Proposta de proibição de exportação de agrotóxicos pela Alemanha possui muitas brechas

As exportações de agrotóxicos que não são aprovados na Europa devem ser amplamente evitadas – diz a promessa. No entanto, um projeto de lei inédito do Ministério da Agricultura, que está à disposição do Monitor , permite muitas exceções.

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Por Elke Brandstätter e Andreas Maus, WDR

Fala-se muito em “padrões duplos” quando se trata da exportação de agrotóxicos altamente tóxicos da Alemanha e da Europa. Especialmente com substâncias que não são aprovadas na Europa, mas ainda podem ser exportadas – mesmo por grandes empresas alemãs como Bayer, BASF ou Alzchem. Nos próprios países afetados, isso causa indignação.

Maria Elena Rozas, da rede chilena de ação contra pesticidas RAP, vê “uma ameaça à diversidade biológica e uma violação dos direitos humanos, especialmente dos grupos mais vulneráveis ​​da população, ou seja, crianças que vivem perto de plantações agrícolas e trabalhadores agrícolas”.

Anualmente cerca de 385 milhões de intoxicações

Segundo um estudo de 2020, há cerca de 385 milhões de casos de envenenamento e cerca de 11.000 mortes todos os anos devido ao uso de agrotóxicos tóxicos. “Essa é uma boa razão para garantir que os mesmos agrotóxicos que causam essas intoxicações desapareçam do mercado e, como primeiro passo, não possam mais ser exportados da Europa e da Alemanha”, diz Peter Clausing, coautor do estudo e toxicologista da Rede de Ação de Pesticidas PAN.

Isso é exatamente o que a coalizão governista havia prometido. O acordo de coalizão afirma: “Faremos uso das opções legais para proibir a exportação de certos agrotóxicos que não são permitidos na UE por razões de proteção à saúde humana”.

O ministro da Agricultura, Cem Özdemir, reiterou: “Não é aceitável que continuemos a produzir e exportar agrotóxicos que banimos com razão aqui para a saúde das pessoas”, disse ele no ano passado.

Regulamento de proibição com lacunas

A revista ARD Monitor tem agora um projeto de regulamento com o qual a anunciada proibição de exportação deve ser implementada. Na verdade, uma proibição limitada de exportação deverá acontecer. A base para isso é uma lista de 180 agrotóxicos que são proibidos na UE.

Uma lista em que estão faltando importantes substâncias nocivas, dizem os críticos. Estes incluem imidaclopride, que provavelmente também é reprodutivamente perigoso e conhecido por sua toxicidade para abelhas e outros insetos polinizadores. Ou Iprodione, um fungicida que interfere no sistema hormonal humano.

O toxicologista Clausing, a quem o Monitor enviou a lista para revisão, vê grandes lacunas. Se compararmos a lista com as substâncias cujo uso é proibido na própria UE, faltam muitas substâncias, afirma: “Com base nisso, cerca de 30% das substâncias tóxicas agudas, um 30% das substâncias mutagênicas, 25% das substâncias cancerígenas e faltam 20% substâncias tóxicas para a reprodução, ou seja, substâncias perigosas para a reprodução. E não consigo entender por que essas substâncias não estão incluídas na lista”, diz o especialista.

Proibição de exportação apenas para produtos acabados

Os críticos veem um problema ainda mais fundamental no fato de que o regulamento apenas impede a exportação de produtos fitofarmacêuticos formulados que contenham as substâncias nocivas da lista. Isso significa que a própria substância básica tóxica (o produto técnico) pode ser exportada.

E a exportação de substâncias altamente tóxicas e nocivas ao meio ambiente não deve ser proibida de forma alguma – com algumas exceções – seja como substância básica ou na forma de produtos acabados. O regulamento, portanto, oferece a empresas como Bayer, BASF, Syngenta e Alzchem enormes brechas para continuar exportando as matérias-primas para agrotóxicoss da Alemanha, diz Laurent Gaberell, da Public Eye. “Os produtos formulados são simplesmente fabricados fora da Alemanha ou da UE”.

