Observatório dos Agrotóxicos: a chuva de agrotóxicos continua e governo Lula autoriza mais 51 agrotóxicos

Flemish government sued for better pesticide protection | PAN Europe

O ano de 2025 vai se aproximando do seu final e governo Lula decidiu autorizar a liberação de mais 51 agrotóxicos para uso e comercialização em território nacional.   Isso se deu a partir da publicação do Ato nº 56, de 28 de novembro. de 2025.

Ainda com a memória da minha recente postagem sobre a mais nova tentativa de expansão da monocultura de árvores em território fluminense, resolvi verificar quantos dos 51 agrotóxicos estão destinados para os plantios monoculturais de eucalipto e sem surpresa cheguei ao número de 9 produtos. Isso mostra que há perfeita sintonia entre quem autoriza a presença legal de venenos agrícolas e os que querem se apropriar de cada vez mais áreas para a implantação de monoculturas de árvores em diferentes regiões brasileiras.

Dentre os agrotóxicos aprovados pelo Ato nº 56 para uso nas monoculturas de eucalipto está o glufosinato de amônio que foi banido na União Europeia em 2009 após estudos demonstrarem riscos à saúde humana e ambiental, como intoxicação aguda e crônica, problemas respiratórios e inibição da fotossíntese.

Outro agrotóxico aprovado pelo Ato nº 56 foi o Clomazona que  apesar de não estar banida em toda a União Europeia,  tem o seu uso estritamente regulamentado e a sua autorização está sob revisão contínua por causa da sua toxicidade para organismos aquáticos e o potencial de contaminação de águas subterrâneas. 

Como se vê, o uso dessas substâncias é autorizado no Brasil, apesar do conhecimento científico e regulatório que se tem sobre seus efeitos nefastos sobre o ambiente e a saúde humana.  E tudo isso para quê? Para transformar as terras brasileiras em verdadeiras banheiras químicas que envenenam e causam múltiplas enfermidades, muitas delas graves.

Observatório dos Agrotóxicos: em plena COP30, governo Lula libera mais 30 agrotóxicos

As contradições entre discurso e prática do presidente Lula e seu governo são evidentes a cada dia e cada ato prático, por mais corriqueiro que seja. Como alguém que acompanha com interesse a situação da aprovação de agrotóxicos no Brasil desde 2019, pensei que pelo menos para disfarçar, o governo federal não publicaria nenhum daqueles infames atos de liberação de agrotóxicos para comercialização no território nacional.

Pois bem, pensei errado.  É que hoje o Diário Oficial da União traz a publicação do ATO Nº 54, de 11de  Novembeo de 2025 que libera a comercialização de mais 30 agrotóxicos do tipo Produto Técnico, que é aquela classificação que se refere a produtos concentrados que serão usados para a fabricação dos produtos formulados que serão consumidos no final das contas.

Já olhei a lista dos agrotóxicos inclusos nesse ato é vejo ali velhos conhecidos e aquela costumeira característica de serem produzidos, explicitando uma espécie de colonialismo químico sul-sul, e não norte-sul.

De qualquer forma, como os agrotóxicos são emissores de gases estufa,  o que fica claro é que o governo Lula, quando seu líder não está no palco da COP30 vendendo a sua imagem de exportação, não hesita em rasgar a fantasia da sustentabilidade para introduzir mais venenos perigosos no já sobrecarregado mercado brasileiro de agrotóxicos.

Essa história de COP é semelhante àquela festa em que vamos todos bem vestidos para tomar um porre com whisky barato para acordar no dia seguinte com uma tremenda ressaca.  E, pior, quem dá a festa já sabendo que a ressaca será devastadora.

E depois ainda vai ter gente em 2026 dizendo que é melhor votar em Lula do que arriscar a ter a extrema-direita bolsonarista de volta no poder por causa da devastação ambiental que vai acontecer. Pura hipocrisia. Afinal, na hora de acalentar os lucros do agronegócio, essas duas vertentes estão juntas e misturados. E tome agrotóxicos na água e na comida dos brasileiros!

Para além das ilusões da COP30, a necessidade de organizar a luta climática em novos marcos

Por Marcos Pedlowski para o “Jornal Nova Democracia” 

Em março deste ano, escrevi uma espécie de artigo premonitório sobre o fracasso que seria realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (a chamada COP30) na cidade de Belém entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025. Naquele texto alinhavei uma série de fatores que me permitiam traçar um cenário pouquíssimo otimista para este que é uma espécie de megaevento climático.

