El Niño pode potencializar fogo na Amazônia, alertam cientistas

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Os estados do Pará e do Mato Grosso já concentram mais focos de calor este ano do que em 2022, o que torna o cenário preocupante. O fenômeno provoca alterações na temperatura da superfície do Oceano Pacífico e compromete o regime de chuvas na região (Foto: Bruno Kelly/Amazonia Real/2020).

Por Wérica Lima para a Amazônia Real

Manaus (AM) – O cenário de queimadas e devastação na Amazônia pode ser mais crítico este ano devido à potência do fenômeno climático El Niño, que provoca alterações na temperatura do Oceano Pacífico e compromete o regime de chuvas na região, dizem cientistas consultados pela Amazônia Real. O momento é preocupante porque os focos de calor de 2023, que somam 12.124 registros até o momento, já superam os de 2022, com uma diferença de 772. Uma das ações de prevenção para grandes desastres naturais é o relançamento do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) pelo governo Lula.

Em julho, começa a estiagem em grande parte da região Norte (com exceção de Roraima), estação conhecida como “verão amazônico”. Até outubro, o volume de chuvas cai drasticamente, resultando em tempo seco, que pode ser agravado com o aquecimento do Pacífico.

O Mato Grosso, um dos Estados mais devastados pelas queimadas desde 2019, continua liderando o primeiro lugar no ranking do Satélite de Referência do BDQueimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desde o início do ano até o mês de julho. A região concentra quase metade de todos os focos de calor do ano na Amazônia Legal, com 43,8% de todas as queimadas e um aumento de 20% com relação ao ano passado. 

Em segundo lugar no ranking está o Pará, com 25,3% dos focos e, em terceiro, Roraima, um Estado que ganhou destaque nos últimos anos pela grilagem e garimpo e compõe 10,5% de toda a destruição, tomando a posição de anos anteriores do Amazonas, com uma diferença de 0,5%. 

focos de calor

“Os Estados da Amazônia onde o número de focos de calor aumentou foram o Pará e o Mato Grosso. No Mato Grosso pode ser que haja uma relação mais próxima entre o desmatamento recente e as queimadas, visto que o estado foi o único onde o desmatamento aumentou comparado com o período anterior. Já no Pará houve uma redução do desmatamento e a área que tem apresentado focos de calor é uma área que aparentemente está queimando mais cedo do que o  normal, o que pode indicar um efeito ainda precoce do El Niño”, afirma Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e coordenadora da rede colaborativa Mapbiomas Fogo. 

O mês de junho registrou 3.075 focos, o que não se via havia 16 anos, desde 2007, no satélite do Inpe. O número representa 20% a mais do que o ano passado e também acende o alerta para estratégias que podem estar sendo desenvolvidas para driblar o governo Lula nas ações de fiscalização. 

Conforme os especialistas entrevistados pela Amazônia Real, ainda não há uma explicação exata para que as queimadas estejam maiores do que em 2022 em determinados meses considerados fora do período do fogo, como abril e junho.

Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) (Foto: Ivan Canabrava/ Ipam)

“As queimadas voltaram a preocupar na Amazônia. As causas desse aumento ainda são um pouco inconclusivas, pois um dos principais tipos de queimadas são aquelas utilizadas para finalizar o processo de desmatamento, entretanto, o desmatamento sofreu uma redução importante no primeiro semestre deste ano”, ressalta Ane Alencar.

A redução citada pela pesquisadora, em número, chega a 33,6% nos seis primeiros meses de 2023 em comparação com o mesmo período de 2022, um resultado significativo.

“Pode ser que uma parte dessas queimadas estejam relacionadas com o desmatamento que ocorreu no ano anterior, ou seja, pode ser ainda um legado do governo anterior. Por outro lado, o clima é um fator importante para o alastramento dessas queimadas, gerando incêndios. E no mês de junho foi confirmada a instalação do fenômeno El Niño, que causa seca na Amazônia, principalmente na Amazônia oriental”, afirma a pesquisadora. 

