Queda de árvores em áreas urbanas, um problema ambiental prioritário

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No dia 17 de dezembro de 2023, uma tempestade em Buenos Aires (Argentina) causou 13 mortes e milhares de danos, incluindo a queda de 715 árvores e galhos de grande porte. Crédito da imagem: David Bustozoni/Flickr , licenciado sob Creative Commons CC BY-NC-ND 2.0 Deed 

Isso é sugerido por um estudo publicado na revista Urban Forestry and Urban Greening , que oferece algumas recomendações baseadas na análise da cobertura arbórea em São Paulo (Brasil), onde são registradas até duas mil quedas por ano.

Com base nas quedas registradas naquela cidade entre 2016 e 2018, os pesquisadores identificaram as causas e definiram linhas de ação para reduzir os danos.

Durante as tempestades, a água enfraquece os solos e as rajadas de vento produzem falhas mecânicas que podem derrubar árvores, disse Giuliano Locosselli, especialista do Instituto de Pesquisa Ambiental do estado de São Paulo e um dos autores do estudo, ao SciDev.Net .

Em particular, as árvores que crescem nas ruas dentro dos corredores de edifícios altos são mais propensas a cair, devido à canalização dos ventos. Os espécimes mais velhos são especialmente vulneráveis, pois sofrem microfraturas ao longo da vida e ficam expostos a fungos e microorganismos que os degradam.

“Devemos entender as árvores como parte da infraestrutura urbana que traz muitos benefícios às pessoas e à biodiversidade.” Mas também “requerem manutenção para continuarem a proporcionar benefícios sem se tornarem um risco”.

Giuliano Locosselli, Instituto de Pesquisas Ambientais do Estado de São Paulo, Brasil

Com base nessas observações, os pesquisadores utilizaram algoritmos de inteligência artificial para elucidar a importância de cada um dos fatores que influenciam a queda.

Assim, concluíram que os problemas nos galhos representam 46% das causas das quedas – porque se dobram mais facilmente pelo vento -, 33 %respondem a falhas nas raízes – resultado do seu confinamento para evitar que invadam casas ou ruas —e 21% a problemas no tronco, devido à degradação da madeira e a más práticas de poda.

Lições da tempestade

No dia 17 de dezembro de 2023, uma tempestade em Buenos Aires (Argentina) causou 13 mortes e milhares de danos, incluindo a queda de 715 árvores e galhos de grande porte.

Em posterior passeio pela cidade, o agrônomo Carlos Anaya – presidente da Associação Civil de Arboricultura de seu país – ficou surpreso com a quantidade desproporcional de árvores verdes perdidas , algo que atribuiu ao uso “frequente, excessivo e indiscriminado”  de podas que as enfraquece ainda mais.

“A poda deve ser mínima”, insiste ele ao SciDev.Net . “Não se deve sair e podar de acordo com um calendário ou grade, mas sim nas árvores jovens que precisam e com um objetivo claro.” É importante fazer isso nos horários indicados (variam para cada espécie) e com pequenos cortes, evitando avançar quando a árvore estiver estressada por pragas, secas ou enchentes, acrescenta.

“Devemos entender as árvores como parte da infraestrutura urbana que traz muitos benefícios às pessoas e à biodiversidade ”, observa Locosselli. Mas também “requerem manutenção para continuarem a proporcionar benefícios sem se tornarem um risco”.

As iniciativas de planejamento e gestão exigem considerar as variações que podem ocorrer em cada cidade em relação ao clima, topografia e tipo de espécie, destaca Anaya.

O estudo da Urban Forestry também propõe que os governos locais verifiquem rotineiramente a resiliência das árvores, que os órgãos públicos e as empresas privadas revejam as suas práticas de poda e que os cidadãos deixem espaço para o crescimento das raízes na frente das suas casas.

Algumas dessas recomendações estão incluídas no novo Plano Diretor de São Paulo , que inclui treinamento para servidores públicos e prestadores de serviços, conforme detalhado no estudo.

Na mesma linha, o ecologista urbano Cynnamon Dobbs, especialista da Universidade de Connecticut que estudou ecossistemas urbanos na América Latina, lembra que Bogotá (Colômbia), Santiago do Chile e Mendoza (Argentina) mostraram “muito progresso em suas inventários de árvores, que são a base de informações para gerar bons planos de manejo.”