O problema é que passados sete meses, as minhas conjecturas estão sendo ultrapassadas pela realidade objetiva dos fatos. Um exemplo foi a concessão da licença ambiental para exploração de petróleo e gás na Foz do Rio Amazonas.  Vários comentaristas mais informados do que eu sobre as entranhas deste processo, já mostraram que um dos erros capitais ocorridos nas análises feitas pelos técnicos do Ibama foi utilizar dados fornecidos pela própria Petrobras para as estimativas de impactos relacionados às intercorrências que são muito comuns nas atividades petrolíferas.  Usar os dados da Petrobras equivale a dar a chave do galinheiro para a raposa tomar conta das galinhas. Mas a ministra Marina Silva preferiu se manifestar dizendo que a decisão da equipe técnica do Ibama havia sido “técnica”, o que nem uma criança recém-entrada no jardim de infância acredita. 

Mas os problemas da licença concedida não acabaram, apenas começaram. É que a direção da Petrobras agora postula a inclusão de mais três poços exploratórios na licença ambiental para perfuração na bacia da Foz do Amazonas.  A solicitação teria sido feita em 24 de outubro de 2025, e ocorreu após a empresa obter a aprovação para iniciar a perfuração do primeiro poço na região. Aqui já seria o caso do “passa um boi, passa uma boiada”, e se concretizado representará um avanço acelerado para o início das atividades de extração, ignorando todos os riscos que isto representa.

Uma coisa que nunca é mencionada publicamente, seja pela Petrobras ou por qualquer ministro do governo Lula, se refere ao montante de emissões de CO2 possíveis, caso as melhores expectativas das reservas na Foz do Amazonas sejam confirmadas e que todo este montante seja efetivamente explorado.  Se usarmos a estimativa de ~30 bilhões de barris associada à Margem Equatorial e o fator padrão de combustão de ~0,4319 tCO₂ por barril, a queima desse petróleo corresponderia a ≈ 13,0 gigatoneladas de CO₂ (≈12,96 GtCO).  Há que se lembrar que ~13 GtCO₂ é um valor enorme: já que representa aproximadamente um terço das emissões anuais globais atuais (ordem de grandeza ~37–38 GtCO₂/ano em 2024).

O presidente Lula em sua face para exportação, aquela em que ele se mostra um paladino da adaptação para as mudanças climáticas em curso, desconversa e continua tentando vender uma variante diversionista que é a conservação das florestas brasileiras como receita para o combate à aceleração do aquecimento da Terra. Eu digo que mesmo o suposto compromisso com a conservação das florestas é diversionista por um motivo simples. O compromisso objetivo do governo Lula é com um modelo que eu chamo de economia agromineral. Por um lado, se incentiva a exploração de petróleo e gás, enquanto se financia de maneira nada frugal a produção de commodities agrícolas, inclusive às custas do que ainda resta de florestas na Amazônia e no bioma do Cerrado. Basta ver os valores alocados para o Plano Safra de 2025/2026 que entregou R$ 516,2 bilhões para a agricultura empresarial , enquanto reservou apenas 78,2 bilhões são para a agricultura familiar.  Em outras palavras, enquanto muitos se chocaram com o mote de campanha do presidente Donald Trump, o “Drill, Baby Drill” (Perfura, bebê Perfura!), pouco se fala que para Lula o mote correto “Perfura e desmata, bebê Perfura e desmata! 

Por outro lado, vários estudos científicos já estão mostrando que, por causa do aquecimento acelerado da atmosfera, as florestas tropicais estão passando da condição de sumidouros para emissoras de carbono. Com isso, a soma total das emissões anuais de CO tenderia a aumentar ainda mais rapidamente.  Para piorar, há uma crescente concordância na comunidade científica de que as florestas estão se tornando mais combustíveis e que grandes incêndios florestais vão continuar ocorrendo e em número e intensidade cada vez maiores. 

Diante deste contexto fático, voltemos então às chances da COP30 não ser um fracasso completo. Eu diria que as chances são agora negativas.  Um elemento que garante isso é que cerca de um mês do início do evento,  apenas 87 delegações já confirmaram ter hospedagens garantidas em Belém. Além disso, há que se lembrar que até o momento apenas 162 países confirmaram presença na COP30, um número abaixo do que ocorreu na COP21 realizada em Paris quando 190 países estiveram presentes. Assim, o que temos diante de nós é um abandono tácito desta arena de debates em prol de um compromisso explicito com a aceleração do modelo de economia fóssil que está na raiz dos problemas que as COPs nunca sequer arranharam. 