Mas por que a exportação de substâncias básicas também não é proibida com a portaria? Em resposta a um pedido do Monitor , o ministério escreveu que uma revisão legal anterior havia mostrado “que os objetivos do acordo de coalizão para proibir a exportação de certos produtos fitofarmacêuticos podem ser implementados com uma portaria baseada na Lei de Proteção Vegetal”.

Para uma proibição mais abrangente, o ministério deveria ter aprovado uma lei em vez de uma portaria. Mas a coalizão de semáforos não conseguiu chegar a um acordo sobre um regulamento mais abrangente, confirma o especialista em agrotóxicos do grupo parlamentar dos Verdes no Bundestag, Karl Bär. “Eu também gostaria de ver uma proibição de substâncias que também são prejudiciais ao meio ambiente. Mas o acordo de coalizão deixa muito claro que apenas as substâncias que são prejudiciais à saúde estão em jogo.”

Mas mesmo o rascunho atual está sendo questionado pelo FDP: “Agora espero que os parceiros da coalizão que não querem isso, e esse é o FDP, cheguem a uma conclusão rapidamente”, disse Baer em entrevista ao Monitor .

O grupo parlamentar do FDP justifica seu ceticismo com a preocupação de que “proibições generalizadas de exportação” possam levar à realocação da produção para países fora da UE. Isso não beneficia nem os usuários nem o meio ambiente. Fabricantes e associações agroquímicas argumentam de maneira muito semelhante.

Cornelia Möhring, membro do Bundestag para o Partido de Esquerda, critica duramente o projeto de regulamento atual: “Com este regulamento de borracha furada, com o qual as empresas químicas podem continuar a produzir agrotóxicos nocivos no exterior e trazê-los para os campos, o Ministério de Özdemir fica muito aquém das próprias reivindicações dos Verdes, que eles mesmos apresentaram como oposição no Bundestag”. Möhring pede “uma proibição abrangente de exportação para que os padrões duplos cínicos acabem de uma vez por todas”.

As exportações de agrotóxicos aumentaram significativamente

De fato, a Alemanha é um país exportador de agrotóxicos. As organizações não-governamentais “Public Eye” e “Unearthed” já investigaram até que ponto materiais perigosos são liberados daqui para o mundo inteiro, puros ou em agrotóxicos. Os resultados são exclusivos do Monitor . 1.500 documentos de exportação foram avaliados como parte de uma pesquisa oficial em larga escala. As empresas devem apresentá-los se quiserem exportar substâncias perigosas que não são permitidas na UE.

Um total de 28 substâncias proibidas na UE foram registradas para exportação da Alemanha no ano passado. Em 2021 ainda eram 9.280 toneladas de peso líquido de substância ativa, segundo o estudo em 2022 a quantidade quase dobrou para 18.360 toneladas.

Os fabricantes de agrotóxicos ocultaram seus próprios estudos das autoridades da União Europeia por muitos anos. Questionadas pelo Monitor , as empresas enfatizaram que todas as normas foram observadas. Uma proibição de exportação na Alemanha e na Europa também pode levar os ingredientes ativos correspondentes a serem “imediatamente substituídos por produtos chineses menos sustentáveis”.

As substâncias são aprovadas nos países destinatários e o uso seguro é possível se todas as medidas de proteção e normas de segurança forem observadas. Eles levam a responsabilidade social muito a sério e também oferecem treinamento e conselhos abrangentes sobre como usar os produtos com segurança.


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Este artigo escrito originalmente em alemão foi publicado originalmente pela Tageschau [Aqui!].

