Ondas de calor misteriosas estão surgindo em todo o mundo sem explicação

terra derretida(© sveta – stock.adobe.com)

Por StudyFinds Staff 

NOVA YORK  Quando uma onda de calor ataca, muitas pessoas provavelmente pensam que é apenas mais um sinal do aquecimento global. No entanto, um novo estudo preocupante descobriu uma coleção de “pontos quentes” globais, onde as temperaturas estão se tornando tão extremas sem aviso que a mudança climática não consegue explicar.

Nessas regiões, o calor do verão não surge apenas sorrateiramente, ele explode repentinamente em território desconhecido. Pesquisadores da Columbia Climate School acrescentam que essas ondas de calor são tão extremas que estão quebrando todos os modelos climáticos de previsão que foram feitos.

Estamos falando de recordes de temperatura quebrados por margens alucinantes, como a onda de calor de 2021 no noroeste do Pacífico, que quebrou recordes diários em impressionantes 12 graus Celsius.

“Essas regiões se tornam estufas temporárias”, diz o pesquisador principal Kai Kornhuber em um comunicado à imprensa.

Regiões onde as ondas de calor observadas excedem as tendências dos modelos climáticos. As áreas em caixa com as cores vermelhas mais escuras são as mais extremas; vermelhos e laranjas menores excedem os modelos, mas não tanto. Os amarelos correspondem aproximadamente aos modelos, enquanto os verdes e azuis estão abaixo do que os modelos projetariam.
Regiões onde as ondas de calor observadas excedem as tendências dos modelos climáticos. As áreas em caixa com as cores vermelhas mais escuras são as mais extremas; vermelhos e laranjas menores excedem os modelos, mas não tanto. Os amarelos correspondem aproximadamente aos modelos, enquanto os verdes e azuis estão abaixo do que os modelos projetariam. (Crédito: Adaptado de Kornhuber et al., PNAS 2024)

O estudo, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences , analisou 65 anos de dados de ondas de calor e descobriu algo realmente inquietante. Enquanto as temperaturas globais estão subindo, algumas áreas estão vivenciando ondas de calor completamente fora do normal.

Os exemplos mais dramáticos parecem uma viagem de desastre de calor global. China Central, Japão, Península Arábica, leste da Austrália e noroeste da Europa foram os mais atingidos. Só na Europa, as ondas de calor contribuíram para quase 60.000 mortes em 2022 e 47.000 em 2023.

O que torna essas ondas de calor tão incomuns é sua imprevisibilidade. Uma possível explicação envolve a corrente de jato – aquele rio de ar em movimento rápido que circula o Hemisfério Norte. À medida que o Ártico esquenta mais rápido do que outras regiões, a corrente de jato se torna instável, potencialmente criando “ondas de Rossby” que prendem o ar quente em lugares inesperados por dias ou até semanas.

Aqui está a parte realmente assustadora: não estamos preparados para esses eventos extremos . Muitas regiões, como o noroeste do Pacífico e a Europa, tradicionalmente não precisavam de ar condicionado. De repente, elas estão enfrentando temperaturas que podem matar.

“Não fomos feitos para eles e talvez não consigamos nos adaptar rápido o suficiente”, alerta Kornhuber.

Curiosamente, nem todos os lugares estão vivenciando esses picos extremos de calor. Grandes áreas como o centro-norte dos Estados Unidos, o centro-sul do Canadá e partes da Sibéria estão vendo aumentos de temperatura que correspondem mais de perto às previsões.

Como 2024 está a caminho de ser outro ano recorde – seguindo 2023, o ano mais quente já registrado – esta pesquisa serve como um lembrete severo. Nosso clima está mudando de maneiras que não entendemos completamente, e as consequências são potencialmente devastadoras.

A mensagem é clara: estes não são apenas verões quentes. Eles são um vislumbre de um mundo em rápida transformação , onde nossos modelos e preparações existentes podem não ser mais suficientes.


Fonte: Study Finds

Eventos extremos serão cada vez mais comuns e exigem medidas urgentes

Em coletiva na Câmara dos Deputados, diretora adjunta de Políticas Públicas do IPAM diz que adaptação aos efeitos das mudanças climáticas passa pela implementação estratégica de leis e reorganização territorial e urbana.  