Recentemente fui perguntado por uma ativista ambiental se valeria a pena ir para Belém para participar dos eventos paralelos que ocorrerão durante a COP30.  Eu respondi que dados os custos elevados de transporte e hospedagem e a futilidade que é dar uma roupagem cívica à COP30, o melhor seria apostar em eventos locais que ocorrerão em diversos estados brasileiros que formam uma espécie de anti-COPs. Um exemplo é o “Encontro Anticapitalista pelo Clima e pelo fim dos Genocídios” que deverá ocorrer na cidade do Rio de Janeiro entre 20 e 23 de novembro sob os auspícios de ativistas ambientais, cientistas e organizações de esquerda.  Considero que este tipo de evento deverá gerar mecanismos de organização muito mais sólidos e efetivos do que qualquer coisa que seja decidido em Belém. É que seguir apostando nas soluções propostas por quem está na raiz do problema já se mostrou um completo e rotundo fracasso.

A saída para o colapso climático que se avizinha terá de ser inevitavelmente pela esquerda. Afinal de contas, como disse e escreveu a física e filósofa alemã e membro do IPCC, Friederike Otto, a crise climática envolve questões de gênero, raça e classe. Assim, quanto antes a luta climática se der nesses termos, maiores serão as nossas chances de enfrentar o futuro que se avizinha.


Fonte: Nova Democracia

Governo sabota COP30 e licencia petróleo na Foz do Amazonas; ONGs vão à Justiça

Ibama autoriza perfuração do Bloco 59 a pouco mais de duas semanas do início da conferência do clima, comprometendo liderança de Lula e expondo presidência da COP

Navio-sonda que perfura o poço Pitu Oeste, na Bacia Potiguar, também na Margem Equatorial. (Agência Petrobras)
Por Observatório do Clima 

A pouco mais de duas semanas da COP30, o governo brasileiro aprovou nesta segunda-feira (20/10) a licença de perfuração de petróleo no bloco FZA-M-59, na bacia sedimentar da Foz do Amazonas. A aprovação é uma sabotagem à COP e vai na contramão do papel de líder climático reivindicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cenário internacional. Também cria dificuldades para o presidente da COP, André Corrêa do Lago, que precisará explicar o ato aos parceiros internacionais do Brasil.

A decisão é desastrosa do ponto de vista ambiental, climático e da sociobiodiversidade e, para enfrentá-la, organizações da sociedade civil e movimentos sociais irão à Justiça denunciar as ilegalidades e falhas técnicas do processo de licenciamento, que poderiam tornar a licença nula.

Além de contrariar a ciência, que diz que nenhum novo projeto fóssil pode ser licenciado se quisermos ter uma chance de manter o aquecimento global em 1,5oC, a liberação do petróleo na Foz também se opõe a decisões legais de tribunais internacionais sobre a urgência da interrupção da expansão dos combustíveis fósseis, incluindo deliberações recentes da Corte Interamericana de Direitos Humanos e da Corte Internacional de Justiça, que reforçam a obrigação legal dos Estados-nação de protegerem o clima.

Povos indígenas da Bacia Amazônica, parlamentares e sociedade civil vêm reiterando a necessidade de acabar com a expansão de petróleo e gás, sobretudo em áreas de alta biodiversidade, e de criar zonas de exclusão para atividades extrativistas, a fim de proteger ecossistemas críticos para o planeta – começando pela Amazônia.

É preciso estabelecer zonas prioritárias de exclusão da proliferação dos combustíveis fósseis, protegendo ecossistemas críticos para a vida no planeta. Por sua imensa relevância para o clima e para a biodiversidade, que enfrentam crises globais, a Amazônia deve ser uma dessas zonas, tanto para a exploração onshore quanto para a offshore.

