo renascido, de velhas proclamações e punhos levantados. Mas Iglesias não levanta o punho, Iglesias aplaude seu público.

As acusações de supostos financiamentos procedentes da Venezuela e Irã não estragam o ápice de sua campanha. Iglesias não se esconde delas: ameaça com discórdia sem se exaltar. Mão de ferro, luva de seda.

FONTE: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/05/26/internacional/1401137845_746793.html