Brasil exporta gado vivo de fazendas da ‘lista suja’ do trabalho escravo e com desmatamento

Minerva, Mercúrio e Agroexport, maiores exportadores de animais vivos do país, têm cadeia contaminada por violações socioambientais, segundo investigação da Repórter Brasil

Irã vai importar gado vivo do Brasil | Portal Diário do Aço

Por André Campos e Pedro Ribeiro Nogueira, da Repórter Brasil

Um navio antigo, antes usado para carregar contêineres e adaptado para o transporte de animais vivos, naufraga e boa parte dos 5 mil bois embarcados para exportação morrem afogados às margens do rio Pará, no porto de Vila Conde, em Barcarena (PA). As imagens são fortes e os efeitos do acidente perduram mesmo depois de 5 anos: os animais em decomposição e o óleo contaminaram a água, prejudicando a subsistência de comunidades e a saúde da população.

Três anos antes, cerca de 2700 animais morreram sufocados em alto-mar por uma pane elétrica no estábulo flutuante. Não muito longe de Barcarena, em Abaetetuba (PA), comunidades ribeirinhas lamentam  a perda do rio Curuperé, poluído por dejetos de gado e pesticidas. O local é usado como ponto de embarque de animais vivos para abate fora do país.

Em comum nestes dois episódios está a Minerva Foods, uma das três maiores empresas exportadoras de carne e de gado vivo do Brasil. A gigante do setor de proteína animal acumula – junto à Agroexport e a Mercúrio Alimentos que também atuam na exportação do “gado em pé” – denúncias de sofrimento animal e vendem para outros países animais provenientes de fazendas desmatadas ou autuadas por trabalho escravo.

Uma investigação da Repórter Brasil descobriu que essas empresas compraram bois de fornecedores diretos que, por sua vez, adquiriram animais para engorda provenientes de fazendas que estão na “lista suja” do trabalho escravo e também de áreas embargadas por desmatamento ilegal.

Minerva, Agroexport e Mercúrio Alimentos assinaram, em 2009, o chamado TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) da Carne. Isso quer dizer que elas se comprometeram formalmente a não adquirir animais de fazendas inseridas na “lista suja” do trabalho escravo, assim como de áreas de desmatamento ilegal ou criados em reservas indígenas.

No entanto, essas empresas estão expostas à contaminação de suas cadeias produtivas. Isso porque pelo menos um de seus fornecedores adquire animais de diversos pecuaristas no Pará e no Tocantins que constam na “lista suja” do trabalho escravo.

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Além de violações sociambientais e trabalhistas, as gigantes do setor de exportação do ‘gado em pé’ acumulam denúncias de sofrimento animal, ligadas ao transporte dos bois vivos (Foto: Boobook48)

A Fvt Comércio de Bovinos, de propriedade de Fabio Volpato Toledo, é uma importante fornecedora de gado vivo para exportação para as três empresas no Pará – estado responsável por dois terços da exportação de bovinos em pé do país, segundo dados da Comex Stat.

Os animais vendidos pela Fvt para as exportadoras vêm de duas propriedades: as fazendas Pau Preto e Agropecuária Toledo III, ambas localizadas em São Domingos do Araguaia (PA) e registradas em nome de Fábio Volpato Toledo, segundo o Cadastro Ambiental Rural (CAR).

Em março de 2020, a Agropecuária Toledo III recebeu animais da Fazenda Estrela D’Alva, em Jacundá (PA), de Jomar Antônio de Mesquita Teixeira, que está na “lista suja” desde 2018. Uma fiscalização dos auditores fiscais resgatou três trabalhadores em condições análogas à escravidão na propriedade.

Entre abril e julho de 2019, a Fazenda Pau Preto recebeu gado de outro empregador também presente na “lista suja”: Sebastião Marques da Mota. Os animais vieram das fazendas Arco Verde e Pedra Branca, duas propriedades contíguas onde o governo federal resgatou cinco pessoas da escravidão.

“O produtor que está com problemas com questão ambiental tem a possibilidade de adequação. Agora, se ele está tendo problemas com mão de obra escrava, é crime, é sangue na mão”, analisa Mauro Armelin, diretor da ONG Amigos da Terra, que realizou um estudo sobre os dez anos do TAC da Carne e atua com empresas do ramo.