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Enchente do Rio Taquari na cidade de Lajeado (RS). Foto: marcelocaumors/Instagram

Eventos climáticos extremos como as chuvas catastróficas que paralisaram o Rio Grande do Sul serão cada vez mais frequentes e exigem uma atuação enfática para seu enfrentamento, alertou Gabriela Savian, diretora adjunta de Políticas Públicas do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), durante coletiva convocada pela Frente Parlamentar Mista Ambientalista. O evento foi convocado em vista da das chuvas intensas no Rio Grande do Sul, que já deixam 95 mortos, mais de 207 mil desabrigados e afeta 80% das cidades do Estado. 

“Infelizmente, eventos extremos como estes serão cada vez mais recorrentes e exigem medidas urgentes de combate ao aquecimento global. As chuvas já afetaram rios de todo o estado, impactando milhares de pessoas. O desmatamento deve ser controlado e a ciência deve ser levada em consideração para a tomada de decisão nos planos de ação emergenciais decorrentes da urgência no atendimento da catástrofe do Rio Grande do Sul e demais estados, como o que vimos recentemente nos estados da Amazônia”, destacou.

Durante o encontro, foram apresentados documentos com medidas para avançar o pacote de legislações consideradas fundamentais para o combate às mudanças climáticas. Entre as propostas destacadas estão a implementação estratégica do Código Florestal, a destinação de florestas públicas na Amazônia, a recuperação de áreas degradadas e a proteção de áreas não-florestais, como o Pampa e Cerrado.

“Temos hoje mais de 16 milhões de hectares de passivos de Reserva Legal no Brasil que precisam ser recuperados e um montante muito maior de quase 200 milhões de hectares de excedente de florestas em áreas privadas que precisam ser preservadas. Estas áreas cumprem papel importante nos serviços ecossistêmicos imprescindíveis para a resiliência dos ecossistemas”, alertou Gabriela.

Código Florestal 

Ambientalistas e membros da sociedade civil presentes na coletiva também destacaram a importância de um acompanhamento da implementação do Código Florestal e a mobilização contra a flexibilização de leis ambientais.

“O que a gente tem acompanhado na Câmara e no Senado nos últimos meses é um movimento para flexibilizar a legislação ambiental, quando sabemos que o foco deve ser no fortalecimento da lei. O Rio Grande do Sul, por exemplo, não possui um Programa de Regularização Ambiental regulamentado. Isso significa que o Estado está atrasado na recuperação de seus passivos ambientais, na conservação da sua biodiversidade e seus recursos naturais”, destaca Jarlene Gomes, pesquisadora do IPAM.

O Rio Grande do Sul possui atualmente cerca de 255 mil hectares que deveriam estar preservados em áreas de Reserva Legal, mas que se encontram desprotegidos. Os dados são do Termômetro do Código Florestal, iniciativa do OCF (Observatório do Código Florestal), desenvolvida pelo IPAM e parceiros.

Impacto econômico 

Além dos crescentes impactos sociais e ambientais, ambientalistas também destacam o prejuízo econômico causado por eventos climáticos extremos. No Brasil, grande produtor agrícola, o aumento das temperaturas está diretamente ligado à quebra de safras, morte de gado e queda na produtividade agropecuária. Atualmente, 30% das fazendas na fronteira agrícola Amazônia-Cerrado, no Mato Grosso, Goiás e Matopiba, já estão fora do ideal climático para a agricultura por conta das alterações no clima.

“Uma coisa extremamente importante é que a Câmara dos Deputados possa levar para todos os rincões do Brasil o debate da adaptação às mudanças climáticas. Teremos eleições municipais no meio do ano e isso precisa ser debatido porque vivemos em um país em que 56% dos municípios não têm nenhum tipo de ação climática e apenas 1,8% monitoram a efetividade de suas leis ambientais. Essa crise afeta os mais pobres e vulneráveis primeiro, mas já afeta também as elites, afeta a nossa produção industrial e agropecuária”, alerta Marcos Woortmann, coordenador de políticas ambientais do IDS (Instituto de Desenvolvimento Socioambiental), que compõe a Virada Parlamentar Sustentável.

