Matéria da Revista Exame faz um Raio-X realista do Porto do Açu: entre o que era para ter sido com Eike e o que poderá ser com a Prumo

A última edição da Revista Exame traz uma pedagógica matéria produzida pela lavra do jornalista Bruno Villas Bôas que traça um Raio-X realista da situação do Porto do Açu. Apesar do tom basicamente positivo, a matéria traça um cenário que nada tem a ver com os arroubos grandiloquentes que lemos na imprensa regional. Aliás, o que a matéria faz de melhor é confirmar o que venho dizendo aqui neste blog faz algum tempo: o Porto do Açu poderá chegar a funcionar, mas será numa versão que está mais para mini (mais modesto segundo Villas Bôas) do que para o propalado “super”. 

Uma questão que me deixou deveras curioso é aquela onde Villas Bôas nota que a Prumo quer incentivar incorporadoras para que construam bairros no entorno do Porto do Açu para resolver um profundo gargalo do empreendimento que é a falta de moradias no seu entorno.  A minha curiosidade é a seguinte: em quais terras? Só não pode ser nas terras que estão sendo desapropriadas pela CODIN, pois estas se destinam a atividades industriais. A não ser que esteja vindo por ai uma nova mudança radical no zoneamento da terra no município de São João da Barra!

Para quem tiver curiosidade de ler a matéria na sua totalidade, a mesma segue abaixo. Boa leitura!

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Exame: Número de ultra-ricos no Brasil triplica em 10 anos

Número de multimilionários no Brasil triplica em uma década

Brasil tem hoje mais de 10 mil indivíduos com patrimônio líquido acima de 10 milhões de dólares, o 10º lugar no ranking mundial

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João Pedro Caleiro, de

Patrick Fallon/Bloomberg

Mulher caminha na frente de anúncio de loja de jóias em Beverly Hills, EUA

Mulher caminha na frente de anúncio de loja de jóias em Beverly Hills, nos Estados Unidos

São Paulo – Mais de 10 mil brasileiros tem hoje um patrimônio líquido de pelo menos US$ 10 milhões (R$ 22,8 milhões), de acordo com um estudo da consultoria sul-africana New World Wealth.

Isso coloca o Brasil no 10º lugar no ranking mundial de multimilionários, liderado por Estados Unidos (183.500) e China (26.600).

Já as cidades do mundo com mais multimilionários são Hong Kong, Nova York e Londres. São Paulo aparece em 17º, com 4.400 indivíduos, e o Rio de Janeiro em 27º, com 2.200. 

O número de pessoas com mais de US$ 1 milhão no Brasil é estimado pela consultoria em 197.600, a 14ª posição mundial em um ranking liderado por EUA, Japão e Reino Unido.

Entre as cidades com mais milionários, Londres, Nova York e Tóquio lideram e São Paulo aparece em 21º com 84.700 indivíduos. .

Mundo

No total, o mundo tem hoje 13 milhões de milionários, dos quais 495 mil podem ser classificados como multimilionários. 

Nos últimos 10 anos, o crescimento no número de indivíduos com mais de US$ 10 milhões foi de 71%, acima da taxa de 58% entre os que tem acima de US$ 1 milhão.

De acordo com a consultoria, o crescimento mais alto entre os multimilionários pode ser explicado por “uma maior desigualdade de riqueza no topo da pirâmide, uma taxa maior de conversão de milionários em multimilionários e crescimento forte em países com uma proporção alta de multimilionários para milionários (como Rússia e Índia)”.

Na América Latina, o número de multimilionários cresceu 265% em 10 anos. No Brasil, assim como em outros emergentes como China, Rússia e Índia, o crescimento ultrapassou 200%.

Os números são similares aos divulgados recentemente pelo estudo World Wealth Report, da Capgemini com a RBC Wealth Management, segundo a qual há 13 milhões de milionários no mundo, 172 mil deles no Brasil.