Procurada, a Minerva afirmou que adota “os mais rigorosos critérios em relação ao manejo dos animais em nossas atividades, privilegiando sempre o bem-estar animal” e que “respeita a legislação vigente para essa atividade, tanto no Brasil quanto nos países importadores, em relação aos procedimentos técnicos, sanitários e operacionais, incluindo o transporte seguro dos animais”. A empresa afirma ainda que a “Fvt Comércio de Bovinos e Fazenda LC I – estão habilitados a comercializar gado para a Minerva Foods ou para  qualquer outra empresa do setor, segundo dados do Cadastro Ambiental Rural” e que as outras fazendas não constam no sistema. A companhia diz ainda ser impossível rastrear os fornecedores indiretos já que não tem acesso às Guias de Trânsito Animal. Leia aqui a resposta na íntegra.

A Agroexport e Mercúrio Alimentos não responderam aos questionamentos da Repórter Brasil. A Fvt Comércio de Bovinos foi procurada por e-mail e por telefone, também sem resposta.

Rastro de desmatamento

De 2015 a 2019, cerca de 400 mil bois foram embarcados vivos por ano no país e levados para destinos no Oriente Médio, Norte da África e Turquia. Eles são colocados em navios precários com até duas vezes mais chances de naufragar – 80% deles construídos para outras finalidades e adaptados para o transporte de animais vivos. Isso torna o Brasil o segundo maior exportador de gado vivo por via marítima do mundo, atrás apenas da Austrália. Somos, no entanto, os campeões em submeter os bovinos às mais longas rotas.

Em 2019, o gado embarcado gerou uma receita de US$ 457 milhões de dólares, em um mercado em que a Minerva responde  por quase metade (47,6%) do total.

O Pará lidera o ranking, exportando 66% do total de animais vivos, seguido por Rio Grande do Sul (20,5%) e São Paulo (8,3%). Apesar de representar apenas 1,3% do gado produzido pela indústria da carne no Brasil, no Pará a cifra sobe para 8,9% do total – quase um em cada dez bois paraenses sai do país de navio.

boi 2O Brasil é o segundo maior exportador de gado vivo por via marítima do mundo e o campeão em submeter os bovinos às mais longas rotas em navios precários com até duas vezes mais chances de naufragar (Foto: Marcio Isensee e Sá)

Segundo relatório da ONG Mercy For Animals, publicado nesta segunda-feira (14), o fato do estado amazônico ser o principal exportador “embute um risco de desmatamento significativamente maior” uma vez que o Pará lidera, desde 2008, o ranking anual de desmatamento da Amazônia, atingindo uma área de 39,8 mil quilômetros quadrados devastados (44,1% de todo o desmatamento no bioma amazônico).

Em 2019, a Repórter Brasil foi à São Félix do Xingu (PA) e ouviu de Arlindo Rosa, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais do município, que “sai muito boi de navio aqui. Se não fosse a exportação, não teria jeito”. O município tinha à época, segundo o fazendeiro, 90% de suas propriedades rurais embargadas pelo Ibama por desmatamento, impedindo a venda direta para frigoríficos e exportadores, que assinam o TAC da Carne. Mas a venda acaba acontecendo de forma indireta. Afinal, nenhuma das signatárias possui até hoje um sistema de verificação de toda cadeia produtiva.

Fazendas de São Félix do Xingu, que concentra a maior área desmatada da Amazônia entre 2013 e 2018 e atingiu a marca de 18 cabeças de gado por habitante, segundo relatório da Mercy for Animals, forneceram “bovinos para as quatro maiores empresas exportadoras de bovinos vivos – Minerva, a Agroexport Trading e Agronegócios, a Mercúrio Alimentos e a Wellard do Brasil no triênio 2015-2017.”

“Tem três formas de burlar o TAC”, explica Daniel Azeredo, procurador do Ministério Público Federal. “A primeira é lavagem de gado, quando uma fazenda bloqueada encaminha o boi para uma fazenda que não tem restrição de forma fictícia e essa fazenda repassa para o exportador. A segunda é quando o fornecedor indireto compra de várias fazendas de cria e recria e vende depois o animal gordo. E a terceira é burlar o CAR, que é autodeclaratório e não validado, permitindo que empresas com problemas negociem com frigoríficos e exportadoras”, diz.