Enel alerta para possibilidade de fortes chuvas no RJ e aciona plano de emergência

Plano emergencial inclui reforço no contingente operacional e aumento da capacidade dos canais de atendimento, incluindo o call center 

COS 4

Rio de Janeiro, 21 de março de 2024 – Com o alerta da meteorologia para a possibilidade de tempestades a partir de hoje (21) na área de concessão da Enel Distribuição Rio, a distribuidora acionou o seu plano de emergência para eventos climáticos e estará em plena mobilização, com reforço das equipes operacionais e dos canais de atendimento para eventuais ocorrências que envolvam o fornecimento de energia nos 66 municípios da área de concessão da empresa.

O alerta meteorológico prevê um cenário climático adverso a partir da tarde desta quinta-feira na Costa Verde, na Região Serrana e no Grande Rio, com possibilidade de chuva forte, ventos e descargas atmosféricas. Entre a sexta-feira (22) e o sábado (23), o alerta vale para todas as regiões, principalmente Sul, Serrana e Lagos, e nas cidades de Niterói, São Gonçalo, Magé e Macaé.

O plano mobilizado pela Enel Rio prevê o reforço do número de equipes em campo e de todos os canais de atendimento, incluindo o call center, que poderá ter sua capacidade de atendimento duplicada em casos de um evento climático severo. A partir dos alertas de clima severo emitidos pelas autoridades, a empresa iniciou ações de comunicação direta com os clientes para informar a população sobre os riscos trazidos pelas chuvas. A distribuidora tem mantido diálogo também com as principais autoridades estaduais e dos municípios atendidos pela empresa.

Em situações de contingência, devido ao alto volume de chamadas no call center, a empresa orienta que os clientes utilizem preferencialmente os canais digitais para maior agilidade do atendimento, como o site (www.enel.com.br), o aplicativo Enel (disponível para iOS e Android) ou ainda mandar o WhatsApp Elena: (21) 99601-9608.

A empresa aproveita para reforçar dicas importantes de segurança com a rede elétrica em casos de tempestades:

– Se encontrar um cabo partido, não se aproxime; 

– Não encoste em objetos metálicos: como semáforos, postes de iluminação pública, pontos de ônibus, portões e grades;

– Retire os equipamentos da tomada e deixe-os fora do alcance da água; 

– Busque abrigo seguro: em caso de ventos intensos, procure locais seguros, longe de estruturas suscetíveis a danos, como postes, árvores ou fiações elétricas;

– Evite áreas arborizadas: durante tempestades, há risco de queda de árvores e descargas atmosféricas (raios).

Eventos extremos assolam o Brasil e não há nenhuma normalidade nisso

Maioria dos estados e municípios brasileiros seguem ignorando a emergência climática

unnamed (40)Município de Mário Campos em Minas Gerais – Foto: Gabriele Lanza/TV Globo

São Paulo, 20 de janeiro de 2022 – Desde o mês de novembro de 2021, o Brasil tem presenciado a intensificação de eventos extremos como fortes chuvas, temperaturas altas, estiagens e secas que vêm ocasionando enchentes, deslizamentos de terras, ameaças de rompimento de barragens e dezenas de vidas perdidas. Estados como Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Tocantins, Goiás, Piauí, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina são exemplos de regiões impactadas diretamente pela crise climática.

Dados apresentados pelo Boletim da Defesa Civil Estadual de Minas Gerais registram que, entre outubro de 2021 até o presente mês, as fortes chuvas totalizaram em cerca de 19 mortes, 3.481 desabrigados e 13.756 desalojados, além de 145 municípios em estado de emergência. Só na Bahia, por exemplo, o governo estadual decretou situação de emergência em 136 cidades.

De acordo com um estudo do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), o impacto da crise climática na América do Sul inclui um significativo aumento da precipitação média no sudeste do continente, o que aumenta a ocorrência de chuvas extremas. Pesquisadores também alertam que temperaturas extremas, como altas ondas de calor, podem ser até nove vezes mais frequentes já na próxima década. Em resumo: não há nada de “normal” no que estamos vivendo.