FONTE: http://exame.abril.com.br/economia/noticias/numero-de-multimilionarios-no-brasil-cresce-200-em-10-anos

Exame: Um blefe bilionário de Eike Batista na OGX

Os bastidores de uma promessa não cumprida de Eike Batista revelam o caos da petroleira que acaba de ir à lona

Roberta Paduan, de 

FERNANDO CAVALCANTI

Eike Batista durante a oferta pública inicial de ações da petrolífera OGX, na Bovespa, em 2008Eike, na Bovespa: a OGX pediu recuperação judicial no fim de outubro 

São Paulo – Nas poucas vezes em que se propôs a comentar sua derrocada, o empresário Eike Batista se manteve firme num ponto: ninguém acreditou em seu projeto mais do que ele próprio. As coisas deram errado, segundo sua lógica, por questões que estavam fora de sua alçada, como a crise internacional ou a imprevisibilidade dos poços de petróleo.

Mas Eike, segue o argumento, sempre acreditou em suas empresas — e esteve disposto a botar dinheiro do próprio bolso quando ninguém mais parecia ter coragem. A prova cabal de seu otimismo foi dada no dia 24 de outubro do ano passado, após três meses de queda brusca das ações de sua petroleira, a OGX, na bolsa.

Em meio à desconfiança que abalava o centro de seu império, Eike se comprometeu a investir na OGX até 1 bilhão de dólares do próprio bolso, caso a empresa precisasse, comprando ações a um preço fixo de 6,3 reais. A operação, conhecida no mercado financeiro como put, foi informada à Comissão de Valores Mobiliários por fato relevante.

Mas, um ano depois, a OGX entregou os pontos e entrou com um pedido de recuperação judicial. No caminho, é claro que precisou — e muito — do dinheiro prometido por ­Eike. Mas a OGX não viu um centavo. Tudo, hoje se vê, não passou de um blefe. Que deu no que deu.

A história do blefe de 1 bilhão de dólares é uma das dezenas que marcaram a rocambolesca crise que levou o grupo de Eike à situação atual. Mas a história secreta da promessa não cumprida é carregada de simbolismos — conhecê-la é uma excelente maneira de entender como funcionava, ou não funcionava, o grupo X.

Durante nada menos que oito meses, Eike se esquivou de assinar o contrato que daria validade legal à sua promessa. Ele cedeu apenas em junho, após a pressão de três conselheiros da OGX: os ex-ministros Rodolpho Tourinho Neto (Minas e Energia), Pedro Malan (Fazenda) e Ellen Gracie (Supremo Tribunal Federal).

Ao serem informados de que Eike vinha se negando a assinar a put, Tourinho, Ellen e Malan pediram uma reunião com o empresário. Internamente, Eike chegou a dizer a seus executivos que não assinaria um papel que podia matá-lo. Enviou José Roberto Faveret, diretor jurídico da petroleira na época, para que o representasse na reunião com os conselheiros estrelados. Sem documento, claro.

Foi quando os três decidiram entregar o cargo. Fizeram, no entanto, uma exigência. Queriam ver o contrato da put assinado. Caso contrário, falariam abertamente sobre o assunto. Eike ­assinou o contrato (não que o tenha cumprido, como se verá a seguir). Procurados por EXAME, nenhum dos três ex-ministros respondeu aos pedidos de entrevista. Faveret também não comentou o assunto, assim como a EBX.

Quase no tapa

A discussão em torno da put dá uma ideia do descontrole interno do grupo X. Em maio, houve uma reunião particularmente tensa para debater o assunto. De um lado da mesa, os diretores da petroleira argumentavam que precisavam que o controlador aportasse 100 milhões de dólares para pagar as contas básicas.

Era a única maneira de pagar os fornecedores que finalizavam as instalações da plataforma no campo de Tubarão Martelo, o maior da OGX. A plataforma estava, e está, parada, boiando em alto-mar. Do outro lado, diretores da EBX — a holding de Eike e fonte mais provável dos recursos para o pagamento da put — diziam que o documento não poderia sequer ser assinado.

O que era para ser uma reunião se transformou numa briga ruidosa, em que dois executivos quase saíram no tapa. O mais exaltado era o ex-diretor financeiro Otavio Lazcano, que defendia que Eike não assinasse o documento. Com quase 2 metros de altura, o ex-jogador de vôlei berrou palavrões e colocou o dedo a milímetros do nariz de Roberto Monteiro, então diretor financeiro da OGX.

