China superou pela primeira vez os EUA na publicação de artigos científicos
Graças ao jornal “Folha de São Paulo”, temos agora mais uma prova de que a hegemonia chinesa se consolida cada vez mais em plano global. É que a partir de um levantamento feito sobre apublicação de artigos científicos, a matéria mostra que a China ficou em primeiro lugar, deixando os EUA em segundo. Além disso, a matéria mostrou que a liderança chinesa se dá a partir de publicações nas áreas de de biologia molecular e a farmacologia, principalmente com pesquisas relacionadas diretamente à COVID-19. Além disso, a China também está em primeiro lugar em assuntos como astronomia, agricultura, ciências da computação e engenharias. Essa situação representa um verdadeiro rearranjo na “tectónica de placas” que controlam a dinâmica da ciência mundial.
Segundo os jornalistas Sabine Righetti e Estêvão Gamboa, os dados obtidos da Plataforma Scimago incluem métricas de mais 20.000 periódicos científicos listados pela base Scopus, sendo artigos do tipo “revisados por pares”, o que reforça a noção de que estes artigos todos não refletem apenas uma dominância quantitativa, mas também qualitativa.
Como alguém que acompanha o debate em torno da dualidade “quantidade versus qualidade”, acrescento ainda que o governo chinês vem adotando medidas para conter a publicação de artigos de baixa qualidade científica e até mesmo o envolvimento de seus pesquisadores com revistas “predatórias”. Em função disso, o governo chinês vem adotando uma série de sanções contra pesquisadores pegos adotando práticas impróprias, a quais incluem proibições temporárias de solicitação de financiamento ou perda de bolsas e promoções – seguem uma políticaintroduzida em setembro do ano passado com o objetivo de eliminar as fábricas de artigos científicos e lidar com outras condutas impróprias.
O Brasil no caminho inverso ao da China
Um caminho oposto está sendo adotado no Brasil onde não apenas temos os piores níveis de financiamento em ciência e tecnologia em mais de uma década, mas também a ação livre, leve e solta de revistas predatórias que ajudam um número indeterminado de pesquisadores a terem vantagens indevidas na obtenção de recursos estatais para o custeio de suas pesquisas.
O resultado da adoção desse caminho inverso ao chinês é que estamos perdendo tração na produção científica, seja em termos de quantidade, mas principalmente de qualidade. O resultado dessa perda de tração não deverá se dar no plano imediato, mas principalmente em médio e longo prazo, causando danos consideráveis à capacidade do Brasil de estabelecer novos padrões de competição nas próximas etapas da produção capitalista, as quais vão depender justamente da capacidade de investir e produzir ciência em áreas de ponta, tal qual os chineses estão fazendo neste momento.
O domínio chinês veio para ficar?
Uma pergunta que sempre pode aparecer é se esse sucesso chinês é do tipo “gigante de pés de barro”. A minha impressão é que não, pois o nível de investimento que está em curso dentro de um planejamento de fortalecimento em linha da ciência chinesa é uma garantia de que mesmo removido o peso das publicações de baixa qualidade, a China vai continuar se consolidando como principal potência científica do planeta.
Como ciência será a principal commodity das próximas décadas, a grande possibilidade é que a migração do centro da ciência mundial dos EUA para a China não apenas vá se manter, mas também irá se aprofundar, causando profundos impactos no desenho econômico da economia mundial.
Já para o Brasil, mantidas a atual situação criada pelo chamado “teto de gastos”, o que nos espera é um aprofundamento do processo de dependência tecnológica e, consequentemente, de atraso em relação às potências científicas globais. Por isso, na campanha presidencial de 2022, a comunidade científica brasileira terá que se organizar para oferecer um conjunto de propostas que nos permitam superar a atual dinâmica que mistura pobreza de financiamento com ação livre de pesquisadores que abraçaram as revistas predatórias para inflar seus números.
Ação da350.org e da Ahomar, no Rio de Janeiro, convoca o banco a destinar recursos para setores que apoiem comunidades vulneráveis e ajudem o país a lidar com a crise climática
Rio de Janeiro, 12 de novembro – Na manhã desta quinta-feira, ativistas da 350.org e pescadores da Associação dos Homens e Mulheres do Mar da Baía de Guanabara (Ahomar) realizaram uma manifestação em frente à sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Centro do Rio de Janeiro, para convocar a instituição a deixar de financiar projetos dos setores de petróleo, gás e carvão, responsáveis pela crise climática que já prejudica milhões de pessoas em todo o mundo.