Lembre-se também que Cities4Forests—a aliança global dedicada à conservação das florestas nas cidades—destaca as experiências bem-sucedidas do programa dedicado à Mata Atlântica no Rio de Janeiro (2015), a criação de um cinturão verde ao redor da cidade peruana de Iquitos (2011- 2021) e a iniciativa de construir uma relação harmoniosa entre os cidadãos e o meio ambiente na comuna chilena de Coronel (2009-2050).

No entanto, a nível global e regional, faltam detalhes sobre as ações que levam a uma implementação bem-sucedida com os seus orçamentos correspondentes, afirma Dobbs.

Para tal, recomenda que os programas de plantação sejam geridos à escala do bairro (para melhorar a monitorização) e monitorizem a saúde das árvores no terreno ou remotamente, incluindo a identificação de conflitos com infraestruturas prediais, como cabos aéreos ou o pavimento elevado.

A gestão virtuosa deve também abordar a potencial vulnerabilidade à pragas e doenças de diferentes espécies, para identificar eventuais substitutos. Isto não só melhorará a saúde das árvores, mas também aspectos relevantes como a qualidade do ar e a segurança das pessoas.


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Este artigo escrito originalmente em espanho foi publicado pela edição América Latina e Caribe do  SciDev.Net [Aqui!].

Ampla comanda, leve e faceira, o massacre da floresta urbana em Campos dos Goytacazes

Não bastasse o verão escaldante e sem chuvas para tornar a vida do campista num verdadeiro caldeirão, a concessionária Ampla continua massacrando a já depauperada floresta urbana que existe na cidade de Campos dos Goytacazes. Basta ter uma câmera na mão que fica fácil documentar a realização de podas drásticas como a mostrada na fotografia tirada esta manhã na Avenida 28 de Março!

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Apesar de acompanhar o problema das podas drásticas em logradouros públicos na cidade de Campos desde meados de 1998, ainda fico impressionado com o fato desta prática lesiva aos nossos interesses coletivas continuar de forma descontrolada e, porque não, impune.

Cadê a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e o Ministério Público Estadual para exigir que a Ampla adote práticas ambientalmente responsáveis na hora de fazer podas que só são necessárias porque a empresa continua distribuindo energia elétrica de forma ultrapassada e sem respeitar o meio ambiente local?

Floresta urbana dilapidada para melhorar “visibilidade” de órgão municipal. Pode isso, MP?

No dia ontem (10/12) tive que enfrentar um congestionamento causado por um caminhão estacionado em local impróprio na Rua Barão de Miracema, como mostra a  imagem abaixo. O problema é que ao passar pelo local, notei que ali estava (foi o que eu pensei no momento) uma daquelas podas drásticas de árvores em logradouros públicos que eu já notei aqui no blog em diversas ocasiões.

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Mas hoje ao passar a pé pelo mesmo local. notei (como mostram a imagem abaixo) que em vez de pode drástica, o que tinha sido feito foi a erradicação completa de duas árvores que proviam sombra para o “Centro de Referência da Criança e do Adolescente) cujas instalações ficam justamente em frente do local de onde as árvores foram erradicadas.

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Mas o interessante dessa pequena história de horrores contra o patrimônio ambiental de Campos dos Goytacazes foi que, ao me ver fotografando o que sobrou das árvores, uma senhora que saia de dentro daquela unidade municipal me disse revoltada que achava a remoção das árvores um grande absurdo, já que o motivo alegado dentro do prédio é que as árvores teriam sido retiradas para  aumentar a visibilidade da placa que informa que ali é o “Centro de Referência da Criança e do Adolescente”!

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Afora a questão básica de que visibilidade de órgão público se obtém por bons serviços prestados à população, fico imaginando, caso essa explicação para o sacrifício de duas árvores esteja correto, quem é que foi teve essa ideia “brilhante”. É que vivemos numa cidade cuja sombra de cada árvore deveria ser celebrada como uma dádiva da natureza. Mas o que tenho presenciado nas ruas de Campos é um avanço da depredação do patrimônio ambiental, seja pelas mãos das concessionárias de serviços públicos ou, como nesse caso em tela, por órgãos públicos municipais.

E nunca custa nada lembrar que existe um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pela PMCG para cuidar da floresta urbana com os devidos cuidados e rigores que a legislação ambiental determina. E então, o que eu espero é que o MP de Campos dos Goytacazes aja de forma tão pronta e contundente contra os que massacram a floresta que nos protege do ar, da chuva e do vento, da mesma forma que agiu contra os que negaram a continuar prestando serviços contratados pela PMCG, em que pese os atrasos de pagamento por parte do poder público municipal.

Afinal, quem firmou TAC tem que ser o primeiro a cumprir, não é?