Sistema eleitoral corrupto e seus filhotes macabros

Há muita gente hoje olhando para alguns dos nomes eleitos com votação expressiva e deixando o queixo cair de perplexidade. É que ver figuras como Jair Bolsonaro, Celso Russomano, Tiririca e Marco Feliciano como campeões de voto é realmente de deixar qualquer um perplexo. Mas não há como explicar determinadas votações sem olhar para o sistema eleitoral que permite a multiplicação destes casos.  Do pouco que me envolvi nesta eleição pude notar que o atual sistema eleitoral é feito para produzir exatamente este tipo de resultado, já que aliena a maioria do eleitorado a partir de uma boa dose de desigualdade de recursos financeiras combinada com uma ação diligente das classes dominantes para aprofundar o processo de despolitização. É essa despolitização que gera essas vitórias macabras, e não simplesmente o gosto do povo por sofrer.

Assim, culpar a população por eleger este ou aquele político que irá contribuir para a formulação de políticas anti-trabalhadores sem questionar o sistema eleitoral é culpar a vítima, e não o culpado. Além disso, não há como culpar a juventude por ter abandonado as ruas, quando a própria presidente Dilma não moveu uma palha em prol da reforma política e, em vez disso, se gabou publicamente da boa colaboração que obteve na repressão às manifestações. E aqui a opção foi clara: deixar o sistema político intacto para continuar aplicando uma política de inserção dependente no sistema econômico global.

Para mim, que já antevia este tipo de votação que deixa muitos perplexos, há que se olhar para os bons exemplos que tivemos no Rio de Janeiro, pois estes foram produzidos a partir de um profundo diálogo com a juventude e setores da classe trabalhadora. Esse diálogo que os partidos de esquerda precisam agora aprofundar entre si para que estes exemplos se tornem a principal referência para embates futuros. É que apesar de toda a gritaria que ouviremos nas próximas semanas entre neopetistas e tucanos, a política que eles têm a nos oferecer é justamente aquele que produz filhotes macabros como os que vimos saindo das urnas no Rio e em São Paulo. Já a esquerda precisa reapreender a ter metas estratégicas e visões utópicas, em vez de insistir em ações micro-orientadas para determinar quem fica com o cacife eleitoral do descontentamento informado.

Finalmente, uma pequena referência à derrota de Anthony Garotinho no plano fluminense. Quem quiser descartá-lo precocemente da política brasileira que se cuide, pois avalio que Garotinho sempre soube que tinha chances reduzidas de ir ao segundo turno, mas estabeleceu metas não declaradas que foram cumpridas. Um exemplo disto foi a votação expressiva de Clarissa Garotinho que se firma agora como a estrela mais brilhante da companhia. E tenho certeza que ele olhará com critério os resultados em Campos dos Goytacazes para fazer uma limpeza em seu grupo político, já que muitos se mostram completas inutilidades na hora de brigar por votos que acabaram fazendo uma falta fatal. A ver!

 

Terrorismo é ter Bolsonaro como presidente da Comissão de Direitos Humanos

Por Leonardo Sakamoto

A proposta da lei antiterrorismo é tão nonsense que não vale a pena gastar bits com ela.

Mas se essa piada de mau gosto passar, sugiro contarmos também outra piada, aquela da punição retroativa com base na lei.

Afinal de contas, se parlamentares de um partido que tem entre suas fileiras pessoas que foram torturadas na essencial luta pela democracia passaram a achar que manifestação é terrorismo, então os seus companheiros sejam os primeiros julgados por essa definição do crime, com base em suas ações na ditadura. Fazendo um malabarismo jurídico, talvez possamos dizer que “terrorismo” não prescreve…

(Em tempo, eu concordo com a maior parte do que eles fizeram.)

E dá-lhe plano de marketing, campanha de comunicação e o Pelé gerando vergonha alheia com declarações ufanistas… Já não bastasse a gente ter que engolir um mascote de nome Fuleco (FU-LE-CO!!!), fornecer toalhas brancas com as iniciais da Fifa bordadas com fios de ouro e entregar cadáveres de operários mortos em “acidentes” nas obras dos estádios, ainda temos que ver uma tentativa de aprovação de lei restringindo direitos.

Tenho, aliás, uma sugestão de definição de terrorismo:

“Terrorismo é um partido que se diz historicamente ligado aos direitos humanos gastar um tempão discutindo se assume ou não a comissão ligada ao tema enquanto somos obrigados a assistir Jair Bolsonaro ameaçar presidi-la, falando os impropérios de sempre, na chantagem para que o PP herde uma comissão considerada mais importante.”

Conversei com deputados federais a fim de entender quem ficará com a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Alguns membros da bancada preferem perder Direitos Humanos do que a Comissão de Seguridade Social e Família, que tem tratado de questões de saúde. Segundo eles, isso pode causar impacto no programa Mais Médicos em ano eleitoral. Entendo politicamente. Mas não.

E alguém puxa a cordinha do mundo que acho que passou meu ponto e eu quero descer. O governo do Estado do Rio de Janeiro adota o terrorismo de Estado como forma de governar e tem gente que nunca abre a boca.

Pelo contrário, há veículos de comunicação que estão usando desavergonhadamente o cadáver de Santiago Andrade, como comentei em outro post, para tentar vender suas teses sobre manifestações, tentando criminaliza-las. Não diferem em nada dos políticos supracitados que querem aprovar leis que possibilitem punir protestos populares como atos terroristas. Até porque palavras, ditas em um megafone, machucam em massa.

“Se morreram, é porque são bandidos”, disse um comandante da polícia, tempos atrás, após uma operação em uma comunidade pobre no Rio de Janeiro.”

“Todos são suspeitos até que se prove o contrário”, afirmou outro.

“Foi igual a dar tiro em pato no parque de diversões”, resumiu um policial civil.

Em 2007, a polícia chegou chegando nos morros, cometendo uma verdadeira chacina, sem diferenciar, sem perguntar. Duas dezenas de pessoas morreram. Parte delas com tiros na nuca – o que demonstra uma mira incrível ou uma falta de vergonha gigante. Naquele momento, o Rio foi mais fundo em sua opção pelo terrorismo de Estado ao invés de mudanças estruturais em tempos de Jogos Panamericanos.

Para alguns, do governo, da mídia, do Congresso, mortos são lembrados enquanto úteis.

Pensando bem, entrega para o Bolsonaro a comissão mesmo. Faz sentido.

FONTE: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2014/02/13/terrorismo-e-ter-bolsonaro-como-presidente-da-comissao-de-direitos-humanos/