Os Estados que Ane Alencar cita como os mais afetados pelo El Niño da Amazônia oriental são Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso. Sem muita surpresa, todos eles estão no ranking com os maiores focos de calor neste mês de julho. Liderando, o Pará encontra-se com 42,1 % dos 3.780 focos da Amazônia Legal somente do mês de julho; em segundo lugar está o Amazonas, com 21,8%; em terceiro, Mato Grosso (19,7%).  Nos demais lugares do ranking encontram-se Rondônia (8%), Acre (4%), Maranhão (3,1%), Tocantins (0,8%), Roraima (0,3%) e Amapá (0,1%).

Alberto Setzer, pesquisador titular do Inpe, que atua na Coordenação-geral de Ciências da Terra (CGCT) e já coordenou diversos projetos de monitoramento de queimadas, analisa o aumento. 

“Desde o início do ano a Amazônia Legal apresentou 1% a mais de focos do que no ano passado. Para o bioma Amazônia o aumento foi de 10%, já significativo mas não exagerado. Mato Grosso foi o Estado com mais focos em junho, talvez reflexo do período proibitivo de queima, cujo início foi marcado para 1º de julho de 2023, ou seja, uma antecipação das queimas para ficar menos exposto”, ressalta.

Há uma intensa preocupação com os possíveis impactos que o El Niño pode promover. “Anos de El Niño costumam apresentar períodos mais longos sem precipitação e com temperaturas mais altas no sul da Amazônia brasileira, o que facilita o uso e a propagação do fogo na região. A expectativa da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), dos Estados Unidos, é de 56% de probabilidade de um El Niño forte neste semestre”, explica Setzer.

O grande El Niño

Em 2016, comunidades afetadas pelo El Niño “Godzilla” sofreram com a estiagem no município de Presidente Figueiredo, no Amazonas (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real).

O cenário para 2023 na Amazônia não é um dos mais favoráveis. A região encontra-se sobre um fenômeno que prolonga o verão e aumenta a temperatura, favorecendo os crimes ambientais e as queimadas. Em 2016, quando o El Niño Godzilla pairou sobre a Amazônia, as taxas de desmatamento e queimadas cresceram em 125% comparadas a anos anteriores, conforme publicado na época pela Amazônia Real. Agora, uma nova onda de calor promovida pelo El Niño, principalmente na região Norte, pode trazer seca e um verão prolongado. 

Philip Fearnside, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o segundo cientista mais citado na área de aquecimento global, fez uma avaliação à reportagem da intensidade do fenômeno este ano. 

 “O aquecimento no Oceano Pacífico é forte e também está ocorrendo cedo no ano, indicando um grande impacto. A temperatura da superfície do mar está bem acima do normal em uma faixa que se estende praticamente de um lado ao outro do Pacífico na região equatorial. As grandes ondas de calor ocorrendo neste momento na Europa e na América do Norte são consistentes com um El Niño forte”, afirmou.

Conforme  o cientista, apesar do El Niño ser um fenômeno natural, que ocorre há milhares de anos e resulta no aquecimento da superfície da água do Oceano Pacífico perto da linha do Equador, ele está aumentando em frequência devido às emissões de gases acima da média emitida pelos humanos. 

Na Europa, as ondas de calor estão se espalhando, fazendo as temperaturas chegarem a 40 graus. Um gráfico da Noaa publicado nos últimos dias revela que a mais alta temperatura já registrada no Atlântico Norte em 41 anos, entre 1982 a 2023, é a deste mês de julho de 2023.

Ao ouvir especialistas, o jornal The Guardian noticiou que  “mais de 90% do calor extra causado pela adição de gases de efeito estufa à atmosfera pela queima de combustíveis fósseis e desmatamento foi absorvido pelo oceano”, o que tem ocasionado altas temperaturas. 

Referente aos impactos no Brasil, Fearnside prevê que o fenômeno deve impactar toda a Amazônia. “A Amazônia fica mais quente e mais seca. Isto leva a morte de árvores em pé pela combinação seca e calor, sendo que qualquer planta precisa de mais água se a temperatura aumenta. Também leva a incêndios florestais, que matam mais árvores. As secas de El Niño normalmente afetam mais a parte norte da Amazônia, Roraima sendo o lugar mais famoso para incêndios florestais. No entanto, às vezes as secas se estendem até a parte sudoeste da região, como ocorreu em 2015, quando houve grandes incêndios no Acre”. 