Especialistas da sociedade civil e representantes de povos indígenas amazônicos oferecem análises a seguir:

“A emissão da licença para o Bloco 59 é uma dupla sabotagem. Por um lado, o governo brasileiro atua contra a humanidade, ao estimular mais expansão fóssil contrariando a ciência e apostando em mais aquecimento global. Por outro, atrapalha a própria COP30, cuja entrega mais importante precisa ser a implementação da determinação de eliminar gradualmente os combustíveis fósseis. Lula acaba de enterrar sua pretensão de ser líder climático no fundo do oceano na Foz do Amazonas. O governo será devidamente processado por isso nos próximos dias.” Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima

“A decisão de licenciar é claramente política — não técnica. O valor de uma sonda jamais pode se sobrepor ao valor da vida das comunidades amazônidas, à biodiversidade ou ao equilíbrio climático do planeta. A Petrobras, responsável por 29% de todos os novos projetos fósseis da América Latina, é a principal protagonista da expansão fóssil no continente. Ao insistir na perfuração do bloco 50, ela se consagra como a Líder Continental da Não Transição Energética.” Nicole Oliveira, diretora-executiva do Instituto Arayara

“A Amazônia está muito próxima do ponto de não retorno, que será irreversivelmente atingido se o aquecimento global atingir 2°C e o desmatamento ultrapassar 20%. Além de zerar todo desmatamento, degradação e fogo na Amazônia, torna-se urgente reduzir todas as emissões de combustíveis fósseis. Não há nenhuma justificativa para qualquer nova exploração de petróleo. Ao contrário, deixar rapidamente os atuais combustíveis fósseis em exploração é essencial.” Carlos Nobre, copresidente do Painel Científico para a Amazônia

“O agravamento da crise climática, causada pela produção e queima de combustíveis fósseis, não deixa dúvidas de que temos que acelerar a transição energética para produção solar e eólica. O Brasil tem a oportunidade de explorar seu enorme potencial de geração energética solar e eólica e se tornar uma potência mundial em energias sustentáveis. Não devemos desperdiçar esta oportunidade. Abrir novas áreas de produção de petróleo vai auxiliar a agravar ainda mais as mudanças climáticas e certamente isso vai contra o interesse do povo brasileiro.” Paulo Artaxo, Físico, integrante do IPCC, especializado em crise climática e Amazônia

“É inaceitável que o governo continue promovendo a exploração de petróleo e gás na bacia Amazônica, uma área vital para a proteção do clima e da biodiversidade. Essa decisão contraria os compromissos com a transição energética e coloca em risco as comunidades, os ecossistemas e o planeta. Ao contrário do que alegam, os recursos do petróleo pouco investem na transição, sendo apenas 0,06%. Precisamos de um acordo global para eliminar a extração de petróleo de forma justa, equitativa e sustentável. Até lá, o mínimo que temos que fazer é impedir sua ampliação.” Clara Junger – Coordenadora de Campanha no Brasil – Iniciativa do Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis

“Autorizar novas frentes de petróleo na Amazônia não é apenas um erro histórico, é insistir em um modelo que não deu certo. A história do petróleo no Brasil mostra isso com clareza: muito lucro para poucos, e desigualdade, destruição e violência para as populações locais. O país precisa assumir uma liderança climática real e romper com esse ciclo de exploração que nos trouxe até a crise atual. É urgente construir um plano de transição energética justa, baseado em renováveis, que respeite os povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos, e que garanta a eles o papel de protagonistas nas decisões sobre clima e energia, inclusive na COP30.” Ilan Zugman, diretor da 350.org para a América Latina e Caribe


Fonte: Observatório do Clima

Observatório dos Agrotóxicos: Governo Lula continua chuva de liberações de agrotóxicos proibidos na Europa

No dia de ontem, o Blog do Pedlowski publicou uma lista compilada pela professora Sonia Corina Hess com centenas de agrotóxicos proibidos na Europa e vendidos legalmente no Brasil. Eis que hoje, o Diário Oficial da União publicou o Ato Nº 50,  de 17 de outubro de 2025 que traz a liberação de mais 33 agrotóxicos para comercialização no território brasileiro.

Para confirmar o que a professora Sonia Hess já havia observado em sua lista, esse novo ato adiciona diversas novas formulações contendo ingridientes ativos proibidos na União Europeia. Com isso, os que têm acompanhado desde 2019 as publicações do Obsevatório dos Agrotóxicos do Blog do Pedlowski poderão verificar quais agrotóxicos liberados hoje estão proibidos na União Europeia e quais são as principais consequências deletérias que eles trazem para diversos organismos vivos, incluindo seres humanos.