Pecuarista multado em R$ 1,3 mi por desmatamento

Além dos pecuaristas autuados por trabalho escravo, a investigação da Repórter Brasil encontrou um caso de animais de fazendas com áreas embargadas por desmatamento ilegal sendo enviadas para fora do país. O pecuarista Admilson Lopes de Andrade forneceu gado vivo para a Minerva, em 2020, para a Mercúrio Alimentos, em 2018, e para a Agroexport, de 2018 a 2021, com procedência da Fazenda LC I, em Breu Branco (PA).

Adimilson também é dono de outra área de pastagem – a Fazenda LC II, no município vizinho de Baião (PA). Desde 2013, a fazenda possui 250 hectares embargados pela prática de desmatamento ilegal. Pela infração, Andrade foi multado em R $1,3 milhão pelo Ibama.

Entre 2018 e 2020, a LC II transferiu centenas de animais para a engorda na Fazenda LC I, de onde o gado é vendido para as exportadoras. Para Mauro Armelin, da Amigos da Terra, o “gado indireto continua sendo um buraco na cerca”.

“Isso só reforça que os casos acontecem e que nós temos que continuar prestando atenção ao mesmo tempo que não dá pra cobrar o TAC sozinho pela redução do desmatamento. Ele é uma ferramenta importante, mas diante dessa loucura que o governo federal tem promovido, é injusto cobrar só dele a solução”, diz.

A reportagem não conseguiu contato com o Admilson Andrade.

Bois ao mar

A exportação brasileira de gado vivo por via marítima em larga escala começou em 2002, principalmente para países da América Latina e, até 2015, a Venezuela era o principal comprador, sendo substituída nos anos seguintes pela Turquia, além do Egito, Líbano, Iraque, Jordânia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Uma das justificativas para que esses países concentrem as importações, além da insuficiência da produção interna, é para que os animais sejam abatidos segundo os preceitos islâmicos do Halal. 

Entidades defensoras dos direitos dos animais, no entanto, afirmam que submeter os bois à viagens exaustivas em alto-mar é crueldade. “Nossas investigações mostram que os animais vivem sobre as próprias fezes, morrem de doenças respiratórias, são expostos a temperaturas extremas de frio e calor, espaço reduzido, falta de atenção dedicada. Você imagina o que é para um boi estar por três semanas em um navio em alto-mar. Aqueles que morrem, assim como seus dejetos, são lançados no oceano”, afirma Luiza Schneider, vice-presidente de investigação da Mercy For Animals.

“Os animais vivem sobre as próprias fezes, morrem de doenças respiratórias, são expostos a temperaturas extremas de frio e calor, espaço reduzido, falta de atenção dedicada’ afirma Luiza Schneider, vice-presidente de investigação da Mercy For Animals”

A necessidade de regulações, cobrança de impostos e até o banimento da prática reúnem aliados improváveis: frigoríficos brasileiros reclamam que a exportação do gado vivo retira valiosos substratos do país, como o couro e o sebo, assim como a carne, que poderia ser beneficiada por aqui.

Já as organizações de defesa dos direitos dos animais defendem o banimento da prática e pedem a aprovação do PLS 357/2018, que quer proibir a exportação de animais vivos para abate. Após receber parecer desfavorável da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, o projeto aguarda parecer do relator da Comissão do Meio Ambiente.

Para Haiuly Viana, médica veterinária do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, a questão é colocada muitas vezes como uma guerra de narrativas entre os defensores dos direitos de animais e os pecuaristas interessados em seguir com a exportação, que afirmam que o comércio de gado em pé é feito de forma segura e sem crueldade.

boi 3Organizações de defesa dos direitos dos animais defendem o banimento da prática e denunciam crueldades em navios precários com animais vivendo por três semanas sobre as próprias fezes em espaços reduzidos e morrendo de doenças respiratórias (Foto: Creative Commons/A C Moraes)

“A gente enxerga que o gado vivo, quando viaja, leva consigo uma cadeia poluída com desmatamento ilegal, que explora pessoas em situações de vulnerabilidade, que traz sofrimento para os animais. É uma prática que realmente precisa ser abolida, que causa danos profundos e permanentes”, diz.