Cadastro rural e o fogo
Brigadista combate chamas em Rio Branco, no Acre (Foto: Sérgio Vale/Amazônia Real/2020)

O equivalente a 60% do desmatamento de junho de 2023 ocorreu nas áreas inscritas no Cadastro Ambiental Rural (CAR), o que aponta para uma temporada de fogo conduzida não por grileiros, mas por fazendeiros. Os dados são do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes). 

Para Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, o governo federal está debruçado na análise do aumento de queimadas e ainda não conseguiu achar uma resposta. Ele ressalta, porém, o papel da matéria orgânica das áreas desmatadas anteriormente por fazendeiros. 

Além disso, Astrini afirma que existem situações facilitadoras para que as queimadas estejam crescendo, principalmente o curto tempo que o governo Lula tem para que haja implementação das ações de combate e governança na região da Amazônia. 

“Até agora eles [órgãos federais] têm tentado restabelecer essa governança, estão com problemas porque as agências de fiscalização sofreram sabotagem nos últimos anos, mas estão sendo recuperadas, estão atuando. Portanto, o que a gente pode esperar é que o governo, com as forças que tem, com as possibilidades que tem hoje, faça uma atuação para diminuir as queimadas e o desmatamento”, acrescenta. 

Ele demonstra preocupação com as ações dos governos estaduais da Amazônia, que ao longo dos últimos anos adotaram agendas antiambientais. Astrini cita como exemplo o governador de Roraima, Antônio Denarium, que contribuiu com a situação do garimpo no estado ao autorizar o uso do mercúrio e as situações políticas vividas no estado de Rondônia, onde houve tentativa de acabar com as unidades de conservação.  

“Os governadores precisam agora mostrar na prática que desejam mudar e realmente atuar contra as queimadas e a favor da floresta, mas infelizmente a gente não vê isso de forma clara, ostensiva ou tendo esperanças aí de que esses governadores vão se mobilizar, o que é torna ainda mais difícil qualquer batalha para proteção da Amazônia, porque o aparato dos Estados, principalmente a força policial, é fundamental para complementar a força do governo federal no combate ao crime”, complementa. 

Fumaça das queimadas
Fumaça provocada pelas queimadas encobre a cidade de Novo Progresso, Pará, em 2022 (Foto: Cícero Pedrosa Neto/Amazônia Real/2022)

Anualmente, os incêndios e impacto das fumaças chegam até as cidades. A temporada do fogo é um cenário que se repete, aumenta o número de doenças respiratórias, mas ainda não tem ação concreta de mitigação por parte dos estados da Amazônia. Como exemplo, no último ano a fumaça chegou nas áreas urbanas de Novo Progresso e Altamira, no Pará, e Manaus, no Amazonas.

Ane Alencar acredita que com o relançamento do PPCDam, os governos têm incentivos para trabalharem seus planos de controle do desmatamento e queimadas, ou, no mínimo, para reativar os planos nesta temporada. 

Criado em 2004, o PPCDAm foi o principal responsável pela queda de 83% do desmatamento até 2012, segundo dados do Inpe. Com a revogação do PPCDAm em 2019 e o desmonte dos órgãos ambientais no governo Bolsonaro, o desmatamento atingiu a marca de 13 mil km² em 2021, o que não ocorria desde 2006. Isso afastou o país das metas estabelecidas em acordos internacionais.

A quinta fase do plano estabelece a meta de desmatamento zero até 2030, a partir de quatro eixos temáticos: atividades produtivas sustentáveis; monitoramento e controle ambiental; ordenamento fundiário e territorial; e instrumentos normativos e econômicos voltados à redução do desmatamento e à efetivação das ações abrangidas pelos demais eixos.

“Entretanto, a temporada do fogo está aí, no mínimo tanto o governo federal quanto os governos estaduais já deveriam estar com campanhas prontas para a redução do uso do fogo e para prevenção, porque eu acho que isso ajuda bastante, principalmente num contexto onde o clima está bastante favorável para ocorrência de incêndios”, ressalta a pesquisadora, que também frisa o papel do engajamento da sociedade no tema. 

