Meu nome é COVID-19, mas pode me chamar de SRAG

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Um dos meios de se abafar um determinado problema é chamá-lo por outro nome.  E esse parece ser exatamente o caminho que os governantes brasileiros estão escolhendo para achatar artificialmente a curva do número de mortes pelo coronavírus (a.k.a. COVID-19).  

É que os dados oficiais estão registrando, e a mídia corporativa noticiando de forma não relacional, o aumento explosivo da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em meio à pandemia da COVID-19, como se uma coisa não tivesse muito a ver com a outra, quando tem.

Vejamos por exemplo, os dados de SRAG que foram compilados pelo jornal “O POPULAR” que é publicado em Goiânia para  o período de 2016 a 2020 (que mal chegou a abril) que demonstram um aumento explosivo para essa condição no estado de Goiás.

doenças respiratórias

Fonte: O Popular

Ainda que a SRAG possa  ser causada por diversos tipos de vírus, o fato é que, neste momento, o número acachapante de casos em meio à pandemia do COVID-19 deveria servir para que providências mais severas fossem tomadas para se testar de forma célere os pacientes para se determinar qual agente infeccioso foi responsável por causar a condição.  Mas até onde se sabe, não é isso que está ocorrendo e muitos estão sendo enterrados sem que os testes estejam sequer sendo realizados.

Por isso é que cresce a taxa de subnotificação e, por consequência, o risco de que o Brasil se torno o próximo epicentro global do COVID-19.  Enquanto isso, os números da SRAG poderão continuar sendo contabilizados, como se uma coisa não tivesse nada a ver com a outra.

“Menos amor, mais glifosato” derruba o mito da dominação marxista nas universidades brasileiras

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Menos amor, mais glifosato, a mensagem “engraçada” de estudantes de Agronomia da Universidade Federal de Goiás.

Encontrei a notícia abaixo circulando pela minha linha do tempo na rede social Facebook e, apesar, de ser quase 2 anos velha, a mesma me parece muito útil para o necessário debate acerca de uma suposta dominação do “Marxismo Cultural” nas universidades brasileiras, especialmente as públicas.  Essa fotografia que foi retirada da página oficial da EMATER de Goiás mostra um grupo de estudantes do curso de Agronomia da Universidade Federal de Goiás fazendo uma estranha apologia do herbicida mais vendido no mundo, o Glifosato, que hoje se encontra sob profundo escrutínio por suas supostas relações causais com o Linfoma de Non-Hodgkin, uma forma bastante agressiva de câncer que atinge células sanguíneas.

glifosato amor

Pois bem, mesmo que a relação causal do glifosato com o Linfoma de Non-Hodgkin seja motivo de controvérsia, o que de fato ela segue sendo, o que pode levar a um grtupo de jovens estudantes e futuros engenheiros agronômos, que estão sendo formados por uma universidade pública, a exporem uma mensagem tão acientífica como esta? E, pior, ainda lucrarem com isso já que cada camiseta era vendida a R$ 35,00!

Afora a questão imediata do que significa espalhar que venenos agrícolas são mais importantes que o amor, o problema mais de fundo se refere à própria formação curricular que está sendo dada a esses estudantes. É que não há como simplesmente aparecer a ideologia do “veneno vencendo o amor” do nada. Há que haver firmada uma profunda convicção de que agrotóxicos não só são “seguros”, mas como podem ser motivo de piadas e formas de profundo de renda até com camisetas vestidas por estudantes.

E voltando à questão inicial da suposta invasão do “Marxismo Cultural” nas universidades públicas, o que este caso escancara é que o problema que nos aflige é de natureza bem diversa, e começa pela aceitação de que temos de naturalizar os inevitáveis riscos trazidos por um modelo produtivo que reconhecidamente é viciado em venenos agrícolas. Essa aceitação tem tudo a ver com uma lógica que não tem como estar associada a qualquer variante (real ou imaginada) do Marxismo.

Finalmente, eu fico curioso para saber se a coordenação do curso de Agronomia da Universidade Federal de Goiás adotou algum tipo de medida pedagógica para aumentar o grau de consciência dos estudantes e futuros profissionais  sobre as implicações sociais, ambientais e econômicos do alto uso de venenos agrícolas pela agricultura brasileira. E quando falo de pedagógica, isto falando no sentido literal da palavra. É que a suposta piada contida na camiseta dos estudantes goianos revela, acima de tudo, que eles não entendendo a gravidade do problema com que terão de se defrontar na sua vida profissional.

 

Estado de exceção em Goiás

Nota oficial do Projeto de Pesquisas Proluta

cidades rebeldes

O Programa de Pesquisa sobre Ativismo em Perspectiva Comparada – PROLUTA da Universidade Federal de Goiás – UFG manifesta o seu repúdio e a sua indignação diante dos atos infensos à democracia e ao respeito aos direitos civis perpetrados pelo Poder Público – Executivo, Ministério Público e Judiciário – do Estado de Goiás, contra quatro estudantes aderentes a protestos pacíficos em favor da redução das tarifas de ônibus na capital do estado.

Às seis horas da manhã de 23 de maio de 2014, autoridades da Polícia Civil do Estado de Goiás deflagraram uma operação denominada “2,80”, cujo escopo fora reprimir ativistas pacíficos que atuam em favor do respeito ao mandamento legal da modicidade das tarifas do serviço público de transporte urbano. Quatro estudantes, com idades entre 18 e 19 anos, tiveram suas casas invadidas, em cumprimento de mandados de busca e apreensão e de prisão preventiva expedidos pela 7a Vara Criminal de Goiânia. Um desses jovens, Ian Caetano de Oliveira, é pesquisador do Proluta e conhecido nacionalmente por sua disciplina, seriedade e aptidão acadêmica.
Os estudantes tiveram suas moradias devassadas pelos policiais e, dentre outros elementos supostamente indiciários quanto à prática de crimes, viram obras científicas, a exemplo do livro “Cidades Rebeldes”, publicado pela renomada editora Boitempo, serem apreendidos. Em seguida, foram algemados, em desrespeito à Súmula Vinculante STF no. 11, e conduzidos a uma delegacia especializada em repressão ao crime organizado, de onde seguiram para um presídio comum, onde se encontram até o presente.

O Inquérito que fundamenta a prisão preventiva dos estudantes é kafkiano. Não há qualquer indício de autoria de nenhuma prática delituosa por parte dos jovens, senão algumas compilações de panfletos e textos em favor de mudanças na política tarifária do transporte público, extraídas de redes sociais. Há, de outro modo, alusões à “subversividade” de suas práticas e descrição da Frente de Luta contra o Aumento da Tarifa de Ônibus como “organização criminosa”. Sim, em 2014 jovens estudantes estão em um presídio, sem qualquer perspectiva de liberação, apenas por terem participado, pacificamente, de algumas manifestações.

O Proluta responsabiliza os Poderes Executivo e Judiciário do Estado de Goiás, além do Ministério Público, por criminalizarem o exercício dos direitos civis e da contestação pública, além de implementarem, nesta unidade federativa, um estado de exceção. Exigimos a imediata soltura dos estudantes, em respeito à ordem constitucional e democrática aqui rompida a partir dos lamentáveis episódios ontem ocorridos.

 

Goiânia, 24 de maio de 2014

 
FONTE: http://proluta.blogspot.com.br/