A turma do deixa -disso interveio, evitando que Monteiro, lutador de jiu-jítsu, revidasse. Tudo aconteceu no 22o andar do elegante edifício Serrador, na região da Cinelândia, no centro do Rio. Entre os presentes estavam ainda Luiz Eduardo Carneiro e José Faveret, da OGX, e Marcelo Horcades e Joel Rennó Júnior, da EBX, todos já fora do grupo. Eike não participou do arranca-rabo.

Enquanto Eike e os executivos de sua petroleira não se decidiam, a situa­ção da empresa só piorava. Ricardo Knoepfelmacher (o Ricardo K), da gestora de private equity Angra Partners, chegou em agosto para reorganizar o grupo. Ele deixou claro várias vezes que os diretores da OGX não deveriam exercer a put. Mas a situação da empresa foi se deteriorando, e a pressão sobre os diretores, aumentando.

Cabia apenas a eles, afinal, dizer se a empresa precisava ou não do dinheiro do controlador. Se não o fizessem, poderiam ser processados por acionistas — acusados de não cumprir seu dever de proteger os interesses da empresa. No dia 6 de setembro, com o caixa da OGX secando, a diretoria enviou um e-mail a Eike dizendo que exigia o pagamento de pelo menos 100 milhões de dólares.

O empresário ficou furioso. Passou o dia enfurnado numa reunião com Ricardo K para decidir o que fazer. Ao fim do dia, enviou à CVM um comunicado informando que poderia contestar a validade da put numa corte arbitral. Em 40 dias, havia demitido todos os diretores da petroleira, menos o de operação.

Naquela época, os credores da OGX tinham alguma esperança de que seria possível chegar a um acordo com Eike. Mas as conversas foram para o vinagre. Em setembro, os diretores da OGX negociavam com os principais credores, donos de 3,6 bilhões dólares em títulos da empresa.

Segundo o executivo de um grande fundo de investimento com sede em Nova York, as negociações estavam bem encaminhadas. Os credores estavam dispostos a aceitar um desconto de 2,6 bilhões de dólares nos 3,6 bilhões. Em troca, ficariam com 95% da empresa. Eike continuaria dono dos outros 5%.

Eles também exigiam que a OSX, empresa de construção e afretamento naval do grupo de Eike, reduzisse de 2,5 bilhões para 1 bilhão de dólares a dívida cobrada da OGX. Mas Ricardo K considerou o acordo ruim para Eike e o convenceu a suspender a negociação e a demitir Roberto Monteiro, seu diretor financeiro, pelo telefone, ainda em Nova York, cortando seu celular e o e-mail corporativo.

Os credores, entre os quais os fundos americanos Blackrock e Pimco, sentiram-se desrespeitados com a demissão de seu interlocutor. Enviaram um e-mail a Eike dizendo que ele estava faltando com respeito às maiores potências financeiras do planeta. Recomendaram também que recontratasse o diretor financeiro demitido. Dito e feito.

Três semanas depois, Monteiro voltaria à mesa com os credores, dessa vez como consultor da OGX. Mas, mais uma vez, Eike mudou de ideia no meio do caminho. Avisou que um novo investidor estava interessado na petroleira e interrompeu as negociações. Dessa vez, o demitido foi Luiz Eduardo Carneiro, presidente da OGX, também enquanto estava em Nova York, por telefone.

O novo investidor não apareceu. Num episódio esdrúxulo, a OGX comunicou ao mercado que negociava com a gestora Vinci e outros interessados — mas a Vinci negou “categoricamente” que estivesse no páreo. Foi o último suspiro das ações da OGX, que chegaram a subir mais de 120% em uma semana. Mas durou pouco.

Em 30 de outubro, a OGX entrou com pedido de recuperação judicial, apenas cinco anos depois de fazer o maior IPO do país. Caso seja aceito pelos juízes que avaliarão o caso, a OGX protagonizará também a recuperação judicial mais complexa da história do país. Até o fechamento desta edição (em 5 de novembro), a Justiça não havia julgado o pedido.

FONTE: http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1053/noticias/um-blefe-bilionario?page=1