Cálculo elaborado pela 350.org, a partir de dados do próprio BNDES, indica que o banco financiou mais de R$ 90 bilhões, entre 2009 e 2019, em projetos do setor de combustíveis fósseis. Os manifestantes pedem que o banco público direcione os recursos dos contribuintes para iniciativas que melhorem a qualidade de vida das comunidades mais vulneráveis e contribuam para que o Brasil adapte-se às mudanças no clima, em áreas como energias renováveis, transporte público eficiente nas grandes cidades e habitação popular para moradores de zonas de risco.
“O país enfrenta uma grave crise econômica, provocada pela pandemia, e uma severa crise ambiental, agravada pelas mudanças climáticas, como mostram os incêndios recentes no Pantanal. É urgente que o BNDES e outros bancos de desenvolvimento parem de queimar o dinheiro do cidadão em setores que só pioram a emergência climática e concentram lucros nas mãos de poucas grandes empresas”, afirma Ilan Zugman, diretor da 350.org na América Latina.
Ativistas ambientais também realizaram protestos pelo fim do financiamento às energias sujas em Paris, Manila (Filipinas) e Abuja (Nigéria), como parte de uma semana de mobilizações para exigir que os bancos de desenvolvimento contribuam com a recuperação justa da economia global frente à pandemia de Covid-19.
As ações ocorreram simultaneamente à cúpula Finance in Common, primeiro encontro internacional de representantes de cerca de 450 bancos de desenvolvimento, com a finalidade de discutir medidas coordenadas de estímulo à economia e enfrentamento às mudanças climáticas.
O Centro de Excelência e Inovação em Política da Fundação Getulio Vargas (FGV CEIPE), em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime-RJ), realiza no dia 30 de julho, das 9h às 16h, o seminário “Financiamento e Investimento na Educação: como garantir os direitos constitucionais da criança e do adolescente”. O evento tem o objetivo de fomentar ações para uma gestão pública eficaz, eficiente e efetiva no investimento do recurso público por uma educação equitativa e de alta aprendizagem no Estado do Rio de Janeiro.
O seminário será estruturado em quatro painéis com foco nas temáticas: “políticas educacionais”, “financiamento na educação”, “o papel do Legislativo na melhoria da qualidade do investimento público em educação” e “articulação entre os poderes para uma gestão eficaz na educação”. O evento, que acontece de 9h às 16h, contará com a participação de painelistas da Fundação Getulio Vargas, Instituto Ayrton Senna, Instituto Unibanco, Ministério Público e Tribunal de Contas.
Serviço:
Seminário “Financiamento e Investimento na Educação: como garantir os direitos constitucionais da criança e do adolescente” Data: 30/07/2019 Horário: 9 às 12h30 Local: Centro Cultural da FGV – Praia de Botafogo, 186 (Acesso pelo Edifício Sede da FGV, nº 190 – Botafogo, Rio de Janeiro – RJ) Inscrições: bit.ly/fie2019inscricoes
Programação:
Abertura/Boas-vindas Claudia Costin, diretora do CEIPE
PAINEL I – Políticas educacionais voltadas para resultados
– Claudia Costin, diretora do CEIPE –Mozart Neves Ramos, diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna – Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco. Perguntas Mediação: Leila Sterenberg – jornalista
PAINEL II – Financiamento da Educação
– Mariza Abreu, consultora de Educação
– Tassia de Souza Cruz – professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da FGV Perguntas Mediação: João Marcelo Borges – diretor de Estratégia Política no Todos Pela Educação
Intervalo para Almoço
PAINEL III – O papel do Legislativo na melhoria da qualidade do investimento público em Educação – Mateus Aldin Martins – coordenador da 3ª CAC do TCE-RJ – Renan Ferreirinha – deputado estadual-RJ Perguntas Mediação: João Marcelo Borges – diretor de Estratégia Política no Todos Pela Educação
Painel IV – Articulação entre os poderes para uma gestão eficaz na educação – Promotora de Justiça, Dra. Débora da Silva Vicente, coordenadora do CAO Educação/MPRJ – Stella Magaly Salomão Correa, vice-presidente da Undime-RJ e dirigente Municipal de Educação de Angra dos Reis Perguntas Mediação: Leila Sterenberg – jornalista
Encerramento Lenine Lemos, presidente da Undime-RJ e dirigente Municipal de Educação de Queimados
Estando para um período sabático na Universidade de Lisboa, não pude perder a oportunidade de assistir à aula inaugural para o ano acadêmico de 2018/2019. Apesar do grande momento do dia ter sido reservado para a última aula dada na universidade pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que está se aposentando compulsoriamente por estar completando 70 anos, o principal político do dia coube ao reitor da Universidade de Lisboa, o professor António Cruz Serra.