Em 2018, o Fórum entrou com uma liminar pedindo o desembarque de 25 mil animais do navio MV Nada, atracado no Porto de Santos, em São Paulo. Um juiz acatou o pedido, entre o dia 25 de janeiro e 4 de fevereiro o navio ficou retido no porto, atraindo atenção nacional para a causa da proibição do transporte marítimo, até a ministra Grace Mendonça, da Advocacia-Geral da União (AGU), entrar com recurso no Tribunal Regional Federal (TRF), liberando o navio para partir para a Turquia. O processo mobilizou o então ministro da Agricultura, Blairo Maggi, e o ex-presidente, Michel Temer.

Em 2015, uma Ação Civil Pública (ACP) do MPF, da Defensoria e do Ministério Público do Pará, pediu R$ 71 milhões como indenização por danos ambientais e sociais causados pelo naufrágio do navio MV Haidar, em Barcarena. O valor acordado em 2018, entre as empresas Companhia de Docas do Pará, Minerva, Norte Trading Operadora Portuária e Tâmara Shipping e os proponentes, e comunidades e moradores da região ficou muito abaixo do inicialmente estipulado: R$ 7,6 milhões acabou sendo destinado para as famílias impactadas e R$ 3 milhões para projetos comunitários.

Até hoje, mais de 5 anos depois, os animais que morreram afogados perto do porto de Barcarena continuam no fundo do rio. A remoção dos da carcaça do navio e dos cadáveres deve custar R$ 51 milhões e está prevista para acontecer ao longo de 2021.

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Este texto foi originalmente publicado pela Repórter Brasil [Aqui!].

E agora Paulo Guedes? China aplica medidas anti-dumping contra exportações brasileiras de carne de frango

frangos reuters

O ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou recentemente (mas aparentemente depois voltou atrás) a remoção de medidas anti-dumping contra o leite produzido na União Européia e na Nova Zelândia, gerando uma série de protestos de produtores brasileiros que se viram ameaçados pelo que seria uma concorrência desvantajosa por causa dos menores preços praticados fora do Brasil. 

anti dumping china

Hoje ficamos sabendo que a China, segundo maior importador de carne de frango brasileira, resolveu sobretaxar as exportações brasileiras entre 17,8% e 32,4%, por um período um período de cinco anos, por causa daquilo que os chineses consideram concorrência desleal com seus produtores domésticos por parte do agronegócio brasileiro.

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Fonte: MDIC

O mais interessante é que esse cabo de guerra com a China se segue após uma outra com a Arábia Saudita que também suspendeu a importação de carne de frango brasileiro, num aparente retaliação à anunciada mudança da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

E há que se lembrar que a região Sul concentra os estados que lideram a exportação de carne de frango.   É interessante notar que nos três estados do Sul  (Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) ocorreram vitórias contundentes do presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2018.    Em outras palavras, a situação que se desenha é muito diferente que levou o agronegócio exportador a apoiar Jair Bolsonaro.

Vamos ver até que ponto irá a anunciada intenção do ministro da Economia de liberalizar completamente o comércio internacional do Brasil, justamente em um momento em que os exportadores brasileiros sofrem tantos, digamos, desgostos.

Hoje em Dia: Minas exporta 12 trilhões de litros em “água virtual”

Bruno Moreno – Hoje em Dia

Minas exporta 12 trilhões de litros em "água virtual"
Para serem fabricados ou extraídos, os principais produtos exportados por Minas no ano passado consumiram quase 12 bilhões de metros cúbicos de água. São 15 itens, que representam 84% do valor das exportações do Estado, o equivalente a US$ 24 bilhões. 
 