Diante deste quadro aterrorizante, deve-se ressaltar o papel dos governos estaduais no enfrentamento da crise climática. É urgente que os governantes, de modo geral e em todas as esferas, elaborem estratégias com a finalidade de zelar pela vida das populações de seus estados por meio da elaboração ou execução de planos de adaptação climática, além de mapeamento de áreas de risco e orçamento destinado a perdas e danos materiais para populações vulneráveis. Apesar disso, a maioria dos estados brasileiros não estão preparados para lidar com a crise: atualmente, somente sete unidades da federação (PE, MG, SP, AC,TO, RS e GO) possuem um plano de adaptação climática e, mesmo nesses casos, faltam ações efetivas.

Para o porta-voz do Greenpeace Brasil, Rodrigo Jesus, cobrar atitudes dos governos estaduais é um passo importante para a prevenção dos impactos da crise climática a nível local, em especial das populações em situação de vulnerabilidade: “Precisamos cobrar uma atuação efetiva dos governos estaduais para criar medidas de adaptação e desenvolver ações estruturais de enfrentamento. A situação de emergência enfrentada por populações de diversos estados atualmente escancara e denuncia o descaso político e a negligência do Brasil com a crise climática”.

Clima extremo no Brasil: tempestade causa devastação no sul da Bahia e em Minas Gerais

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O sul da Bahia e o nordeste de Minas Gerais estão sofrendo com os efeitos das fortes chuvas que atingiram a região nos últimos dias. Pelo menos sete mortes foram confirmadas nos dois estados, além de 175 feridos. De acordo com o governo baiano, quase 70 mil pessoas foram afetadas por enchentes e deslizamentos de terra. EstadãoFolha, g1O Globo e UOL, entre outros veículos, repercutiram os efeitos da tempestade.

A situação é particularmente desastrosa nos sul e extremo-sul da Bahia. O volume acumulado de chuvas chegou a superar os 450 mm em um período de 24 horas na última 5ª feira (9/12). De acordo com o governo do estado, 25 municípios decretaram situação de emergência. Muitos povoados e áreas rurais ficaram ilhados por conta do acúmulo de água, dificultando o resgate de feridos. Cerca de dez mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas. Em Minas Gerais, as chuvas atingiram ao menos 28 municípios, deixando 2 mil pessoas desabrigadas.

Na BBC Brasil, o climatologista Francisco Eliseu Aquino (UFRGS) explicou as fortes chuvas como resultado da combinação de dois fenômenos. Primeiro, a formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) a partir de 5 de dezembro, que levou umidade da região amazônica para os litorais de Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. E, segundo, o surgimento de uma área de baixa pressão no Atlântico, próximo à região costeira, que evoluiu para um sistema de depressão subtropical, batizada de Ubá.

A ZCAS é um fenômeno comum na região nessa época do ano; já a depressão subtropical é atípica, com condições para se tornar uma tempestade tropical. “As mudanças na circulação geral da atmosfera sugerem para nós que o oceano mais quente na costa do Brasil poderia formar com mais frequência áreas de baixa pressão como essa, levando à depressão subtropical”, assinalou Aquino.

A MetSul também explicou como a Ubá se formou, destacando que a tempestade foi um dos maiores ciclones do mundo registrados no último final de semana. De acordo com os meteorologistas, a tempestade subtropical deve se distanciar da costa, em direção ao Atlântico Sul.

Em tempo

Enquanto a chuva inunda o sul da Bahia, a região Sul do Brasil encara uma escassez hídrica que deve perdurar por mais alguns meses. O Valor destacou análise do INMET apontando para os efeitos do La Niña nos níveis de precipitação até fevereiro no Brasil. O estado mais afetado pela estiagem é o Rio Grande do Sul, que já enfrenta uma situação delicada, com perdas na produção agrícola em decorrência da falta de chuvas.

ClimaInfo, 13 de dezembro de 2021.

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Este texto foi inicialmente publicado pelo ClimaInfo [Aqui! ].

Nível do mar sobe com velocidade 2,5 vezes maior do que a do século 20, aponta IPCC

geloFrequência e intensidade de eventos extremos costeiros, como inundações, devem aumentar até 2100, indica relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (foto: Wikimedia Commons)

Elton Alisson | Agência FAPESP – O aquecimento global tem aumentado a temperatura dos oceanos e o derretimento das geleiras e dos mantos de gelo nas regiões polares e montanhosas do planeta. Essa combinação de fatores tem levado a um aumento do nível do mar e, consequentemente, da frequência e intensidade dos eventos extremos costeiros, como inundações.