Para trocar em miúdos o pronunciamento que o reitor deu para uma plateia que reuniu altas autoridades do governo federal português e membros do corpo diplomático que atua na capital portuguesa expressou uma dura crítica à forma com que o ensino superior está sendo tratado em Portugal.
O reitor começou criticando a política de interiorização adotada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), manifestamente pouco avisada”, que implicou na diminuição de vagas nas universidades públicas de Lisboa e do Porto, sem que tenha alcançado um crescimento mínimo nas universidades do interior e das ilhas, o que teria resultado numa aritmética desequilibrada, com 1.066 vagas retiradas às universidades e politécnicos das duas maiores cidades portuguesas, e um ganho de apenas 98 novos alunos distribuídos pelas 31 instituições das áreas (Algarve, ilhas, interior, Coimbra, Aveiro e Minho) que deveriam ser beneficiadas pela política do MCTES. O resultado, segundo António Cruz Serra, será o aumento da procura de jovens talentosos por vagas em universidades privadas.
Outra área sensível que foi abordada pelo reitor foi o que ele considera um ataque planejado contra a autonomia universitária das universidades públicas, e que se traduz na asfixia financeira e a intervenção no processo de recrutamento de pessoal, o qual impede que o recrutamento de profissionais seja feito com base no mérito. Nesse sentido, o reitor criticou “muitas medidas legislativas recentemente tomadas em total desconsideração pela autonomia universitária”, começando por aquela de que resulta “a contratação sem concurso do seu pessoal docente e investigador”. Tudo isso resultaria numa inaceitável precarização das condições de funcionamento da Universidade de Lisboa, e a criação de barreiras para que a instituição possa cumprir suas obrigações estratégicas para com o desenvolvimento nacional português.
O reitor António Cruz Serra também apontou para a necessidade de se repensar o sistema de avaliação das universidades públicas, considerado por ele como sendo muito rígido. O problema seria que o atual sistema de avaliação possui elementos que não tem a ver necessariamente com a mensuração da qualidade do ensino, e que podem contribuir para o enfraquecimento da capacidade das universidades formarem profissionais com as devidas competências que suas carreiras demandam. Sobre esse aspecto, veja o que diz o reitor da Universidade de Lisboa no vídeo abaixo.
Em uma crítica ao processo de “Hollywoodização” de Lisboa enquanto centro turístico internacional, o reitor analisou os impactos que estão ocorrendo na vida dos estudantes em função do forte encarecimento de aluguéis. Para contrapor a isso, a Universidade de Lisboa estaria tomando providências para um aumento na oferta de alojamentos estudantis, com a construção de novas unidades e a renovação de outras já existentes. No quesito de ampliação de instrumentos acadêmicos já existentes, o reitor foi particularmente aplaudido quando anunciou a ampliação de bibliotecas, segundo ele com recursos próprios da instituição.
Trocando em miúdos tudo o que foi dito, o que transparece é que a precarização das universidades públicas não é um mérito único do Brasil, e que este processo possui um alcance internacional, especialmente naqueles países que estão mais na periferia do Capitalismo. Entretanto, diferente do Brasil e da maioria dos reitores brasileiros, o que assisti ontem foi ao pronunciamento de um reitor que se posiciona como o líder que a conjuntura demanda, e não como um passivo agente do estado que, quando muito, se resigna a tocar as coisas do jeito que é possível.
Voltando à aula magna do presidente de Portugal, ela transcorreu de forma a dar-lhe o final de carreira merecido a quem passou a vida labutando dentro de uma universidade pública. Isto, entretanto, não o poupou de ser cobrado pela imposição de taxas escolares (aqui chamadas de “propinas”) que os estudantes consideram caras e inadequadas para uma universidade pública (ver imagem abaixo).