A respeito da governança e fogo nos estados, A Amazônia Real procurou todas as secretarias de meio ambiente dos nove estados da Amazônia Legal para coletar informações sobre preparo para a temporada de fogo e monitoramento, mas obteve baixo retorno, indicando uma possível falta de organização e preparo nos estados. 

Apenas quatro estados retornaram até a publicação desta reportagem. No Mato Grosso (MT), a secretaria respondeu que o investimento para combater e prevenir queimadas chegou a R$ 38 milhões e que o Plano de Operações da Temporada de Incêndios Florestais (POTIF) prevê a implantação de 81 instrumentos de resposta, composto por 25 unidades do Corpo de Bombeiros, 29 Brigadas Estaduais Mistas, 17 Brigadas Municipais Mistas, sete bases descentralizadas de Bombeiro Militar e quatro equipes de intervenção e apoio operacional.

A respeito do monitoramento, a Secretaria de Meio Ambiente informou que possui quatro equipamentos para monitorar a qualidade do ar na capital Cuiabá. Elas são responsáveis por avaliar a concentração de gases poluentes e material particulado na atmosfera. 

No Amazonas, a secretaria informou apenas que a primeira fase da Operação Aceiro 2023 começou para combater incêndios florestais no sul do Amazonas. É composta por 74 bombeiros militares e 10 viaturas com destino aos municípios de Humaitá, Apuí, Boca do Acre, Lábrea e Manicoré. Não houve respostas às demais perguntas sobre monitoramento da qualidade do ar, que até 2022 não possuía equipamentos.

Já no Maranhão, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais informou que 25 municípios estão dentro do plano de combate às queimadas com foco nos municípios mais atingidos e tem feito monitoramento de queimadas e emissão de boletins de monitoramento de focos de calor. 

Com relação ao monitoramento da qualidade do ar, afirmou que possui seis estações de monitoramento em São Luís e nos demais municípios o controle da qualidade do ar é realizado através de relatórios de automonitoramento enviados por empreendimentos licenciados pelas secretarias locais. 

À Amazônia Reala Secretaria do Meio Ambiente de Rondônia, um estado devastado pelo agronegócio, não respondeu aos questionamentos sobre monitoramento, mas informou que “vem desenvolvendo atividades como campanhas de educação ambiental nas escolas, pit stop de educação e conscientização ambiental, intensificação na fiscalização, divulgação nas redes sociais, palestras com o tema risco de queimadas, além do WhatsApp de denúncias”.

As secretarias dos Estados do Pará, Tocantins, Acre, Amapá e Roraima não responderam às perguntas enviadas pela Amazônia Real.


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Este texto foi publicado originalmente pela Amazônia Real [Aqui!].

Setembro em chamas: focos de calor são 147% maior que o ano passado

Segundo dados do Inpe, o total de queimadas na Amazônia no mês é o maior dos últimos 12 anos

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Sobrevoo em Porto Velho, na região da Amacro (Amazonas, Acre e Rondônia), em uma área com cerca de 8.000 hectares de desmatamento – a maior em 2022 – Foto: Nilmar Lage / Greenpeace Brasil

São Paulo, 30 de setembro Dados recém divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) nesta sexta-feira (30)¹, a dois dias das eleições, mostram que no mês de setembro houve um aumento enorme de queimadas na Amazônia, não apenas em relação ao mesmo período no ano passado, mas sendo o maior número desde 2010. Enquanto no mês de setembro de 2021 foram registrados 16.742 focos de calor no bioma, neste ano houve 41.282. O Estado Pará é o recordista de queimadas, com 12.696 focos de calor registrados, representando 30,8% do total, seguido por Amazonas (8.659) que apesar de segundo lugar no total de focos teve o mês com o recorde de queimadas desde o início do monitoramento em 1988, Mato Grosso (6.950), Acre (6.693) e Rondônia (5.354).