Posso adiantar que neste ato foram liberados agrotóxicos cujos ingridientes ativos que a literatura científica já apontou serem, entre outras coisas,  neurotóxicos, desreguladores endócrinos, tóxicos para abelhas, causadores de danos ao sistema imunológico de recém nascidos, causadores de danos nos rins, genotóxicos, além de estarem associados danos metabólicos e serem indutores de diabetes. 

A questão é que essa não é a primeira vez que o Blog do Pedlowski traz informações sobre a liberação de agrotóxicos proibidos na Europa, já que recentemente uma reportagem assinada pela jornalista Cida de Oliveira havia mostrado a mesma situação em relação ao Ato Nº 46,  de  29  de setembro de 2025. Estamos assim diante de uma prática regular de liberar no Brasil, os agrotóxicos que agricultores europeus não podem mais usar por causa da sua alta periculosidade ambiental e para a saúde humana.

Esta situação é grave demais para ser ignorada, pois não podemos aceitar que o Brasil seja transformada na lixeira química das multinacionais europeias que continuam colocando os seus lucros acima da segurança dos trabalhadores rurais e de quem consome os alimentos contendo resíduos de seus agrotóxicos ultraperigosos.

Olho vivo servidores: a reação contra a Reforma Administrativa não virá do governo Lula

O deputado Pedro Paulo (PSD/RJ) e a ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, estão juntos e misturados na reforma administrativa que irá remover direitos e impor medidas punitivas aos servidores públicos brasileiros 

Neste momento paira sobre a cabeça de todos os servidores públicos brasileiros um espectro tenebroso, o espectro da reforma administrativa. Pensada inicialmente no governo Bolsonaro, a reforma administrativa não andou porque era ruim demais até para o bolsonarismo levá-la para frente.  Em poucas palavras, a proposta que está sendo rascunhada pelo deputado Pedro Paulo (PSD/RJ) representa o último prego no caixão dos direitos dos servidores públicos, tamanho é o ataque a elementos essencias para a sobrevivência digna daqueles que dedicam suas vidas a servir a população brasileira na condição de servidores públicos.

Tendo ingressado na carreira pública no longínquo ano de 1999, sou testemunha do encurtamento de direitos que vem sendo executado por diferentes governos, incluindo os dito de esquerda sob liderança do PT.  O fato é que sob a hegemonia do ideário neoliberal, ainda que com diferentes tintas, os servidores públicos vêm acumulando derrotas fragorosas em toda linha, a começar pelas condições de aposentadoria, mas alcançando ainda outras áreas como a da dedicação por tempo de serviço, e alongamento do período mínimo para requerer aposentadoria.

A chamada Reforma Administrativa é um combo de maldades e virá na forma de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC); um projeto de lei complementar,  e um projeto de lei. Combinados esses instrumentos deverão afetar de forma decisiva várias aspectos da vida dos servidores públicos, incluindo a estabilidade, os salários, limitações de direitos, e a imposição de condições punitivas e o estabelecimento de vínculos precários.  

Para enganar a população e os servidores, o relator da PEC da Reforma Administrativa, Pedro Paulo, tem gasto bastante saliva para garantir que o que se busca com essa reforma é acabar com privilégios e melhorar a qualidade dos serviços públicos, de modo a valorizar os “bons servidores”.   Mas isso tudo é balela, pois Pedro Paulo é conhecido por suas visões neoliberais e não é à toa que ele foi colocado npara relatar essa PEC. Quem o colocou lá, sabe bem que valorizar os servidores e melhorar a qualidade dos serviços públicos não é bem o que Pedro Paulo realmente quer.

Mas que nenhum servidor público se engane achando que haverá esforço dos partidos ligados de forma mais fiel ao presidente Lula para impedir que esse ataque brutal contra seus direitos Basta ver as declarações recentes do ministro da Fazenda Fernando Haddad que estão bem alinhadas com o que está sendo proposto por Pedro Paulo, ainda que de forma disfarçada.  Aliás, outra que aparece bem alinhada com a reforma administrativa éaministra Esther Dweck, da Gestão e Inovação, que já reconheceu que o governo Lula está alinhado com a maior parte dos pontos que devem ser apresentados nos textos da reforma administrativa, em elaboração pelo deputado Pedro Paulo (PSD-RJ).  Curiosamente, a maior  preocupação de Dweck aparentemente está no impacto fiscal das medidas propostas por Pedro Paulo, a começar pelo bônus de produtividade. Em outras palavras, com o impacto fiscal das migalhas que serão dadas aos servidores em troca da perda de direitos fundamentais.