Como professor de uma universidade pública brasileira que agoniza pelas mãos de um (des) governo que afundou o Rio de Janeiro numa crise agônica, não posso deixar de notar similaridades entre os problemas que acontecem na Universidade de Lisboa e na Uenf. Entretanto, a diferença crucial parece ser que os dirigentes aqui, ou pelo menos o reitor, se coloca como um agente da universidade nas tratativas com o Estado, e não o contrário. E mais ainda, sem medo de emitir suas opiniões publicamente e na frente de quem formula as políticas criticadas. Isso convenhamos, já é uma grande diferença em relação ao que temos no Brasil e, em especial, nas universidades estaduais do Rio de Janeiro. Aliás, uma monumental diferença.
O texto a seguir integra uma série de quatro artigos produzidos pelo Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi) da USP sobre a produção científica da USP. Para ler o texto completo, com as citações, acesse este link.
Levantamento realizado na Plataforma InCites revela 1.032 entidades de financiamento ativas no mundo – Foto: Pixabay – CC
Estudo realizado a partir de dados obtidos na Plataforma InCites (Thomson Reuters/Clarivate Analytics) revela quais são as entidades de financiamento que mais investem na pesquisa brasileira e na USP. O levantamento foi feito entre os dias 3 e 19 de julho, a partir de conteúdos da Web of Science indexados até 29 de abril e dados atualizados no InCites em 16 de junho.
Utilizando o módulo Funding Agencies, do InCites, foi possível levantar por localização geográfica e por nome da organização os dados de financiamento coletados da seção de agradecimentos ou rodapé dos artigos publicados e indexados na base Web of Science (veja aqui um exemplo).
Ainda que as atribuições de concessão com base em texto apresentem falsos positivos e falsos negativos – a taxa de atribuições imprecisas é de pelo menos 25% – e que as atribuições imprecisas possam ter, elas próprias, vieses de redação e interpretação, insights significativos podem ser obtidos a partir da análise desses dados. Os resultados aqui apresentados não têm a pretensão de serem exaustivos. Buscam apenas evidenciar o potencial de uso da Plataforma InCites.
A maior produtividade está associada às áreas de Ciências Naturais, Engenharias e Tecnologias, e Ciências Médicas. Há indícios também da presença de múltiplos fundos correlacionando-os positivamente com o desempenho geral de citações. Publicações de projetos financiados por órgãos internacionais alcançaram desempenho superior em termos de coautorias internacionais e percentual de documentos citados.
Em geral, solicitar financiamento a órgãos externos ao País aumenta as chances de ser citado e de publicar em revistas científicas de prestígio e alto impacto. Isso significa também que é necessário associar-se a equipes científicas destacadas e grandes grupos de pesquisa, além de manter-se conectado a pesquisadores produtivos, para produzir mais e melhor.
A proporção de publicações em acesso aberto ainda é pequena em relação ao total de publicações associadas a projetos financiados com recursos públicos, mas vem aumentando nos últimos anos.
Quem financia a pesquisa no mundo?
Um dos trabalhos mais abrangentes em termos de identificação digital de financiadores de pesquisa tem sido realizado pela Crossref, agência internacional conhecida pela atribuição do Digital Object Identifier (DOI) a documentos. O banco de dados de registro de financiadores mantido pela Crossref – FundRef– congrega, atualmente, 18.067 entidades ativas de financiamento da pesquisa conectadas a 2.188.220 trabalhos publicados.
É possível buscar informações sobre financiadores e publicações na plataforma por meio do link. O objetivo é fornecer informações claras, transparentes e mensuráveis sobre quem financiou a pesquisa e onde ela foi publicada, ligando os financiamentos aos documentos e conteúdos produzidos.
Muito dinheiro tem sido aplicado na chamada Big Science (grande ciência), fenômeno da ciência da segunda metade do século 20 relacionado a projetos de grande porte, geralmente, financiados por governos ou grupos governamentais, algumas vezes, em detrimento da Small Science.
O projeto de 100.000 Genomasvai ter custado 300 milhões de libras quando os pesquisadores, que sequenciam o projeto genético de muitos seres humanos, tiverem concluído seus estudos. Estima-se que oBóson de Higgs(física de partículas), ligado ao Cern (em inglês, European Organization for Nuclear Research), já tenha custado oito bilhões de libras.
