Apesar de não gostar de antecipar trabalhos acadêmicos que eu esteja desenvolvendo com meu grupo de pesquisa, o mais recente incêndio de um edifício tombado pelo seu valor histórico, o Hotel Flávio, me faz pensar que no centro histórico de Campos dos Goytacazes estamos diante de uma eficiente estratégia de apagamento da nossa rica memória arquetônica via a ocorrência de sinistros. No caso do Hotel Flávio, o mesmo foi construído ainda no século XIX e pertenceu aos familiares do Visconde de Araruama, tendo sido tombado pelo Coppam em 12 de setembro de 2013.

O fato é que um dos meus orientandos tem no forno um detalhado artigo científico apresentando um mapeamento cuidadoso dos casos de incêndio que consomem edifícios de valor histórico (tombados ou não), sua posterior demolição e trasnformação em estacionamentos. Aliás, vamos esperar para ver o que acontecerá no espaço que hoje abriga o prédio histórico do Hotel Flávio. O meu palpite com base em meu conhecimento científico sobre o centro histórico de Campos? Um estacionamento, é claro.
Temos associado a essa situação à criação de espaços de espera e de reserva de valor, na medida em que os estacionamentos seriam usados como mecanismos de geração de renda até que o centro histórico seja, digamos, abraçado pelo mercado imobiliário que se serviria de um dos metros quadrados mais caros da cidade para gerar o chamado processo de “gentrificação” que tornaria aquela área, mais uma vez, o lócus de produção e reprodução das classes mais abastadas da cidade.

E tudo isso sem que haja a devida reação do poder público para proteger e conservar um patrimônio arquitetônico que contém o segundo maior acervo de edifícios ecléticos do Rio de Janeiro.
Finalmente, adianto que quando o artigo supracitado for finalmente publicado, o mesmo será obviamente postado aqui neste espaço.