Esse aumento já era esperado uma vez que a primeira semana de setembro de 2022 concentrou mais focos de calor do que setembro de 2021 inteiro: em apenas nove meses, foram 75.592 focos de incêndio contra os 75.090 registrados ao longo de 2021.

Para Rômulo Batista, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, essa escalada que tem destruído cada vez mais o bioma e a sua rica biodiversidade precisa ter fim: “Estamos a dois dias das eleições que serão decisivas para o futuro do Brasil e todo o planeta. É necessário que a população brasileira escolha candidaturas que tenham comprometimento com a preservação do meio ambiente, com o combate ao desmatamento e às queimadas, além de proteger os povos da floresta. Não podemos mais compactuar com essa política de destruição que acontece na Amazônia, que é fruto da falta de uma política ambiental nos últimos anos e de um congresso que cria projetos de lei como a legalização da grilagem de terras, abertura das terras indígenas para atividades destrutivas e acaba com o licenciamento ambiental. É o momento de votar consciente e pensando na Amazônia”.

¹ Dados coletados às 18:30.

Focos de calor na Amazônia atingem o maior número desde 2010

Número é 18% maior que o registrado no ano passado e moratória do fogo mostra-se mais uma vez ferramenta inútil de combate ao crime ambiental

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Sobrevoo na região da Amacro (Amazonas, Acre e Rondônia), em uma área com cerca de 8.000 hectares de desmatamento – a maior em 2022 – que está queimando há dias. © Nilmar Lage / Greenpeace

Manaus, 1° de setembro de 2022 Dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados hoje, mostram que agosto registrou 33.116 focos de calor no bioma Amazônia – todos ilegais. Desde 23 de junho o Decreto No. 11.100 em voga, proibiu o uso do fogo na Amazônia e Pantanal. O número alarmante constata que não existe uma política séria de combate ao desmatamento e queimadas na Amazônia e que, além de destruir a rica biodiversidade da floresta, enchem as cidades da região de fumaça e fuligem.

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“Realizamos um sobrevoo de monitoramento de queimadas e desmatamento na região da Amacro (siglas de Amazonas, Acre e Rondônia), e flagramos o maior desmatamento da Amazônia no último ano: cerca de 8.000 hectares, equivalente a 11.000 campos de futebol queimando. Participo desses monitoramentos há mais de dez anos, e nunca tinha visto um desmatamento tão grande e também com tanta fumaça”, afirma Rômulo Batista, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil.

Do total de focos de calor do ano registrados até 31 de agosto – 46.022, houve um aumento de 16,7% em relação ao ano passado, maior número acumulado para o período desde 2019. Desse total, 43% ocorreram apenas em dez municípios da Amazônia, sendo cinco deles localizados na região da Amacro, considerada a nova fronteira de expansão da economia da destruição na Amazônia e que vem acelerando as taxas de desmatamento e queimadas.

Outro fator relevante é o avanço das queimadas em terras públicas. Do total de focos de calor, 13,8% ocorreram em Unidades de Conservação (UC), e 5,9%, em Terras Indígenas (TI). Outro dado que preocupa é que mais de 10.600 queimadas, cerca de ¼ do total, ocorreram em florestas públicas não destinadas. Mais um indício do avanço da grilagem.

“Ao invés do poder Executivo e dos parlamentares estarem focados em conter os impactos da destruição da Amazônia sobre a população e o clima e em combater o crime que avança na floresta – que não só destrói nossas riquezas naturais, mas também, a imagem e a economia do país; ainda assim, tentam aprovar projetos que irão acelerar ainda mais o desmatamento, os conflitos no campo e a invasão de terras públicas. Nosso país não precisa da aprovação destes projetos, mas sim de uma política que promova um real avanço no combate ao desmatamento, queimadas, grilagem de terras e que defenda os povos da floresta”, finaliza Rômulo.