OInternational Fusion Experiment (Iter) é outro projeto mundial orçado em 12,8 bilhões de dólares. A iniciativa European Spallation Source (ESS)está avaliada em 1.843 milhões de euros. À medida que a Big Science se torna ainda maior, sua escala reflete-se nas imensas listas de autores em artigos científicos e aportes financeiros gigantescos.
Em termos mundiais, o levantamento realizado na Plataforma InCites revela 1.032 entidades de financiamento ativas no mundo (2011-2018), mencionadas nos textos dos documentos indexados na base Web of Science.
A maior agência de financiamento de pesquisa é a National Natural Science Foundation of China(NSFC), entidade destacada pela produtividade. No momento analisado é a entidade com maior número de trabalhos publicados e indexados na base Web of Science: foram 1.201.687 documentos produzidos a partir de projetos financiados entre 2011 e 2018.
Em seguida, vem oNational Institutes of Health (NIH) com 588.762 documentos e a National Science Foundation(NSF), com 387.801 documentos produzidos no período. A figura abaixo apresenta os dez maiores financiadores de pesquisa no mundo por número de documentos publicados (2011-2018).
Top 10 financiadores da pesquisa mundial por número de documentos (2011-2018)
A seguir, os principais financiadores por número de citações e documentos (2011-2018). Os resultados indicam uma correlação positiva entre financiamento e impacto. Todavia, é preciso ter cautela com análises superficiais, porque podem levar a equívocos.
Principais financiadores mundiais por número de citações e documentos (2011-2018)
Quem financia a pesquisa brasileira?
O financiamento da pesquisa no Brasil se dá por meio de diferentes sistemas e instituições de fomento, que estão ligadas direta ou indiretamente aos ministérios brasileiros e são: CNPq, Finep, Capes, FNDCT, BNDES, além das agências estaduais que constituem as FAPs – Fundações Estaduais de Amparo a Pesquisa agrupadas no Confap. Há também leis de incentivo fiscal e fomento à inovação, financiamentos empresariais e institucionais. Saiba mais consultando a página de Agências e Oportunidades de Financiamentono website Apoio ao Pesquisador.
Em meio à crise econômica, muitos entendem que o pesquisador brasileiro deve preparar-se melhor para pleitear insumos financeiros internacionais e deve ser mais competitivo, para atenuar o impacto dos cortes do orçamento governamental. Nesse sentido, conhecer a situação atual de financiamento no Brasil do ponto de vista dos financiadores é importante. O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) apresenta dados de recursos investidos na pesquisa no Brasil e algumas informações chegam aos pesquisadores e instituições por meio de divulgação à imprensa ou websites.
As principais agências de financiamento da pesquisa – CNPq e Capes – enfrentam problemas com a redução de orçamento. A escassez de recursos afetou o CNPq, órgão vinculado ao MCTIC, em todas as metas na concessão de bolsas e apoios, como demonstra o gráficoa seguir:
Painel de investimentos do CNPq (2001-2018)
A Capes também foi afetada pelos recentes cortes. Vinculada ao Ministério da Educação e Cultura (MEC), de 2015 a 2017 teve uma perda anual de R$ 1 bilhão. A última atualização do painel de investimentos da Capes sobre concessão de bolsas mostra uma diminuição desde 2014, quando existiam 105.791 beneficiários nas pós-graduações pelo País.
Em 2016, o número baixou para 100.433, um corte de 5,3 mil. Em julho de 2018, o MECanunciou a liberação de R$ 160 milhões para a Capes. Os recursos destinam-se ao pagamento de bolsas, auxílios e fomento às ações de graduação, pós-graduação, ensino, pesquisa e extensão.
O levantamento realizado na Plataforma InCites revela como está o financiamento da pesquisa nos Estados brasileiros, contabilizada a partir do número de documentos publicados. O Estado brasileiro com maior produtividade e financiamento é São Paulo, seguido do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná.