Diante deste cenário, caberá aos servidores e seus sindicatos e associações de classe começar um poderoso movimento de rejeição às medidas draconianas que estão sendo engendradas por Pedro Paulo e suas parceiros dentro da Câmara de Deputados. Se não houver esse movimento, é quase certo que esse pacote de maldades vá ser aprovado, inclusive com os votos supostamente envergonhados do PT (sempre em nome do mal menor, é claro).

Câmara de Deputados aprova PEC da Blindagem, com apoio massivo do PL e 12 votos do PT

A Câmara dos Deputados aprovou, em 1º turno,a PEC da Blindagem, uma proposta que aumenta a blindagem judicial para deputados e senadores.  O placar foi de 353 a 134. A proposta entra em votação no 2º Turno e só depois desta nova aprovação é que a PEC será enviada ao Senado, e precisa ser aprovada pelo Senado para virar lei.

Se a constituição for realmente emendada, a auto blindagem do congresso tornará praticamente impossível prender e até processar parlamentares envolvidos em atos ilegais que não tem necessariamente algo a ver com o exercício de mandatos. 

A PEC da Blindagem terá efeitos não apenas para a Câmara de Deputados e para o Senado Federal, pois alcancará assembleias legislativas e câmaras de vereadores. Assim, se está difícil punir parlamentares por atos ilegais agora, imaginem no futuro.

Abaixo um gráfico que mostra como votaram as bancadas de cada partido. Curiosamente, o PL foi o principal suistentáculo para a aprovação da PEC da Blindagem, enquanto apenas PSOL e PC do B votaram totalmente contra a aprovação da matéria.

Nota especial para a votação da bancada do PT que deu 12 votos favoráveis para a aprovação da PEC da Blindagem, com destaque para o voto de Jilmar Tatto, vice-líder do governo na Câmara de Deputados. É que a posição oficial do presidente Lula era contra a aprovação da matéria.  Das duas uma: Tatto votou contra a vontade de Lula ou a vontade de Lula não era a que ele ofereceu publicamente. 


Jilmar Tatto (PT/SP), vice-líder do governo na Câmara Federal que votou a favor da PEC da Blindagem.

Observatório dos Agrotóxicos: governo Lula libera mais 42 agrotóxicos e mantém marcha do envenenamento

Nesta segunda-feira (08/9), o governo Lula liberou o registro de mais 42 agrotóxicos por meio do Ato No. 41 de 05 de setembro de 2025, mantendo firme a marcha do veneno como ferramenta de primeira hora para a manutenção de um modelo de agricultora fortemente dependente de venenos agrícolas. Todos esses produtos na condição de produto técnico que são a forma concentrada que depois é transformada em produtos formulados que são os que são aplicados nos campos agrícolas.

Como já tem sido acompanhado desde janeiro de 2019, este ato mantém as características de liberar registros de produtos pertencentes a empresas chinesas, confirmando a China como principal fornecedora de agrotóxicos para o Brasil. Essa não é um característica que ocorre ao acaso, na medida em que a China é hoje a principal compradora dos principais produtos da agricultura de exportação brasileira. Além disso, fica patente o padrão de troca desigual entre os produtos brasileiros e chineses, já que os preços das commodities brasileiras estão sujeitas a momentos de queda, enquanto os preços dos agrotóxicos possuem perfil de alta constante.

Por outro lado, está confirmada a opção por agrotóxicos genéricos, muitos proibidos nos países cujas empresas possuem as patentes dos produtos originais. Com isso, aumenta a exposição ambiental e humana a produtos conhecidos por serem causadores de danos sobre a cadeia biótica, alcançando os seres humanos. Um destaque negativo é a aprovação de registros do herbicida Diquat, desenvolvido originalmente pela sino-chinesa Syngenta, que tem sido associado a problemas neurológicos por ser neurotóxico.

Mais essa rodada de aprovações de registros apenas confirmam que o governo Lula não tem feito o esforço necessário para diminuir o uso de agrotóxicos pela agricultura brasileira, o que representa um abandono das promessas eleitorais em prol de um modelo de agricultura menos dependente de venenos.