Greenpeace Brasil sobrevoa a Amazônia e flagra o avanço do fogo sobre a floresta

Somente no mês de julho foram 5.373 focos de calor e no ano já são mais de 12.906

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Candeias do Jamari, Rondônia. O Greenpeace realizou sobrevoos no sul do Amazonas e no norte de Rondônia para monitorar desmatamento e queimadas na Amazônia em julho de 2022

Manaus, 1 de agosto de 2021 – De acordo com os dados do Inpe Programa Queimadas publicados ontem (31), julho registrou 5.373 focos de calor no bioma Amazônia, 7,9% maior que o mesmo período no ano passado, sua grande maioria, senão todos, são ilegais visto que o Decreto nº 11.100/22 proibiu o uso do fogo no Brasil, em especial na Amazônia e Pantanal desde 23 de junho de 2022. Os focos de calor em julho se concentraram nos Estados do Pará 31,3%, Amazonas 26,6% e Mato Grosso 22,3%. A Amazônia segue sob intensa ameaça com a ilegalidade e destruição ainda devastando grandes áreas, conforme mostram as imagens registradas pelo Greenpeace Brasil em sobrevoo realizado na última semana na região do Sul do Amazonas e em Rondônia.

Veja as imagens aqui

“Este é só inicio do verão Amazônico, estação com menos chuvas e umidade, onde infelizmente a prática de queimadas e incêndios florestais criminosos explodem, seja para queimar as áreas que foram derrubadas recentemente e deixadas para secar ou mesmo queimando áreas de florestas que já foram degradadas pela extração ilegal de madeira, por exemplo. Toda essa destruição e fogo, além de dizimar a floresta e a sua rica biodiversidade, também afeta a saúde da população local por conta da fumaça e fuligem gerada”, comenta Rômulo Batista, porta-voz da Amazônia do Greenpeace Brasil.

No primeiro semestre de 2022, os alertas de desmatamento do Inpe apontaram para um aumento de 10,6% na devastação em relação ao mesmo período de 2021, um triste recorde com quase 4.000 km² de destruição. Um reflexo dos atos e omissões do poder executivo e legislativo que promoveram o desmantelamento das políticas ambientais e sociais promovidas desde a constituição de 1988.

“Infelizmente é muito difícil ser otimista para os próximos meses na Amazônia, sendo um ano eleitoral no qual, historicamente, a destruição aumenta muito, mas também são meses decisivos para refletir sobre a Amazônia que precisamos, escolhendo representantes que irão proteger a Floresta Amazônica, o maior património de todos brasileiros, com a sua rica biodiversidade e os povos que nela habitam.” conclui Rômulo.

Fogo na Amazônia: Junho registra maior número de focos de calor dos últimos 14 anos

Registro ocorre na semana em que o governo anuncia o mesmo plano de combate a desmatamento e queimadas que fracassou nos últimos dois anos

fogo

Manaus, 01 de julho de 2021 – Dados divulgados nesta manhã, pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe), apontam que o mês de junho registrou o maior número de focos de calor na Amazônia desde 2007, na comparação com o mesmo mês dos anos anteriores. Os satélites mostram que foram 2.308 focos de calor, o que representa um aumento de 2,6% em relação a junho de 2020, quando já havia sido batido o recorde histórico.

Esse novo aumento vem na mesma semana em que o governo federal decide manter o mesmo plano que fracassou de maneira incontestável nos últimos dois anos: uma moratória do fogo e o envio de forças armadas, por meio do decreto de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem), para combater o desmatamento e as queimadas na Amazônia.

“Infelizmente, esse recorde no mês de junho não é uma surpresa, considerando a continuidade da política antiambiental e a insistência na utilização de uma ferramenta cara como o envio de tropas militares, que se mostrou ineficiente nos últimos dois anos. Na verdade é mais uma estratégia para inglês ver, pois, além de ser por um período mais curto do que nos anos anteriores, o próprio decreto já avisa os desmatadores e grileiros onde irão fiscalizar nesse período”, comenta Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil.

Enquanto isso, sinalizações vindas de Brasília estimulam fortemente novos desmatamentos e invasões em terras públicas. Exemplo disso são os Projetos de Lei 2633 e 510 que tramitam no Congresso e que visam flexibilizar os critérios da regularização fundiária, anistiando grileiros e estimulando novos desmatamentos. Outro exemplo são as propostas que visam abrir terras indígenas para atividades predatórias, como o PL 490.