Veja a seguir a distribuição percentual de documentos financiados por Estado. Note-se que é possível haver sobreposições de dados em decorrência das coautorias entre pesquisadores de diferentes Estados:
Distribuição percentual de documentos publicados por estado de projetos financiados (2011-2018)
Os três órgãos que mais financiaram pesquisa no Brasil de 2011 a 2018, de acordo com o número de documentos publicados, foram o CNPq (122.967), Capes (70.048) e Fapesp (56.667).
A figura a seguir apresenta o ranking de financiadores da pesquisa brasileira por número de documentos (2011-2018):
Ranking de financiadores da pesquisa brasileira por nº de documentos (2011-2018)
Percentual de documentos citados também variou de acordo com o órgão financiador, como demonstra o gráfico a seguir. Embora os números sejam positivos, observa-se que artigos de projetos subsidiados por entidades estrangeiras apresentaram maior percentual de citação.
Percentual de documentos citados de acordo com o financiador (2011-2018)
O financiamento também varia de área para área de pesquisa. Utilizando os campos de conhecimento das revistas científicas como um intermediário das áreas de pesquisa, é possível observar que certas áreas se destacam mais que outras.
Considerando as vinte principais entidades financiadoras da pesquisa no Brasil, no período de 2011 a 2018, as áreas de mais destaque são Biologia Molecular e Bioquímica (8.873 documentos), Ciências das Plantas/Biologia Vegetal (6.444 documentos), Ciência dos Materiais (6.259), Farmácia e Farmacologia (6.201 documentos).
A figura abaixo exibe o mapa com as vinte principais áreas de pesquisa (classificação Web of Science) financiadas e respectivo número de documentos produzidos no período.
Top 20 principais áreas de pesquisa financiadas no Brasil por nº de documentos (2011-2018)
Os gráficos a seguir apresentam o número de documentos de projetos financiados pelo CNPq e Capes no período de 2011 a 2018 por área de pesquisa (classificação FOS).
O dataset referente a esses dados pode ser consultado no RepositórioZenodo.
Número de documentos de projetos financiados pela Capes e CNPq (2011-2018) por área
Financiamento da pesquisa na USP
A USP é uma instituição pública de ensino superior e de pesquisa que, desde sua fundação, mantém um papel de liderança na produção científica e acadêmica brasileira. Seus 270 programas de pós-graduação atraem estudantes de diferentes partes do Brasil, da América Latina e de mais de 50 países ao redor do mundo.
Além dos órgãos de financiamento citados, na USP, dois órgãos institucionais estão relacionados ao financiamento: aAucani, a (Agência de Cooperação Nacional e Internacional), que divulga oportunidades de intercâmbio e bolsas, e aPró-Reitoria de Pesquisa (PRP), que apoia pesquisas, noticia editais e chamadas. As unidades e institutos também mantêm serviços que apoiam e divulgam oportunidades de financiamento.
A partir do levantamento realizado na plataforma InCites, foi possível ranquear os 20 principais financiadores de pesquisa da USP (2011-2018) a partir do número de documentos publicados no período de 2011 a 2018, conforme apresentado abaixo.
Observa-se uma correlação positiva entre financiamento estrangeiro e percentual de colaboração internacional, com respectiva elevação do impacto de citação normalizado pela categoria (Category Normalized Citation Impact) e percentual de documentos citados. No total, 518 entidades de financiamento concederam subsídios a pesquisadores da USP no período.
Top 20 financiadores da pesquisa USP por nº de documentos (2011-2018)
As três principais entidades financiadoras da pesquisa da USP nos períodos de 1980 a 1999, 2000 a 2010, e 2011 a 2018 foram Fapesp, CNPq e Capes, como demonstra o gráfico a seguir.
Observa-se que, ao longo das décadas, houve um significativo aumento do financiamento de pesquisas (ou das menções de financiamento) nos documentos indexados.
Top 3 financiadores da produção USP pelo número de documentos (1980-2018)
Relacionando os top 10 maiores financiadores de acordo com percentual de coautorias internacionais, observa-se que a pesquisa financiada por entidades externas ao País apresenta um nível mais elevado de percentual de colaborações internacionais, conforme apresentado na a seguir:
Top 10 financiadores da pesquisa USP e percentual de colaborações internacionais
Por meio do levantamento, foi possível determinar também o percentual de artigos publicados por autores USP e respectivos quartis das revistas: Q1, Q2, Q3 e Q4, com números positivos e consistentes.