As conclusões são de um relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) sobre oceano e criosfera – as partes congeladas do planeta.

Um sumário para formuladores de políticas foi lançado quarta-feira (25/9), em Mônaco, dois dias após a abertura da Cúpula do Clima em Nova York, nos Estados Unidos, em que líderes mundiais foram pressionados a implementar medidas mais ambiciosas para combater o aquecimento global.

“O oceano e a criosfera estão ‘esquentando’ em decorrência das mudanças climáticas há décadas e as consequências para a natureza e a humanidade são amplas e severas”, declarou Ko Barret, vice-presidente do IPCC.

“As rápidas mudanças no oceano e nas partes congeladas do nosso planeta estão forçando tanto as pessoas das cidades costeiras como de comunidades remotas do Ártico a alterar fundamentalmente seu modo de vida”, afirmou.

De acordo com o documento, aprovado pelos 195 países membros do IPCC, o nível do mar subiu globalmente em torno de 15 centímetros (cm) durante todo o século 20 e, atualmente está subindo a uma velocidade duas vezes e meia maior – a 0,36 cm por ano. E esse ritmo está acelerando.

Mesmo que as emissões de gases de efeito estufa (GEE) fossem bastante reduzidas e o aquecimento global limitado a bem menos que 2 ºC dos níveis pré-industriais o nível do mar subiria entre 30 e 60 centímetros até 2100.

Se as emissões de GEE continuarem aumentando fortemente, o nível do mar pode subir entre 60 e 110 centímetros no mesmo período, de acordo com as projeções dos cientistas autores do documento.

“Nas últimas décadas, a taxa de aumento do nível mar se acelerou devido ao aumento crescente do aporte de água proveniente do derretimento das geleiras, principalmente na Groenlândia e na Antártica, e da expansão da água do mar pelo aumento da temperatura marinha”, disse Valérie Masson-Delmotte, diretora de pesquisa da Comissão de Energias Alternativas e Energia Atômica da França e copresidente do grupo de trabalho 1 do IPCC.

Eventos extremos

A elevação do nível do mar aumentará a frequência de eventos extremos que ocorrem, por exemplo, durante a maré alta e tempestades intensas. As indicações são de que, com qualquer grau de aquecimento adicional, eventos que ocorreram uma vez por século no passado acontecerão todos os anos em meados do século 21 em muitas regiões, aumentando os riscos para muitas cidades costeiras baixas e pequenas ilhas, prevê o relatório.

As ondas de calor marítimas também dobraram em frequência desde 1982 e estão aumentando em intensidade. A frequência desses eventos será 20 vezes mais alta em um cenário de 2 °C de aquecimento, em comparação com os níveis pré-industriais. Elas podem ocorrer 50 vezes mais frequentemente se as emissões continuarem a aumentar fortemente, aponta o relatório.

“Várias abordagens de adaptação já estão sendo implementadas, muitas vezes em resposta a inundações, e o relatório destaca a diversidade de opções disponíveis para cada contexto”, afirmou Masson-Delmotte.

Segundo a cientista, a nova avaliação também revisou para a cima a contribuição projetada da camada de gelo da Antártica para o aumento do nível do mar até 2100 em um cenário de altas emissões de GEE.

Declínio de geleiras

“As projeções da elevação do nível do mar para 2100 e além estão relacionadas a como os mantos de gelo reagirão ao aquecimento, especialmente na Antártica. Ainda há grandes incertezas”, ponderou.

Os 670 milhões de pessoas que vivem em regiões montanhosas estão cada vez mais expostos aos riscos de avalanches e inundações e mudanças na disponibilidade de água pelo declínio de geleiras, neve, gelo e permafrost – solo permanentemente congelado –, aponta o relatório.

Em cenários de alta emissão de GEE, estima-se que geleiras menores encontradas, por exemplo, na Europa, nos Andes e na Indonésia poderão perder mais de 80% de sua massa de gelo atual até 2100.

À medida que as geleiras das montanhas recuam, também são alteradas a disponibilidade e a qualidade de água para onde se dirige a corrente (a jusante), com implicações para setores como agricultura e energia hidrelétrica, ressaltam os cientistas.