MST: ‘Governo Lula ignora agricultura familiar, responsável por cerca de 70% da produção interna de alimentos’

Para movimento, governo Lula ‘tem se mostrado ineficiente’ na resolução de problemas fundiários e distribuição de terra

MST: ‘Governo ignora agricultura familiar, responsável por cerca de 70% da produção interna de alimentos’

Por Brasil de Fato

Ocorre nesta semana uma série de articulações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em todo o país. A Semana Camponesa teve início no estado da Bahia e é um momento de esforço por diálogo e negociação entre o MST e setores públicos pela defesa da reforma agrária e da agricultura familiar.

A movimentação acontece, neste ano, em meio à pressão dos Estados Unidos e aos movimentos do governo brasileiro para defender a produção agrícola de larga escala do país – responsável majoritariamente pelas exportações alimentícias.

A direção do MST denuncia que, apesar do esforço, terceiro mandato de Lula ignora agricultura familiar, responsável por cerca de 70% dos produtos consumidos no Brasil: “Temos pautas desde o segundo governo Lula, que acreditávamos que seriam resolvidas agora, no terceiro mandato. Mas a equipe atual tem se mostrado ineficiente”, diz Evanildo Costa, diretor nacional do MST.

Ele diz ainda que acordos firmados desde 2008 entre o movimento e o governo seguem sendo descumpridos, com famílias aguardando assentamento, sendo ameaçadas de despejo e envolvidas em conflitos fundiários.

As ações da Semana Camponesa se iniciaram em Salvador, com reuniões entre o governo do estado e o movimento. No norte do estado, segundo o movimento, mil famílias aguardam desde o segundo mandato de Lula o cumprimento de um acordo de assentamento na região do Perímetro Irrigado Nilo Coelho, firmado com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e o Incra.

Membros do MST pressionam governos e autoridades públicas por avanços em distribuição de terra para famílias e cumprimento de acordos de assentamento | Imagem: MST/Reprodução

No sul da Bahia, o movimento denuncia a ameaça de despejos de famílias e conflitos fundiários em áreas vinculadas à Superintendência do Patrimônio da União (SPU). As negociações com multinacionais papeleiras da região se iniciaram em 2011, mas estão paralisadas.

O MST cobra do governo medidas de avanço na garantia de terra a produtores, como a atualização dos índices de produtividade, o assentamento das famílias acampadas, a recomposição orçamentária dos programas de apoio à agricultura familiar e a revogação de medidas que facilitam a mineração e a grilagem de terras em áreas de reforma agrária. A Semana Camponesa coincide com o Dia Internacional da Agricultura Familiar, celebrado em 25 de julho.

Fonte: Brasil de Fato

Enquanto muitos lutam contra o PL da Devastação, governo Lula avança plano para pavimentar BR-319

Governo fecha acordo para construção da BR-319 - ClimaInfo

Pavimentação da BR-319 irá devastar último grande bloco de floresta relativamente preservado na Amazônia

Enquanto muitos se mobilizam contra a aprovação final do Projeto de Lei 2159/2021 , também conhecido como PL da Devastação, o governo Lula avança com seus planos desastrosos de pavimentar a BR-319.  Segundo matéria assinada pelo jornalista André Borges e publicada pelo jornal Folha de São Paulo, os Ministérios do Meio Ambiente (Marin Silva) e dos Transportes (Renan Filho) costuraram um acordo inédito para elaborar um plano socioambiental atrelado ao empreendimento, de forma a mitigar seus impactos.

Esse é o tipo de acordo “cheiroso” cujos efeitos práticos incluirão a abertura do último grande bloco de floresta relativamente intacta na Amazônia para a penetração de grileiros, garimpeiros e madeireiros que irão acelerar os processos de degradação florestal e desmatamento.

Acenar com um plano sociambiental em meio às pressões por mais derrubada de floresta por parte do latifúndio agro-exportador e outros predadores da floresta é basicamente uma embromação para ocultar que a chamada Agenda Climática do governo Lula não passa de outra grande embromação. 

E convenhamos que com a abertura da exploração do petróleo na região da Foz do Amazonas e a eventual pavimentação da BR-319, qualquer compromisso climático será inútil, na medida em que estarão sendo disparadas duas grandes bombas de emissão de gases de efeito estufa.

Finalmente, o que isso mostra é que, ainda que muito justa, a mobilização contra o  PL da Devastação é apenas um momento pontual em uma grande batalha em defesa do meio ambiente, dos povos tradicionais, e da maioria pobre da população, sem que se possa ter qualquer ilusão com as forças que hoje controlam o parlamento e o governo federal comandado pelo presidente Lula.