A tabela a seguir mostra também como os artigos de projetos patrocinados apresentam significativos percentuais de alta citação (% Highly Cited Papers) e percentual de artigos “quentes” (% Hot Papers), índices que aumentam sempre quando há financiamento de entidades externas ao Brasil. Clique na figura para melhor visualização:
Top 20 principais financiadores pelo nº de documentos publicados de projetos financiados e respectivos indicadores de posicionamento nos quartis das revistas (2011-2018)
Com relação ao acesso aberto, o levantamento revelou que a proporção de documentos gerados a partir de projetos realizados com financiamento público, embora tenha evoluído ao longo das décadas, ainda é baixa. A figura abaixo apresenta esses dados a partir dos três maiores financiadores da pesquisa da USP: Capes, CNPq e Fapesp, de 1980 a 2018. Em azul estão representados os documentos publicados em acesso aberto. Clique na Figura para melhor visualização.
Considerações finais
Poucos estudos se concentram nos órgãos de financiamento como unidades de avaliação, mas isso pode mudar, à medida que os sistemas de informação se tornem mais integrados e as informações estejam mais acessíveis. Iniciativas como o FunRefda Crossref sinalizam avanços nesse sentido.
Não se ignoram as limitações associadas ao uso de dados de financiamento recuperados dos textos de agradecimentos ou de rodapés de artigos: podem produzir falsos positivos e falsos negativos, a taxa de atribuições imprecisas é pelo menos 25%, as atribuições imprecisas podem ter, elas próprias, vieses no nível de campo.
Maior transparência nas definições estratégicas de apoio à pesquisa e relatórios de recursos financeiros investidos, assim como estudos sobre o impacto social da pesquisa financiada podem reduzir gastos e aumentar a equidade e o acesso a financiamentos.
Elizabeth Dudziak / Sistema Integrado de Bibliotecas da USP
ADUENF convida para roda de conversa sobre financiamento das universidades públicas
A ADUENF realizará nesta 3a. feira (07/10) mais uma “roda de conversa” com o tema ” O financiamento das universidades públicas e a falácia do modelo americano”.
A atividade terá início com uma apresentação inicial sobre o tema do professor Marcos Pedlowski do Centro de Ciências de Homem, o que deverá ocorrer a partir das 10 horas.
A atividade é aberta a todos os interessados e faz parte do conjunto de atividades que estão sendo realizadas durante a greve dos professores da Universidade Estadual do Norte Fluminense que ainda não tiveram os seus salários de Agosto quitados pelo governo Pezão.
Em um artigo publicada na respeitada revista científica Nature, o assessor de comunicação da organização não-governamental Observatório do Clima, Cláudio Angelo, traça um cenário angustiante para o futuro da ciência brasileira sob o espectro da vigência da chamada PEC 241 (Aqui!).
Como bem mostra Cláudio Angelo, a PEC 241 irá agravar um encolhimento orçamentário que já vinha ocorrendo ao longo dos últimos 4 anos, ainda sob o governo de Dilma Rousseff, mas que foi agravado pelo desmantelamento imposto no Ministério de Ciência e Tecnologia e sua incorporação por baixo no frankenstein intitulado de “Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações” sob o comando de preparadíssimo Gilberto Kassab (ver figura abaixo).
Mas o mais grave é que se o orçamento destinado à pesquisa científica for congelado nos níveis baixos em que se encontra, o provável é que o Brasil passe por um processo de descontinuidade de projetos vitais em muitas áreas sensíveis, implicando no desmantelamento de grupos de pesquisas e, consequentemente, um recuo grave na consolidação de áreas emergentes da ciência brasileira.
Um aspecto importante que me parece ser necessário apontar é que a imensa maioria dos pesquisadores brasileiros continua tocando as suas pesquisas em condições cada vez mais precárias como se isso fosse prova de algum tipo de demonstração de imunidade à crise. Pior ainda são alguns setores que apostam na disposição das corporações privadas de entrar com recursos para suplementar a lacuna cada vez maior do que não está sendo fornecido pelo estado. Somados esses dois comportamentos talvez se entenda porque os protestos contra o desmantelamento da ciência nacional que a PEC 241 irá inevitavelmente causar são ainda tão localizados. Mas, sinceramente, de alguns setores não se pode esperar nada mais do que adesismo puro simples.