Para os próximos meses, o cenário dificilmente será diferente do que vimos nos últimos dois anos. Com números altos de queimadas ainda no começo do verão amazônico, meses onde há uma diminuição natural das chuvas na Amazônia, esses números tendem a subir ainda mais.

Estamos vivendo uma emergência climática e a queima de florestas e outras vegetações nativas é a principal fonte brasileira de emissão de gases de efeito estufa que agravam ainda mais essa crise. Outro reflexo dos desmatamentos e queimadas que todos já estamos sentindo é a alteração do regime de chuvas. Os reservatórios para geração de energia e até mesmo para captação de água para consumo humano encontram-se em níveis historicamente baixos, causando risco de racionamento e aumento na conta de energia e no preço dos alimentos por perda de produção.

“Estamos vivendo um momento muito triste para a floresta e seus povos. Eles estão sendo atacados por todos os lados, seja pelos desmatadores, grileiros, madeireiros e garimpeiros que avançam sobre a floresta ou territórios, seja por meio do Congresso e do Poder Executivo que, não só não combatem esses crimes e danos ambientais, como os estimulam, seja por atos ou omissões”, conclui Rômulo.

Assessoria de imprensa do Greenpeace Brasil

Amazônia registra recordes de focos de calor em julho

Com falta de fiscalização e inteligência no combate aos danos ambientais, queimadas em Terras Indígenas registraram aumento de 76%

unnamed (6)Imagem de satélite do estado do MT mostrando queimada ocorrendo no dia 30 de julho

Manaus, 01 de agosto de 2020 – No dia 30 de julho, a Amazônia registrou mais um triste recorde: 1.007 focos de calor em um único dia. Esse é o número mais alto registrado no mês de julho desde 2005. Neste mesmo dia, no ano passado, foram 406 focos. Agora, dados consolidados de julho mostram um aumento expressivo nos focos de calor.

“O fato de ter mais de mil focos de calor em um único dia, recorde dos últimos 15 anos para o mês de julho, mostra que a estratégia do governo de fazer operações midiáticas não é eficaz no chão da floresta. Somente em julho, foram registrados 6.804 focos de calor na Amazônia, um aumento de 21,8% quando comparado ao mesmo mês do ano passado. A moratória, que proíbe no papel as queimadas, não funciona se não houver também uma resposta no campo, com mais fiscalizações. Afinal, criminoso não é conhecido por seguir leis. Assim como a GLO aplicada sem estratégia e sem conhecimento de como se combate as queimadas, também não traz os resultados que a Amazônia precisa”, comenta Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace.

Um levantamento feito pelo Greenpeace Brasil aponta que dos focos de calor registrados em julho, 539 foram dentro de Terras Indígenas, um aumento de 76,72% em relação ao ano passado, quando foram mapeados 305 focos. Além disso, 1.018 atingiram Unidades de Conservação, um aumento de 49,92% em relação ao mesmo período do ano passado.

Deforestation and Fire Monitoring in the Amazon in July, 2020
Monitoramento de Desmatamento e Queimadas na Amazônia em Julho de 2020

Hotspot próximo a uma área desmatada registrada pelo Prodes (Projeto Brasileiro de Monitoramento de Satélites na Amazônia), em Nova Maringá, Mato Grosso.

“O desmatamento precisa ser combatido durante todo o ano, principalmente considerando que as queimadas na Amazônia não são resultado de um fenômeno natural, mas da ação humana. O fogo é uma das principais ferramentas utilizadas para o desmatamento, especialmente por grileiros e agricultores, que o usam para limpar áreas para uso agropecuária ou especulação. A prática se tornou ainda mais comum com a falta de fiscalização e o desmantelamento dos órgãos ambientais. Estamos observando uma tendência de alta nas queimadas neste ano. Além da ameaça do coronavírus, com a temporada de fogo, os povos indígenas estarão ainda mais vulneráveis, pois a fumaça e a fuligem das queimadas prejudicam ainda mais sua saúde”, completa Rômulo.

Acesse imagens de queimadas da Amazônia em 2020 aqui

Assessoria de imprensa do Greenpeace Brasil:

Rebecca Cesar, (11) 95640-0443, rebecca.cesar@greenpeace.org