No Ártico, a extensão do gelo marinho também está diminuindo gradativamente a cada mês do ano. Uma parte expressiva dos quatro milhões de pessoas que vivem permanentemente na região – especialmente povos indígenas – já ajustou suas atividades de caça, por exemplo, à sazonalidade das condições de terra, gelo e neve, e algumas comunidades costeiras já estão se deslocando.

“Limitar o aquecimento ajudaria essa população a se adaptar às mudanças no suprimento de água e aos riscos, como deslizamento de terra”, disse Panmao Zhai, co-presidente do grupo de trabalho I do IPCC.

Maior absorção de calor

O aquecimento global já atingiu 1 ºC acima do nível pré-industrial, devido ao aumento das emissões de gases de efeito estufa.

Até o momento, o oceano absorveu mais de 90% do excesso de calor no sistema climático e, em 2100, absorverá entre duas e quatro vezes mais calor do que nos últimos 40 anos se o aquecimento global for limitado a 2 °C e até cinco a sete vezes mais com emissões mais altas, estimam os cientistas.

O oceano também absorveu entre 20% e 30% das emissões de dióxido de carbono induzidas pelo homem desde 1980, causando a sua acidificação.

A captação contínua de carbono pelo oceano até 2100 exacerbará esse fenômeno provocado pelo aumento da concentração e da dissolução de dióxido de carbono, que diminui o pH da água superficial, elevando a acidez e causando a destruição de recifes de corais, por exemplo.

O aquecimento e a acidificação dos oceanos, a perda de oxigênio e as mudanças nos aportes de nutrientes já estão afetando a distribuição e a abundância da vida marinha em áreas costeiras, em mar aberto e no fundo do mar.

No futuro, algumas regiões, principalmente os oceanos tropicais, sofrerão reduções adicionais, alerta o relatório.

“Reduzir as emissões de gases de efeito estufa limitará os impactos nos ecossistemas oceânicos. Diminuir outras pressões, como a poluição, ajudará ainda mais a vida marinha a lidar com mudanças no ambiente”, disse Hans-Otto Pörtner, pesquisador da University of Bremen, na Alemanha, e copresidente do grupo de trabalho 2 do IPCC.

Década dos oceanos

O relatório se insere em uma série de ações voltadas a destacar o papel fundamental dos oceanos na regulação do clima do planeta, ao redistribuir o calor que chega em excesso à região tropical até as regiões polares, ao mesmo tempo em que leva o frio dos polos para os trópicos.

As ações foram intensificadas a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – a Rio+20 –, em 2012, no Rio de Janeiro. O evento culminou na realização da Conferência da ONU sobre os Oceanos em junho de 2017 em Nova York, nos Estados Unidos, e na proclamação, no mesmo ano, do período de 2021 a 2030 como a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável – a Década do Oceano.

Esse período corresponde à última fase da Agenda 2030 – um plano de ação estabelecido pela ONU em 2015 para erradicar a pobreza e proteger o planeta, que contém 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), um deles (14) especialmente dedicado aos oceanos.

A fim de fortalecer essa agenda de ações da ONU no Brasil, América Latina e Caribe, o professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP) Alexander Turra propôs à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) a criação de uma cátedra no Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) para o estudo da sustentabilidade dos ecossistemas marinhos e costeiros.

A proposta foi aceita e, no início de junho, foi inaugurada na USP a Cátedra Unesco para a Sustentabilidade dos Oceanos.

“A proposta da cátedra é canalizar e impulsionar ações voltadas a fortalecer a agenda sobre oceanos na academia e na sociedade”, disse Turra à Agência FAPESP.

Uma das funções da cátedra é fomentar e dinamizar a pesquisa oceanográfica integrada e interdisciplinar.

“É preciso integrar na pesquisa oceanográfica a visão das ciências naturais com as sociais, uma vez que o mar é um sistema socioecológico, e não só natural”, afirmou Turra.

Outras linhas de ação da cátedra são disseminar o conhecimento sobre oceanos – a chamada cultura oceânica –, fomentar o desenvolvimento de novas tecnologias e inovações a partir dos recursos marinhos e articular o conhecimento científico com a tomada de decisão pelos agentes públicos.

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Este artigo foi originalmente publicado Agência Fapesp [Aqui!].