Para mim esse comportamento do governo “de facto” de Michel Temer é completamente coerente com a proposta de inserção completamente dependente do Brasil à ordem econômica mundial que é comandada pelos grandes bancos internacionais. Para quem deseja que o Brasil viva cada vez mais dependente do rentismo, não faz mesmo sentido apoiar o desenvolvimento da ciência nacional. O negócio de Michel Temer et caterva é adquirir pacotes tecnológicos prontos, e o conhecimento autóctone que se dane.
Resta saber o que farão os cientistas brasileiros frente à essa ameaça de desconstrução que vem no bojo da aprovação da PEC 241. Mas é importante notar que a hora de reagir é agora. Depois talvez apenas reste o caminho do aeroporto para quem desejar continuar fazendo ciência de alto nível.
Apesar da crise econômica, repasses de dinheiro público à Folha crescem 78% sob o governo Temer; Abril tem mais 624%
Exclusivo! Temer inicia trem da alegria para a mídia do golpe. Repasses federais à Folha crescem 78%
Miguel do Rosário, em O Cafezinho
Agora entendi um pouco melhor dois movimentos da Folha nos últimos sete dias. Primeiro, o jornal publicou reportagem sobre si mesmo, se autoelogiando, dizendo que faz “cobertura crítica” do governo Temer.
Segundo, publica matéria requentando notícia de maio deste ano, sobre decisão do governo de suspender publicidade federal aos blogs, uma não-notícia bizarra, pois não informa afinal que veículos receberam recursos durante esses primeiros meses de governo Temer.
Então fui olhar com mais calma os números da Secom, fazendo o seguinte comparativo: peguei as execuções contratuais (pagamentos efetivamente realizados) neste quatro meses de “governo Temer”, de maio a agosto deste ano, e os comparei com os quatro meses de 2015.
Os pagamentos federais à Folha/UOL, nos quatro meses de maio a agosto de 2016, foram 78% maiores que no mesmo período de 2015.
Apesar da grave crise fiscal, da recessão, da campanha da mídia para o governo cortar gastos, o volume de recursos publicitários pagos nos últimos meses já é quase 50% maior que o registrado em 2015.
A grande mídia começou a receber a propina oficial do governo pelo apoio ao golpe, e a campanha contra os blogs é um preparativo para neutralizar aqueles que podem denunciar a mamata.
É bom lembrar que o governo Temer só conseguiu sua verdadeira “alforria” há pouco mais de um mês, quando o Senado aprovou o afastamento definitivo da presidenta Dilma, e as execuções contratuais espelham frequentemente contratos celebrados em período anterior.
O trem da alegria está apenas começando a pegar velocidade.
Mas já dá para ter uma ideia dos pixulecos a serem pagos à mídia tradicional, em pagamento a uma cobertura bem ao contrário de “crítica” ao governo Temer. Na verdade, a mídia, assim como durante o regime militar, dá sustentação ao golpe que ela mesmo articulou.
A Globo não viu crise este ano em termos de publicidade federal. De maio a agosto, as empresas da Globo receberam R$ 15,8 milhões de repasses federais (sem contar as estatais!), 24% a mais que no ano anterior.
Enquanto os Marinho defendem o fim da aposentadoria rural, o fim da gratuidade da universidade pública, o arrocho do salário mínimo, eles arrancam mais e mais dinheiro do povo brasileiro. E olha que isso é só o começo!
A Abril também começou a recuperar o terreno perdido. Nos quatro meses de maio a agosto de 2015, o grupo que edita a Veja recebeu apenas R$ 52 mil, valor que saltou para R$ 380,77 mil no mesmo período de 2016, um crescimento de 624%!
A concentração dos recursos federais em mãos da Globo já era uma realidade gritante antes do golpe, como se pode ver nos dados de 2015, quando a Globo ficou com 31% de toda a publicidade federal sem as estatais.
É bom lembrar que estamos falando apenas da publicidade do governo federal e seus ministérios. Se o Judiciário aceitar a liberação dos dados das estatais, veremos que o trem da alegria para a mídia que apoiou o golpe é bem maior.
Reunido na última sexta-feira (18/03), o Conselho Universitário da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) aprovou um documento (ver abaixo) onde mostra preocupação com a crise política no Brasil e a situação do financiamento das universidades públicas brasileiras.