Essa quantidade de água seria suficiente para encher 42 vezes os reservatórios Serra Azul, Vargem das Flores e Rio Manso, que abastecem a Região Metropolitana de Belo Horizonte. Para se ter uma ideia do montante, o volume equivale a 4,6 milhões de piscinas olímpicas cheias ou 12 trilhões de litros de água.
 
Em um cenário de crise hídrica, especialistas alertam para a necessidade de redução da quantidade gasta, por meio da modernização dos processos produtivos.
 
Não há uma estimativa do governo do Estado sobre o volume de “água virtual” exportada. Mas na balança comercial divulgada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior há o peso, em quilos, dos produtos que foram vendidos para outros países. 
 
Utilizando estimativas padronizadas de organizações que calculam a quantidade necessária de água no processo produtivo – como a Unesco, o Exporta Minas e o Pegada Hídrica –, é possível saber, aproximadamente, qual o total de água empregada.
 
Composição
 
Nesse rol de produtos exportados, a maioria não contém quantidade significativa de água, mas utiliza o recurso em alguma etapa da produção. Da lista dos produtos mais exportados, apenas seis contêm água em sua composição: café, açúcar, soja, celulose e carne de boi e de frango. 
 
Os outros nove são minério de ferro, ferro liga, ouro, tubo de ferro fundido, ferro fundido bruto (ferro gusa), semifaturados de ferro ou aço, laminados planos de ferro ou aço, automóveis (veja retranca) e fio máquina e de ferro ou aço. Os maiores consumidores estão na Ásia (veja infografia).
 
Na conta da exportação de água, não estão incluídos os milhões de metros cúbicos utilizados para levar o minério de ferro até o litoral por meio dos minerodutos. O cálculo para o uso da água nesse processo contabiliza apenas o beneficiamento básico.
 
Realidade reflete atraso na economia no Estado, avalia consultor em projetos
 
A grande quantidade de água utilizada na fabricação dos produtos que Minas Gerais exporta reflete um atraso na economia mineira. É no que acredita o professor de comércio exterior e consultor em projetos internacionais, Caio Radicchi.
 
“Infelizmente, nós somos exportadores de matéria-prima e a pauta de exportação de Minas depende muito de água. Essa crise hídrica nos pegou no contrapé. Novas tecnologias deveriam ter sido desenvolvidas para diminuir o consumo de água”, argumentou.
 
Procurados para falar sobre o consumo de água pela indústria mineira, não se manifestaram a Vale, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e a Secretaria do Estado de Desenvolvimento Econômico.
 
Carros
 produção da fiat
Fiat afirma ter reduzido em 68%o uso de água na planta industrial de Betim (Foto: Fiat/Divulgação)

De acordo com o Fórum Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), a produção de um carro consume 35 mil litros de água, o que dá 29,17 litros por quilo, se o cálculo for para um carro com 1,2 toneladas. 
 
Na Fiat, em Betim, alguns procedimentos estão sendo implementados para economizar água. De acordo com o gerente de Meio Ambiente, Saúde e Segurança do Trabalho da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) para a América Latina, Cristiano Felix, desde 1994 foi possível reduzir em 68% o consumo de água na planta industrial de Betim por cada carro produzido.
Felix garante que o consumo da Fiat é bem menor que 35 mil litros por carro, e a maior parte é recirculada, ou seja, volta para a linha de produção. Segundo ele, nas últimas semanas, com a intensificação da crise hídrica em Minas Gerais, foi identificada a possibilidade de “economizar 10 milhões de litros de água por mês, o equivalente ao consumo de 71.500 habitantes/dia”.
 

Atualmente, o índice de recirculação na empresa chega a 99%. Em 1992, esse índice era de 92%, e R$ 12 milhões foram investidos para diminuir ainda mais o consumo. 

FONTE: http://www.hojeemdia.com.br/noticias/minas-exporta-12-trilh-es-de-litros-em-agua-virtual-1.300611